domingo, 6 de junho de 2010

Ferindo o próprio coração


Certa vez indo de Pingo d´Agua para Acesita li uma história, muito interessante, de um homem chamado Jaime. No dia em que seu pai faleceu, os irmãos de Jaime por morarem distantes, confiaram a ele o inventário da família. Seus três irmãos estavam certos de que ele dividiria os bens do pai em quatro partes iguais. Mas isso não foi o que aconteceu. Jaime vendeu os bens, e tirou uma parte maior para si e dividiu o restante em partes iguais entre os demais irmãos. Tudo ia muito bem até receber uma carta agradecendo a sua dedicação e fidelidade. Daquele dia em diante Jaime tornou-se nervoso, faltava ao trabalho continuamente, ficou doente e entrou em depressão.

Ao procurar o médico da família, Jaime fez todos os exames e a causa da enfermidade não foi diagnosticada. O médico, um senhor já experiente e comprometido com Deus ousou fazer-lhe uma pergunta: “Jaime, por acaso você está escondendo algum pecado?” Ao que Jaime se irritou e gritou: “Estou precisando de um médico e não de um pastor”. Em seguida, se levantou, bateu a porta e foi embora. Em casa, tentou dormir, sem sucesso. A voz do médico não saia da cabeça “Jaime, por acaso você está escondendo algum pecado?”. Mas o que fazer quando ferimos o nosso próprio coração por erros cometidos no oculto e que deveriam permanecer no oculto? O que fazer quando por nossa causa, além de ferirmos o nosso coração levamos muitos a sofrer?

Existem duas maneiras de você enfrentar seus erros. Uma é enfrentá-los e resolver a situação. A outra é fazer de conta que não aconteceu nada e acreditar que o tempo se encarregará de acertar a situação. É claro que a primeira opção é a única que de fato resolve. Todavia, tenho encontrado muitas pessoas que por motivos dos mais diversos tem optado pela segunda opção, ou seja, tentar esquecer.

Na Bíblia encontramos Davi, alguém que escolheu a segunda opção. Por esta razão, convido você a olhar para a vida dele e aprender com a sua experiência. Ele é um exemplo altamente negativo para aqueles que optam por esconder o seu pecado e assim ferir o próprio coração. (Veja sua experiência em 2 Samuel 11 e 12)


Davi era um servo fiel e temente a Deus. Todavia, numa tarde em que seu exército estava em batalha, Davi resolveu ficar no palácio. Subiu ao terraço e viu uma mulher se banhando. Ao saber que se tratava de uma mulher casada com um de seus soldados, Davi não teve dúvidas. Mandou chamá-la. Não sabemos quais foram as desculpas usadas por ele, mas o certo é que ela veio e se deitou com o rei. Após a sua aventura amorosa, ela mandou avisá-lo que estava grávida.

Ao tomar conhecimento da gravidez indesejada, Davi desenvolveu um plano. Manda chamar Urias, o marido, com a desculpa de que precisava de informações sobre a guerra. Em seguida, despede o soldado para ir para casa e deitar-se com sua mulher. Desta maneira, pensou Davi, ele jamais saberá que o filho é meu. Mas, Urias tinha um caráter polido. Recusou a voltar pra casa alegando que não poderia se divertir com sua mulher enquanto seus amigos estivessem em batalha. Ao ver a postura do soldado, Davi o chama para um jantar e o embebeda e depois o manda para casa. Mas, mesmo bêbado, Urias não volta pra casa. Agora, não havia nada mais a fazer, pensa Davi. Chama Urias, coloca uma carta em suas mãos para o comandante do exército ordenando que o colocasse à frente da batalha. Desta forma, Urias seria morto e assim deixaria sua esposa livre para Davi.

Pouco tempo depois chegou a notícia da morte de Urias. Mas veja as palavras do rei em relação ao ocorrido: “DISSE DAVI AO MENSAGEIRO: ASSIM DIRÁS A JOABE: NÃO PAREÇA ISSO MAL AOS TEUS OLHOS, POIS A ESPADA DEVORA TANTO ESTE COMO AQUELE...” (2 Sm 11.25). Ou seja, para Davi, o que ele fez não era nada absurdo. Afinal de contas quem vai para a guerra sabe que pode não voltar. A vida é assim mesmo, um dia a gente ganha, outro, a gente perde. Está tudo bem. Após passar os dias de luto, Davi manda buscar a viúva para ser a sua mulher. Assenta no trono com a sensação de problema resolvido.


Mas estava tudo resolvido? Para Davi estava, todavia a Bíblia nos diz que “Porém isto que Davi fizera foi mau aos olhos do Senhor” (2 Sm 11.27). Davi deve ter dado mil e uma desculpas para justificar a sua atitude e assim abafar a sua culpa. É certo que o Senhor o incomodou, mas ele procurou fugir da cobrança que vinha a sua mente. No Salmo 32.3 e 4, ele revela o que aconteceu durante aqueles dias: “ENQUANTO CALEI OS MEUS PECADOS, ENVELHECERAM OS MEUS OSSOS PELOS MEUS CONSTANTES GEMIDOS TODO O DIA. PORQUE A TUA MÃO PESAVA DIA E NOITE SOBRE MIM, E O MEU VIGOR SE TORNOU EM SEQUIDÃO DE ESTIO.”

