
Temos aprendido sobre a vida dos doze homens comuns escolhidos por Jesus para formarem o seu grupo de discípulos que teriam a responsabilidade de liderar a Igreja de Cristo nos anos que se seguiram à sua morte e ressurreição.
Depois da introdução nós aprendemos sobre a personalidade, vida e ministério de alguns deles. Vimos: Tiago, o discípulo justo; Tiago, o discípulo menor; Filipe, o discípulo que fazia as contas; Natanael, o discípulo sincero; Judas, o discípulo com três nomes; Tomé, o discípulo incrédulo; André, o discípulo das pequenas coisas; Mateus, o discípulo desprezado; Simão, o discípulo violento e Pedro, o discípulo inconstante. E HOJE veremos Judas, o discípulo confiável.

O nome de Judas significa “Jeová o conduz”. Isso revela o desejo de seus pais. O curioso, e até irônico, é que Judas foi a pessoa mais orientada pelo diabo do que qualquer outro. Seu sobrenome Iscariotes, indica que ele era da cidade humilde de Queriote, localizada ao sul da Judéia. Ao que parece ele era o único discípulo que não pertencia a região da Galiléia antes de ser chamado pelo Mestre.
Em certa ocasião Jesus, se referindo a Judas cita o Salmo 41.9 que diz: “Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar.” Também temos no Salmo 55.12-14 outra citação sobre a relação de Jesus com Judas que diz: “Com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse, eu o suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta contra mim, pois dele eu me esconderia; mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu íntimo amigo. Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de Deus.” Salmo 55.12-14
Considerando estas passagens e o relacionamento com todo o grupo dos discípulos, podemos afirmar que Judas, durante os três anos que acompanhou Jesus de perto, era de fato um discípulo da mais alta confiança de todos, a tal ponto que acabou por se tornar o tesoureiro do grupo.

Já próximo de sua crucificação, Jesus volta à pequena aldeia de Betânia para uma refeição na casa de Simão, um ex-leproso. João diz que acompanharam Jesus nessa visita os discípulos e seus três amigos Lázaro, Maria e Marta. Durante a refeição, Maria unge os pés de Jesus derramando um perfume de 300 denários (equivalente ao que um trabalhador rural ganha em um ano de trabalho).
Ao ver aquele “desperdício”, Judas não se contém e diz: “Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres?” (Jo 12.5). A observação de Judas parece revestido de um cuidado para com os pobres, tanto que Mateus diz que os demais discípulos aparentemente concordaram com ele. Mas, inspirado pelo Espírito Santo João não deixa dúvidas sobre a real intenção de Judas no vs. 6 quando disse: “Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava”. Ou seja, o comentário de Judas foi motivado apenas pelo seu coração avarento.
Judas certamente esperava uma repreensão de Jesus para Maria, mas o que ele ouviu é que Maria o estava ungindo-o para a morte e que os pobres deveriam receber atenção não apenas em um ato isolado, mas sempre.
Judas certamente saiu daquele jantar decepcionado com Jesus. Sua avareza o cegara a tal ponto que Mateus diz-nos que logo após aquele jantar Judas saiu escondido e foi a Jerusalém com um firme propósito, vejamos o que nos diz Mateus: “Então, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, indo ter com os principais sacerdotes, propôs: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E pagaram-lhe trinta moedas de prata. E, desse momento em diante, buscava ele uma boa ocasião para o entregar.” (Mt 26.14-16)
Com o coração cheio de amargura e avareza Judas não pensou duas vezes, de um jeito ou de outro ele encheria o bolso de dinheiro. O melhor que ele conseguiu foi vender Jesus pela ninharia de 30 moedas de prata, valor pago por um escravo. E para ele isso bastava. Judas seguia a Jesus não por amor, mas por desejo de possuir coisas.
Judas é um exemplo de privilégios desperdiçados. Era o discípulo de maior confiança, mas optou pelo caminho da avareza, tornando um exemplo de que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. (1 Tm 6.10)

