No domingo passado falamos sobre o que fazer com os pecados que cometemos em oculto. Hoje, vamos falar sobre o pecado cometido por pessoas chegadas contra nós. Esse tipo de pecado revela em nós um sentimento destruidor, a amargura. Para tratar desse assunto farei uso de um texto escrito por Jim Wilson e adaptado por mim. Para começar leiamos Efésios 4.31.
“Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda a malícia. Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou.” (Efésios 4.31)
Este texto nos orienta a nos despojarmos de toda a amargura. É fácil perceber quando alguém sente amargura no coração: seus olhos e os traços do rosto o denunciam, ainda que a pessoa seja bem nova! Pode-se perceber a amargura nos lábios dessa pessoa, em seus risos e sorrisos. Há um toque amargo neles, e pode-se notar isso com nitidez. O seu tom de voz o denuncia. Percebe-se amargura em seu jeito de falar até mesmo quando... protesta e alega que não sente amargura alguma! Este é um sentimento que vem do nosso íntimo e que se ramifica por todas as áreas do nosso ser.
A Bíblia nos apresenta várias pessoas que padeceram desse mal. Por exemplo: Jonas. O Senhor lhe perguntou: É razoável essa tua ira por causa da planta? Sua resposta foi: É razoável a minha ira até à morte (Jn 4.9). Ele sentia-se no direito de se amargurar. Eu mereço estar amargurado. Senhor, não concordo com a tua atitude de perdoar esse povo. Eu não quero que o perdoes.
É relativamente fácil notar quando os outros têm amargura no coração. Mas não é tão fácil reconhecermos a mesma coisa com relação a nós mesmos. Torna-se, portanto, essencial que tenhamos uma compreensão clara da definição que a Bíblia traz deste problema.
Suponhamos que um crente cometa um pecado. Minta, por exemplo. Ao cometer esse pecado, sentir-se-á culpado ou amargurado? A resposta é: culpado. Quando pecamos, sentimo-nos culpados. Não há dúvida. (Quando somos nós que cometemos a ofensa, sentimo-nos culpados, compreendendo que temos de confessar e abandonar o nosso pecado. Poderemos até não confessá-lo, mas não por não sabermos que deveríamos fazê-lo).
Suponhamos agora que alguém levante uma calúnia contra esse crente, espalhando-a pela cidade inteira. O que ele irá sentir, culpa ou amargura? A resposta é: amargura. Sentimos culpa quando pecamos. Sentimos amargura quando alguém peca contra nós. A amargura sempre se fundamenta no pecado cometido por outro - pecado esse que realmente foi cometido, ou que imaginamos tenha sido cometido.
À vista disso, que pessoas estão mais sujeitas a me causar amargura? A resposta é simples: a minha amargura está diretamente relacionada às pessoas que me rodeiam, ao meu círculo de relacionamentos: pais, mães, irmãos, maridos, esposas, filhos, namorados, noivos, amigos, colegas de pensionato, chefes, colegas de trabalho, sócios, parentes. Há, também, muitas pessoas amarguradas contra Deus.
Dificilmente nos amarguramos pelo pecado cometido fora do nosso próprio círculo imediato de relacionamentos. A amargura nasce do pecado cometido por alguém ligado a nós; pecado esse que nos afetou. Pode ser uma coisa bem pequena. Não precisa ser algo grandioso. Basta que nos afete! (Ele tem o costume de largar as meias sujas no chão do quarto? Você fica amargurada por causa disso? Bem, talvez não na primeira ocorrência... mas, e se ele repetir esse comportamento umas 5.000 vezes?!).
Uma boa dica para identificar a amargura é: a pessoa amargurada se lembra dos detalhes. Você já conversou milhares de vezes na sua vida, tendo-se esquecido da maioria dessas conversas, não é mesmo?! Todavia, há uma conversa particularmente desagradável, ocorrida, digamos, há cinco anos, da qual você se lembra de cada palavra e, até da entonação da voz da pessoa com quem conversou. Você se lembra claramente de tudo o que aconteceu. Isso quer dizer que você guardou rancor.
Alguém poderá objetar dizendo que podemos nos lembrar claramente de uma conversa agradável. Verdade? Sim, mas nem tanto. Por que? Porque a nossa memória é ajudada por meio da recapitulação; ficamos repassando as coisas que nos acontecem. E, geralmente, nós não "ruminamos" muito as coisas boas que nos acontecem. Preferimos reviver, vez após vez, o que de mal nos sucede.
