domingo, 27 de junho de 2010

Feridas no coração de Deus

Desde o início desta série temos falado sobre feridas em nossos corações causadas por escolhas pessoais erradas, ou por atitudes impróprias de amigos e inimigos. Em todas as mensagens, fomos apresentados como sendo as vítimas. Hoje, gostaria que nos colocássemos como os causadores de feridas no coração de Deus. Mas isso é possível? Leiamos Jeremias 18.1-17.


O contexto desta passagem apresenta uma crise no relacionamento entre Deus e o povo de Israel. Deus se revela como sendo alguém que está sofrendo porque ama muito o seu povo, mas não é amado por Israel.

Como uma declaração de amor, o Senhor faz um paralelo dizendo que assim como o oleiro fizera um vaso do barro, ele também fizera de Judá o seu povo particular. Esse paralelo não era algo novo na história do povo de Deus. Isaias, cerca de 100 anos antes, já havia sido portador de uma mensagem parecida: “Mas agora, ó SENHOR, tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra das tuas mãos.” Isaías 64:8

Judá teve o privilégio de ter sido escolhido para ser o povo particular de Deus dentre todas as nações. Deus deu valor a um povo que não tinha valor. Assim como o oleiro deu valor ao barro ao torná-lo em um vaso.

Por que Deus escolheu Judá e não um dos outros povos? O texto de Deuteronômio 7:6-8 nos dá a resposta: “O SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhes fosse o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava...”

É certo que como o povo de Judá fora escolhido por Deus, assim também nós fomos escolhidos para sermos filhos de Deus em Jesus. Lemos em João 15:16ª a seguinte expressão: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça...”

Sim queridos, não somos um acaso, fomos escolhidos em amor por Deus.


O texto nos diz que o vaso que o oleiro fazia, por um motivo não identificado no texto, estragou-se nas suas mãos. A mensagem aqui ganha dramaticidade, ou seja, Deus advertiu o povo dizendo que o vaso quebrou, ou seja, Judá está em pecado. Podemos confirmar isso lendo o vs.15 quando diz: “Contudo, todos os do meu povo se têm esquecido de mim, queimando incenso aos ídolos”.

O contexto histórico deste texto nos esclarece que o povo, sem abrir mão da sua fé em Deus, havia abraçado e serviam a outros deuses. Começaram a viver um amor dividido. O que Deus nunca admitiu. Por causa do pecado de Judá, a mensagem advertia que o povo estava preste a ser levado como cativos para a Babilônia, nação cruel que bem de perto os ameaçava.

Amor dividido não cai bem em lugar algum. Deus deseja que o sirvamos por amor. Podemos ser tentados a dividir o nosso amor com a fama, o dinheiro e os prazeres. Mas quando a isso cedermos, seremos como um vaso quebrado, sem utilidade. E pior, estaremos ferindo o coração amoroso do nosso Pai Celeste.

O texto de Isaías 59:2 nos adverte: “Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.”



Apesar do pecado de Judá, a mensagem de Deus também era de esperança. Se o povo se convertesse Deus perdoaria o seu povo e o pouparia do exílio babilônico. Assim diz o SENHOR: convertei-vos, pois, agora, cada um do seu mau proceder e emendai os vossos caminhos e as vossas ações. (Vs. 11)

A mensagem mostra que Deus tem o poder para “arrancar, derribar e destruir”, todavia, ele preferiu dar a Judá a oportunidade de se converter e então assim ele “edificaria e plantaria,” um novo Judá. Um povo vencedor.

Se por um instante em nossas vidas tudo ao nosso redor estiver quebrado, o animo esgotado, o trabalho for perdido, por causa de nossos pecados, devemos nos lembrar de Provérbios 28:13 que diz: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia.”

Deus certamente nos socorrerá pois nas suas mãos, do vaso quebrado poderá surgir um novo vaso, que glorificará o seu nome.

CONCLUSÃO

O povo de Judá (reino do sul) mesmo depois de receberem a mensagem de Deus continuou firme em sua infidelidade andando em caminhos perversos e servindo a outros deuses. Pouco tempo depois, foram levados cativos para a Babilônia.

E quanto a nós? Imitaremos Israel quando estivermos como o vaso quebrado? Que Deus nos de a graça de não cairmos, mas se cairmos, lembrarmos que ele tem nas mãos o poder de fazer de novo não somente um ministério, mas a vida de quem que reconhecendo suas faltas busque nele socorro.

domingo, 13 de junho de 2010

Ferido pelo amigo chegado


No domingo passado falamos sobre o que fazer com os pecados que cometemos em oculto. Hoje, vamos falar sobre o pecado cometido por pessoas chegadas contra nós. Esse tipo de pecado revela em nós um sentimento destruidor, a amargura. Para tratar desse assunto farei uso de um texto escrito por Jim Wilson e adaptado por mim. Para começar leiamos Efésios 4.31.

“Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda a malícia. Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou.” (Efésios 4.31)

Este texto nos orienta a nos despojarmos de toda a amargura. É fácil perceber quando alguém sente amargura no coração: seus olhos e os traços do rosto o denunciam, ainda que a pessoa seja bem nova! Pode-se perceber a amargura nos lábios dessa pessoa, em seus risos e sorrisos. Há um toque amargo neles, e pode-se notar isso com nitidez. O seu tom de voz o denuncia. Percebe-se amargura em seu jeito de falar até mesmo quando... protesta e alega que não sente amargura alguma! Este é um sentimento que vem do nosso íntimo e que se ramifica por todas as áreas do nosso ser.

A Bíblia nos apresenta várias pessoas que padeceram desse mal. Por exemplo: Jonas. O Senhor lhe perguntou: É razoável essa tua ira por causa da planta? Sua resposta foi: É razoável a minha ira até à morte (Jn 4.9). Ele sentia-se no direito de se amargurar. Eu mereço estar amargurado. Senhor, não concordo com a tua atitude de perdoar esse povo. Eu não quero que o perdoes.

É relativamente fácil notar quando os outros têm amargura no coração. Mas não é tão fácil reconhecermos a mesma coisa com relação a nós mesmos. Torna-se, portanto, essencial que tenhamos uma compreensão clara da definição que a Bíblia traz deste problema.


Suponhamos que um crente cometa um pecado. Minta, por exemplo. Ao cometer esse pecado, sentir-se-á culpado ou amargurado? A resposta é: culpado. Quando pecamos, sentimo-nos culpados. Não há dúvida. (Quando somos nós que cometemos a ofensa, sentimo-nos culpados, compreendendo que temos de confessar e abandonar o nosso pecado. Poderemos até não confessá-lo, mas não por não sabermos que deveríamos fazê-lo).

Suponhamos agora que alguém levante uma calúnia contra esse crente, espalhando-a pela cidade inteira. O que ele irá sentir, culpa ou amargura? A resposta é: amargura. Sentimos culpa quando pecamos. Sentimos amargura quando alguém peca contra nós. A amargura sempre se fundamenta no pecado cometido por outro - pecado esse que realmente foi cometido, ou que imaginamos tenha sido cometido.

À vista disso, que pessoas estão mais sujeitas a me causar amargura? A resposta é simples: a minha amargura está diretamente relacionada às pessoas que me rodeiam, ao meu círculo de relacionamentos: pais, mães, irmãos, maridos, esposas, filhos, namorados, noivos, amigos, colegas de pensionato, chefes, colegas de trabalho, sócios, parentes. Há, também, muitas pessoas amarguradas contra Deus.