Uma vez que acertara o preço de seu Mestre, Judas volta ao convívio do grupo de discípulos como se nada tivesse acontecido. Segundo Lucas 22.6, daquele momento em diante Judas “buscava uma boa ocasião para o entregar sem tumulto”.
E não demorou encontrar tal ocasião. Durante a última ceia, após comerem, Jesus diz que um deles o estava traindo e adverte “O Filho do Homem vai, conforme está escrito a seu respeito, mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não ter nascido” (Mateus 26.24). Após tais palavras todos os discípulos começam a tentar descobrir entre eles quem seria o traidor. Curiosamente, ninguém suspeita de Judas, afinal ele era o discípulo de confiança do Mestre e do grupo dos doze.
O próprio Judas, reservadamente como amigo de confiança, com o fim de apagar qualquer suspeita de ser ele, dirige uma pergunta a Jesus: “Acaso sou eu Mestre?”. A isso Jesus respondeu: “Tu o disseste” (Mt 26.25). Ao ouvir tais palavras, Judas se cala. Sua decisão de traí-lo já estava tomada, o dinheiro no bolso garantido, não voltaria atrás mesmo ciente das conseqüências de seu ato.
Ao perceber que Judas não se arrependera, Jesus o convida a se retirar dizendo “O que tem de fazer, faze-o depressa”. Judas não pergunta o que era para fazer, ele simplesmente sai ao encontro dos sacerdotes porque já havia encontrado a ocasião em que buscava para trair o Mestre e precisava agir rápido. Assim, naquela noite, enquanto Jesus dirigia suas últimas palavras aos demais discípulos antes de sua morte, Judas negociava a estratégia que usaria para entregá-lo no centro da cidade.
Ao terminar a ceia Jesus vai ao Getsêmani como costumava fazer. Judas sabia disso e acompanhado de centenas de soldados vai ao encontro do Mestre. Judas havia combinado um sinal com os guardas dizendo “aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o”. E foi exatamente o que fez. Aproximou-se de Jesus e disse “Salve Mestre! E o beijou.” (Mt 26.48-49). Jesus olha para Judas e pergunta: “Amigo, para que vistes? Com um beijo trais o Filho do Homem?” E os soldados o prenderam.
Ser traído por alguém dói muito, mas por alguém que se diz amigo de confiança, dói muito mais. Todavia, isso foi exatamente o que Judas fez mesmo depois de ter caminhado por três anos com o Mestre. Aprendemos aqui que uma pessoa pode andar tão próximo de Deus, e por não se comprometer com ele, acabar traindo-o.
Judas é um exemplo de oportunidades perdidas. Andou, viu, apalpou, ouviu o Mestre ao vivo e a cores por um período de três anos. E acabou optando pelo Caminho da traição.

Após aquela noite, Judas sente um grande remorso. O remorso é diferente do arrependimento. Enquanto o arrependimento é marcado por uma tristeza de ter feito algo errado, o remorso é a tristeza por ter dado errado o que fizera. Com tamanho remorso a Bíblia diz que ele tenta devolver o dinheiro inutilmente aos sacerdotes. Talvez esperasse com isso devolver a liberdade a Jesus, mas não deu certo.
Diante disso, ele foge, amarra uma corda em uma árvore e se enforca. Possivelmente depois de enforcado, segundo Atos 1.18-19, o galho ou a corda não resiste e quebra, lança o corpo de Judas sobre pedras e aí “rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram”. Essas são as últimas palavras na Bíblia sobre Judas. Um fim trágico, para um discípulo de “confiança”.
Judas passou três anos com Jesus, mas durante todo esse tempo seu coração se tornou cada vez mais duro. Chegou tão perto do Senhor como poucos puderam chegar, participou do ministério de Jesus e foi testemunha como poucos puderam ser, mas continuou incrédulo e partiu para a eternidade sem nenhuma esperança.
Que possamos viver de maneira diferente de Judas e que Deus nos abençoe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário