domingo, 8 de março de 2009

Deseja que eu ande com ele


Ao entender um pouco sobre a luta das naturezas que existe dentro de nós, podemos ser tentados a pensar que Deus é injusto, de certa maneira, quando pede que sejamos perfeitos, como disse a Abraão (Gn 17.1). Ele sabe que nascemos com a natureza pecaminosa e que isso nos leva constantemente a errar. E não precisa de muito tempo na caminhada da vida cristã para percebermos que jamais conseguiremos ser perfeitos, no sentido de deixar de cometer erros.


Para entender esse assunto de perfeição é preciso analisar a vida de alguns homens que Deus considerou perfeitos. De Enoque, por exemplo, a Bíblia diz: “Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si” (Gn 5.24). Se Deus decide levar alguém para o Céu, deve ser porque esse alguém é perfeito, não acha? Mas qual foi o motivo por que Deus levou Enoque consigo? A Bíblia responde: “Ele andou com Deus”.

Analisemos o caso de Noé. As Escrituras afirmam que “Noé era homem justo e íntegro entre seus contemporâneos” (Gn 6.9). Não seria maravilhoso se um dia Deus dissesse de você: “Aqui está alguém justo e íntegro”. Não é isto que você gostaria de ser? Mas por que Noé foi considerado um homem justo e íntegro? A Bíblia responde: “Noé andava com Deus”.

E o que dizer de Davi? A Bíblia afirma que Davi foi um “homem segundo o coração de Deus”. Ah! Se um dia ele pudesse dizer isso de nós! O que mais poderíamos esperar? Mas, por que foi que Davi tornou-se o “homem segundo o coração de Deus”? Ele mesmo nos responde: “Andarei na presença do Senhor, na terra dos viventes” (Sl 116.9).

Voltemos ao caso de Abraão. Ele é chamado “O pai da fé”. Um dia Deus se apresentou a ele e disse-lhe: “Eu sou o Deus Todo Poderoso: Anda na minha presença, e sê perfeito” (Gn 17.1) Percebeu? Tudo que Deus esperava de Abraão era que andasse com Ele. O resultado disso, seria uma vida de perfeição.

Você percebeu que existe uma frase que é o denominador comum na vida de todos os homens mencionados? “ANDOU COM DEUS”. Todos eles foram perfeitos porque andaram com Deus. Existia um relacionamento maravilhoso de amor entre Deus e eles. Em sua experiência, tinham chegado ao ponto de não poderem viver separados de Deus. Por isso Deus os considerou perfeitos, santos, justos, íntegros e retos.

O interessante é que há sempre alguma coisa curiosa na vida de todos eles. Noé um dia ficou embriagado a tal ponto que tirou a roupa e ficou nu, dando um vexame para toda a família. Você já fez isso alguma vez? Noé fez e Deus diz que ele “era justo e íntegro entre seus contemporâneos”.


E o que dizer de Davi? Caiu fundo no pecado. Cometeu um adultério seguido de assassinato. Você já fez isso? Nunca? Davi fez e sabe o que a Bíblia fala sobre ele? Fala que Davi era “um homem segundo o coração de Deus”.

Abraão um dia foi tão covarde que teve medo de dizer que Sara era sua mulher e, afirmando que era sua irmã, quase empurrou Faraó ao adultério. Os resultados teriam sido terríveis se Deus naquela noite não tivesse agido em favor de Sara. Atitude covarde a de Abraão. Mas, sabem o que Deus diz dele? “Abraão era perfeito”. Paulo até o chama de o “Pai da fé”.

Há alguma coisa maravilhosa que Deus está querendo nos dizer através da experiência de todos esses homens. Algo grandioso que revolucionará nossa vida e nos mostrará um horizonte infinito de esperança.


Para os seres humanos, uma pessoa é perfeita, santa, justa, íntegra, quando nunca comete um erro, quando faz tudo certinho, quando cumpre todas as normas, leis e regulamentos. Todavia, para Deus, uma pessoa é perfeita quando se dispõe a andar com Ele. Quando faz do relacionamento com Cristo o mais importante da vida. Quando compreende tudo o que Cristo fez na cruz por ele e clama por um novo coração capaz de amar; quando sente dor por todo o sofrimento que causou a Cristo com seus erros passados, e ao olhar para a cruz se apaixona por Cristo ao ponto de dizer: Ó Senhor Jesus, eu te amo. Eu te amo tanto que sem ti a vida não tem sentido. Ajuda-me a andar contigo!

