domingo, 8 de fevereiro de 2009

Transforma corações


Por que se torna difícil amar a Deus, mesmo sabendo o que ele fez por nós? No Evangelho de João, capítulo três encontramos a história de um homem que não conseguia amar apesar de ter abundante conhecimento bíblico. Este homem cumpria aparentemente, todas as normas, esforçava-se cada dia para ser um bom membro de Igreja, tinha até um cargo de liderança, mas não era feliz. Experimentava uma sensação de vazio na alma, faltava em sua vida alguma coisa. O pior de tudo era que nem ele próprio sabia definir o quê.

É possível que Nicodemos costumasse ficar acordado até altas horas da noite, sem conseguir dormir. Muitas vezes, deitado na cama, talvez se perguntasse: “Meu Deus, o que está faltando? Devolvo os dízimos, sou professor da Escola Dominical, sou membro do Conselho, mas sinto que alguma coisa está errada dentro de mim; tenho a impressão que de nada adianta todo o meu esforço. O que está acontecendo comigo?”.



Foi talvez numa daquelas noites que se levantou e procurou Jesus. Sabia onde achá-lo. Estudava as profecias e tudo apontava Cristo como o Messias que havia de vir. Seu problema não era a falta de conhecimento. A tragédia de Nicodemos jazia no fato de nunca ter tido um encontro pessoal com Cristo. Amparado pelas sombras da noite, dirigiu-se onde Jesus estava. No fundo, tinha vergonha que outros o vissem procurando Jesus. Vocês percebem o drama daquele homem? Cheio de teoria, cheio de doutrinas, sozinho, precisando de ajuda, angustiado, porém impedido, por causa do seu status, de correr como o jovem rico e cair aos pés de Cristo dizendo: “Senhor, estou perdido! O que preciso fazer para ter a vida eterna?”

Ao encontrar Jesus, Nicodemos tentou abrir o coração, contar suas tristezas, da confusão toda que o inquietava, mas não conseguiu. Seu orgulho falou mais alto: “Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.” (João 3.2).

Tenho a impressão que quando Nicodemos começou a falar com Jesus ele na realidade quis dizer: “Jesus, eu te reconheço como mestre, e vim falar contigo de mestre para mestre. Vamos estudar um pouco as profecias que se relacionam com as coisas que tu fazes”. Jesus fixou os olhos em Nicodemos e viu através deles uma alma angustiada. Não era de profecias que ele estava precisando, nem de doutrinas. Às vezes vivemos preocupados em procurar mais conhecimento teológico quando na realidade a nossa necessidade é outra.

“Nicodemos”, disse Jesus, “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (vs. 3). Este é o seu problema e enquanto você não experimentar o novo nascimento não adianta estar na Igreja, nem conhecer a doutrina, nem ter cargo de liderança. Nada substitui a experiência da conversão”. Aquela declaração causou grande impacto em Nicodemos. “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?” (vs. 4) perguntou Nicodemos. Ao que Jesus respondeu: “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.” (vs. 5-7).

A história de Nicodemos fica sem conclusão no capítulo três de João, porque, naquela noite, ele não aceitou o convite de Cristo. Era duro demais reconhecer que ele, Nicodemos, o teólogo, o líder, o bom membro de Igreja, não era convertido. Retirou-se triste e frustrado como veio.



Você acreditaria se eu dissesse que o problema de Nicodemos é também o nosso? Corremos talvez o risco de pensar que, porque estamos na Igreja, batizados, estamos convertidos. Mas não é assim. Não podemos confundir conversão, com convicção. Ambas soam parecidas, mas tem significados completamente diferentes. Convicção tem a ver com o que vai na cabeça. Conversão tem a ver com o coração e a vida.

Um dia desses, alguém nos deu uma série de estudos bíblicos. Aceitamos as doutrinas e decidimos nos batizar. Ao sermos recebidos como membros da Igreja pensamos: “Agora estou convertido”. Mas talvez não seja assim. Estamos convencidos da doutrina, com certeza, mas estar convencido não significa estar convertido. E aí começa a confusão toda. Passamos pela vida como Nicodemos, cheios de conhecimento, muitas vezes desde crianças, porque nascemos em um lar evangélico, mas vivemos com essa permanente sensação de vazio, de impotência e de fracasso. Queremos amar a Deus e não conseguimos. Por quê?

