domingo, 20 de setembro de 2009

Mateus, o discípulo desprezado


Temos aprendido sobre a vida dos doze homens comuns escolhidos por Jesus para formarem o seu grupo de discípulos que teriam a responsabilidade de liderar a Igreja de Cristo nos anos que se seguiram à sua morte e ressurreição.

Depois da introdução nós aprendemos sobre a personalidade, vida e ministério de alguns deles. Vimos: Tiago, o discípulo justo; Tiago, o discípulo menor; Filipe, o discípulo que fazia as contas; Natanael, o discípulo sincero; Judas, o discípulo com três nomes; Tomé, o discípulo incrédulo; André, o discípulo das pequenas coisas; E HOJE veremos Mateus, o discípulo desprezado.



Entre os doze homens comuns chamados por Jesus, encontramos Mateus. No evangelho de Marcos ele é chamado pelo seu nome judeu, ou seja, Levi (aquele que une) e também cita o nome de seu pai, Alfeu. Já Lucas, o doutor, o chama de Levi (no evangelho que também leva seu nome) e de Mateus (Dom ou presente de Deus) no livro de Atos.

Seria natural encontrarmos mais informações a seu respeito nos evangelhos, uma vez que ele é o autor do evangelho que leva seu nome. Mateus se colocou em segundo plano ao fazer o relato da vida e ministério de Jesus. Em todo o seu relato ele cita seu nome apenas duas vezes. A primeira quando é chamado à conversão e a segunda quando é chamado a fazer parte do grupo de discípulos pelo Mestre.

Vejamos o que podemos aprender com a biografia desse homem tão misterioso.


Quando Mateus foi chamado por Jesus, ele era um coletor de impostos, ou seja, um publicano.
Os coletores de impostos eram as pessoas mais desprezadas pelo povo de Israel. Eram odiados e rejeitados por toda a sociedade judaica. Eram considerados mais desprezíveis do que os Samaritanos e as prostitutas.

Tal sentimento se devia pelo motivo de que os publicanos compravam o direito do imperador romano de cobrar impostos dos judeus e com isso cobravam altos impostos do povo de Israel para encher os cofres dos romanos e os seus próprios bolsos. Com freqüência eles arrancavam dinheiro das pessoas à força e violência através de seus capangas. Eram corruptos, gananciosos, cruéis e sem princípio algum.

Mateus 9.9 registra o chamado desse homem. O relato aparece do nada, pegando o leitor de surpresa: “Partindo Jesus dali [Cafarnaum], viu um homem, chamado Mateus sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu”.

Mateus, como publicano, trabalhava numa coletoria de impostos onde tratava diretamente com o público. Estava acostumado a sofrer todo tipo de injúria, desprezo e atos de indiferença. Nenhum judeu de bem e em sã consciência jamais escolheria ser um coletor de impostos. Em sua cabeça ele havia, sem dúvida alguma, se afastado não apenas de seu próprio povo, mas também de Deus. Assim, ele deve ter ficado grandemente surpreso quando Jesus o chamou para segui-lo. Tanto que imediatamente, e sem qualquer hesitação, “se levantou e o seguiu”.

Mas o que levou Mateus a abandonar tudo para atender o chamado de Jesus? Podemos supor que ele era um homem ganancioso, até mesmo por causa de sua profissão. Todavia, tudo o que tinha não foi suficiente para satisfazer a maior necessidade de seu coração, ou seja, ser feliz. Mateus trabalhava o dia inteiro, ganhava milhões, mas era infeliz.

O dia em que foi encontrado por Cristo, seu coração foi preenchido de tal forma, que não houve dúvidas, aquele era o homem a quem deveria confiar sua vida, segui-lo para sempre, não importava o que viria acontecer depois. Jesus o aceitava como ele era e poderia transformá-lo numa pessoa feliz, e isso bastava para ele. Na sua experiência era preferível ter uma vida simples ao lado de Jesus, do que ser rico, mas vazio de propósito para com a vida.


