domingo, 27 de junho de 2010

Feridas no coração de Deus

Desde o início desta série temos falado sobre feridas em nossos corações causadas por escolhas pessoais erradas, ou por atitudes impróprias de amigos e inimigos. Em todas as mensagens, fomos apresentados como sendo as vítimas. Hoje, gostaria que nos colocássemos como os causadores de feridas no coração de Deus. Mas isso é possível? Leiamos Jeremias 18.1-17.


O contexto desta passagem apresenta uma crise no relacionamento entre Deus e o povo de Israel. Deus se revela como sendo alguém que está sofrendo porque ama muito o seu povo, mas não é amado por Israel.

Como uma declaração de amor, o Senhor faz um paralelo dizendo que assim como o oleiro fizera um vaso do barro, ele também fizera de Judá o seu povo particular. Esse paralelo não era algo novo na história do povo de Deus. Isaias, cerca de 100 anos antes, já havia sido portador de uma mensagem parecida: “Mas agora, ó SENHOR, tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra das tuas mãos.” Isaías 64:8

Judá teve o privilégio de ter sido escolhido para ser o povo particular de Deus dentre todas as nações. Deus deu valor a um povo que não tinha valor. Assim como o oleiro deu valor ao barro ao torná-lo em um vaso.

Por que Deus escolheu Judá e não um dos outros povos? O texto de Deuteronômio 7:6-8 nos dá a resposta: “O SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhes fosse o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava...”

É certo que como o povo de Judá fora escolhido por Deus, assim também nós fomos escolhidos para sermos filhos de Deus em Jesus. Lemos em João 15:16ª a seguinte expressão: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça...”

Sim queridos, não somos um acaso, fomos escolhidos em amor por Deus.


O texto nos diz que o vaso que o oleiro fazia, por um motivo não identificado no texto, estragou-se nas suas mãos. A mensagem aqui ganha dramaticidade, ou seja, Deus advertiu o povo dizendo que o vaso quebrou, ou seja, Judá está em pecado. Podemos confirmar isso lendo o vs.15 quando diz: “Contudo, todos os do meu povo se têm esquecido de mim, queimando incenso aos ídolos”.

O contexto histórico deste texto nos esclarece que o povo, sem abrir mão da sua fé em Deus, havia abraçado e serviam a outros deuses. Começaram a viver um amor dividido. O que Deus nunca admitiu. Por causa do pecado de Judá, a mensagem advertia que o povo estava preste a ser levado como cativos para a Babilônia, nação cruel que bem de perto os ameaçava.

Amor dividido não cai bem em lugar algum. Deus deseja que o sirvamos por amor. Podemos ser tentados a dividir o nosso amor com a fama, o dinheiro e os prazeres. Mas quando a isso cedermos, seremos como um vaso quebrado, sem utilidade. E pior, estaremos ferindo o coração amoroso do nosso Pai Celeste.

O texto de Isaías 59:2 nos adverte: “Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.”



Apesar do pecado de Judá, a mensagem de Deus também era de esperança. Se o povo se convertesse Deus perdoaria o seu povo e o pouparia do exílio babilônico. Assim diz o SENHOR: convertei-vos, pois, agora, cada um do seu mau proceder e emendai os vossos caminhos e as vossas ações. (Vs. 11)

A mensagem mostra que Deus tem o poder para “arrancar, derribar e destruir”, todavia, ele preferiu dar a Judá a oportunidade de se converter e então assim ele “edificaria e plantaria,” um novo Judá. Um povo vencedor.

Se por um instante em nossas vidas tudo ao nosso redor estiver quebrado, o animo esgotado, o trabalho for perdido, por causa de nossos pecados, devemos nos lembrar de Provérbios 28:13 que diz: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia.”

Deus certamente nos socorrerá pois nas suas mãos, do vaso quebrado poderá surgir um novo vaso, que glorificará o seu nome.

CONCLUSÃO

O povo de Judá (reino do sul) mesmo depois de receberem a mensagem de Deus continuou firme em sua infidelidade andando em caminhos perversos e servindo a outros deuses. Pouco tempo depois, foram levados cativos para a Babilônia.