Dificilmente nos amarguramos pelo pecado cometido fora do nosso próprio círculo imediato de relacionamentos. A amargura nasce do pecado cometido por alguém ligado a nós; pecado esse que nos afetou. Pode ser uma coisa bem pequena. Não precisa ser algo grandioso. Basta que nos afete! (Ele tem o costume de largar as meias sujas no chão do quarto? Você fica amargurada por causa disso? Bem, talvez não na primeira ocorrência... mas, e se ele repetir esse comportamento umas 5.000 vezes?!).

Uma boa dica para identificar a amargura é: a pessoa amargurada se lembra dos detalhes. Você já conversou milhares de vezes na sua vida, tendo-se esquecido da maioria dessas conversas, não é mesmo?! Todavia, há uma conversa particularmente desagradável, ocorrida, digamos, há cinco anos, da qual você se lembra de cada palavra e, até da entonação da voz da pessoa com quem conversou. Você se lembra claramente de tudo o que aconteceu. Isso quer dizer que você guardou rancor.

Alguém poderá objetar dizendo que podemos nos lembrar claramente de uma conversa agradável. Verdade? Sim, mas nem tanto. Por que? Porque a nossa memória é ajudada por meio da recapitulação; ficamos repassando as coisas que nos acontecem. E, geralmente, nós não "ruminamos" muito as coisas boas que nos acontecem. Preferimos reviver, vez após vez, o que de mal nos sucede.

Se você guarda lembrança detalhada, de coisas que lhe aconteceram há anos, quando você era criança, ou jovem, e se essa lembrança acusa alguém, isso é indicação de que existe amargura no seu coração. Mas antes de falar sobre a forma de livrarmos deste terrível veneno, vejamos as conseqüências deste mal em nossas vidas.

“Atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados.” Hebreus 12.15

A Palavra de Deus descreve a amargura como algo que tem uma raiz. Raiz é uma coisa que fica debaixo da terra, e não pode ser vista. Ela pode ficar oculta aos olhos por muito tempo, mas, com o seu crescimento um dia ela se manifesta. Você já deve ter visto uma calçada quebrada porque a raiz de uma árvore resolveu se manifestar. O fato de não a vermos, num primeiro momento, não significa que não esteja lá. Nem que jamais poderemos vê-la. As raízes fazem outras coisas, também. Os frutos estão diretamente relacionados às raízes que os produzem. A raiz da macieira produz maçã. Se houver uma raiz amarga, seu fruto será amargo.

O que acontece à pessoa que guarda em seu íntimo o rancor por muitos anos? Há alguma conseqüência física? Pode ficar fisicamente doente? Sim. Às vezes, tudo por causa da amargura guardada contra um parente seu. A pessoa decidiu não exteriorizar sua amargura. Não contaminou outros - guardou tudo no fundo de seu coração. Com o passar dos anos, porém, começa a ter um problema de saúde. Vai ao médico, e este lhe diz: "Verdade, você está doente. Mas eu não trato do seu caso. Vou encaminhá-lo a um especialista".

E assim, o médico envia essa pessoa a um psiquiatra. Este, concorda com o seu colega: "Verdade, você está mesmo doente. E eu sei a razão: você está assim porque há 20 anos vem se destruindo interiormente. Você guardou veneno em seu íntimo, e esse veneno gerou esta enfermidade física. O que eu quero que você faça é o seguinte: vá para casa e se abra com o seu parente. Por que se reprimir e adoecer? Libere o que está aí dentro!".

Você já viu a amargura espalhar-se dentro de uma igreja? Ela pode dizimar uma comunidade. Pode alastrar-se em nosso trabalho, ou em nossa casa. Por quê? Porque alguém decidiu "abrir-se". Havia amargura em seu coração, e decidiu permitir que essa raiz se manifestasse e desse fruto. "Desabafou" com alguém, e muita gente veio a ficar amargurada também. Quando você se deixa envolver pela amargura, ela se manifesta e contamina muitas outras pessoas. Suja muita gente.

Outra grande verdade é que o tempo não resolve o problema da amargura. A não ser que solucionem o problema, as pessoas não se tornam menos amargas com o tempo. Os anos as tornam mais amargas ainda. A tendência é piorar cada vez mais!

Alguém dirá: "Não! Fulano pecou contra mim! Quando me pedir perdão, tudo estará resolvido". Isso não é verdade. Em muitos casos onde o perdão foi pedido, as pessoas continuaram amarguradas. E tem mais: e se o ofensor morrer, não mais podendo pedir perdão? Você deve conhecer pessoas extremamente amarguradas contra seus pais, falecidos há anos. Só que a amargura não morreu com a morte deles.

Certa ocasião o pastor Jim Wilson foi passar o dia com os internos de uma penitenciária. No período da tarde, ele foi ao setor de "segurança máxima", onde falou e ensinou sobre a amargura. Um dos detentos fez-lhe uma pergunta: "Como uma pessoa poderá livrar-se do rancor contra alguém que surrou o seu filhinho de três anos de idade sem dó nem piedade?". O pastor Jim respondeu: "Veja: quando você se livrar da sua amargura, poderá ajudar essa pessoa de maneira que não venha a fazer a mesma coisa a outras crianças".

O detento respondeu: "Não! Não dá pra ajudar esse cara". Jim objetou: "É claro que dá!". Sua réplica foi: "Não, não dá". "Por que?", perguntou. "Ele já não está mais aqui", foi sua resposta. O interno havia assassinado o ofensor. Ele o matara por causa do que fizera ao seu filhinho de três anos - era por isso que estava preso. E, apesar de ter matado o homem, continuava amargurado. Ou seja, "liberar" a amargura não resolve a questão; não nos livra dela.

Por vezes pensamos: "Olhe, quando ele parar de mentir, ou quando ele parar de fazer isto ou aquilo, ou quando ele vier e lhe pedir perdão, então tudo ficará acertado!". Mas, e se essa pessoa nunca abandonar o pecado dela? Será que você irá continuar vivendo em amargura até o fim da vida porque ela insiste em permanecer no erro? Isso é um absurdo! Se você disser: "Eu só irei perdoá-lo quando ele me pedir perdão - portanto, tenho direito de sentir amargura até que ele tome a iniciativa de me procurar para me pedir perdão - quando ele vier, irei perdoá-lo e tudo acabará bem". Quando a pessoa vier procurá-lo (se vier) será que você conseguirá perdoá-la? Não, porque a amargura não perdoa nunca. Mesmo que a pessoa peça perdão, isso não resolve o nosso problema íntimo com a amargura. Isso porque a amargura nunca perdoa.


A solução de Deus é: Fazer um transplante: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos... sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus.” (Ezequiel 36.26-28)

Mas, para isso, precisamos de sua graça. A pessoa amarga deve, em primeiro lugar, reconhecer que a amargura é pecado seu. E a razão porque geralmente não tratamos desse pecado é por pensarmos que se trata de um sentimento "justificável", uma vez que fomos ofendidos por alguém. O pecado, dizemos, não está no sentimento do nosso coração, mas na atitude da outra pessoa. Esse é um engano grosseiro!

Amy Carmichael certa ocasião fez um comentário a respeito de como um copo cheio de água doce não irá derramar uma só gota de água amarga, não importando o tipo de solavanco que vier a levar. Se estiver cheio de água doce, que tipo de água irá despejar quando for sacudido? Água doce. Se você sacudir o copo com mais força, o que irá acontecer? Mais água doce irá sair.

Se uma pessoa está transbordando com água doce, e alguém lhe dá um solavanco, que irá sair dela? Água doce. Os solavancos não transformam a água doce em amarga. A amargura vem de outra fonte. Os solavancos só fazem sair do copo aquilo que já está dentro dele. Se você estiver cheio de luz e doçura e sofrer um choque, irá derramar luz e doçura. Se você estiver cheio de mel, é mel que sairá. Se sair vinagre, isso será prova de que? O vinagre irá mostrar aquilo que já estava dentro do copo. Resumindo: uma grande amargura não depende do que alguém faz contra nós; é o resultado do que nós somos e fazemos.

Por isso, o primeiro passo é confessar o nosso pecado, reconhecendo-o como um pecado grande e terrível. E devemos ser persistentes nessa confissão, quanto for necessário. Quando fui ofendido por uma sobrinha, aconteceu comigo algo muito parecido com o que acontecera com o pastor Jim Wilson. Deus inquietou meu coração até que o confessei. Pus-me de joelho e disse a Deus: "Senhor, a culpa é toda minha. A amargura é minha. E o pecado é meu. Eu o confesso e abandono. Por favor, perdoe-me". Ao me levantar, pensei: "Mas olhe só o que ela fez!". Ajoelhei-me novamente. "Senhor, perdoa-me. A culpa é minha. O pecado é somente meu". Levantei-me e pensei: "Senhor, nós dois sabemos de quem é a culpa...". Ajoelhei-me de novo. Permaneci de joelhos até que pude me levantar sem dizer: "Olhe só o que ela disse".

A fim de que você possa perdoar, antes que a pessoa venha lhe pedir perdão é preciso que tudo já esteja acertado dentro de você. E, se tudo estiver acertado no seu coração, então você não dependerá de a pessoa vir ou não lhe pedir perdão. Ou seja, a solução para o problema da amargura é unilateral: não depende da atitude da outra pessoa.

O segundo passo é perdoar o nosso ofensor. Isso pode ser bem mais difícil, mas deve ser feito mesmo que o coração não esteja disposto. Mesmo que a sua vontade não seja essa. Depois daquela conversa com Deus ele me orientou a procurá-la e perdoá-la. Relutei muito tempo, e fiz de tudo para abafar a voz de Deus. Mas não tive como fugir por muito tempo. Contra a própria vontade, apenas por obediência, resolvi falar com ela. Disse: “Gostaria de dizer que eu a perdôo, não porque eu quero, mas por obediência a Deus”. De repente, aconteceu um milagre. Senti um peso cair dos meus ombros, um alívio em meu coração. Deus, através de minha atitude obediente, curou o meu coração e o coração dela.

Se você está amargurado, reconheça e confesse esse pecado, e receba o perdão! E se seu ofensor estiver vivo, procure-o e o perdoe. Fazendo assim, além de ter o seu coração tratado por Deus, você proporcionará ao ofensor a oportunidade de ser tratado também. Se todavia ele não estiver mais aqui, fique tranqüilo, o coração novo que Deus lhe dará não o inquietará mais. Que Deus o abençoe.

domingo, 6 de junho de 2010

Ferindo o próprio coração


Certa vez indo de Pingo d´Agua para Acesita li uma história, muito interessante, de um homem chamado Jaime. No dia em que seu pai faleceu, os irmãos de Jaime por morarem distantes, confiaram a ele o inventário da família. Seus três irmãos estavam certos de que ele dividiria os bens do pai em quatro partes iguais. Mas isso não foi o que aconteceu. Jaime vendeu os bens, e tirou uma parte maior para si e dividiu o restante em partes iguais entre os demais irmãos. Tudo ia muito bem até receber uma carta agradecendo a sua dedicação e fidelidade. Daquele dia em diante Jaime tornou-se nervoso, faltava ao trabalho continuamente, ficou doente e entrou em depressão.

Ao procurar o médico da família, Jaime fez todos os exames e a causa da enfermidade não foi diagnosticada. O médico, um senhor já experiente e comprometido com Deus ousou fazer-lhe uma pergunta: “Jaime, por acaso você está escondendo algum pecado?” Ao que Jaime se irritou e gritou: “Estou precisando de um médico e não de um pastor”. Em seguida, se levantou, bateu a porta e foi embora. Em casa, tentou dormir, sem sucesso. A voz do médico não saia da cabeça “Jaime, por acaso você está escondendo algum pecado?”. Mas o que fazer quando ferimos o nosso próprio coração por erros cometidos no oculto e que deveriam permanecer no oculto? O que fazer quando por nossa causa, além de ferirmos o nosso coração levamos muitos a sofrer?

Existem duas maneiras de você enfrentar seus erros. Uma é enfrentá-los e resolver a situação. A outra é fazer de conta que não aconteceu nada e acreditar que o tempo se encarregará de acertar a situação. É claro que a primeira opção é a única que de fato resolve. Todavia, tenho encontrado muitas pessoas que por motivos dos mais diversos tem optado pela segunda opção, ou seja, tentar esquecer.

Na Bíblia encontramos Davi, alguém que escolheu a segunda opção. Por esta razão, convido você a olhar para a vida dele e aprender com a sua experiência. Ele é um exemplo altamente negativo para aqueles que optam por esconder o seu pecado e assim ferir o próprio coração. (Veja sua experiência em 2 Samuel 11 e 12)


Davi era um servo fiel e temente a Deus. Todavia, numa tarde em que seu exército estava em batalha, Davi resolveu ficar no palácio. Subiu ao terraço e viu uma mulher se banhando. Ao saber que se tratava de uma mulher casada com um de seus soldados, Davi não teve dúvidas. Mandou chamá-la. Não sabemos quais foram as desculpas usadas por ele, mas o certo é que ela veio e se deitou com o rei. Após a sua aventura amorosa, ela mandou avisá-lo que estava grávida.

Ao tomar conhecimento da gravidez indesejada, Davi desenvolveu um plano. Manda chamar Urias, o marido, com a desculpa de que precisava de informações sobre a guerra. Em seguida, despede o soldado para ir para casa e deitar-se com sua mulher. Desta maneira, pensou Davi, ele jamais saberá que o filho é meu. Mas, Urias tinha um caráter polido. Recusou a voltar pra casa alegando que não poderia se divertir com sua mulher enquanto seus amigos estivessem em batalha. Ao ver a postura do soldado, Davi o chama para um jantar e o embebeda e depois o manda para casa. Mas, mesmo bêbado, Urias não volta pra casa. Agora, não havia nada mais a fazer, pensa Davi. Chama Urias, coloca uma carta em suas mãos para o comandante do exército ordenando que o colocasse à frente da batalha. Desta forma, Urias seria morto e assim deixaria sua esposa livre para Davi.

Pouco tempo depois chegou a notícia da morte de Urias. Mas veja as palavras do rei em relação ao ocorrido: “DISSE DAVI AO MENSAGEIRO: ASSIM DIRÁS A JOABE: NÃO PAREÇA ISSO MAL AOS TEUS OLHOS, POIS A ESPADA DEVORA TANTO ESTE COMO AQUELE...” (2 Sm 11.25). Ou seja, para Davi, o que ele fez não era nada absurdo. Afinal de contas quem vai para a guerra sabe que pode não voltar. A vida é assim mesmo, um dia a gente ganha, outro, a gente perde. Está tudo bem. Após passar os dias de luto, Davi manda buscar a viúva para ser a sua mulher. Assenta no trono com a sensação de problema resolvido.