Naquele instante o maravilhoso Deus de amor derrama lágrimas de alegria e segura a fraca mão do homem com sua mão poderosa. E no instante daquele toque, nosso passado fica apagado para sempre, não importa se fomos bêbados ou covardes, adúlteros ou assassinos, tudo fica enterrado. Porque naquele momento, pelos méritos de Cristo, nos tornamos vitoriosos, com um caráter perfeito porque ele tomou sobre si os nossos pecados e a punição que merecemos.

A partir daquele momento começa a mais extraordinária e bela das experiências: a experiência maravilhosa de andar com Cristo. Naturalmente o amor é básico nesta experiência, porque não se pode conviver e ser feliz com uma pessoa a quem não se ama. A nossa tragédia às vezes consiste em que nós avaliamos a perfeição de acordo com nossa capacidade de obedecer aos princípios de uma Igreja ou mesmo da Bíblia. Deus avalia a nossa perfeição em razão do tipo de relacionamento que temos com ele.

Ao iniciarmos a nossa caminhada com Cristo descobriremos imediatamente que existem muitas coisas de que Cristo gosta e nós não gostamos. Existem também coisas das quais Cristo não gosta e nós gostamos. O que fazer numa circunstância semelhante? Estamos frente a um impasse. O que fazer? Aqui novamente entra o amor como solução para o problema.

Quando garoto, eu não gostava de quiabo. Era algo que não apresentava nenhum atrativo para mim. Um dia até experimentei comer, mas não gostei. Acontece que um dia conheci uma garota extraordinária que hoje é a minha esposa. Comecei a gostar dela e depois de um tempo de namoro nos casamos. Nunca esquecerei o primeiro almoço que ela preparou em casa. Ao chegar a cozinha achei a mesa arrumada e as panelas bem postas, cada uma com sua tampa. Ocupamos nossos lugares à mesa e depois de orarmos ela abriu as panelas. Uma das panelas era exatamente uma mistura de frango com quiabo. Cida estava com um brilho de expectativa nos olhos, como se perguntasse: “Será que ele vai gostar?”. Tomou meu prato e fez questão de servir uma boa porção de frango com quiabo. Olhei para o prato. Olhei para ela. Outra vez olhei para o prato. Tive vontade de dizer: “Obrigado querida, não gosto de quiabo”, mas não consegui. Eu a amava. Não tive coragem de desapontá-la. Peguei o garfo e praticamente engoli. No dia seguinte, ao sair da sala, fiquei paralisado. Lá no centro da mesa havia novamente uma panela com quiabo frito. Olhei para ela e afirmei: “Parece que você gosta muito de quiabo”. E ela, com a maior naturalidade do mundo, respondeu: “Quiabo é um dos meus pratos favorito querido”. Em fração de segundos imaginei minha vida toda engolindo quiabo. Mas ao olhar para o rosto dela e ver aquele sorriso de satisfação, senti uma alegria íntima no coração. Eu amo demais minha esposa. O que podia significar o fato de comer quiabo, comparado com a alegria de vê-la feliz? Hoje, um dos meus pratos preferidos é o frango com quiabo da Cida. Descobri que eu posso aprender a gostar de coisas que hoje não me são agradável.

Entende o que estou querendo dizer? O dia que nos apaixonarmos por Cristo, o dia que chegarmos a amá-lo com todo o nosso coração, a coisa que mais desejaremos ver é o sorriso em seu rosto. Sem dúvida haverá coisas que o deixarão feliz e que, nós, com a nossa natureza pecaminosa não gostamos de fazer. Não acredito que perder o gosto por coisas que estávamos acostumados a fazer ou aprender a fazer coisas que não gostávamos de realizar seja fácil. Haverá um preço que teremos que pagar e planos que teremos de esquecer. Muitas vezes isso exigirá esforço, sacrifício e sofrimento, mas tudo isso terá sentido, se o fizermos por amor à pessoa de Jesus.

O profeta Miquéias explicou um dia a maneira certa de andar com Deus. “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e Andes humildemente com o teu Deus” (Mq 6.8). Você percebe que a questão não é simplesmente andar com Deus. O importante é andar “humildemente” com ele. É ele quem dirige e comanda a minha vida. Eu o amo e aceito seu conselho porque ele sabe o que é bom para mim. Não o conduzo a lugares que quero ir, ele é quem me dirige os passos. Ele é o meu Pai, meu amigo, meu Senhor. Eu apenas me abandono em seus braços de amor e vou.