Após aquele encontro com Jesus, encontramos Mateus oferecendo um grande banquete em sua casa. Diz-nos o texto: “E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e seus discípulos. Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Mas Jesus, ouvindo, disse: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento.” (Mateus 9:10-13)

Lucas nos informa que na verdade, esse banquete oferecido por Mateus, foi um grande banquete oferecido em sua própria casa em homenagem a Jesus. Como aconteceu com Filipe e André, Mateus ficou tão empolgado ao conhecer Jesus que resolveu apresentar seus amigos àquele homem que estava sendo chamado de “amigo de publicanos”. Preparou um grande banquete em homenagem ao Mestre e convidou todas as pessoas que conhecia.

Mas quem foram os convidados de Mateus? Lucas diz-nos que eram numerosos publicanos e outros pecadores que estavam à mesa. Todavia, também encontramos alguns penetras fariseus e seus escribas que estavam ali apenas para observar Jesus buscando algum motivo para condená-lo. Eles sequer participaram do banquete porque isso os contaminaria. Ao verem Jesus comendo com os publicanos e pecadores, os fariseus murmuram contra os discípulos dizendo: “Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores?” A isso respondeu Jesus: “Os sãos não precisam de médico e sim os doentes. Não vim chamar justo, e sim pecadores ao arrependimento”. (Lucas 5:29-32)

Jesus deixou claro que não havia nada que ele pudesse fazer para membros de igreja que pensam que por ser tão puros não podem se relacionar, sem comprometer seus princípios, com pecadores. Não há nada que possa ser feito para pessoas que teimam em manter suas aparências piedosas e falsas. Jesus se ocupa em mudar a vida de pecadores arrependidos como Mateus.

Por que Mateus convidou justamente publicanos e outros indivíduos desprezíveis para participar do banquete oferecido a Jesus? Simples. Estas pessoas eram as únicas que se relacionavam com um homem como Mateus. Era um coletor de impostos, um publicano, e os publicanos eram desprezados e proibidos até de participarem dos cultos no templo ou em qualquer sinagoga. Eram considerados indignos por todos a tal ponto que, era permitido você enganá-los e mentir para eles, pois era isso que merecia alguém cuja profissão era de explorar e trair o povo.

Assim, os únicos amigos de Mateus eram vagabundos, prostitutas, criminosos e gente dessa laia. Foram essas pessoas que ele convidou à sua casa para conhecerem a Jesus. De acordo com o relato do próprio Mateus, Jesus e seus discípulos aceitaram o convite e foram de bom grado e comeram com eles.

CONCLUSÃO

Sabemos que Mateus escreveu seu evangelho pensando num público judeu. A tradição diz que ele ministrou aos judeus durante muitos anos antes de ser queimado vivo como uma tocha humana. Assim, esse homem que abandonou uma carreira lucrativa sem pensar duas vezes, continuou disposto a dar tudo de si por Cristo até o fim.

Isso é basicamente tudo o que sabemos sobre Mateus. O suficiente para entendermos que assim como ele, fomos chamados por graça e não por merecimento. Assim como ele, podemos compartilhar com nossos amigos a maior de todas as boas notícias, a notícia de que Deus as ama e quer torná-las em pessoas melhores.

domingo, 13 de setembro de 2009

André, o discípulo das pequenas coisas


Temos aprendido sobre a vida dos doze homens comuns escolhidos por Jesus para formarem o seu grupo de discípulos que teriam a responsabilidade de liderar a Igreja de Cristo nos anos que se seguiram à sua morte e ressurreição.

Depois da introdução nós aprendemos sobre a personalidade, vida e ministério de alguns deles. Vimos: Tiago, o discípulo justo; Tiago, o discípulo menor; Filipe, o discípulo que fazia as contas; Natanael, o discípulo sincero; Judas, o discípulo com três nomes; Tomé, o discípulo incrédulo; E HOJE veremos André, o discípulo das pequenas coisas.