Mas estava tudo resolvido? Para Davi estava, todavia a Bíblia nos diz que “Porém isto que Davi fizera foi mau aos olhos do Senhor” (2 Sm 11.27). Davi deve ter dado mil e uma desculpas para justificar a sua atitude e assim abafar a sua culpa. É certo que o Senhor o incomodou, mas ele procurou fugir da cobrança que vinha a sua mente. No Salmo 32.3 e 4, ele revela o que aconteceu durante aqueles dias: “ENQUANTO CALEI OS MEUS PECADOS, ENVELHECERAM OS MEUS OSSOS PELOS MEUS CONSTANTES GEMIDOS TODO O DIA. PORQUE A TUA MÃO PESAVA DIA E NOITE SOBRE MIM, E O MEU VIGOR SE TORNOU EM SEQUIDÃO DE ESTIO.”

A mão do Senhor pesou sobre Davi de forma que ele não tinha paz. Levantava e se arrastava o dia inteiro. Não admitia a sua culpa. Afinal de contas ele era o rei. Seu coração fora conquistado por aquela mulher. Se ela era casada, o que ele poderia fazer? O coração não recebe ordens da razão e quando a gente vê já está apaixonado. Sem aquela mulher, dizia Davi, eu não posso ser feliz. E se o marido morreu na guerra, não foi culpa minha. Tantas desculpas, mas nenhuma delas aliviava a sua culpa.

Davi perdeu o sono, o apetite, a consciência tranqüila, a paz, a paciência e a alegria de viver. Por quê? Um pecado escondido o torturava. A mão do Senhor pesava dia a dia sobre ele e como não podia ser diferente, ficou doente. A situação de Davi nos mostra visivelmente o poder destruidor que o pecado tem sobre aquilo que toca.

No caso de Davi, além de causado tantos males, Davi agora teria que lidar com as conseqüências de seu pecado. Quando estava no terraço os olhos de Davi viram apenas uma linda mulher e por um momento de prazer ele resolveu desprezar a Palavra do Senhor. Mas observe o que ele não viu quando estava obcecado pelo desejo: Davi não viu uma gravidez, a morte do marido e do filho indesejado; Não viu que sua atitude levaria Amnon, seu filho querido, a violentar a irmã sexualmente e ser morto pelo irmão Absalão. Não viu seu filho Absalão se rebelar contra ele, expulsá-lo do palácio e manter relações sexuais com as mulheres de Davi no mesmo terraço a vista de todo o povo, como sinal de desprezo pelo pai. Por desprezar o Senhor, mesmo depois de perdoado, Davi não foi poupado das conseqüências de seu erro.

Podemos dar inúmeras justificativas para o nosso pecado, mas Deus nunca o aprovará. Podemos optar por escondê-lo, mas aos olhos daquele que tudo vê, ele ficará sempre exposto. E mais, se continuarmos a não dar ouvidos a voz de Deus, aquilo que escondemos, tornará público. Números 32:23 nos diz: “Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o SENHOR; e sabei que o vosso pecado vos há de achar”. E foi exatamente isso que aconteceu com Davi. Mas, mesmo conhecendo o caráter de Deus, Davi optou por continuar escondendo o seu pecado. Ao ver essa postura irresponsável, Deus resolveu agir. Ele nunca ficará de braços cruzados ao ver seus filhos e filhas se definharem em rebeldia, machucando aos outros e ao próprio coração.


A notícia de que o rei estava doente correu o país. Cuidados foram tomados, mas nada resolvia o problema do rei. Até que Deus levanta o profeta Natã para falar ao rei. O método usado por Natã foi bem didático. Ouçamos esta história contada pela própria Bíblia: “O SENHOR enviou Natã a Davi. Chegando Natã a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. Tinha o rico ovelhas e gado em grande número; mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha. Vindo um viajante ao homem rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar de comer ao viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha do homem pobre e a preparou para o homem que lhe havia chegado.” (2 Sm 12.1-4)

O curioso é que antes de terminar a história Davi interrompe Natã: “Então, o furor de Davi se acendeu sobremaneira contra aquele homem, e disse a Natã: Tão certo como vive o SENHOR, o homem que fez isso deve ser morto. E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu.” (2 Sm 12.5-6)

Cuidado meu irmão. Aquilo que você condena e exige justiça imediata em relação aos outros, pode denunciar o seu próprio pecado. Gostamos de projetar nos outros aquilo que nós mesmos temos dificuldades em lidar. Quando nos tornamos justos demais, esquecemos quem somos. Foi o que aconteceu com Davi. Ao ouvir a sentença de Davi, veja o que disse Natã:

“Então, disse Natã a Davi: Tu és o homem. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; dei-te a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teus braços e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas. Por que, pois, desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o que era mal perante ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o SENHOR: Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e perante o sol.” (2 Sm 12.7-12)

Agora Davi é confrontado por Deus. Não tem mais como esconder seu erro. Mediante essa nova situação Davi toma a decisão acertada, já era hora. “Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o SENHOR. Disse Natã a Davi: Também o SENHOR te perdoou o teu pecado; não morrerás.” (2 Samuel 12.13). Mais tarde, ao escrever sobre essa experiência Davi fala de sua decisão no Salmo 32.5: “Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do meu pecado.” Na verdade, não existe outra solução para o pecado oculto. Precisamos evitá-lo ao máximo, mas se pecarmos, a melhor saída é confessá-lo diante de Deus e abandoná-lo.

CONCLUSÃO

Lembra-se de Jaime? Pois bem. Não agüentando mais aquela tortura, ele se levantou e foi a procura do médico. Sabia onde ele morava. O sol estava despertando quando seu médico o recebeu em casa. Sabe doutor. Não consigo dormir desde que me fez aquela pergunta. Então Jaime contou que ao distribuir os bens da família ele não fora honesto, mas estava arrependido. Juntos oraram a Deus e Jaime confessou o seu pecado. Quando ia se levantando para sair, o médico pediu que assentasse e escrevesse uma carta aos irmãos contando tudo que havia acontecido acompanhado por três cheques com a quantia furtada. Ambos foram aos correios. Ao voltar para casa, Jaime era outra pessoa. Um milagre havia acontecido. Ele estava leve, feliz e alegre por ter feito a coisa certa. Havia alcançado a cura.

Existe algum pecado escondido em sua vida? Você anda irritado, impaciente, inquieto, sempre com pedras nas mãos? Não consegue dormir, tem enfermidades que os médicos não conseguem diagnosticar? Não se alimenta direito? Então me permita uma última pergunta: Tem pecado escondido em seu coração?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Coração ferido


Existem momentos na vida que todos nós gostaríamos de evitá-los a qualquer custo. Falo sobre aqueles momentos em que a dor arromba a nossa porta e sem pedir licença se instala em nossas vidas causando feridas profundas em nosso coração.

Feridas são causadas por diversos motivos. Algumas são causadas por nossas próprias escolhas, outras são causadas por nossos amigos, ainda existem aquelas causadas por inimigos. Mas, creio que a pior ferida é a que causamos no coração de Deus.

Um coração ferido pode ser curado? Deus ouve nossa dor quando em gritos clamamos por sua ajuda? Tenho eu o direito de no mínimo “dar um gelo” naqueles que me machucaram sem dó e piedade? E quando sei que a ferida foi por minha culpa, é possível ser perdoado e curado por Deus? É possível machucar o coração de Deus e ainda assim ser perdoado e aceito?

No mês de junho, buscaremos respostas para estes questionamentos na Palavra de Deus. Venha participar e descobrir o que fazer quando a dor se torna insuportável. Aos domingos às 19h30 na IP Betânia. Você é nosso convidado.

Palestras:

Dia 06 de junho – Ferindo o próprio coração
Dia 13 de junho – Ferido pelo amigo chegado
Dia 20 de junho – Ferido pelo inimigo
Dia 27 de junho – Feridas no coração de Deus

domingo, 23 de maio de 2010

Dentro de casa, longe do coração.