E quanto a nós? Imitaremos Israel quando estivermos como o vaso quebrado? Que Deus nos de a graça de não cairmos, mas se cairmos, lembrarmos que ele tem nas mãos o poder de fazer de novo não somente um ministério, mas a vida de quem que reconhecendo suas faltas busque nele socorro.

domingo, 13 de junho de 2010

Ferido pelo amigo chegado


No domingo passado falamos sobre o que fazer com os pecados que cometemos em oculto. Hoje, vamos falar sobre o pecado cometido por pessoas chegadas contra nós. Esse tipo de pecado revela em nós um sentimento destruidor, a amargura. Para tratar desse assunto farei uso de um texto escrito por Jim Wilson e adaptado por mim. Para começar leiamos Efésios 4.31.

“Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda a malícia. Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou.” (Efésios 4.31)

Este texto nos orienta a nos despojarmos de toda a amargura. É fácil perceber quando alguém sente amargura no coração: seus olhos e os traços do rosto o denunciam, ainda que a pessoa seja bem nova! Pode-se perceber a amargura nos lábios dessa pessoa, em seus risos e sorrisos. Há um toque amargo neles, e pode-se notar isso com nitidez. O seu tom de voz o denuncia. Percebe-se amargura em seu jeito de falar até mesmo quando... protesta e alega que não sente amargura alguma! Este é um sentimento que vem do nosso íntimo e que se ramifica por todas as áreas do nosso ser.

A Bíblia nos apresenta várias pessoas que padeceram desse mal. Por exemplo: Jonas. O Senhor lhe perguntou: É razoável essa tua ira por causa da planta? Sua resposta foi: É razoável a minha ira até à morte (Jn 4.9). Ele sentia-se no direito de se amargurar. Eu mereço estar amargurado. Senhor, não concordo com a tua atitude de perdoar esse povo. Eu não quero que o perdoes.

É relativamente fácil notar quando os outros têm amargura no coração. Mas não é tão fácil reconhecermos a mesma coisa com relação a nós mesmos. Torna-se, portanto, essencial que tenhamos uma compreensão clara da definição que a Bíblia traz deste problema.


Suponhamos que um crente cometa um pecado. Minta, por exemplo. Ao cometer esse pecado, sentir-se-á culpado ou amargurado? A resposta é: culpado. Quando pecamos, sentimo-nos culpados. Não há dúvida. (Quando somos nós que cometemos a ofensa, sentimo-nos culpados, compreendendo que temos de confessar e abandonar o nosso pecado. Poderemos até não confessá-lo, mas não por não sabermos que deveríamos fazê-lo).

Suponhamos agora que alguém levante uma calúnia contra esse crente, espalhando-a pela cidade inteira. O que ele irá sentir, culpa ou amargura? A resposta é: amargura. Sentimos culpa quando pecamos. Sentimos amargura quando alguém peca contra nós. A amargura sempre se fundamenta no pecado cometido por outro - pecado esse que realmente foi cometido, ou que imaginamos tenha sido cometido.

À vista disso, que pessoas estão mais sujeitas a me causar amargura? A resposta é simples: a minha amargura está diretamente relacionada às pessoas que me rodeiam, ao meu círculo de relacionamentos: pais, mães, irmãos, maridos, esposas, filhos, namorados, noivos, amigos, colegas de pensionato, chefes, colegas de trabalho, sócios, parentes. Há, também, muitas pessoas amarguradas contra Deus.

Dificilmente nos amarguramos pelo pecado cometido fora do nosso próprio círculo imediato de relacionamentos. A amargura nasce do pecado cometido por alguém ligado a nós; pecado esse que nos afetou. Pode ser uma coisa bem pequena. Não precisa ser algo grandioso. Basta que nos afete! (Ele tem o costume de largar as meias sujas no chão do quarto? Você fica amargurada por causa disso? Bem, talvez não na primeira ocorrência... mas, e se ele repetir esse comportamento umas 5.000 vezes?!).

Uma boa dica para identificar a amargura é: a pessoa amargurada se lembra dos detalhes. Você já conversou milhares de vezes na sua vida, tendo-se esquecido da maioria dessas conversas, não é mesmo?! Todavia, há uma conversa particularmente desagradável, ocorrida, digamos, há cinco anos, da qual você se lembra de cada palavra e, até da entonação da voz da pessoa com quem conversou. Você se lembra claramente de tudo o que aconteceu. Isso quer dizer que você guardou rancor.