Se você guarda lembrança detalhada, de coisas que lhe aconteceram há anos, quando você era criança, ou jovem, e se essa lembrança acusa alguém, isso é indicação de que existe amargura no seu coração. Mas antes de falar sobre a forma de livrarmos deste terrível veneno, vejamos as conseqüências deste mal em nossas vidas.
“Atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados.” Hebreus 12.15
A Palavra de Deus descreve a amargura como algo que tem uma raiz. Raiz é uma coisa que fica debaixo da terra, e não pode ser vista. Ela pode ficar oculta aos olhos por muito tempo, mas, com o seu crescimento um dia ela se manifesta. Você já deve ter visto uma calçada quebrada porque a raiz de uma árvore resolveu se manifestar. O fato de não a vermos, num primeiro momento, não significa que não esteja lá. Nem que jamais poderemos vê-la. As raízes fazem outras coisas, também. Os frutos estão diretamente relacionados às raízes que os produzem. A raiz da macieira produz maçã. Se houver uma raiz amarga, seu fruto será amargo.
O que acontece à pessoa que guarda em seu íntimo o rancor por muitos anos? Há alguma conseqüência física? Pode ficar fisicamente doente? Sim. Às vezes, tudo por causa da amargura guardada contra um parente seu. A pessoa decidiu não exteriorizar sua amargura. Não contaminou outros - guardou tudo no fundo de seu coração. Com o passar dos anos, porém, começa a ter um problema de saúde. Vai ao médico, e este lhe diz: "Verdade, você está doente. Mas eu não trato do seu caso. Vou encaminhá-lo a um especialista".
E assim, o médico envia essa pessoa a um psiquiatra. Este, concorda com o seu colega: "Verdade, você está mesmo doente. E eu sei a razão: você está assim porque há 20 anos vem se destruindo interiormente. Você guardou veneno em seu íntimo, e esse veneno gerou esta enfermidade física. O que eu quero que você faça é o seguinte: vá para casa e se abra com o seu parente. Por que se reprimir e adoecer? Libere o que está aí dentro!".
Você já viu a amargura espalhar-se dentro de uma igreja? Ela pode dizimar uma comunidade. Pode alastrar-se em nosso trabalho, ou em nossa casa. Por quê? Porque alguém decidiu "abrir-se". Havia amargura em seu coração, e decidiu permitir que essa raiz se manifestasse e desse fruto. "Desabafou" com alguém, e muita gente veio a ficar amargurada também. Quando você se deixa envolver pela amargura, ela se manifesta e contamina muitas outras pessoas. Suja muita gente.
Outra grande verdade é que o tempo não resolve o problema da amargura. A não ser que solucionem o problema, as pessoas não se tornam menos amargas com o tempo. Os anos as tornam mais amargas ainda. A tendência é piorar cada vez mais!
Alguém dirá: "Não! Fulano pecou contra mim! Quando me pedir perdão, tudo estará resolvido". Isso não é verdade. Em muitos casos onde o perdão foi pedido, as pessoas continuaram amarguradas. E tem mais: e se o ofensor morrer, não mais podendo pedir perdão? Você deve conhecer pessoas extremamente amarguradas contra seus pais, falecidos há anos. Só que a amargura não morreu com a morte deles.
Certa ocasião o pastor Jim Wilson foi passar o dia com os internos de uma penitenciária. No período da tarde, ele foi ao setor de "segurança máxima", onde falou e ensinou sobre a amargura. Um dos detentos fez-lhe uma pergunta: "Como uma pessoa poderá livrar-se do rancor contra alguém que surrou o seu filhinho de três anos de idade sem dó nem piedade?". O pastor Jim respondeu: "Veja: quando você se livrar da sua amargura, poderá ajudar essa pessoa de maneira que não venha a fazer a mesma coisa a outras crianças".
O detento respondeu: "Não! Não dá pra ajudar esse cara". Jim objetou: "É claro que dá!". Sua réplica foi: "Não, não dá". "Por que?", perguntou. "Ele já não está mais aqui", foi sua resposta. O interno havia assassinado o ofensor. Ele o matara por causa do que fizera ao seu filhinho de três anos - era por isso que estava preso. E, apesar de ter matado o homem, continuava amargurado. Ou seja, "liberar" a amargura não resolve a questão; não nos livra dela.
