domingo, 5 de setembro de 2010

Para quem você vive?

Depois de mais de vinte anos eu o encontrei numa lanchonete no centro de minha cidade de origem. Ele se tornara em outra pessoa. Aílton estava visivelmente angustiado e amargurado. No passado fôra um dos líderes espirituais de minha infância. Sempre ativo e muito envolvido com os trabalhos da Igreja, jamais imaginaria que um dia pudesse vê-lo daquela maneira. Mas o que aconteceu com ele? Tive receio em perguntar. Mas, depois de pouco tempo conversando, percebi que ele havia se desviado do propósito de Deus por causa de velhos desejos, antigos hábitos, rancores do passado, apatia espiritual.

A cada ano que passa, mais convicto fico de que a espiritualidade não é um compromisso de fim de semana, mas um relacionamento pessoal diário e intecional com Deus. Quem não encara a vida cristã como um compromisso integral com Deus, que envolve todas as áreas de sua vida, acaba limitando a fé a mais um dos muitos compromissos do fim de semana e optando por levar uma vida dupla, passando a viver de maneira incoerente. Esse problema só é resolvido quando se vive a partir da perspectiva da fé.

Sansão vivia dividido entre o compromisso com Deus e a satisfação dos desejos pervertidos. Observar a biografia desse herói nos ajuda a perceber que levar uma vida dividida, além de nos trazer problemas desnecessários, afetará tragicamente nosso relacionamento com Deus.

Recuperado da última luta, quando matou mil homens, Sansão de maneira inconsequente vai visitar o povo filisteu em busca de prazer. Um dos principais problemas de Sansão estava no fato de ter confiado demais em si mesmo. No início de sua vida social Sansão pode ter pensado “eu não vou me envolver com prostitutas, apenas vou dar uma olhada de longe”. Assim é como funciona a armadilha do pecado. Mas pouco tempo depois e de muitas confusões no currículo, Sansão decidiu voltar a Gaza. Advinhe qual era o seu interesse? Veja o que diz Juízes 16.1: “Certa vez Sansão foi a Gaza, viu ali uma prostituta, e passou a noite com ela".

Vamos pensar juntos. Sansão era um homem consagrado a Deus mesmo antes de seu nascimento. Como nazireu sabia qual era a sua identidade e a sua missão. Conhecia a Palavra de Deus e freqüentava as reuniões do povo de Deus. Todavia, Sansão tinha o costume de sair com prostitutas! Como entender tamanha incoerência? Sansão tinha tudo para ser um grande herói da fé, mas fracassou devido as suas escolhas. Optou por satisfazer sua fraqueza moral. Não é diferente para os cristãos de nossos dias, quando guardamos nossa fé na gaveta de “coisas para o fim de semana” e seguimos vivendo buscando a satisfação de nossos desejos, agimos como Sansão.

Muito de nossos problemas se deve ao fato de tomarmos decisões incoerentes com a vida cristã. Gostamos de culpar o diabo, as tentações ou mesmo a Deus. Todavia, na maior parte das vezes nosso sofrimento é causado pelas escolhas que fazemos. Santo Agostinho disse certa vez que “Se não resistirmos a um costume, ele se transforma numa necessidade”. Foi exatamente o que aconteceu com Sansão. Ele se acostumou a se divertir com prostitutas e em pouco tempo, isso se tornou uma necessidade.

Você começa a brincar com o pecado, ou pelo menos, enamorá-lo, confiando em sua habilidade de se livrar dele na hora que desejar. Todavia, pouco tempo depois aquele costume torna-se uma necessidade e quando cair em si você estará se arrastando na vida, como um caco ambulante. O pecado destrói tudo o que toca. Exatamente por isso, viva o mais distante dele possível.

Movido pela sua necessidade sexual, Sansão sai ao encontro de mais uma aventura sexual. Ao encontrar com a prostituta, a diversão que o escravizava estava garantida. No entanto, essa atitude de Sansão sempre trazia conseqüências desastrosas e dolorosas. O sentimento de fracasso seria inevitável.