André era irmão de Pedro. Naturais de Betsaida, (Jo 1:44) residiam na região da Galiléia onde tocavam juntos um pequeno comércio de peixes. Em Cafarnaum conheceram outros dois irmãos, também pescadores, Tiago e João, os filhos de Zebedeu.

As Escrituras não relatam muita coisa a seu respeito. Quando o cita como indivíduo nunca o relaciona a qualquer desonra. Certamente, como participante do grupo de discípulos, André cometeu seus erros, mas como indivíduo é elogiado. Na maior parte das vezes em que seu nome é citado, vem acompanhado da frase “irmão de Pedro”, como se isso lhe conferisse importância.

Sempre que ele fala, o que é raro nas Escrituras, diz a coisa certa. Diferente de seu irmão, André era do tipo de pessoa que não fala muito, mas quando fala convence a todos. Ele era intenso naquilo que fazia e sempre disposto a pagar o preço pela sua fé.

André foi o primeiro discípulo a receber o chamado de Jesus para segui-lo (Jo 1:35-40). Isso aconteceu quando André começou a seguir João Batista e ouviu da boca dele, no deserto da Judéia, que Jesus era o Messias prometido. Naquela tarde André e seu amigo João, ao ver Jesus passar o perguntaram sobre o lugar onde ele estava morando. Segundo a narrativa de João, eles foram até onde Jesus estava morando e passaram a tarde conversando com ele.

Vejamos o que aconteceu com André após aquele encontro e o que podemos descobrir a respeito de sua personalidade.


Em se tratando de lidar com pessoas, André tinha um carinho especial. Quase todas as vezes que o vimos nas Escrituras, ele está ocupado levando alguém a Jesus. Por causa disso, até hoje, André é conhecido como aquele que leva amigos a Cristo e não multidões.

Basta olhar para o primeiro capítulo de João e você perceberá qual foi a primeira coisa que fez depois de ter passado uma tarde com ele. As Escrituras diz: “Ele achou primeiro o seu próprio irmão, Simão, a quem disse: Achamos o Messias (que quer dizer Cristo), e o levou a Jesus (vs. 41 e 42).

Ao estudar a vida destes dois irmãos, podemos perceber que ambos tinham o coração evangelista. Todavia eles são bem diferentes quanto ao método pelo qual apresentavam Jesus às pessoas. Enquanto Pedro era o evangelista das multidões (lembre-se que foi ele o pregador que levou mais de três mil pessoas a Cristo no dia da Festa de Pentecostes), André era do tipo que apresentava Jesus através do relacionamento pessoal. Ambos foram importantes para o estabelecimento da Igreja, mas qualquer líder de Igreja afirmará que o trabalho de alguém como André produz mais resultados a longo prazo do que o de Pedro. E nesse caso, basta lembrar que os mais de três mil foram convertidos porque André levou Pedro pessoalmente a conhecer Jesus.

Outro texto que cita André levando pessoas a Cristo é João 12. Aqui encontramos alguns gregos que vieram até Jerusalém para conhecer a Cristo. Estes procuram primeiro a Filipe, que se sente desconfortável em apresentá-los a Cristo. Naquele instante é bem provável que Filipe tenha pensado em uma solução. Olhando para as Escrituras não é difícil identificar qual foi essa “incrível solução” de Filipe para apresentar “gentios” a Jesus. Diz-nos o texto: “Filipe foi dizê-lo a André, e André e Filipe o comunicaram a Jesus.” (Jo 12:22).

André não ficava confuso quando alguém desejava ver Jesus. Ele simplesmente os levava ao Mestre. Ele entendia que Jesus gostava de conversar com pessoas que queriam conhecê-lo (Jo 6:37). Jamais se sentiu desconfortável em apresentar Jesus para alguém. Lembre-se que ele levou seu irmão Pedro a Jesus e se tornou o primeiro missionário, e aqui, ao levar os gregos a Jesus ele se torna o primeiro missionário internacional. Assim era André, costumava falar de Jesus aos seus amigos, um a um.