Como já dissemos, Lucas 15 é considerado o capítulo das coisas perdidas. A ovelha, a moeda e o filho perdido retratam as pessoas perdidas, distantes de Deus. Isso é muito claro. Já o pastor, a mulher e o pai, representam a iniciativa, o amor e principalmente a alegria de Deus por cada pecador que é encontrado. Segundo Jesus, existe festa no céu por cada pecador que se arrepende e volta pra casa.

Mas, é apenas na terceira e última história, a do filho perdido, que encontramos um terceiro personagem – o filho mais velho. E, nesta história, ele torna-se a principal personagem, a principal lição da parábola. Voltemos ao texto de Lucas 15.

É possível que você sempre tenha ouvido esta história na perspectiva do filho mais novo. Tenha se identificado e se emocionado com ele. Ou no mínimo, tenha tomado-o como sinônimo de pessoas rebeldes, principalmente quando encontra um rebelde em seu caminho. Mas, talvez, você nunca tenha dado a atenção necessária para o filho mais velho. Todavia, o filho mais velho é exatamente a ênfase que Jesus dá nessa história. Ele é o principal motivo de Jesus ter contado essa parábola. Mas, a quem ele representa? Que lições podemos tirar aqui?

Convido você a voltar àquele jantar onde encontramos Jesus participando de um jantar com publicanos e pecadores. Desejo que você vista as roupas dos fariseus, calce suas sandálias e observe tudo o que está acontecendo como sendo um deles. Só assim, poderemos entender a lição principal dessa história narrada por Jesus.

Ao ouvir as histórias da ovelha e moeda perdida, apesar de não entender o porquê de tanta alegria por parte do pastor e da mulher quando encontram o que procuravam, isso não lhe causa nenhuma perturbação. Todavia, quando Jesus conta a história do filho perdido, aí sim, suas emoções são altamente aguçadas. Ao ouvir sobre o filho mais novo, o sentimento é de justiça. Um menino desses deveria receber a sua punição sem nenhuma demonstração de misericórdia. Mas, ao ouvir que o pai o despede sem puni-lo, então você, como um bom fariseu religioso, meneia a cabeça reprovando-o.

Ao falar sobre a vida desregrada do filho mais novo e a miséria que o atingiu, você se alegra porque entende que se o pai não o castigou, a vida deu um jeito de puni-lo severamente. Ao decidir voltar pra casa, você se surpreende com a maneira inconsequente com que o pai recebe, perdoa e restabelece o filho a sua posição em casa. Isso causa-lhe um sentimento de ódio e revolta contra o pai. Mas, nesse instante, entra em cena a figura do filho mais velho, o único lúcido da história. Com este rapaz, você se identifica e se sente aliviado. Afinal, agora parece que a história terá um fim decente. Agora, você está pronto para ouvir e entender o final da história.


O filho mais velho, segundo Jesus, é aquele que nunca saíra de casa. Ele sempre esteve ali perto do pai. Quando o seu irmão resolveu se rebelar contra seu pai, ele não fez nada. Não existe nenhum esforço por parte do filho mais velho de tentar convencer o irmão a não se rebelar e com isso impedir todo o constrangimento e desonra para a família. Quando seu irmão parte, ele até se sente aliviado. Afinal de contas, o “queridinho do papai” revelou suas garras e agora ficou evidente quem de fato é o melhor filho ali.

Num determinado dia, voltando do seu trabalho, o filho mais velho é surpreendido com um barulho de festa em casa. Ele chama um dos empregados da família e pergunta o que estava acontecendo. Ao ser informado da volta de seu irmão e da alegria de seu pai, “O filho mais velho encheu-se de ira, e não quis entrar”. Mas, de onde viera essa ira? Aqui o filho mais velho começa a mostrar o seu caráter oculto por muito tempo no coração.

É curioso notar que ao perceber a festa, ele não entra antes de saber o motivo da mesma. Normalmente uma pessoa em igual circunstância entraria, pegaria algo pra comer e iria ao encontro do pai para saber o que estava acontecendo. Ao receber a boa notícia, se alegraria com o pai e com o irmão perdido, afinal de contas a saudade seria maior do que o malefício causado pela sua saída. Mas não. Gente como esse filho mais velho não suporta ver ninguém alegre por algo que não foi promovido por si mesmo. Desconfia de tudo e de todos. Gosta de chamar a atenção para si. Por isso, resolve não entrar na festa.

Nesse momento, os religiosos fariseus e escribas suspiram aliviados e meneiam a cabeça enquanto sussurram concordando com a postura do filho mais velho. Afinal de contas, aquela festa era uma ofensa à moral e à disciplina. Mas, eles não percebem ainda que Jesus estava retratando-os. Pois assim como o filho mais velho, os fariseus e escribas não aceitaram participar do jantar com os publicanos e pecadores.

Ao ouvir que o filho mais velho está do lado de fora e se recusa a entrar, o pai sai ao seu encontro. Essa atitude do pai é reveladora, se você considerar todo o capítulo 15 de Lucas. Na história da ovelha perdida encontramos o pastor saindo em busca do animal. Na moeda perdida, lá está a mulher procurando-a até encontrá-la. E na história do filho perdido? Bem, se considerarmos o mais novo, foi ele quem decidiu voltar pra casa. Mas, quanto ao filho mais velho, é o pai que sai de casa para buscá-lo. Incrível! Aqui temos dois filhos perdidos. Um que saiu de casa, e o outro que nunca saíra de casa, mas nunca esteve junto ao coração do pai.

Ouçamos agora as palavras do filho mais velho ditas ao pai sobre a sua razão de tanta ira: “Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos.” (Lucas 15.28-29). Atitude reveladora do filho mais velho. O seu descontentamento, em princípio, não era pela volta do irmão, mas pela gentileza e alegria do pai. Com tanto egoísmo, ele se revela insensível ao sentimento do pai e a restauração do irmão. Em sua opinião, se tem alguém que merecia aquela festa, com toda certeza era ele mesmo.

Mas a ira deste rapaz é também contra o irmão. Além de não fazer a festa para si, o pai chega ao absurdo de fazer uma festa para o filho rebelde. Isso já era demais. É nesse ponto que ele chega a dizer ao pai: “vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.” O filho perdido já havia sido perdoado, o pai assumiu as conseqüências, mas ele se acha no direito de condená-lo. Com tais palavras ele parecia estar sugerindo que teria ficado muito feliz se o seu irmão realmente tivesse morrido na terra distante. Às vezes é mais fácil ser paciente com filhos desobedientes do que com filhos egoístas e hipócritas.

Na Igreja também por vezes somos vítimas desse sentimento. Vivemos preocupados com a imagem da Igreja, com que todos cumpram as regras e disciplinas e não pensamos duas vezes em colocar pra fora quem foge do padrão pré-estabelecido. Temos dificuldades de aceitar e conviver com pessoas rebeldes, que se dizem arrependidas de seus pecados. Se alguém adultera, o suspendemos da comunhão e o tratamos como “filho perdido” e nos fará um favor se ajuntar tudo o que tem e ir embora. Não há espaço para pessoas de conduta suspeita em nosso meio. Esquecemos de que a misericórdia triunfa sobre a justiça (Tiago 2.13).

Dá até para ouvir o pulsar rancoroso do coração dos fariseus e escribas aprovando a postura do filho mais velho, enquanto agiam de igual forma. Eles condenavam os publicanos e pecadores, como o filho mais velho condenava o irmão caçula, enquanto isso Jesus oferecia o perdão como o pai da história.