A notícia se espalhou rapidamente. Disseram ao povo de Gaza: "Sansão está aqui!" Então cercaram o local e ficaram à espera dele a noite toda, junto à porta da cidade. Não se moveram a noite inteira, dizendo: "Ao amanhecer o mataremos". (Juízes 16.2)

Os filisteus tinham agora a oportunidade de que tanto queriam. Sansão está trancado na cidade de Gaza e dormindo. Esperavam o amanhecer para matá-lo. Na antiguidade as cidades eram cercadas por muros largos e altos. Na entrada, a porta era feita de madeira maciça e revestida de ferro. Portanto, para abrir uma porta dessas eram necessários no mínimo quatro homens. Carregar? Era uma tarefa humanamente impossível.

Apesar de estar totalmente errado e ter desagradado a Deus por mais uma vez, Deus não abandona Sansão. Uma inquietação toma conta de seu coração à meia-noite. Ele se levanta e resolve ir embora. Sem que ninguém perceba, ele chega até o portão e descobre a trama. Então, fortalecido pelo Espírito Santo ele agarrou firme a porta da cidade e a arrancou com tranca e tudo. Pôs tudo nos ombros, carregou-a por cerca de sessenta quilômetros e levou-a ao topo da colina que fica defronte de Hebrom (Juízes 16.3). Sansão estava livre outra vez. Realmente Deus amava Sansão, embora seu amor não fosse correspondido.

Durante aquela caminhada noturna Sansão deveria ter se perguntado: O que estou fazendo aqui? Até quando desobedecerei a Palavra de Deus? Até quando menosprezarei o seu amor? Afinal de contas, para quem vivo? Para satisfazer meus desejos pervertidos ou para servir a Deus? Mas não. Sansão estava certo de que poderia fazer qualquer coisa sem ter que lidar com as conseqüências de seus atos. Sua desobediência para com o apelo amoroso de Deus estava tornando-o insensível à voz e ao cuidado de Deus.

Em 2008 a Editora Mundo Cristão lançou um livro de autor americano intitulado: “Em seus passos o que faria Jesus?”. O livro narra a história de uma Igreja no EUA que fora desafiada por seu pastor por um período de um ano a se perguntar antes de tomar qualquer decisão ou escolha: “nessa situação o que faria Jesus?”. O livro narra o que aconteceu com os membros daquela Igreja depois daquele desafio. O diretor Norman do jornal da cidade decidiu tirar os anúncios de bebidas e fumo. Apesar da queda na arrecadação, ele permaneceu firme, entendendo que aquela era a atitude mais coerente que um cristão deveria tomar. Raquel, ministra de louvor passou a louvar com o coração e não somente com a voz e o corpo. Abriu mão de um convite tentador para cantar numa companhia de ópera, por entender que aquilo poderia afastá-la de servir ao Senhor com fidelidade. Raymond, chefe de uma companhia de transporte ferroviário, tornou-se mais agradável no trato com os trabalhadores providenciando a reforma de um salão abandonado para servir de refeitório para os funcionários. Alexandre perdeu o emprego por se recusar a fazer serviço sujo para a empresa onde trabalhava. Como podemos ver, esse livro de fato é muito envolvente. No entanto, sinto que para a maioria dos cristãos, tais atitudes parecem irreais. Jesus não tem sido um parâmetro para as decisões diárias, o que é uma pena.

Que homem teria sido Sansão se tivesse optado por seguir fielmente as orientações de Deus? Que tipo de vida ele teria se tivesse honrado a Deus em cada escolha que fizera? E que o dizer de nós? Não basta dizer que é cristão, ser membro da Igreja, freqüentar cultos, se não entender que sua vida só fará sentido se for vivida exclusivamente para Deus. E viver para Deus custa muito caro. Ser salvo em Cristo Jesus não te custará nada, mas viver para ele te custará tudo. A verdadeira felicidade, a que você tanto busca, só pode ser satisfeita através de um relacionamento comprometido e pessoal com ele. Afinal de contas, para quem você vive? Você aceita o convite de viver exclusivamente para Deus?

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