Vamos tentar entender melhor este assunto da conversão. Para isso temos que remontar novamente o Éden. Lá encontramos Adão e Eva, recém criados por Deus. Eles eram perfeitos e foram criados com capacidade de obedecer. Para eles, obedecer era tão fácil como respirar. O problema começou quando pecaram, porque naquele instante eles perderam aquela natureza perfeita e adquiriram uma natureza estranha, incapaz de obedecer. Chamaremos isso de natureza pecaminosa.

Infelizmente essa natureza pecaminosa foi passando de pai para filho até o dia de hoje. É isso que a Bíblia diz: “enganoso é o coração e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” Então você pode estar perguntando: “Pastor, isso quer dizer que eu nunca conseguirei obedecer?” E eu respondo: “Com essa natureza pecaminosa com a qual você nasceu, não.” Foi isto que Cristo disse a Nicodemos: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. Deixe-me ilustrar isso.



Suponhamos que um dia um lobo comece a observar a vida das ovelhas e depois de um certo tempo chegue à conclusão de que o melhor modo de vida é a vida das ovelhas e decida juntar-se a elas. Para isso, coloca uma pele de ovelha em cima e passa a conviver com as ovelhas. Como você acha que ele se sentirá quando chegar a hora de comer e as ovelhas comerem com prazer o capim verde? Você acha que ele se deliciará comendo capim? Suponhamos também que ele seja um lobo honesto, e não queira voltar atrás na sua decisão, você acha que cinco ou dez anos depois ele finalmente aprenderá a gostar de capim? Não, claro que não. Ele é lobo, com paladar de lobo e com natureza de lobo.

A princípio talvez ele se esforce para viver exatamente como as ovelhas vivem, embora tudo isso seja contrário a sua natureza. Mas o tempo vai passando, o entusiasmo da sua decisão vai diminuindo e, finalmente, depois de um ou dois anos, não consegue mais ficar amarrado a um tipo de vida alheio a sua natureza. Aí, um dia, enquanto as ovelhas dormem, ele se levanta em silêncio e vai embora. Longe do rebanho, tira a pele de ovelha e vive como lobo, come, corre, uiva como lobo, enfim, faz tudo que os lobos fazem. Depois de ter dado vazão a seus instintos e gostos de lobo ele retorna, coloca novamente a pele de ovelha e no domingo está de novo assentado no meio das ovelhas, como se nada tivesse acontecido. Nada? Aconteceu sim, e ele sabe disso e então chora em silêncio.

Um dia, não conseguindo suportar mais esse tipo de vida, grita do fundo de seu coração: “Ó Deus, tu sabes que eu quero ser uma ovelha de verdade, mas tu conheces a minha natureza de lobo. Sou um lobo, nasci lobo. Mas, Deus, por favor, não quero ser mais lobo, quero me tornar numa ovelha de verdade. Faze alguma coisa por mim”. E Deus faz o milagre da transformação. Com um toque maravilhoso, converte esse lobo numa ovelha de verdade, com coração de ovelha, com paladar de ovelha, com mente de ovelha. Entende meu amigo? Isso é conversão. Deus promete dar-nos uma natureza nova, a natureza de Cristo, que gosta de amar a Jesus e tem prazer nas orientações seguras da Palavra de Deus.


Essa era a luta de Nicodemos quando Cristo lhe disse: “Você tem que nascer de novo, você precisa de uma nova natureza”. E Nicodemos achou que, porque conhecia bem a doutrina, já tinha sido convertido e achou aquela declaração de Cristo uma ofensa e foi embora. Durante três anos continuou vivendo em meio à Igreja carregando aquele sentimento de que alguma coisa estava errada com ele. Continuou assistindo aos cultos, desempenhando suas responsabilidades, mas vazio e triste por dentro.

Até que um dia os judeus prenderam a Jesus e o levaram ao topo da montanha do Calvário. Aí, seu corpo foi levantado. Embaixo, entre a multidão estava Nicodemos, tremendo. E ao ver Cristo pregado na cruz, se lembrou da noite de três anos atrás, quando Jesus disse: “Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, é necessário que eu seja levantado numa cruz, para que todo aquele que crer em mim não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Nicodemos não conseguiu resistir mais. Eu imagino que se aproximou da cruz e clamando disse: “Por favor Jesus, não vá embora. Não sem antes transformar meu ser. Dá-me a nova natureza de que falou naquela noite”. E o pedido de Nicodemos foi ouvido. Cristo transformou seu ser. E aquele homem medroso que um dia procurou Jesus de noite, não teve medo de confessar publicamente a sua fé em Jesus e junto com José de Arimatéia pediu o corpo de Cristo para dar-lhe uma sepultura digna.