Alguém poderá objetar dizendo que podemos nos lembrar claramente de uma conversa agradável. Verdade? Sim, mas nem tanto. Por que? Porque a nossa memória é ajudada por meio da recapitulação; ficamos repassando as coisas que nos acontecem. E, geralmente, nós não "ruminamos" muito as coisas boas que nos acontecem. Preferimos reviver, vez após vez, o que de mal nos sucede.

Se você guarda lembrança detalhada, de coisas que lhe aconteceram há anos, quando você era criança, ou jovem, e se essa lembrança acusa alguém, isso é indicação de que existe amargura no seu coração. Mas antes de falar sobre a forma de livrarmos deste terrível veneno, vejamos as conseqüências deste mal em nossas vidas.

“Atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados.” Hebreus 12.15

A Palavra de Deus descreve a amargura como algo que tem uma raiz. Raiz é uma coisa que fica debaixo da terra, e não pode ser vista. Ela pode ficar oculta aos olhos por muito tempo, mas, com o seu crescimento um dia ela se manifesta. Você já deve ter visto uma calçada quebrada porque a raiz de uma árvore resolveu se manifestar. O fato de não a vermos, num primeiro momento, não significa que não esteja lá. Nem que jamais poderemos vê-la. As raízes fazem outras coisas, também. Os frutos estão diretamente relacionados às raízes que os produzem. A raiz da macieira produz maçã. Se houver uma raiz amarga, seu fruto será amargo.

O que acontece à pessoa que guarda em seu íntimo o rancor por muitos anos? Há alguma conseqüência física? Pode ficar fisicamente doente? Sim. Às vezes, tudo por causa da amargura guardada contra um parente seu. A pessoa decidiu não exteriorizar sua amargura. Não contaminou outros - guardou tudo no fundo de seu coração. Com o passar dos anos, porém, começa a ter um problema de saúde. Vai ao médico, e este lhe diz: "Verdade, você está doente. Mas eu não trato do seu caso. Vou encaminhá-lo a um especialista".

E assim, o médico envia essa pessoa a um psiquiatra. Este, concorda com o seu colega: "Verdade, você está mesmo doente. E eu sei a razão: você está assim porque há 20 anos vem se destruindo interiormente. Você guardou veneno em seu íntimo, e esse veneno gerou esta enfermidade física. O que eu quero que você faça é o seguinte: vá para casa e se abra com o seu parente. Por que se reprimir e adoecer? Libere o que está aí dentro!".

Você já viu a amargura espalhar-se dentro de uma igreja? Ela pode dizimar uma comunidade. Pode alastrar-se em nosso trabalho, ou em nossa casa. Por quê? Porque alguém decidiu "abrir-se". Havia amargura em seu coração, e decidiu permitir que essa raiz se manifestasse e desse fruto. "Desabafou" com alguém, e muita gente veio a ficar amargurada também. Quando você se deixa envolver pela amargura, ela se manifesta e contamina muitas outras pessoas. Suja muita gente.

Outra grande verdade é que o tempo não resolve o problema da amargura. A não ser que solucionem o problema, as pessoas não se tornam menos amargas com o tempo. Os anos as tornam mais amargas ainda. A tendência é piorar cada vez mais!

Alguém dirá: "Não! Fulano pecou contra mim! Quando me pedir perdão, tudo estará resolvido". Isso não é verdade. Em muitos casos onde o perdão foi pedido, as pessoas continuaram amarguradas. E tem mais: e se o ofensor morrer, não mais podendo pedir perdão? Você deve conhecer pessoas extremamente amarguradas contra seus pais, falecidos há anos. Só que a amargura não morreu com a morte deles.

Certa ocasião o pastor Jim Wilson foi passar o dia com os internos de uma penitenciária. No período da tarde, ele foi ao setor de "segurança máxima", onde falou e ensinou sobre a amargura. Um dos detentos fez-lhe uma pergunta: "Como uma pessoa poderá livrar-se do rancor contra alguém que surrou o seu filhinho de três anos de idade sem dó nem piedade?". O pastor Jim respondeu: "Veja: quando você se livrar da sua amargura, poderá ajudar essa pessoa de maneira que não venha a fazer a mesma coisa a outras crianças".