Por vezes pensamos: "Olhe, quando ele parar de mentir, ou quando ele parar de fazer isto ou aquilo, ou quando ele vier e lhe pedir perdão, então tudo ficará acertado!". Mas, e se essa pessoa nunca abandonar o pecado dela? Será que você irá continuar vivendo em amargura até o fim da vida porque ela insiste em permanecer no erro? Isso é um absurdo! Se você disser: "Eu só irei perdoá-lo quando ele me pedir perdão - portanto, tenho direito de sentir amargura até que ele tome a iniciativa de me procurar para me pedir perdão - quando ele vier, irei perdoá-lo e tudo acabará bem". Quando a pessoa vier procurá-lo (se vier) será que você conseguirá perdoá-la? Não, porque a amargura não perdoa nunca. Mesmo que a pessoa peça perdão, isso não resolve o nosso problema íntimo com a amargura. Isso porque a amargura nunca perdoa.
A solução de Deus é: Fazer um transplante: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos... sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus.” (Ezequiel 36.26-28)
Mas, para isso, precisamos de sua graça. A pessoa amarga deve, em primeiro lugar, reconhecer que a amargura é pecado seu. E a razão porque geralmente não tratamos desse pecado é por pensarmos que se trata de um sentimento "justificável", uma vez que fomos ofendidos por alguém. O pecado, dizemos, não está no sentimento do nosso coração, mas na atitude da outra pessoa. Esse é um engano grosseiro!
Amy Carmichael certa ocasião fez um comentário a respeito de como um copo cheio de água doce não irá derramar uma só gota de água amarga, não importando o tipo de solavanco que vier a levar. Se estiver cheio de água doce, que tipo de água irá despejar quando for sacudido? Água doce. Se você sacudir o copo com mais força, o que irá acontecer? Mais água doce irá sair.
Se uma pessoa está transbordando com água doce, e alguém lhe dá um solavanco, que irá sair dela? Água doce. Os solavancos não transformam a água doce em amarga. A amargura vem de outra fonte. Os solavancos só fazem sair do copo aquilo que já está dentro dele. Se você estiver cheio de luz e doçura e sofrer um choque, irá derramar luz e doçura. Se você estiver cheio de mel, é mel que sairá. Se sair vinagre, isso será prova de que? O vinagre irá mostrar aquilo que já estava dentro do copo. Resumindo: uma grande amargura não depende do que alguém faz contra nós; é o resultado do que nós somos e fazemos.
Por isso, o primeiro passo é confessar o nosso pecado, reconhecendo-o como um pecado grande e terrível. E devemos ser persistentes nessa confissão, quanto for necessário. Quando fui ofendido por uma sobrinha, aconteceu comigo algo muito parecido com o que acontecera com o pastor Jim Wilson. Deus inquietou meu coração até que o confessei. Pus-me de joelho e disse a Deus: "Senhor, a culpa é toda minha. A amargura é minha. E o pecado é meu. Eu o confesso e abandono. Por favor, perdoe-me". Ao me levantar, pensei: "Mas olhe só o que ela fez!". Ajoelhei-me novamente. "Senhor, perdoa-me. A culpa é minha. O pecado é somente meu". Levantei-me e pensei: "Senhor, nós dois sabemos de quem é a culpa...". Ajoelhei-me de novo. Permaneci de joelhos até que pude me levantar sem dizer: "Olhe só o que ela disse".
A fim de que você possa perdoar, antes que a pessoa venha lhe pedir perdão é preciso que tudo já esteja acertado dentro de você. E, se tudo estiver acertado no seu coração, então você não dependerá de a pessoa vir ou não lhe pedir perdão. Ou seja, a solução para o problema da amargura é unilateral: não depende da atitude da outra pessoa.
O segundo passo é perdoar o nosso ofensor. Isso pode ser bem mais difícil, mas deve ser feito mesmo que o coração não esteja disposto. Mesmo que a sua vontade não seja essa. Depois daquela conversa com Deus ele me orientou a procurá-la e perdoá-la. Relutei muito tempo, e fiz de tudo para abafar a voz de Deus. Mas não tive como fugir por muito tempo. Contra a própria vontade, apenas por obediência, resolvi falar com ela. Disse: “Gostaria de dizer que eu a perdôo, não porque eu quero, mas por obediência a Deus”. De repente, aconteceu um milagre. Senti um peso cair dos meus ombros, um alívio em meu coração. Deus, através de minha atitude obediente, curou o meu coração e o coração dela.
Se você está amargurado, reconheça e confesse esse pecado, e receba o perdão! E se seu ofensor estiver vivo, procure-o e o perdoe. Fazendo assim, além de ter o seu coração tratado por Deus, você proporcionará ao ofensor a oportunidade de ser tratado também. Se todavia ele não estiver mais aqui, fique tranqüilo, o coração novo que Deus lhe dará não o inquietará mais. Que Deus o abençoe.
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