Tudo isto tem sentido, unicamente quando existe amor. A vida toda é motivada pelo amor a Cristo. Se não existir um relacionamento de amor entre Cristo e nós a vida torna-se vazia, oca. O cristianismo vira um fardo, uma pesada carga de proibições e deveres. Podemos carregá-lo um ou 100 anos, mas, um dia chegamos ao limite e o largamos ou então nos tornamos zumbis, homens sem vida, máquinas que carregam o fardo, que cumprem tarefas, que obedecem, porém apenas máquinas, sem alegria, sem entusiasmo, incapaz de saber o que é felicidade.

Por aí, um dia, numa roda de amigos, alguém pergunta: “Por que você não bebe?” E quase com vergonha respondemos: “Porque minha religião não permite, é norma em minha Igreja”. A vida toda, às vezes, é levada desse jeito. É a religião, é a Igreja o que importa. E Cristo? Onde fica Cristo nisso tudo? O que será que ele está sentindo? Importa-nos se ele está sorrindo ou chorando? Você já pensou nele como uma pessoa que ama, que sorri, que tem sentimentos e até chora?

Vamos analisar a nossa compra de roupa, por exemplo. Você percorre as lojas, olha as vitrines, até que acha uma loja que lhe agrada. Como você faz para comprar essa roupa? Escolhe algumas peças e entra no provador. Experimenta uma a uma, olha no espelho, observa se fica bem em você e então ainda dentro do provador, olha para cima e pergunta: “Meu amado Jesus, qual destas peças te agrada? Quero que escolhas para mim porque eu o amo e me sentirei feliz usando as roupas que escolheres para mim”. E então, ao sentir que determinada roupa vá trazer uma expressão de tristeza no rosto de Cristo, você a dispensa. Sai dali apenas disposto a comparar aquelas peças que certamente irão agradar e honrar seu amado Senhor. Isso é andar com Deus.

Andar com Deus é tê-lo presente em nosso dia a dia. Consultá-lo antes de tomar uma decisão, antes de iniciar um namoro, antes de colocar uma tatuagem no corpo, antes de entrar em algum lugar, antes de sair para algum programa. Você vê? Nossa vida não se limita a atividades na Igreja. Não é uma religião que determina os nossos atos. Fazemos ou deixamos de fazer, comemos ou deixamos de comer, vestimos ou deixamos de vestir por amor a Cristo. Se vemos um sorriso em seu rosto, vamos em frente. Se, pelo contrário, percebemos um ar de tristeza em seu olhar é hora de parar, não porque a Igreja nos proíbe, mas porque o amamos e não temos coragem de vê-lo triste.


O Jesus que eu não conhecia não espera que eu nunca erre. Na verdade ele nunca escondeu que é impossível a nós nunca errarmos. Mas apesar disso, ele deseja caminhar conosco no dia a dia. Quando ele pede para que sejamos perfeitos, como pediu a Abraão, precisamos entender muito bem isso. Se você acha que ser perfeito significa nunca cometer um erro, não será isso possível. Mas graças a Deus que o conceito bíblico de perfeição é diferente. Para Deus, ser perfeito é “andar com ele”, como fez Enoque, Noé, Abraão e Davi.

Você já viu um pai levando o seu filho de quatro anos pela mão? Mesmo que o menino tropece, ele não cai ao chão porque as mãos seguras do Pai o sustenta. Foi por isso que estes homens foram perfeitos. Enoque segurou o braço do Pai e não temos notícias de que tenha caído alguma vez. Já os demais andaram com Deus, escorregaram, tropeçaram, mas seguraram o braço do Pai e não ficaram caídos; continuaram a caminhada. E Deus os considerou tão perfeitos quanto Enoque. A Bíblia diz que “O Senhor firma os passos do homem bom e no seu caminho se compraz. Se cair, não ficará prostrado porque o Senhor o segura pela mão” (Sl 66.25).

Você errou alguma vez em sua vida? Não precisa viver atormentado por isso. Olhe para a cruz de Cristo. Ele já pagou pelo seu erro. Ele lhe perdoa e o aceita. Você está ferido? A queda foi tão grande que não lhe resta mais forças? Não se preocupe. Apenas olhe. Olhe lá na montanha um Deus de amor morrendo lentamente. Por que você acha que ele sofreu tanto? Foi por amor a você. Foi porque você vale muito para ele. Um dia experimentei a revolta, o vazio e o desespero da alma e ele me amou e me perdoou e me aceitou. Por isso posso dizer que esse Jesus, eu não conhecia.

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