Em João 6 encontramos mais uma vez o discípulo André em ação. Depois de um dia exausto, Jesus se encontra diante de uma multidão faminta. Ao ver aquela situação os discípulos o chama a parte e o aconselha a despedir a multidão para que cada um pudesse buscar o que comer nas cidades vizinhas. Diante disso eles são desafiados pelo Mestre que disse “daí-lhes vós mesmo de comer” (Lucas 9).

Naquele momento encontramos Filipe, o discípulo que fazia as contas, calculando quanto seria necessário enquanto os demais certamente murmuravam, como de costume. Todavia, é nesse instante que encontramos André dizendo algo importante. Vejamos o texto: “Um de seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, informou a Jesus: Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas isto que é para tanta gente?” (João 6:8 e 9)

Num primeiro momento somos tentados a pensar que André expressa um certo pessimismo, mas não se engane. O texto revela que André, diferente dos demais percebera que mais alguém, além dos doze, estava disposto a contribuir nem que fosse com uma dádiva pequena. Tratava-se de um menino que possuía cinco pães e dois peixinhos.

A pergunta que ele faz é uma pergunta retórica, ou seja, pergunta que por si só já é a resposta. É claro que André sabia que aquela pequena dádiva não podia resolver o problema da fome da multidão, mas ao levar o garoto a Jesus ele estava dando a entender que uma dádiva, até pode ser pequena, mas nas mãos de Deus pode ser usada de forma grandiosa. André não pensa duas vezes para levar diante de Jesus aquele menino. Lá no fundo, ele sabia que Jesus era capaz de fazer algo com aquela pequena contribuição.

André preparou o caminho para o milagre. Naquela tarde mais de cinco mil pessoas foram alimentadas e ainda sobraram doze cestos cheios. É claro que Jesus não precisava da oferta daquele menino para alimentar a multidão. Todavia esse episódio nos revela que Deus tem prazer em usar dádivas insignificantes para realizar coisas monumentais. E André sabia disso.

CONCLUSÃO

Tanto quanto sabemos, André jamais pregou para multidões. Seu ministério foi restrito a apresentar Jesus através de relacionamento pessoal. O livro de Atos não fala nada a seu respeito e não temos nem mesmo uma pequena carta escrita por ele nas escrituras. Todavia, o historiador Eusébio diz-nos que ele anunciou o evangelho até onde hoje é a Rússia.

André falou de Cristo a esposa de um imperador romano que enfurecido mandou crucificá-lo. Ele foi amarrado numa cruz durante dois dias e enquanto estava ali, falava de Jesus a todos que por ele passavam. Teve uma vida inteira dedicada a falar de Jesus a pessoas através do relacionamento pessoal motivando e desafiando a todos a servir a Deus com o que tinha em mãos.

domingo, 6 de setembro de 2009

Tomé, o discípulo incrédulo


Depois da introdução nós aprendemos sobre a personalidade, vida e ministério de alguns deles. Vimos: Tiago, o discípulo zeloso; Tiago, o discípulo menor; Filipe, o discípulo que fazia as contas; Natanael, o discípulo sincero; Judas, o discípulo com três nomes; E HOJE veremos Tomé, o discípulo incrédulo.


Tomé é outro discípulo que tem omitida a sua história pelos três primeiros evangelhos. Apenas João é que relata alguns episódios através dos quais podemos saber sobre a sua personalidade.

João também o chama de “Dídimo” que significa “o gêmeo”, dando a entender que ele tinha uma irmã ou irmão gêmeo. Todavia, a Bíblia nada fala sobre esse assunto.