O detento respondeu: "Não! Não dá pra ajudar esse cara". Jim objetou: "É claro que dá!". Sua réplica foi: "Não, não dá". "Por que?", perguntou. "Ele já não está mais aqui", foi sua resposta. O interno havia assassinado o ofensor. Ele o matara por causa do que fizera ao seu filhinho de três anos - era por isso que estava preso. E, apesar de ter matado o homem, continuava amargurado. Ou seja, "liberar" a amargura não resolve a questão; não nos livra dela.

Por vezes pensamos: "Olhe, quando ele parar de mentir, ou quando ele parar de fazer isto ou aquilo, ou quando ele vier e lhe pedir perdão, então tudo ficará acertado!". Mas, e se essa pessoa nunca abandonar o pecado dela? Será que você irá continuar vivendo em amargura até o fim da vida porque ela insiste em permanecer no erro? Isso é um absurdo! Se você disser: "Eu só irei perdoá-lo quando ele me pedir perdão - portanto, tenho direito de sentir amargura até que ele tome a iniciativa de me procurar para me pedir perdão - quando ele vier, irei perdoá-lo e tudo acabará bem". Quando a pessoa vier procurá-lo (se vier) será que você conseguirá perdoá-la? Não, porque a amargura não perdoa nunca. Mesmo que a pessoa peça perdão, isso não resolve o nosso problema íntimo com a amargura. Isso porque a amargura nunca perdoa.


A solução de Deus é: Fazer um transplante: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos... sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus.” (Ezequiel 36.26-28)

Mas, para isso, precisamos de sua graça. A pessoa amarga deve, em primeiro lugar, reconhecer que a amargura é pecado seu. E a razão porque geralmente não tratamos desse pecado é por pensarmos que se trata de um sentimento "justificável", uma vez que fomos ofendidos por alguém. O pecado, dizemos, não está no sentimento do nosso coração, mas na atitude da outra pessoa. Esse é um engano grosseiro!

Amy Carmichael certa ocasião fez um comentário a respeito de como um copo cheio de água doce não irá derramar uma só gota de água amarga, não importando o tipo de solavanco que vier a levar. Se estiver cheio de água doce, que tipo de água irá despejar quando for sacudido? Água doce. Se você sacudir o copo com mais força, o que irá acontecer? Mais água doce irá sair.

Se uma pessoa está transbordando com água doce, e alguém lhe dá um solavanco, que irá sair dela? Água doce. Os solavancos não transformam a água doce em amarga. A amargura vem de outra fonte. Os solavancos só fazem sair do copo aquilo que já está dentro dele. Se você estiver cheio de luz e doçura e sofrer um choque, irá derramar luz e doçura. Se você estiver cheio de mel, é mel que sairá. Se sair vinagre, isso será prova de que? O vinagre irá mostrar aquilo que já estava dentro do copo. Resumindo: uma grande amargura não depende do que alguém faz contra nós; é o resultado do que nós somos e fazemos.

Por isso, o primeiro passo é confessar o nosso pecado, reconhecendo-o como um pecado grande e terrível. E devemos ser persistentes nessa confissão, quanto for necessário. Quando fui ofendido por uma sobrinha, aconteceu comigo algo muito parecido com o que acontecera com o pastor Jim Wilson. Deus inquietou meu coração até que o confessei. Pus-me de joelho e disse a Deus: "Senhor, a culpa é toda minha. A amargura é minha. E o pecado é meu. Eu o confesso e abandono. Por favor, perdoe-me". Ao me levantar, pensei: "Mas olhe só o que ela fez!". Ajoelhei-me novamente. "Senhor, perdoa-me. A culpa é minha. O pecado é somente meu". Levantei-me e pensei: "Senhor, nós dois sabemos de quem é a culpa...". Ajoelhei-me de novo. Permaneci de joelhos até que pude me levantar sem dizer: "Olhe só o que ela disse".

