
Na semana passada vimos que Lucas 15, o capítulo das coisas perdidas, nos apresenta três tipos de pessoas perdidas. A ovelha perdida representa aqueles que estão perdidos, sabem que estão perdidos, mas não sabem o caminho de volta para casa. A moeda perdida representa aqueles que estão perdidos, não sabem que estão perdidos, não conhecem o caminho de volta para casa. Já o filho perdido, representa aqueles que estão perdidos, sabem que estão perdidos, conhecem o caminho de volta para casa, mas não tem forças para voltar.

Hoje, abordaremos especialmente o caso do filho perdido. O texto inicia nos apresentando uma família composta por um pai e dois filhos. Num determinado dia o filho mais novo causa um tumulto em casa. Pelo visto, ele não tinha motivos para causar qualquer problema, constrangimento ou desonra para a família. Ele certamente contava com o amor do pai, o companheirismo do irmão e a admiração de todos os funcionários da fazenda. Filho de um fazendeiro bem sucedido, nada lhe faltava. Todavia, em um determinado momento, isso não lhe bastou.
Próprio da idade, o filho mais novo se deixa seduzir pelo espírito inconseqüente de aventura. Chega ao pai e faz um pedido desrespeitoso. “Pai”, disse ele. “dá-me a parte que me cabe da herança” (vs. 12). Que absurdo! Afinal de contas, herança não é algo que possuímos após a morte dos pais? Nunca antes! O pedido desse rapaz é desprezível porque com ele a mensagem que transmite é que para si, o pai já era, está morto. Ele poderia ter chegado junto ao pai, falado de sua decisão de ir embora, até pedido alguma ajuda financeira e partido ainda que sem a aprovação e desejo do pai. Mas, pedir a herança foi demais.
Tal atitude revela o desprezo por tudo que o pai conquistara até então. Certamente estava convencido de que viver na casa do pai, cuidar da lavoura e do gado, consertar cercas e administrar uma fazenda não era um tipo de vida digno de um jovem. Mas ainda havia a possibilidade de trabalhar em outro ramo, o pai certamente entenderia isso. Mas o que aconteceu? Ele desejou desfrutar de todo o prazer que o mundo podia lhe oferecer, se divertir de segunda a segunda, sem ter que trabalhar um único dia, confiando apenas na fortuna do pai. Trabalhar? Para quê? Meu pai é rico e quando ele morrer terei uma boa grana como herança. Mas, pensa ele, porque devo esperar sua morte para curtir tudo que a vida oferece? Que ele me dê agora a parte que me pertence! Com isso este filho revela que nunca amara o pai, suportava sua presença apenas por causa da herança que receberia com a morte dele.
Diante de seu pedido desprezível, o pai faz os cálculos e lhe põe nas mãos todo o dinheiro que sempre desejara. Mas, o que levou o pai a tomar tal atitude? Ele não poderia ter-lhe despedido apenas com uns trocados? Ele não poderia ter dado ao garoto um sermão pela falta de respeito? Por que ele não tomou uma decisão diferente? Isso é o que veremos no próximo domingo. Por enquanto vamos nos ater apenas ao filho mais novo.
O que fez o filho mais novo quando recebeu a sua parte da herança? Lucas nos diz: “Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante”. Passados não muitos dias. Isso mostra-nos a rapidez com que o pecado destrói tudo aquilo que toca. Com o dinheiro nas mãos, não havia tempo a perder. Partir para uma terra distante onde não havia leis paternais, responsabilidades como o filho do Sr. Fulano de tal, e muito menos a obrigação de manter o status de bom moço, trabalhador, religiosos, era algo urgente.