A mão do Senhor pesou sobre Davi de forma que ele não tinha paz. Levantava e se arrastava o dia inteiro. Não admitia a sua culpa. Afinal de contas ele era o rei. Seu coração fora conquistado por aquela mulher. Se ela era casada, o que ele poderia fazer? O coração não recebe ordens da razão e quando a gente vê já está apaixonado. Sem aquela mulher, dizia Davi, eu não posso ser feliz. E se o marido morreu na guerra, não foi culpa minha. Tantas desculpas, mas nenhuma delas aliviava a sua culpa.

Davi perdeu o sono, o apetite, a consciência tranqüila, a paz, a paciência e a alegria de viver. Por quê? Um pecado escondido o torturava. A mão do Senhor pesava dia a dia sobre ele e como não podia ser diferente, ficou doente. A situação de Davi nos mostra visivelmente o poder destruidor que o pecado tem sobre aquilo que toca.

No caso de Davi, além de causado tantos males, Davi agora teria que lidar com as conseqüências de seu pecado. Quando estava no terraço os olhos de Davi viram apenas uma linda mulher e por um momento de prazer ele resolveu desprezar a Palavra do Senhor. Mas observe o que ele não viu quando estava obcecado pelo desejo: Davi não viu uma gravidez, a morte do marido e do filho indesejado; Não viu que sua atitude levaria Amnon, seu filho querido, a violentar a irmã sexualmente e ser morto pelo irmão Absalão. Não viu seu filho Absalão se rebelar contra ele, expulsá-lo do palácio e manter relações sexuais com as mulheres de Davi no mesmo terraço a vista de todo o povo, como sinal de desprezo pelo pai. Por desprezar o Senhor, mesmo depois de perdoado, Davi não foi poupado das conseqüências de seu erro.

Podemos dar inúmeras justificativas para o nosso pecado, mas Deus nunca o aprovará. Podemos optar por escondê-lo, mas aos olhos daquele que tudo vê, ele ficará sempre exposto. E mais, se continuarmos a não dar ouvidos a voz de Deus, aquilo que escondemos, tornará público. Números 32:23 nos diz: “Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o SENHOR; e sabei que o vosso pecado vos há de achar”. E foi exatamente isso que aconteceu com Davi. Mas, mesmo conhecendo o caráter de Deus, Davi optou por continuar escondendo o seu pecado. Ao ver essa postura irresponsável, Deus resolveu agir. Ele nunca ficará de braços cruzados ao ver seus filhos e filhas se definharem em rebeldia, machucando aos outros e ao próprio coração.


A notícia de que o rei estava doente correu o país. Cuidados foram tomados, mas nada resolvia o problema do rei. Até que Deus levanta o profeta Natã para falar ao rei. O método usado por Natã foi bem didático. Ouçamos esta história contada pela própria Bíblia: “O SENHOR enviou Natã a Davi. Chegando Natã a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. Tinha o rico ovelhas e gado em grande número; mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha. Vindo um viajante ao homem rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar de comer ao viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha do homem pobre e a preparou para o homem que lhe havia chegado.” (2 Sm 12.1-4)

O curioso é que antes de terminar a história Davi interrompe Natã: “Então, o furor de Davi se acendeu sobremaneira contra aquele homem, e disse a Natã: Tão certo como vive o SENHOR, o homem que fez isso deve ser morto. E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu.” (2 Sm 12.5-6)

Cuidado meu irmão. Aquilo que você condena e exige justiça imediata em relação aos outros, pode denunciar o seu próprio pecado. Gostamos de projetar nos outros aquilo que nós mesmos temos dificuldades em lidar. Quando nos tornamos justos demais, esquecemos quem somos. Foi o que aconteceu com Davi. Ao ouvir a sentença de Davi, veja o que disse Natã:

“Então, disse Natã a Davi: Tu és o homem. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; dei-te a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teus braços e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas. Por que, pois, desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o que era mal perante ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o SENHOR: Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e perante o sol.” (2 Sm 12.7-12)

Agora Davi é confrontado por Deus. Não tem mais como esconder seu erro. Mediante essa nova situação Davi toma a decisão acertada, já era hora. “Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o SENHOR. Disse Natã a Davi: Também o SENHOR te perdoou o teu pecado; não morrerás.” (2 Samuel 12.13). Mais tarde, ao escrever sobre essa experiência Davi fala de sua decisão no Salmo 32.5: “Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do meu pecado.” Na verdade, não existe outra solução para o pecado oculto. Precisamos evitá-lo ao máximo, mas se pecarmos, a melhor saída é confessá-lo diante de Deus e abandoná-lo.

CONCLUSÃO

Lembra-se de Jaime? Pois bem. Não agüentando mais aquela tortura, ele se levantou e foi a procura do médico. Sabia onde ele morava. O sol estava despertando quando seu médico o recebeu em casa. Sabe doutor. Não consigo dormir desde que me fez aquela pergunta. Então Jaime contou que ao distribuir os bens da família ele não fora honesto, mas estava arrependido. Juntos oraram a Deus e Jaime confessou o seu pecado. Quando ia se levantando para sair, o médico pediu que assentasse e escrevesse uma carta aos irmãos contando tudo que havia acontecido acompanhado por três cheques com a quantia furtada. Ambos foram aos correios. Ao voltar para casa, Jaime era outra pessoa. Um milagre havia acontecido. Ele estava leve, feliz e alegre por ter feito a coisa certa. Havia alcançado a cura.

Existe algum pecado escondido em sua vida? Você anda irritado, impaciente, inquieto, sempre com pedras nas mãos? Não consegue dormir, tem enfermidades que os médicos não conseguem diagnosticar? Não se alimenta direito? Então me permita uma última pergunta: Tem pecado escondido em seu coração?

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