A fim de que você possa perdoar, antes que a pessoa venha lhe pedir perdão é preciso que tudo já esteja acertado dentro de você. E, se tudo estiver acertado no seu coração, então você não dependerá de a pessoa vir ou não lhe pedir perdão. Ou seja, a solução para o problema da amargura é unilateral: não depende da atitude da outra pessoa.

O segundo passo é perdoar o nosso ofensor. Isso pode ser bem mais difícil, mas deve ser feito mesmo que o coração não esteja disposto. Mesmo que a sua vontade não seja essa. Depois daquela conversa com Deus ele me orientou a procurá-la e perdoá-la. Relutei muito tempo, e fiz de tudo para abafar a voz de Deus. Mas não tive como fugir por muito tempo. Contra a própria vontade, apenas por obediência, resolvi falar com ela. Disse: “Gostaria de dizer que eu a perdôo, não porque eu quero, mas por obediência a Deus”. De repente, aconteceu um milagre. Senti um peso cair dos meus ombros, um alívio em meu coração. Deus, através de minha atitude obediente, curou o meu coração e o coração dela.

Se você está amargurado, reconheça e confesse esse pecado, e receba o perdão! E se seu ofensor estiver vivo, procure-o e o perdoe. Fazendo assim, além de ter o seu coração tratado por Deus, você proporcionará ao ofensor a oportunidade de ser tratado também. Se todavia ele não estiver mais aqui, fique tranqüilo, o coração novo que Deus lhe dará não o inquietará mais. Que Deus o abençoe.

domingo, 6 de junho de 2010

Ferindo o próprio coração


Certa vez indo de Pingo d´Agua para Acesita li uma história, muito interessante, de um homem chamado Jaime. No dia em que seu pai faleceu, os irmãos de Jaime por morarem distantes, confiaram a ele o inventário da família. Seus três irmãos estavam certos de que ele dividiria os bens do pai em quatro partes iguais. Mas isso não foi o que aconteceu. Jaime vendeu os bens, e tirou uma parte maior para si e dividiu o restante em partes iguais entre os demais irmãos. Tudo ia muito bem até receber uma carta agradecendo a sua dedicação e fidelidade. Daquele dia em diante Jaime tornou-se nervoso, faltava ao trabalho continuamente, ficou doente e entrou em depressão.

Ao procurar o médico da família, Jaime fez todos os exames e a causa da enfermidade não foi diagnosticada. O médico, um senhor já experiente e comprometido com Deus ousou fazer-lhe uma pergunta: “Jaime, por acaso você está escondendo algum pecado?” Ao que Jaime se irritou e gritou: “Estou precisando de um médico e não de um pastor”. Em seguida, se levantou, bateu a porta e foi embora. Em casa, tentou dormir, sem sucesso. A voz do médico não saia da cabeça “Jaime, por acaso você está escondendo algum pecado?”. Mas o que fazer quando ferimos o nosso próprio coração por erros cometidos no oculto e que deveriam permanecer no oculto? O que fazer quando por nossa causa, além de ferirmos o nosso coração levamos muitos a sofrer?

Existem duas maneiras de você enfrentar seus erros. Uma é enfrentá-los e resolver a situação. A outra é fazer de conta que não aconteceu nada e acreditar que o tempo se encarregará de acertar a situação. É claro que a primeira opção é a única que de fato resolve. Todavia, tenho encontrado muitas pessoas que por motivos dos mais diversos tem optado pela segunda opção, ou seja, tentar esquecer.

Na Bíblia encontramos Davi, alguém que escolheu a segunda opção. Por esta razão, convido você a olhar para a vida dele e aprender com a sua experiência. Ele é um exemplo altamente negativo para aqueles que optam por esconder o seu pecado e assim ferir o próprio coração. (Veja sua experiência em 2 Samuel 11 e 12)


Davi era um servo fiel e temente a Deus. Todavia, numa tarde em que seu exército estava em batalha, Davi resolveu ficar no palácio. Subiu ao terraço e viu uma mulher se banhando. Ao saber que se tratava de uma mulher casada com um de seus soldados, Davi não teve dúvidas. Mandou chamá-la. Não sabemos quais foram as desculpas usadas por ele, mas o certo é que ela veio e se deitou com o rei. Após a sua aventura amorosa, ela mandou avisá-lo que estava grávida.