Assim é o pecado. Você começa a brincar fumando apenas um cigarro, e ‘passados não muitos dias’ você se torna um viciado; você toma apenas uma cervejinha com os amigos e ‘passados não muitos dias’ você se torna um alcoólatra. Você assiste algumas cenas “inocentes” e picantes na TV ou no PC e ‘passados não muitos dias’ você se torna um escravo do sexo. Você abraça um segundo trabalho apenas para pagar as dívidas e ‘passados não muitos dias’ você se torna um avarento insaciável. É próprio do pecado. Ele certamente destrói tudo aquilo que toca.
Distante de casa, com o bolso cheio e a cabeça vazia, não foi difícil encontrar muitos amigos oportunistas. O filho mais novo curte a vida como sempre sonhara. Bebe todas, vende sua honra por uns trocados, passa noites em boates, dorme até tarde e levanta com uma ressaca insuportável e se gaba com os amigos de sua própria dor, afinal de contas estava naquela condição porque “curtiu” a noite inteira. Levanta e se apronta para mais uma noitada. Afinal, a vida tem de ser aproveitada e o desejo não pode esperar. Sem se dar conta das conseqüências de seu ato, gasta tudo o que seu pai lhe passara as mãos. É fato que aquilo que nos vem a mão de maneira fácil, nós não valorizamos. Foi o que aconteceu com o filho mais novo.
Em nosso relacionamento com Deus quantas vezes fazemos o que fez este filho. Estamos em casa com o Pai por causa de suas bênçãos e não por causa de quem ele é, nem mesmo por aquilo que ele representa para nós. Um dia, nos cansamos e dizemos: “Chega! Todos os meus amigos estão curtindo a vida ao máximo lá fora, e eu aqui, como cristão, estou apenas observando a vida passar e não consigo ver alegria nenhuma.” Com o coração rancoroso, justificamos nossa saída culpando Deus e a nossa família por tamanho infortúnio. Dizemos: “Essa igreja só tem gente falsa. Falam de amor, mas não vivem. Deus? Não me ouve mais. Parece que tem prazer em me castigar. Oro e ele não me responde. Basta, não quero mais ser cristão. Tome aqui a minha carta de exclusão e, por favor, me esqueçam.” Dessa forma saímos para uma “terra distante” com o único propósito de satisfazer cada desejo que até então estava reprimido.

Mas a vida não é feita só de alegria e prazeres. Quando o dinheiro acabou, o filho mais novo perde seus amigos. Agora se quisesse teria que trabalhar para comer e sustentar seus prazeres. Para piorar, a “terra distante” não é uma terra abençoada. Ali a existência de pessoas morrendo de fome é uma grande realidade. Diante desse quadro, busca um bom emprego. Mas como arrumar um bom emprego se ele nunca levou os estudos a sério? Como ganhar bem se nunca aprendera uma profissão? Agora sem dinheiro, sem amigos e sem nenhuma formação profissional o que lhe resta é cuidar de porcos. A situação é tão deprimente que o seu empregador não lhe dá sequer um prato de comida para depois mandá-lo ao chiqueiro cuidar dos porcos. Jesus diz que ele desejou comer a comida dos porcos, mas ninguém lhe deu nada. É preciso trabalhar para só depois receber o salário e assim comprar comida e matar a fome. O filho mais novo aprendeu isso da pior maneira possível.
Isso é o que encontramos quando estamos distantes da casa do Pai. A “terra distante” que nos parecia prazerosa torna-se seca e sem vida. Os amigos oportunistas desaparecem em meio a dor. Quando estamos em sofrimento não importa quantas pessoas nos conhecem, mas quantas se importam. Distantes de Deus, isso é perceptível mais do que possamos imaginar. O máximo que a “terra distante” poderá nos oferecer é cuidar de porcos. Ali, certamente é o caos, e as lágrimas são inevitáveis. Alguns chegam a pensar em dar fim a própria vida.