De acordo com a tradição popular, Tomé é conhecido como sendo o discípulo incrédulo e como todo incrédulo, era do tipo de pessoa que olhava só para o lado triste da vida. Vivia olhando com desconfiança exagerada para tudo. Em toda situação estava sempre esperando o pior. Mas, surpreendentemente também tinha lá o seu lado bom, era corajoso. Sua incredulidade causava-lhe sérios problemas, vejamos:


A primeira vez que Tomé é citado por João, é quando da morte de Lázaro. Jesus estava sendo procurado na Judéia por seus inimigos que estavam decididos a matá-lo. Por esta razão Jesus havia se retirado para o outro lado do Jordão, onde estava desenvolvendo um ministério bem sucedido, e ao que parece, foi o melhor período da popularidade de Jesus.

Todavia, chega-lhe a notícia de que seu amigo Lázaro estava muito doente e que ele deveria ir vê-lo. Surge então um dilema, Lázaro morava na aldeia de Betânia, região da Judéia e se Jesus fosse visitá-lo poderia ser preso e morto. Então, o que fazer?

Os discípulos devem ter ficado aliviados quando Jesus, inicialmente, resolveu ficar. Mas, dois dias depois, eles são surpreendidos com a firme decisão do Mestre: “Lázaro morreu... mas vou para despertá-lo” (João 11:11). Nesse momento, os discípulos ficam perturbados e tentam inutilmente impedir a viagem de volta à Judéia. Eles estavam com muito medo do que pudesse vir a acontecer e relutantes àquela viagem, apesar da advertência de Jesus de que eles não precisavam temer porque naquela hora era preciso fazer a obra do Pai ‘enquanto era dia’, ou seja, eles não seriam presos e nem mortos naquela viagem.

Foi nesse momento que Tomé falou aos demais discípulos “Vamos também nós para morrermos com ele” (vs. 16). Para Tomé era mais fácil acreditar que seriam mortos do que acreditar que não seriam presos e que Lázaro poderia ser ressuscitado conforme a palavra de Jesus. Todavia, há um toque de coragem na palavra de Tomé. Já que Cristo não lhe quis dar ouvidos, estava disposto a ir e morrer com ele, o que não apaga a sua incredulidade na palavra de Cristo.

Não é fácil ser um incrédulo. É um jeito miserável de se viver. O crente teria dito “Vamos lá; vai dar tudo certo. O Senhor já disse que nada de mal vai nos acontecer, podemos acreditar”. Mas, o incrédulo diz “Não adianta, ele vai morrer mesmo, então só nos resta ir e morrer com ele também”.

A incredulidade de Tomé o impediu de ver o que estava para acontecer. Jesus disse que ele iria despertar Lázaro do sono da morte. Era um grande momento que marcaria sua vida, onde Cristo demonstraria ao vivo e a cores o seu poder como Deus encarnado, todavia, Tomé não conseguiu perceber o que estava para acontecer por causa de sua incredulidade.


A outra ocasião em que encontramos o incrédulo Tomé é quando Jesus está preparando os discípulos para sua morte (João 14). Naquela ocasião dizia Jesus: “Vou prepara-vos lugar” (vs 2) e “voltarei e vos receberei para mim mesmo” (vs. 3) e “vocês sabem o caminho” (vs. 4).

Os discípulos haviam colocado em Jesus toda a esperança de que ele se tornasse o rei de Israel e os livrasse da opressão do império romano. Todavia, com as palavras de despedida de Jesus, tal expectativa é frustrada. Ele iria embora, e mesmo que garantisse a sua volta, Tomé não tinha fé suficiente para acreditar. Esperar não era seu forte, era preciso saber o endereço para onde Jesus estava indo para que ele pudesse ir por conta própria. Por isso ele pergunta: “Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho?” (vs. 5)

A isso Jesus respondeu: “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (vs. 6). Ou seja, bastava seguir todas as orientações e ensinos dados pelo Mestre que certamente eles estariam diante de Deus na eternidade, até porque é ele quem tomaria a iniciativa do reencontro quando disse “voltarei e vos receberei para mim mesmo” (vs. 3).