Ao tomar conhecimento da gravidez indesejada, Davi desenvolveu um plano. Manda chamar Urias, o marido, com a desculpa de que precisava de informações sobre a guerra. Em seguida, despede o soldado para ir para casa e deitar-se com sua mulher. Desta maneira, pensou Davi, ele jamais saberá que o filho é meu. Mas, Urias tinha um caráter polido. Recusou a voltar pra casa alegando que não poderia se divertir com sua mulher enquanto seus amigos estivessem em batalha. Ao ver a postura do soldado, Davi o chama para um jantar e o embebeda e depois o manda para casa. Mas, mesmo bêbado, Urias não volta pra casa. Agora, não havia nada mais a fazer, pensa Davi. Chama Urias, coloca uma carta em suas mãos para o comandante do exército ordenando que o colocasse à frente da batalha. Desta forma, Urias seria morto e assim deixaria sua esposa livre para Davi.

Pouco tempo depois chegou a notícia da morte de Urias. Mas veja as palavras do rei em relação ao ocorrido: “DISSE DAVI AO MENSAGEIRO: ASSIM DIRÁS A JOABE: NÃO PAREÇA ISSO MAL AOS TEUS OLHOS, POIS A ESPADA DEVORA TANTO ESTE COMO AQUELE...” (2 Sm 11.25). Ou seja, para Davi, o que ele fez não era nada absurdo. Afinal de contas quem vai para a guerra sabe que pode não voltar. A vida é assim mesmo, um dia a gente ganha, outro, a gente perde. Está tudo bem. Após passar os dias de luto, Davi manda buscar a viúva para ser a sua mulher. Assenta no trono com a sensação de problema resolvido.


Mas estava tudo resolvido? Para Davi estava, todavia a Bíblia nos diz que “Porém isto que Davi fizera foi mau aos olhos do Senhor” (2 Sm 11.27). Davi deve ter dado mil e uma desculpas para justificar a sua atitude e assim abafar a sua culpa. É certo que o Senhor o incomodou, mas ele procurou fugir da cobrança que vinha a sua mente. No Salmo 32.3 e 4, ele revela o que aconteceu durante aqueles dias: “ENQUANTO CALEI OS MEUS PECADOS, ENVELHECERAM OS MEUS OSSOS PELOS MEUS CONSTANTES GEMIDOS TODO O DIA. PORQUE A TUA MÃO PESAVA DIA E NOITE SOBRE MIM, E O MEU VIGOR SE TORNOU EM SEQUIDÃO DE ESTIO.”

A mão do Senhor pesou sobre Davi de forma que ele não tinha paz. Levantava e se arrastava o dia inteiro. Não admitia a sua culpa. Afinal de contas ele era o rei. Seu coração fora conquistado por aquela mulher. Se ela era casada, o que ele poderia fazer? O coração não recebe ordens da razão e quando a gente vê já está apaixonado. Sem aquela mulher, dizia Davi, eu não posso ser feliz. E se o marido morreu na guerra, não foi culpa minha. Tantas desculpas, mas nenhuma delas aliviava a sua culpa.

Davi perdeu o sono, o apetite, a consciência tranqüila, a paz, a paciência e a alegria de viver. Por quê? Um pecado escondido o torturava. A mão do Senhor pesava dia a dia sobre ele e como não podia ser diferente, ficou doente. A situação de Davi nos mostra visivelmente o poder destruidor que o pecado tem sobre aquilo que toca.

No caso de Davi, além de causado tantos males, Davi agora teria que lidar com as conseqüências de seu pecado. Quando estava no terraço os olhos de Davi viram apenas uma linda mulher e por um momento de prazer ele resolveu desprezar a Palavra do Senhor. Mas observe o que ele não viu quando estava obcecado pelo desejo: Davi não viu uma gravidez, a morte do marido e do filho indesejado; Não viu que sua atitude levaria Amnon, seu filho querido, a violentar a irmã sexualmente e ser morto pelo irmão Absalão. Não viu seu filho Absalão se rebelar contra ele, expulsá-lo do palácio e manter relações sexuais com as mulheres de Davi no mesmo terraço a vista de todo o povo, como sinal de desprezo pelo pai. Por desprezar o Senhor, mesmo depois de perdoado, Davi não foi poupado das conseqüências de seu erro.