Entre porcos, sujeira e muito mau cheiro, o filho mais novo “caiu em si” e pensou: “Quantos trabalhadores na casa de meu pai tem pão com fartura, e eu aqui morro de fome!” (vs. 17). Agora a lembrança da casa do pai começa a perturbá-lo. A fome o faz lembrar as saborosas refeições servidas aos trabalhadores na casa do pai. Se para os trabalhadores era assim, imagine como era a refeição dele, como filho amado, na casa do pai. A conclusão inevitável foi: Na casa do meu pai, eu era feliz e não sabia.
Distantes da casa do Pai, somos torturados com as lembranças dos momentos de alegria que deixamos para trás em busca de uma vida de prazeres. Quando, por ter abandonado a casa do Pai, encontro-me sozinho numa “terra distante”, o culto festivo, o bate papo gostoso no pátio e corredores da Igreja, os encontros e as refeições com a família da fé, o companheirismo não interesseiro de irmãos e irmãs em momentos de dificuldades, a mão amiga e o abraço forte em meio aos sofrimentos faz-me a maior falta.

Ao invés de dar fim a própria vida, o filho mais novo toma outra decisão, agora acertada. Disse ele: “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores” (Vs. 18-19). Há um conflito de identidade aqui. Ao mesmo tempo em que o filho mais novo percebe que não tem mais o direito de filho por ter abandonado a família, na busca do sustento diário como trabalhador ele se dispõe a pedir perdão chamando seu velho de “pai”.
Há uma grande lição aqui. Aconteça o que acontecer, uma vez que nos comprometemos com Cristo, nos tornamos filhos do Pai celeste. Nada pode mudar o que ele sente por nós, nem os nossos pecados. “Aquele que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora” disse Jesus. O amor de Deus é incondicional. Ele nos ama apesar do que somos e do que fazemos. Ele nos ama muito para não nos receber, mas nos ama muito mais e por isso não permitirá que permaneçamos os mesmos.
A atitude do filho foi a mais acertada porque em sua fala ele não culpa a ninguém, além de si mesmo. Ele reconhece as próprias faltas diante de Deus e para com seu pai. Está disposto, numa atitude de humildade, trabalhar para seu pai apenas como um de seus trabalhadores. A maneira como será tratado não o assusta. A incerteza de ser aceito também não o desiste. Ele sabe que as conseqüências de seus atos são dolorosas demais, mas se existe algum lugar onde ele poderá ser tratado e curado, é na casa do pai. Sendo assim, custe o que custar, ele decide voltar pra casa, lugar de onde nunca deveria ter saído.
A vida na “terra distante” não dura muito tempo. Ela pode ser prazerosa e atraente, todavia não tem durabilidade. Ela pode ser fascinante, mas sempre termina em tragédia. E quando chegamos ao lugar que ela sempre nos leva, ou seja, no chiqueiro do mundo, então percebemos o quanto fomos inconseqüentes. Essa experiência nos mostra que viver longe da casa do pai nunca deveria ser uma opção. Partir para a “terra distante” deixará seqüelas e cicatrizes das quais nunca nos trará orgulho. O melhor sempre está a nossa disposição na casa do pai.

A Bíblia fala de outro Filho que deixou a casa do Pai. Todavia, tal Filho não deixou em busca de aventuras e prazeres. Não exigiu sua herança. Ele abriu mão de todo o seu conforto porque desejava conquistar homens e mulheres para compartilhar toda a sua alegria na casa do Pai. Jesus deixou seu lar celestial e veio ao mundo como uma pessoa comum. Não ostentava ser um homem rico, nem devasso. Veio com o único propósito de nos convidar a voltar para a casa do Pai e para isso pagou com a própria vida o direito de sermos recebidos com alegria na casa do Pai. Fez isso porque não havia outra maneira de sermos aceitos no lar celeste. Nosso pecado só poderia ser pago por meio do derramamento de sangue inocente. Quando estava prestes a morrer e ressuscitar disse aos discípulos: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Voltarei e vos receberei, para que, onde eu estou, estejais vós também.” João 14.1-3
Hoje, ele te convida a voltar para casa. Você aceita o convite?
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