O filho mais velho sempre se viu como um empregado a serviço do pai, buscando desta forma, atrair para si a atenção de todos e o prestígio de filho querido. Não entendeu que para seu pai ele nunca fora um empregado, mas sempre um filho querido. Isso fica evidente quando seu pai responde dizendo “Meu filho, tu sempre estás comigo; Tudo o que é meu, é teu”. Ou seja, se até aquele dia ele não pegara nem um cabrito para festejar, não foi porque o pai não o dera, mas porque ele não entendera que ele não era um empregado, mas um filho. O irônico aqui é que o filho mais velho sempre trabalhara pensando em ganhar algo que já era dele. Desejava ter privilégio de filho, mas se via como empregado. Por vezes passamos a vida servindo a Deus como empregados e não nos deliciamos dos privilégios de nos relacionarmos com ele como filhos. Deus deseja filhos, não empregados.

Como filho ele deveria ter visto o sofrimento do pai quando o irmão mais velho foi embora. Mas como “empregado”, a tristeza de seu pai não o sensibiliza e muito menos desperta nele nenhum sinal de que se importa. Como “bom empregado”, ele trabalha muito na fazenda de seu pai. Faz seu serviço, cumpre com sua obrigação, mas nunca se deixa envolver num relacionamento de amor com o pai. Apesar de estar dentro de casa, ele se revela como alguém que sempre esteve longe do coração, tendo um relacionamento frio com seu pai. Na verdade, ele também estava perdido, só que dentro de casa.

Mas é possível estar perdido dentro de casa? Ah meu amigo, é possível sim! É possível nos envolver tanto com o trabalho da Igreja de Deus e deixarmos de dar a atenção necessária para o nosso relacionamento pessoal com o Deus da Igreja. Isso além de preocupante chega a ser trágico. Apaixonamos pela Igreja, pela sua história e doutrinas, mas nunca por Jesus. Deus deseja filhos, não empregados.

Depois de despertar a atenção do filho mais velho de que tudo era dele, o pai o orienta sobre a importância de se valorizar as pessoas em detrimento das coisas. Ele diz: “Mas nós tínhamos que celebrar a volta deste seu irmão e alegrar-nos, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado” Lucas 15.32. Enquanto o filho pensava numa festa somente com os amigos sem considerar a presença do pai, a comemoração do pai incluía toda a família. Com essas palavras o pai faz um apelo emocionado para que o filho entre em casa e comemore com a família a volta do irmão perdido, que fora achado vivo.


Mas o que aconteceu? Qual o fim da história? O filho mais velho entrou ou não entrou para comemorar? Jesus deixou a história não terminada e o dilema não resolvido de propósito. Os fariseus queriam saber. Todavia, agora eles entenderam o convite. Entenderam que Jesus os estava convidando a entrar e tomar assento com ele, receber os publicanos e pecadores como irmãos arrependidos e participar da festa. Todavia, o efeito foi ao contrário. Os fariseus e escribas decidiram, daquele dia em diante, de que fariam tudo para tirar a vida de Jesus. Foi imediatamente após aquele jantar que eles colocaram o plano de assassinato de Jesus em prática.

Assim, todos nós que ouvimos essa história escrevemos um final bem pessoal, tudo dependerá da maneira como eu e você reagimos com a bondade de Deus para com os pecadores arrependidos. O fim da parábola é um convite a mim e a você. Vamos aceitar o filho mais novo em casa depois de tudo o que fez contra Deus e contra a nossa família da fé? Vamos nos alegrar com os Céus e festejar o seu retorno? O convite de Jesus não é o de ocupar um mesmo espaço físico, chamado hoje carinhosamente de Igreja. É muito mais do que isso, é um convite ao desenvolvimento de um relacionamento amoroso com ele e com seus filhos e filhas, perdidos e achados, diariamente.

Quando nos recusamos a relacionar com um irmão ou irmã, isso significa que ainda estamos do lado de fora da casa, longe da festa. Hoje Jesus te convida a entrar, abrir mão da ira ou mesmo do orgulho, e festejar com a família. Você aceita o convite?

domingo, 16 de maio de 2010

De olho na estrada


Lucas 15, o capítulo das coisas perdidas tem como propósito mostrar a alegria nos Céus quando um pecador se arrepende. As duas primeiras parábolas (ovelha e moeda) ilustram isso muito bem. Já a terceira parábola, bem, ela se divide em três partes distintas e nos trás, além do propósito principal, mais dois grandes ensinos.

Com o filho mais novo (vs. 11-19) aprendemos que não existem prazer e alegria duradoura na terra distante longe da casa do pai. Hoje aprenderemos mais sobre a alegria e o coração amoroso do pai quando o filho decide voltar (vs. 20-24), e no domingo que vem o ensino mais surpreendente da parábola (vs. 25-32). Mas isso é assunto para domingo que vem. Por enquanto, leiamos novamente a parábola do filho pródigo em Lucas 15.11-24.


Quando o filho pediu sua herança, a expectativa dos primeiros ouvintes de Jesus era de que o pai castigasse o filho rebelde. Por causa da mancha em sua honra causada pelo comportamento do filho rebelde, o pai deveria puni-lo publicamente. Para isso, o pai deveria dar um tapa no rosto do filho e depois fazer um cortejo fúnebre como sinal de que aquele rapaz não pertencia mais à família por estar morto. Isso se revela no momento em que o pai tenta convencer o irmão mais velho a participar da festa. Ele diz “Pois este seu irmão estava morto e reviveu” (vs. 32).

Quando o filho perdido voltou para casa, a expectativa era de que o pai revisse seu erro de não punir o filho quando de sua saída e o fizesse agora. Para os fariseus o filho perdido estava morto para seu pai. Ele teria muita sorte se seu pai o aceitasse como um de seus empregados, ou melhor, como um de seus escravos. E isso já seria misericórdia demais.

O pai, em nome da honra, deveria deixar aquele rapaz assentado no chão no portão da fazenda por vários dias esperando ser atendido. Isso faria com que todos que passassem por ele o desprezassem e até cuspissem nele. Afinal de contas ele manchou a honra da família e deveria ser exposto à vergonha em público. Ele simplesmente teria de ficar lá e agüentar enquanto esperava.

Tal tratamento, apesar de nos parecer duro demais, seria visto como um ato de grande misericórdia por parte do pai. Pela lei (Dt 21.21) filhos rebeldes deveriam ser apedrejados em praça pública pelos homens da cidade para que dessa maneira fosse eliminado o mal do meio do povo.

Depois de ter sido exposto no portão da fazenda, se o pai quisesse encontrar com o filho rebelde, isso deveria ser feito com o máximo de indiferença e frieza, sem demonstrar nenhuma afeição. O filho beijaria os pés do pai e pediria sua misericórdia. Não deveria sequer olhar no rosto do pai e muito menos ficar de pé diante dele. O pai então o comunicaria sobre qual seria o seu trabalho e a quem ele deveria se reportar e em seguida se retirar com a expressão de “honra lavada”.


A essa altura, a parábola de Jesus de repente tem outra reviravolta dramática e inesperada. Ali estava um pai não só disposto a conceder misericórdia em retribuição pela promessa de uma vida de escravidão, mas ansioso por perdoar ao primeiro sinal de arrependimento: “Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou” (Lc 15.20).

Depois que o filho partira, o pai nunca mais tirara os olhos da estrada. Até que um dia, estando à porta da fazenda, alguém avistou ao longe um “estranho”. O pai rapidamente olha para a estrada e quase não acreditando sussurra: “Estranho? Não. Eu conheço aquele andar, é o meu filho!” e imediatamente sai correndo ao encontro dele.

