domingo, 6 de dezembro de 2009

Verde - O preço da esperança


Quando olhamos para a história do primeiro natal, de maneira mais específica para Maria, temos a tendência de não perceber as dificuldades que ela certamente enfrentou ao ser escolhida como aquela que daria à luz ao salvador do mundo.

Muitos cristãos defendem que ela aceitou facilmente a gravidez porque de certa forma já esperava por isso. Sendo assim, quando o anjo Gabriel lhe traz a notícia de sua gravidez, na cabeça destes cristãos, Maria certamente age com alegria e obediência absoluta.

Já outros cristãos, atribuem a Maria um demérito conflitante. Por perceberem que alguns adotaram Maria como uma deusa, mais especificamente a partir do concílio de Éfeso que tornou Maria um objeto de adoração, acabam por desprezar a importância de Maria nos planos de Deus, bem como o seu exemplo de vida digno de ser imitado.

Sendo assim, convido você a olhar novamente para Lucas 1.26-38, e juntamente comigo calçar as sandálias de um morador Galileu, andar pelas estradas empoeiradas de Nazaré, sentir a esperança roubada de toda uma nação, o coração palpitando de uma jovem noiva diante da visita de um anjo com uma proposta estranha, para de maneira simples, sem um pré-julgamento, sem atribuir-lhe característica divina e também sem desmerecê-la como uma grande serva do Senhor, aprender com essa jovem que tem muito a nos ensinar.


O texto dá início dizendo que o anúncio do anjo Gabriel se deu nos dias de Herodes, rei da Judéia. Nesse tempo o povo de Israel era dominado pelo Império Romano, que estabelecia o governo de Israel sem interferir na vida religiosa. Todavia, cobravam altos impostos e roubavam o direito de sonhar com o progresso e de uma vida melhor de toda a nação.

Ao olhar para as instruções divinas dadas ao povo através de Moisés, o povo sabia que o domínio romano se devia ao fato de terem abandonado o seu Deus. Todavia, aguardavam com grande expectativa a vinda do prometido Messias para libertá-los e assim cumprir as profecias de que ele estabeleceria um reino de paz e sem fim. Mais do que ter a necessidade de um salvador de seus pecados, Israel precisava e esperava o surgimento de um salvador que os livrasse com mão poderosa do império romano.

As profecias davam conta de que o Messias (enviado de Deus), o Salvador, o Rei dos reis, seria descendente de Davi, o maior rei que Israel conhecera. Talvez por isso, todos esperavam que ele nascesse como filho de um rei cercado de todo o cuidado de um nobre. Jamais imaginaram que ele nasceria em meio à ralé, numa estrebaria, sem os holofotes da corte real. Desta forma, as moças sabiam que àquela que tivesse a honra de dar à luz ao Messias, além da honra de ser a mãe dele, receberia também toda a honra, reconhecimento e conforto que um palácio pode oferecer.

Naquele tempo, morava em Nazaré uma família, que tinha uma filha recém saída da adolescência e que se chamava Maria. Tinha ela um noivo que muito a amava e a respeitava. Eles se preparavam com alegria para o casamento. Maria, como qualquer jovem de sua época contava nos dedos os dias e horas para a cerimônia. Tinha muitos sonhos e casar com José era um deles. Todavia, entre enxovais e receitas para a festa ela recebe a visita inesperada do anjo Gabriel que coloca em risco tudo o que estava planejando.

Diz-nos o texto que Gabriel aparece de repente com uma saudação que deixou Maria conturbada. “Alegra-te muito favorecida, o Senhor é contigo” disse o anjo. Assustada, com medo e ao mesmo tempo sem entender o que estava acontecendo, ouviu do mensageiro: “Maria, não tenha medo; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim”.

Se Maria já estava perturbada com aquela saudação, imagine agora com a notícia bombástica de ficar grávida fora do contexto do casamento? Era bem sabido que nestes casos, a grávida era apedrejada em público sem dó e nem piedade. Aceitar aquela proposta representava não somente o fim de um sonho, mas também a perda do noivo, a desonra da família e a própria morte. O preço de ser a resposta para a esperança de Israel era muito alto. E agora?

Diante de uma decisão tão importante, precisaria de mais tempo. Mas o anjo tinha pressa. Ela então sufoca o seu medo e perplexidade e pergunta: “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?” Ao que o anjo respondeu: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”.

Diante de tal informação, Maria agora sabe que ela foi a escolhida para gerar o Messias em seu ventre. A esperança de todo o seu povo, de ter um salvador, um rei justo, repousava sobre ela. A notícia de fato era muito boa, mas certamente traria muitos problemas, o preço a pagar por tamanho privilégio era por demais alto. Perder o grande amor de sua vida, ser a causa de tanto desconforto para sua família, ser chamada de mulher da vida e pior, iria a julgamento e correria o risco de ser condenada a morte por apedrejamento. Pareciam problemas impossíveis de serem resolvidos. Como falar com José, a família e amigos que estava grávida? Do Espírito Santo? E que seu filho era o Messias? Tudo isso pesava contra.


Em meio a tantas dúvidas, o anjo diz algo que tranqüiliza o seu coração: “para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas”. Ao ouvir tais palavras, Maria é convencida de que sendo a vontade de Deus, ele cuidaria de tudo para que o seu Filho fosse gerado em paz, afinal de contas essa era a vontade de Deus. Então sem hesitar ela diz algo que me espanta. Ela diz: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”.

Maria abre mão de seus sonhos e aceita correr o risco de perder seu noivo, sua família, sua dignidade e sua própria vida, para poder fazer a vontade de Deus e dar à luz ao Messias, tão esperado pelo seu povo. Ela não pensa em si, ela não coloca condições, ela não exige provas de ser aquela notícia uma mensagem realmente vinda dos céus. Ela simplesmente se submete a vontade de Deus na certeza de que ele cuidará dela e de seu filho, e isso lhe bastava. Magnífico! Tremendo! Maravilhoso! Como não admirar uma atitude como essa?

Ao olhar para tudo isso, somos desafiados a repensar nossa própria história e perceber o agir de Deus. Não estamos aqui simplesmente para correr atrás de nossos sonhos e projetos. Como Maria também temos um salvador para apresentá-lo às pessoas que nos cercam. Existe uma mensagem de esperança que precisa alcançar corações desiludidos. Mas isso tem um preço a considerar. Só será possível tornar o Salvador conhecido a partir do momento em que nos dispormos como Maria dizendo “Aqui está a(o) serva(o) do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”.

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