sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O grande desafio


Abrão tinha 70 anos, casado, morando desde que nascera na cidade de Ur dos Caldeus, próximo da família, quando recebe uma ordem divina um tanto quanto estranha. Sair de sua terra sem destino, apenas numa atitude de obediência, para um lugar que Deus lhe mostraria no caminho. E lá foi ele, acompanhado de sua esposa Sarai, seu sobrinho Ló e de seu pai Terá. O chamado de Abrão nos revela que Deus abençoa pessoas apenas por graça e nunca por méritos. Abrão era de ascendência pagã, filho de pais idólatras e idoso o suficiente para rejeitar qualquer novo projeto de vida.

Vários dias depois, descansando em sua barraca, o Senhor lhe diz sobre o propósito de sua vida. “Ora, disse o Senhor a Abrão: ... Te abençoarei e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!” Gn 12.1-3. Por mais que isso parecesse tarde demais na vida de Abrão, Deus prometeu-lhe presenteá-lo e o fez com excelência, basta dar uma olhada nos capítulos que se seguem – Abrão se torna muito rico, tem dois filhos e desfruta de uma intimidade com Deus desejável por qualquer mortal. Todavia quero chamar sua atenção não para as bênçãos derramadas sobre a vida de Abrão, mas para o propósito pelo qual Deus o abençoou – Ser o presente de Deus na vida das pessoas. Isso de fato era um grande desafio. E Abrão honrou este propósito com dedicação.

Em um mundo cada vez mais egoísta, aprendemos aqui que nossa vida existe em função dos outros. Deus jamais teve a intenção de nos abençoar apenas para o nosso deleite e prazer. O seu propósito é sempre de nos tornar o presente dele na vida das pessoas que nos cercam. A vida não consiste nos bens que possuímos, mas nos relacionamentos que desenvolvemos. Tudo na vida só tem sentido através dos relacionamentos, o resto são detalhes. Você já parou para pensar que a razão de sua vida é justamente ser um presente de Deus na vida dos outros?


O relacionamento entre Abrão e Ló era como de um pai para com seu filho. Ló fora muito abençoado por Abrão e viu seus bens se multiplicarem sobre a terra rapidamente. Isso causou problemas para ambos. Diz-nos a Bíblia que os trabalhadores de Ló e de Abrão começaram a desentender, o espaço na terra se tornara pequeno para alimentar todos os animais. A situação ficou tão insuportável que foi necessário tomar uma decisão difícil – ambos precisavam se separar.

Diante desta situação, Abrão chama Ló e lhe diz: “Acaso, não está diante de ti toda a terra?... Se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda” Gn 13.8 e 9. O coração egoísta de Ló não pensa duas vezes. Abrão estava numa terra prometida por Deus a ele, no entanto ele escolhe dar a Ló a preferência por escolher o local para estabelecer sua morada. Ao olhar para a Campina do Jordão, mais parecida com um paraíso, Ló não teve dúvidas. Escolheu deixar seu tio nas montanhas e mudar-se para a região fértil que tinha como vizinhos duas cidades que mais tarde lhe traria sérios problemas – Sodoma e Gomorra. Ló, em seu egoísmo cego, além de faltar com o respeito para com o seu tio, escolheu um ótimo lugar para criar seu gado, e um péssimo lugar para educar seus filhos.

Olhando para este epsódio, somos tendenciosos a pensar que Ló fez a primeira escolha. Acredito que não. Abrão escolheu primeiro. Ele escolheu abrir mão de seus direitos para se tornar, por mais uma vez depois de tantas, um presente de Deus na vida de seu sobrinho Ló. Abrir mão de nossos direitos para beneficiar outros não é uma coisa fácil. Todavia, Abrão, antes de pensar em direitos, lucros, vantagens, ele pensa no propósito maior de sua vida – ser o presente de Deus. E ele não vacilou, diante de todas as oportunidades lutaria por isso. Servir o próximo com dano próprio e sem reclamar é um desafio e tanto para dedicar a vida.


Num dia como outro qualquer, Abrão está cuidando de sua família quando chega alguém correndo e lhe diz: “Ló e toda a cidade de Sodoma foram saqueados e levados cativos”. Diante de tal informação, Abrão poderia pensar que aquilo era castigo de Deus e que Ló bem merecia todo aquele sofrimento por causa de sua ganância. Mas, não. Abrão não alimentava qualquer amargura em seu coração porque nunca fizera nada pensando em ser recompensado pelas pessoas. Ele reúne seus soldados particulares, 318 homens, e vai em busca de Ló e dos cidadãos de Sodoma.

Uma sangrenta guerra é travada, e como Deus era com Abrão, a vitória foi inevitável. Naquela época, quando alguém vencia uma guerra, todos os despojos eram entregues ao vencedor. Sendo assim, com aquela vitória Abrão se tornara dono, por direito, de todos os bens que antes pertencera a Ló e aos cidadãos de Sodoma. Na volta para casa, o rei de Sodoma fez um pedido a Abrão: “Dá-me as pessoas, e os bens ficarão contigo... Abrão lhe respondeu: ... juro que nada tomarei de tudo que te pertence... para que não digas: Eu enriqueci a Abrão” Gn 14.21-23.

Abrão tinha uma percepção mais nobre sobre recompensas. Ele sabia que é melhor ser recompensado por Deus do que pelos homens. Seus olhos estavam na riqueza que a traça não pode destruir, nem ladrões podem roubar. Sabia que se ocupasse apenas em ser o presente de Deus, nada lhe faltaria. Sua vida era um constante servir. Servir sem esperar retorno imediato, humano. O meu desejo é que, assim como Abrão, possamos ser o presente de Deus na vida de todos aqueles que Deus nos permitir estar em contato em 2010, o menor que seja, buscando recompensas maiores do que os olhos possam ver.

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