Até aquele momento Jesus havia dado inúmeras provas de que ele era digno de confiança. Tudo o que ele havia falado, havia se cumprido. Mas Tomé, cabisbaixo, não acreditava que poderia reencontrá-lo novamente depois daquela despedida.

Pessoas como Tomé não acreditam muito que Deus pode interferir em suas vidas. Tem dificuldades de acreditar na interferência do Todo Poderoso em sua história. Para eles, o melhor da vida já passou. Deus até existe, agiu no passado, mas não fará grandes coisas no presente em seu favor. Pior, se olhassem para trás, encontrariam muitos motivos para acreditar que Deus sempre se mostrou presente e ativo em suas vidas e fará intervenções no futuro quantas vezes forem necessárias.


O último relato a respeito de Tomé está registrado em João 20. Após a morte e ressurreição do Senhor ele aparece aos seus discípulos dentro de um salão com as portas trancadas e nessa ocasião Jesus mostrou suas mãos e o lado ferido pela lança quando de sua morte. João diz que estavam todos os discípulos reunidos ali, exceto Tomé (Jo 20:24).

Mas por que Tomé estava ausente? Não é difícil perceber que ele estava envolvido em sua incredulidade mais uma vez. Ele não acreditava que a ressurreição de Cristo poderia acontecer mesmo. Se retira do convívio social, busca um lugar deserto, se sentindo arrasado, destruído. Não estava disposto a estar com ninguém, até mesmo com seus amigos.

No entanto, depois da experiência de ter visto o Senhor ressurreto, os discípulos procuram Tomé para dar-lhe a boa notícia. “Vimos o Senhor” disseram eles, mas pasme, ouçam a resposta de alguém que tem sua fé diminuída: “... Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão ao seu lado, de modo algum acreditarei” (vs 25).

É por esse motivo que Tomé é chamado de o discípulo de pouca fé. Os discípulos se retiram com aparente insucesso na tentativa de reanimar Tomé. No entanto, diz-nos a Bíblia que Tomé só tomou a decisão de unir ao grupo oito dias depois. E algo maravilhoso aconteceu. Mais uma vez, eles estavam no salão de portas fechadas, quando Jesus aparece no meio deles, e sem que ninguém o comunica sobre as dúvidas de Tomé, Jesus aproxima-se dele e diz “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega também a tua mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente” (vs 27). O curioso é que Tomé, mesmo vendo o Senhor, fez questão de apalpá-lo. E somente assim, convencido da ressurreição do Senhor, ele confessa “Senhor meu e Deus meu!” (vs. 28) ao que Jesus responde “Por que me vistes creste? FELIZES os que não viram e creram” (vs. 29).

Pessoas como Tomé, precisam entender que Deus as ama, apesar de sua fé deficiente. Todavia, devem tirar os olhos das circunstâncias contrárias e fixar seus olhos no Deus que tudo pode e que jamais terá um só de seus planos frustrados. A felicidade certamente não depende do que temos ou da ausência de problemas em nossas vidas. A felicidade depende de confiarmos em Deus em toda e qualquer situação. E Tomé teve que aprender isso.

Tomé foi de fato transformado pelo Senhor. Cheio do Espírito Santo tornou-se um grande pregador na Índia, onde levou milhares de pessoas a confiar em Jesus. A história da Igreja diz-nos que ele morreu atravessado por uma lança. Curiosamente, no mesmo lugar do corpo em que Jesus também foi ferido por uma lança.

Com Tomé aprendemos que a incredulidade impede nossos olhos de antever o agir de Deus em nossas vidas, rouba nossa esperança de dias melhores e diminui consideravelmente nossa fé reduzindo-nos a uma vida infeliz. Mas, o que nos consola é saber que Deus trabalha nossa personalidade, em tempo certo e de maneira correta. É preciso estar atentos ao que ele está fazendo em nós e nos submetermos ao seu tratamento. Que ele nos abençoe.