Podemos dar inúmeras justificativas para o nosso pecado, mas Deus nunca o aprovará. Podemos optar por escondê-lo, mas aos olhos daquele que tudo vê, ele ficará sempre exposto. E mais, se continuarmos a não dar ouvidos a voz de Deus, aquilo que escondemos, tornará público. Números 32:23 nos diz: “Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o SENHOR; e sabei que o vosso pecado vos há de achar”. E foi exatamente isso que aconteceu com Davi. Mas, mesmo conhecendo o caráter de Deus, Davi optou por continuar escondendo o seu pecado. Ao ver essa postura irresponsável, Deus resolveu agir. Ele nunca ficará de braços cruzados ao ver seus filhos e filhas se definharem em rebeldia, machucando aos outros e ao próprio coração.


A notícia de que o rei estava doente correu o país. Cuidados foram tomados, mas nada resolvia o problema do rei. Até que Deus levanta o profeta Natã para falar ao rei. O método usado por Natã foi bem didático. Ouçamos esta história contada pela própria Bíblia: “O SENHOR enviou Natã a Davi. Chegando Natã a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. Tinha o rico ovelhas e gado em grande número; mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha. Vindo um viajante ao homem rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar de comer ao viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha do homem pobre e a preparou para o homem que lhe havia chegado.” (2 Sm 12.1-4)

O curioso é que antes de terminar a história Davi interrompe Natã: “Então, o furor de Davi se acendeu sobremaneira contra aquele homem, e disse a Natã: Tão certo como vive o SENHOR, o homem que fez isso deve ser morto. E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu.” (2 Sm 12.5-6)

Cuidado meu irmão. Aquilo que você condena e exige justiça imediata em relação aos outros, pode denunciar o seu próprio pecado. Gostamos de projetar nos outros aquilo que nós mesmos temos dificuldades em lidar. Quando nos tornamos justos demais, esquecemos quem somos. Foi o que aconteceu com Davi. Ao ouvir a sentença de Davi, veja o que disse Natã:

“Então, disse Natã a Davi: Tu és o homem. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; dei-te a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teus braços e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas. Por que, pois, desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o que era mal perante ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o SENHOR: Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e perante o sol.” (2 Sm 12.7-12)

Agora Davi é confrontado por Deus. Não tem mais como esconder seu erro. Mediante essa nova situação Davi toma a decisão acertada, já era hora. “Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o SENHOR. Disse Natã a Davi: Também o SENHOR te perdoou o teu pecado; não morrerás.” (2 Samuel 12.13). Mais tarde, ao escrever sobre essa experiência Davi fala de sua decisão no Salmo 32.5: “Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do meu pecado.” Na verdade, não existe outra solução para o pecado oculto. Precisamos evitá-lo ao máximo, mas se pecarmos, a melhor saída é confessá-lo diante de Deus e abandoná-lo.

CONCLUSÃO

Lembra-se de Jaime? Pois bem. Não agüentando mais aquela tortura, ele se levantou e foi a procura do médico. Sabia onde ele morava. O sol estava despertando quando seu médico o recebeu em casa. Sabe doutor. Não consigo dormir desde que me fez aquela pergunta. Então Jaime contou que ao distribuir os bens da família ele não fora honesto, mas estava arrependido. Juntos oraram a Deus e Jaime confessou o seu pecado. Quando ia se levantando para sair, o médico pediu que assentasse e escrevesse uma carta aos irmãos contando tudo que havia acontecido acompanhado por três cheques com a quantia furtada. Ambos foram aos correios. Ao voltar para casa, Jaime era outra pessoa. Um milagre havia acontecido. Ele estava leve, feliz e alegre por ter feito a coisa certa. Havia alcançado a cura.

Existe algum pecado escondido em sua vida? Você anda irritado, impaciente, inquieto, sempre com pedras nas mãos? Não consegue dormir, tem enfermidades que os médicos não conseguem diagnosticar? Não se alimenta direito? Então me permita uma última pergunta: Tem pecado escondido em seu coração?