Na semana passada dissemos que na pesquisa desenvolvida pelo IPI nas mais de 1000 Igrejas, nos 32 países nos cinco continentes revelou 8 marcas de qualidade que estão presentes nas Igrejas que estão crescendo, mas ausentes nas Igrejas que estão morrendo.
Naquela ocasião apresentamos os duas primeiras marcas: 1) Liderança capacitadora e 2) Ministérios orientados pelos dons. Hoje veremos a terceira e quarta marca de desenvolvimento natural da Igreja e como fizemos na semana passada analisaremos se as mesmas estão em acordo com a Palavra de Deus.
A pesquisa realizada pelo IPI sobre o desenvolvimento natural da Igreja revelou que as Igrejas saudáveis e que estão em crescimento contam com 76% de seus membros vivendo sua fé de forma entusiasmada e contagiante, diferente das Igrejas que estão morrendo.
Outra comprovação interessante sobre essa marca foi que a espiritualidade dos cristãos não depende do estilo piedoso (carismático ou não) nem de certas práticas espirituais (como por exemplo “guerra espiritual” ou orações litúrgicas), que são tidos como motivos do crescimento por vários grupos.
O aspecto que de fato diferencia Igrejas que crescem de Igrejas que não crescem é outro. O fator determinante é se os crentes de uma determinada Igreja vivem sua fé com dedicação, paixão e entusiasmo contagiante. Não estamos aqui referindo a quanto tempo uma pessoa passa em oração ou estudo da Palavra, que são dois dos diversos meios de se viver a espiritualidade. Na verdade é a qualidade da espiritualidade vivida pelos cristãos da Igreja que determina se ela é saudável ou não, e não necessariamente, a quantidade de tempo que um cristão passa em oração, jejum, comunhão ou leitura da Palavra.
Algumas pessoas pensam que essa “paixão espiritual” não pode ser uma das marcas de crescimento porque dependendo da sua doutrina, ela até pode ser contagiante, mas não fará bem a uma Igreja séria. Isso é verdade. Precisamos de fato nos preocupar com os ensinos seguros da Palavra de Deus e com base neles desenvolvermos a nossa espiritualidade. O problema é quando em nome de uma “fidelidade bíblica teológica”, deixamos de viver a nossa espiritualidade com paixão e entusiasmo a tal ponto de contagiarmos as pessoas que estão ao nosso lado. Passamos a vida como Nicodemos, com muito conhecimento bíblico e teológico, mas sem nenhuma paixão por Jesus. Servimos por “obrigação” ou por “tradição” e não por amor. Vejamos um exemplo bíblico do que estamos falando
Em Atos 2.42-47 lemos: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.”
No texto acima fica evidente que o segredo da Igreja Primitiva não estava no conhecimento que tinham da Palavra, mas na vivência da mesma. Eles também não viviam sem considerar as instruções seguras da doutrina ensinada pelos apóstolos. Na verdade, eles conseguiram equilibrar conhecimento bíblico teológico com a prática apaixonada das verdades aprendidas, em outras palavras, praticavam a espiritualidade contagiante, a tal ponto que o Dr. Lucas nos informa que as pessoas fora da Igreja também foram contagiadas com essa espiritualidade e acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
É interessante observar que na pesquisa do IPI o princípio “estruturas funcionais” revelou que 85% das Igrejas que crescem fazem avaliação anual das estruturas quanto a sua funcionalidade. Já as Igrejas que estão morrendo quase que na sua totalidade demonstraram que suas estruturas são mantidas há anos por causa da tradição. Não é de admirar que essa marca seja o que causa maior polêmica como sendo uma marca de desenvolvimento natural da Igreja. Isso provavelmente, se deve à visão deturpada que muitos cristãos têm a respeito desta marca.
Alguns cristãos levantam suspeita de que as estruturas não são verdadeiramente espirituais. Para eles as estruturas de uma Igreja mais atrapalham o desenvolvimento da mesma, e por isso devem ser evitadas. Esse grupo detesta qualquer tipo de planejamento ou organização. Para eles as coisas “espirituais” (culto, programas, EBD, grupos pequenos) devem ser dirigidos conforme o “vento do Espírito”. Não aceitam liturgia, planejamentos e regras. Alguns chegam a não ter uma liderança estabelecida, como um pastor, por que isso os leva a idéia de estrutura. E toda e qualquer estrutura deve ser evitada porque, segundo eles, elas não são nada funcionais e engessam o povo de Deus e os impede de ser tocados pelo Espírito Santo.
Em contrapartida outros cristãos identificam as estruturas como sendo a essência da Igreja. Tais defensores encontram problemas com essa marca não por causa da palavra “estruturas”, mas por causa do adjetivo “funcionais”. Isso porque eles não estão dispostos a abrir mão de uma estrutura (templo, bancos, púlpitos, estilo do culto, grupos pequenos, EBD, papel de um líder...) porque ela deixou de ser funcional. O critério de se manter uma estrutura é a tradição, ou seja, as “estruturas” não podem mudar porque “sempre foi feito assim”. Por isso, sendo funcionais ou não, devem ser mantidas. Nesse exemplo, o novo sempre é visto como algo ruim e ameaçador. Mas e a Bíblia, o que diz?
É evidente de que quando Jesus enviou seus discípulos a cumprir a missão da Igreja (Mt 28.16-20) ele não disse nada sobre estruturas funcionais. Mas isso não significa que ele não previa que a Igreja precisaria de se organizar com estruturas para que a missão fosse desenvolvida com sucesso.
Com o desenvolver da missão, os discípulos se viram forçados a estabelecer uma estrutura que fosse funcional para que a Igreja pudesse caminhar. Em Atos 6.1-7 lemos sobre uma dificuldade enfrentada pela Igreja e o estabelecimento de uma estrutura funcional para solucionar tal dificuldade, leiamos: “Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra. O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.” Desta forma, a Igreja ia se estruturando, sempre buscando suprir suas necessidades.
Outra passagem interessante sobre isso é Atos 15.22-29 que diz: “Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido homens dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia: foram Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos, escrevendo, por mão deles: Os irmãos, tanto os apóstolos como os presbíteros, aos irmãos de entre os gentios em Antioquia, {Antioquia: capital da Síria} Síria e Cilícia, saudações. Visto sabermos que alguns que saíram de entre nós, sem nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras, transtornando a vossa alma, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, eleger alguns homens e enviá-los a vós outros com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais pessoalmente vos dirão também estas coisas. Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde.”
Neste texto percebemos que a Igreja de Jerusalém teve o cuidado em não colocar sobre a Igreja de Antioquia nenhuma estrutura não funcional, a não ser “as coisas essenciais”. Precisamos estar atentos a isso. Analisando a Bíblia podemos afirmar que Deus não planejou uma Igreja isenta de estruturas e muito menos com estruturas enrijecidas. Na verdade as estruturas devem servir ao crescimento natural e saudável da Igreja e não o contrário.
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