Mas além de correr, o pai abraçou e beijou o filho. Ao fazer isso, o pai estava tirando a atenção do povo sobre o pecado do filho e atraindo para si o olhar condenatório de toda a sua gente. Com este ato, o próprio pai carregaria a vergonha e suportaria a zombaria no lugar do filho. O filho perdido estava disposto a beijar os pés do pai. Em vez disso, o pai beijou o rosto fedendo a porco, sujo e triste do filho.

Após ser abraçado e beijado pelo pai, o rapaz recita sua fala ensaiada durante toda a sua caminhada: “Pai, pequei contra o céu e contra ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho” e antes de terminar a sua fala onde pediria para ser recebido como um trabalhador, ele é interrompido pelo pai dando ordens aos servos para que preparassem um bom banho, calçados e roupas dignas para seu filho, bem como um banquete. Era urgente perdoar o filho faltoso.

O filho perdido não conseguiu chegar a falar tudo o que planejara, pois quando ele completou a primeira parte, o pai já o tinha recolocado no posto de filho querido, e a grande comemoração estava por vir. O menino não havia feito nada para reparar o seu erro, o que torna o perdão do pai ainda maior. O erro, a desonra e a vergonha seriam pagos pelo pai.

Imediatamente o pai oferece três presentes ao filho arrependido. Sandálias, roupas e anel. Os três presentes tinham ricos significados. O calçado era usado apenas pelos nobres e pessoas importantes. Tal atitude revela a aceitação do rapaz como filho. As roupas dadas ao filho eram roupas especiais que davam honra a quem as vestisse. O anel era sinal de aliança entre os membros da família. Ele dava autoridade e reconhecimento ao seu usuário.

Se a forma como o pai perdoa o filho não o faz chorar de gratidão, então você provavelmente nunca se sentiu na posição de filho perdido e precisa orar por arrependimento.


Esta parábola revela muito o tipo de relacionamento que temos com Deus. O filho mais novo, representando as pessoas que estão perdidas, que sabem que estão perdidas e que só voltam pra casa quando não tem mais nada o que fazer para sobreviver, volta humilde por causa de sua condição.

Na verdade, o filho perdido quer sair do pântano do pecado, e seu primeiro instinto é elaborar um plano. Primeiro pensa em acertar algumas coisas para depois voltar para casa. Ele vai mudar. Se dispõe a trabalhar para se livrar da culpa. Mas tal plano nunca poderia dar certo. O débito é muito grande para reparar e o pecador não tem como mudar a situação.

Então, como o pai a espera do filho, se põe sobre os dedos dos pés, olha a distância na expectativa de nosso retorno. Ao nos ver corre e nos abraça. Abraça-nos fedendo a chiqueiro, sujos, maltrapilhos, e claro, derrotados. Cristo toma toda a vergonha para si mesmo, sofre as críticas e as injúrias e paga o preço do meu e do seu pecado. Ele nos abraça forte, derrama seu imenso amor sobre nós, concede sua graça completa e nos reconcilia com Deus.

Então, dá banho na gente, calça sandálias em nossos pés e veste-nos com roupas limpas, novas, e de honra. Como se não bastasse, renova a aliança conosco, aquela que um dia desprezamos e nos trata como filhos amados. É isso que é difícil entender. Por que ele nos amou tanto? Nunca conseguiremos entender. Mas, podemos aceitar. Aceitar seu amor que nos constrange. Constrange a uma vida digna e que honre o seu nome. Afinal de contas, ele nos fez nascer de novo. “Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”. É hora de comemorar! Afinal de contas, voltamos pra casa. Seja bem vindo ao lar.

E o filho mais velho? Como viu toda aquela festa e atitudes do pai? Bem, isso é assunto para o nosso próximo domingo.

domingo, 9 de maio de 2010

A vida na "terra distante"


Na semana passada vimos que Lucas 15, o capítulo das coisas perdidas, nos apresenta três tipos de pessoas perdidas. A ovelha perdida representa aqueles que estão perdidos, sabem que estão perdidos, mas não sabem o caminho de volta para casa. A moeda perdida representa aqueles que estão perdidos, não sabem que estão perdidos, não conhecem o caminho de volta para casa. Já o filho perdido, representa aqueles que estão perdidos, sabem que estão perdidos, conhecem o caminho de volta para casa, mas não tem forças para voltar.


Hoje, abordaremos especialmente o caso do filho perdido. O texto inicia nos apresentando uma família composta por um pai e dois filhos. Num determinado dia o filho mais novo causa um tumulto em casa. Pelo visto, ele não tinha motivos para causar qualquer problema, constrangimento ou desonra para a família. Ele certamente contava com o amor do pai, o companheirismo do irmão e a admiração de todos os funcionários da fazenda. Filho de um fazendeiro bem sucedido, nada lhe faltava. Todavia, em um determinado momento, isso não lhe bastou.

Próprio da idade, o filho mais novo se deixa seduzir pelo espírito inconseqüente de aventura. Chega ao pai e faz um pedido desrespeitoso. “Pai”, disse ele. “dá-me a parte que me cabe da herança” (vs. 12). Que absurdo! Afinal de contas, herança não é algo que possuímos após a morte dos pais? Nunca antes! O pedido desse rapaz é desprezível porque com ele a mensagem que transmite é que para si, o pai já era, está morto. Ele poderia ter chegado junto ao pai, falado de sua decisão de ir embora, até pedido alguma ajuda financeira e partido ainda que sem a aprovação e desejo do pai. Mas, pedir a herança foi demais.

Tal atitude revela o desprezo por tudo que o pai conquistara até então. Certamente estava convencido de que viver na casa do pai, cuidar da lavoura e do gado, consertar cercas e administrar uma fazenda não era um tipo de vida digno de um jovem. Mas ainda havia a possibilidade de trabalhar em outro ramo, o pai certamente entenderia isso. Mas o que aconteceu? Ele desejou desfrutar de todo o prazer que o mundo podia lhe oferecer, se divertir de segunda a segunda, sem ter que trabalhar um único dia, confiando apenas na fortuna do pai. Trabalhar? Para quê? Meu pai é rico e quando ele morrer terei uma boa grana como herança. Mas, pensa ele, porque devo esperar sua morte para curtir tudo que a vida oferece? Que ele me dê agora a parte que me pertence! Com isso este filho revela que nunca amara o pai, suportava sua presença apenas por causa da herança que receberia com a morte dele.

Diante de seu pedido desprezível, o pai faz os cálculos e lhe põe nas mãos todo o dinheiro que sempre desejara. Mas, o que levou o pai a tomar tal atitude? Ele não poderia ter-lhe despedido apenas com uns trocados? Ele não poderia ter dado ao garoto um sermão pela falta de respeito? Por que ele não tomou uma decisão diferente? Isso é o que veremos no próximo domingo. Por enquanto vamos nos ater apenas ao filho mais novo.

O que fez o filho mais novo quando recebeu a sua parte da herança? Lucas nos diz: “Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante”. Passados não muitos dias. Isso mostra-nos a rapidez com que o pecado destrói tudo aquilo que toca. Com o dinheiro nas mãos, não havia tempo a perder. Partir para uma terra distante onde não havia leis paternais, responsabilidades como o filho do Sr. Fulano de tal, e muito menos a obrigação de manter o status de bom moço, trabalhador, religiosos, era algo urgente.

Assim é o pecado. Você começa a brincar fumando apenas um cigarro, e ‘passados não muitos dias’ você se torna um viciado; você toma apenas uma cervejinha com os amigos e ‘passados não muitos dias’ você se torna um alcoólatra. Você assiste algumas cenas “inocentes” e picantes na TV ou no PC e ‘passados não muitos dias’ você se torna um escravo do sexo. Você abraça um segundo trabalho apenas para pagar as dívidas e ‘passados não muitos dias’ você se torna um avarento insaciável. É próprio do pecado. Ele certamente destrói tudo aquilo que toca.