Como Deus transforma? Não sei. Mas eu sei que ele é capaz de mudar a vida de qualquer pessoa que o busque. Ao longo de meu ministério tenho visto muitas vidas serem transformadas. Pessoas viciadas em drogas, bêbados, homens e mulheres sem esperança de recuperação, e Deus foi capaz de transformá-los.

Lembro-me de uma ocasião em que fui acompanhando a Cida num Congresso promovido pelo SEBRAE em São Paulo para Micro e Pequenas Empresas. Na época Cida estava planejando abrir sua loja. Estávamos assentados na segunda fila de um grande hotel, pessoas bem trajadas, tratamento de luxo e repórteres faziam a cobertura do evento.

No primeiro intervalo, um homem de terno e gravata, se aproximou eufórico e disse com alegria: “Pastor Ronaldo?!” Surpreso respondi: “Sim, sou eu” enquanto certifiquei que no meu crachá não havia a descrição “pastor” junto ao nome. E ele continuou: “Sei que não sabe quem sou. Alguns anos atrás o senhor estava falando de Jesus para mendigos na rodoviária de Itu. Naquela noite, um deles se mantinha mais distante e xingava o tempo todo mandando-o calar a boca. Lembra-se disso?” É claro que eu me lembrava.

E ele continuou: “Pois bem. Aquele mendigo era eu. Eu xingava porque suas palavras caiam em meu coração como uma bomba. Quando o senhor foi embora eu não consegui resistir, submeti minha vida a Jesus.” Naquele instante eu já estava perplexo. “Ali aconteceu um milagre pastor. Eu havia perdido a minha família por causa da bebida. Bebia tanto que não conseguia trabalhar. Batia em minha esposa e meus filhos quando estava sob o efeito da bebida, até que um dia eles me colocaram pra fora.

Depois de minha conversão, parei de beber e minha vida tomou outro rumo. Consegui desenvolver um projeto de economia de luz elétrica e hoje tenho uma Pequena Empresa. Mas, faltava-me algo. A minha família estava sofrendo e eu não tinha coragem de procurá-la porque sabia que eu era o culpado de todo o sofrimento deles. Até que um dia resolvi fazer-lhes uma visita. Foi difícil. Mas quando me viram, não acreditaram que eu não estava bêbado. Minha mulher, com os olhos arregalados disse: ‘É você mesmo? Eu ouvi dizer que você não bebe mais, mas não acredito.’ Naquele instante então disse: É, Cristo mudou minha vida. Por todos esses anos fiz vocês sofrerem, peço que me perdoem e me permita ajudá-los. Não precisam me tratar como pai ou marido, eu não mereço isso, mas me permita ajudar vocês com o meu trabalho.

Sabe pastor, eu nunca vou esquecer aquele momento. Os meus filhos pularam em meu colo e me beijaram. Minha mulher chorando disse: ‘eu estou muito confusa, mas se esse Jesus realmente fez você parar de beber, então eu preciso conhecê-lo’. Daquele dia em diante comecei a pedir a Deus a oportunidade de reencontrá-lo e agradecê-lo por ter falado de Jesus pra mim. Eu mal conseguia lembrar o seu nome, sabia que era pastor, mas não sabia onde encontrá-lo. Hoje, Deus me deu a honra de reencontrá-lo.

Isso não é maravilhoso? O milagre da conversão pode acontecer agora, comigo, com você, com qualquer pessoa que chegar a Cristo reconhecendo sua incapacidade de obedecer devido à sua natureza pecaminosa. É justamente isso que Deus nos promete: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ezequiel 36:26).

Consciente de que sem Cristo jamais conseguirá ter uma vida feliz você pode clamar: “Ó Deus, perdoe meus pecados e transforma meu coração”. Então, a Palavra de Deus diz que o milagre acontecerá. Você pode estar perguntando: “Mas como isso é possível? Como pode Deus mudar minha vida num segundo?” Não sei, milagres não tem explicação e a conversão é um milagre.

Eu não posso explicar como a água pura e simples pelo toque de Cristo um segundo depois era vinho de primeira qualidade. Nenhum químico do mundo pode explicar. Milagres não se explicam, se aceitam. Como foi possível um cego de nascença viver anos e anos na escuridão e, num segundo depois do toque divino, estar enxergando? Oftalmologista nenhum pode explicar isso. Milagres não se explicam, se aceitam. Nesse momento, agora, Deus quer fazer um milagre em você, o milagre da conversão. A você cabe apenas dizer, Senhor eu aceito o milagre. Vamos orar.

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