Distante de casa, com o bolso cheio e a cabeça vazia, não foi difícil encontrar muitos amigos oportunistas. O filho mais novo curte a vida como sempre sonhara. Bebe todas, vende sua honra por uns trocados, passa noites em boates, dorme até tarde e levanta com uma ressaca insuportável e se gaba com os amigos de sua própria dor, afinal de contas estava naquela condição porque “curtiu” a noite inteira. Levanta e se apronta para mais uma noitada. Afinal, a vida tem de ser aproveitada e o desejo não pode esperar. Sem se dar conta das conseqüências de seu ato, gasta tudo o que seu pai lhe passara as mãos. É fato que aquilo que nos vem a mão de maneira fácil, nós não valorizamos. Foi o que aconteceu com o filho mais novo.

Em nosso relacionamento com Deus quantas vezes fazemos o que fez este filho. Estamos em casa com o Pai por causa de suas bênçãos e não por causa de quem ele é, nem mesmo por aquilo que ele representa para nós. Um dia, nos cansamos e dizemos: “Chega! Todos os meus amigos estão curtindo a vida ao máximo lá fora, e eu aqui, como cristão, estou apenas observando a vida passar e não consigo ver alegria nenhuma.” Com o coração rancoroso, justificamos nossa saída culpando Deus e a nossa família por tamanho infortúnio. Dizemos: “Essa igreja só tem gente falsa. Falam de amor, mas não vivem. Deus? Não me ouve mais. Parece que tem prazer em me castigar. Oro e ele não me responde. Basta, não quero mais ser cristão. Tome aqui a minha carta de exclusão e, por favor, me esqueçam.” Dessa forma saímos para uma “terra distante” com o único propósito de satisfazer cada desejo que até então estava reprimido.


Mas a vida não é feita só de alegria e prazeres. Quando o dinheiro acabou, o filho mais novo perde seus amigos. Agora se quisesse teria que trabalhar para comer e sustentar seus prazeres. Para piorar, a “terra distante” não é uma terra abençoada. Ali a existência de pessoas morrendo de fome é uma grande realidade. Diante desse quadro, busca um bom emprego. Mas como arrumar um bom emprego se ele nunca levou os estudos a sério? Como ganhar bem se nunca aprendera uma profissão? Agora sem dinheiro, sem amigos e sem nenhuma formação profissional o que lhe resta é cuidar de porcos. A situação é tão deprimente que o seu empregador não lhe dá sequer um prato de comida para depois mandá-lo ao chiqueiro cuidar dos porcos. Jesus diz que ele desejou comer a comida dos porcos, mas ninguém lhe deu nada. É preciso trabalhar para só depois receber o salário e assim comprar comida e matar a fome. O filho mais novo aprendeu isso da pior maneira possível.

Isso é o que encontramos quando estamos distantes da casa do Pai. A “terra distante” que nos parecia prazerosa torna-se seca e sem vida. Os amigos oportunistas desaparecem em meio a dor. Quando estamos em sofrimento não importa quantas pessoas nos conhecem, mas quantas se importam. Distantes de Deus, isso é perceptível mais do que possamos imaginar. O máximo que a “terra distante” poderá nos oferecer é cuidar de porcos. Ali, certamente é o caos, e as lágrimas são inevitáveis. Alguns chegam a pensar em dar fim a própria vida.

Entre porcos, sujeira e muito mau cheiro, o filho mais novo “caiu em si” e pensou: “Quantos trabalhadores na casa de meu pai tem pão com fartura, e eu aqui morro de fome!” (vs. 17). Agora a lembrança da casa do pai começa a perturbá-lo. A fome o faz lembrar as saborosas refeições servidas aos trabalhadores na casa do pai. Se para os trabalhadores era assim, imagine como era a refeição dele, como filho amado, na casa do pai. A conclusão inevitável foi: Na casa do meu pai, eu era feliz e não sabia.

Distantes da casa do Pai, somos torturados com as lembranças dos momentos de alegria que deixamos para trás em busca de uma vida de prazeres. Quando, por ter abandonado a casa do Pai, encontro-me sozinho numa “terra distante”, o culto festivo, o bate papo gostoso no pátio e corredores da Igreja, os encontros e as refeições com a família da fé, o companheirismo não interesseiro de irmãos e irmãs em momentos de dificuldades, a mão amiga e o abraço forte em meio aos sofrimentos faz-me a maior falta.


Ao invés de dar fim a própria vida, o filho mais novo toma outra decisão, agora acertada. Disse ele: “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores” (Vs. 18-19). Há um conflito de identidade aqui. Ao mesmo tempo em que o filho mais novo percebe que não tem mais o direito de filho por ter abandonado a família, na busca do sustento diário como trabalhador ele se dispõe a pedir perdão chamando seu velho de “pai”.

Há uma grande lição aqui. Aconteça o que acontecer, uma vez que nos comprometemos com Cristo, nos tornamos filhos do Pai celeste. Nada pode mudar o que ele sente por nós, nem os nossos pecados. “Aquele que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora” disse Jesus. O amor de Deus é incondicional. Ele nos ama apesar do que somos e do que fazemos. Ele nos ama muito para não nos receber, mas nos ama muito mais e por isso não permitirá que permaneçamos os mesmos.

A atitude do filho foi a mais acertada porque em sua fala ele não culpa a ninguém, além de si mesmo. Ele reconhece as próprias faltas diante de Deus e para com seu pai. Está disposto, numa atitude de humildade, trabalhar para seu pai apenas como um de seus trabalhadores. A maneira como será tratado não o assusta. A incerteza de ser aceito também não o desiste. Ele sabe que as conseqüências de seus atos são dolorosas demais, mas se existe algum lugar onde ele poderá ser tratado e curado, é na casa do pai. Sendo assim, custe o que custar, ele decide voltar pra casa, lugar de onde nunca deveria ter saído.

A vida na “terra distante” não dura muito tempo. Ela pode ser prazerosa e atraente, todavia não tem durabilidade. Ela pode ser fascinante, mas sempre termina em tragédia. E quando chegamos ao lugar que ela sempre nos leva, ou seja, no chiqueiro do mundo, então percebemos o quanto fomos inconseqüentes. Essa experiência nos mostra que viver longe da casa do pai nunca deveria ser uma opção. Partir para a “terra distante” deixará seqüelas e cicatrizes das quais nunca nos trará orgulho. O melhor sempre está a nossa disposição na casa do pai.


A Bíblia fala de outro Filho que deixou a casa do Pai. Todavia, tal Filho não deixou em busca de aventuras e prazeres. Não exigiu sua herança. Ele abriu mão de todo o seu conforto porque desejava conquistar homens e mulheres para compartilhar toda a sua alegria na casa do Pai. Jesus deixou seu lar celestial e veio ao mundo como uma pessoa comum. Não ostentava ser um homem rico, nem devasso. Veio com o único propósito de nos convidar a voltar para a casa do Pai e para isso pagou com a própria vida o direito de sermos recebidos com alegria na casa do Pai. Fez isso porque não havia outra maneira de sermos aceitos no lar celeste. Nosso pecado só poderia ser pago por meio do derramamento de sangue inocente. Quando estava prestes a morrer e ressuscitar disse aos discípulos: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Voltarei e vos receberei, para que, onde eu estou, estejais vós também.” João 14.1-3

Hoje, ele te convida a voltar para casa. Você aceita o convite?