domingo, 1 de novembro de 2009

Um encontro casual


No dia 30 de julho de 1988 tive um encontro surpreendente. Eu estava olhando para o relógio na garagem da empresa de transporte coletivo em que trabalhava. O meu interesse nada tinha a ver com a hora certa, mas estava contando os minutos para ir embora. Estava de plantão, na espera de que nenhum cobrador passasse mal ou faltasse a sua escala de serviço e desta forma eu poderia ir embora. Faltavam apenas cinco minutos para que eu pudesse ser dispensado quando o telefone tocou. Para minha tristeza, um cobrador que trabalhava no ônibus que fazia o itinerário de Cel. Fabriciano a Acesita estava passando mal. Como estava de plantão, devia ir substituí-lo. Sai chateado e fui. Casualmente entrou no ônibus uma linda moça pela qual me apaixonei e dois anos depois nos casamos. Foi um encontro surpreendente, e "casual".


Ao olhar para trás, percebo que nada que acontecera naquele dia foi casual para Deus. Para mim sim, mas tudo estava planejado por ele. Ao olhar para a Bíblia eu descubro de que esses “encontros casuais” não acontecem só comigo. O Dr. Lucas nos conta um desses encontros casuais entre Pedro e Jesus no capítulo 5.1-10 no mar da Galiléia. Ele dá início a sua narração dizendo: “Certo dia” (vs. 1). É o mesmo que dizer “era uma vez” ou “há muito tempo atrás” dando a entender que o que ele vai nos contar é algo que aconteceu casualmente num dia comum. E o que ele nos conta? Diz-nos que durante toda uma noite Pedro estivera no mar pescando, todavia sem sucesso. Na manhã seguinte, exausto, ele e seus companheiros de pesca lavavam suas redes para guardá-las e voltarem para casa.

“Casualmente” Jesus estava passando pela praia e aproxima do barco de Pedro com uma atitude no mínimo desconfortante. Ele sobe no barco de Pedro e dali fala à multidão que o seguia. Não sabemos sobre o que Pedro pensou naquele momento, mas mesmo cansado, por causa de uma longa noite de insucesso com a pescaria, Pedro passa a ouvir o Mestre sem se dar conta de quem “casualmente” estava em seu barco naquela manhã.

É certo que nada do que aconteceu naquela noite e manhã foi “casual”. Poderia até ter sido casual aos olhos de Pedro, mas nunca aos olhos de Jesus. O insucesso na pesca, o empréstimo do barco, o tempo de espera para guardar o barco após Jesus atender a multidão e a pesca maravilhosa que se seguiu, eram coisas bem planejadas por Jesus para abençoar a vida de Pedro.

Quantas vezes me identifico com Pedro nesta passagem. Tem dia que nada dá certo. É o relógio que não desperta, o carro que resolve apresentar um novo problema, o filho que não entende, o patrão que não reconhece, frustrações sem conta. Mas, mesmo nesses momentos, apesar de parecer que Deus não está nem aí para a nossa vida, nos enganamos. Ele não arreda o pé. Ele se faz presente mesmo que eu não consiga vê-lo. Por vezes ele nos fala através de uma música, ou de um amigo, ou mesmo através de uma brisa. O certo é que mesmo nas casualidades da vida, ele está nos abençoando.

Deus já estava trabalhando em Pedro, antes mesmo de ter entrado no barco dele, na noite anterior o insucesso também fazia parte do que Deus estava fazendo na vida do apóstolo. O mesmo acontece conosco. Nosso Deus nunca é pego de surpresa.

Após “casualmente” encontrar Pedro e seu barco, Jesus dá uma ordem absurda: “faze-te ao largo (vá para onde as águas são profundas e lancem as redes)” NVI vs. 4. Pedro tinha muitos motivos para recusar a ordem de Jesus: 1) Jesus era carpinteiro e não pescador; 2) Qualquer pescador saberia que aquele não era hora de pescar; 3) Aqueles homens estavam cansados porque haviam se esforçado à noite inteira e não pegaram nada.

Todavia, somos surpreendidos com a palavra de Pedro: Senhor, nós fizemos isso a noite inteira e não apanhamos nada. “Mas sob a tua palavra, lançarei as redes” (vs. 5). Tremendo! Mesmo cansados e com o sol quente, Pedro abre mão da razão e resolve dar ouvidos a palavra de Jesus. A sua experiência dizia que não adiantaria lançar as redes naquele momento, só daria mais trabalho – teriam que lavá-las de novo, mas as palavras de Jesus inspiravam confiança, e então Pedro decide fazer o que Jesus estava pedindo.

O cansaço e a decepção nos tira completamente a disposição para obedecer a Deus. Pode até ser que você esteja passando por um período tão conturbado em sua vida que já pensa em desistir da própria fé em Deus. Mas é exatamente em meio as crises que Deus nos dá ordens absurdas. Perdoar a pessoa que causou toda a sua dor, acreditar que haverá um futuro brilhante na gente, ter certeza de que ele vai encher o seu barco de peixes pode não ser algo muito fácil. Mas uma coisa é certa, não importa a dificuldade que você possa estar enfrentando, se ouvir uma voz atrás de você dizendo: “Este é o caminho, andai por ele”, não vacile, ouse obedecer e certamente você será surpreendido. Deus é especialista em nos surpreender.


Diante daquela ordem absurda, Pedro pega suas redes que acabara de limpar e as lança ao mar. A quantidade de peixes foi tão grande que precisou de ajuda. Segundo o relato bíblico ele fez sinal para seus companheiros que estavam na praia, pois tamanha era a quantidade de peixes que seu barco começou a afundar. Aleluia! Diante disso, Pedro fica alarmado, se inclina diante de Jesus com uma constatação contraditória e pede para que Jesus se retire, por ser ele (Pedro) um pecador.

Pedro reconheceu SER ele um pecador e por esta razão não poderia estar em companhia de Jesus. Nesse ponto ele estava certo. O pecado nos afasta de Deus e interrompe completamente nossa relação com ele. Pecado é mais do que “errar o alvo”, é também toda espécie de confiança em nossos próprios caminhos, em detrimento dos caminhos que Deus nos oferece. É certo que Pedro não acreditava que aquela pesca seria possível, mas quando resolve confiar em Jesus ele é surpreendido. Confiar em Deus, é sempre o melhor caminho.

A constatação de Pedro ao afirmar que ele era pecador e que por isso não poderia se envolver com Jesus é certa, mas se torna contraditória quando o Senhor lhe diz: “Não temas, de agora em diante serás pescador de homens.” (NVI vs. 10). Mas como? Um homem como Pedro ser usado nas mãos de Deus? Sim! Pedro de fato não tinha nenhuma qualificação para ser usado por Deus – de fato era um pecador. Mas, mesmo assim, Jesus não o recusou. Sabe o por que? Porque Jesus não veio para julgar e condenar o pecador, mas, através de sua morte na cruz, veio prover o seu perdão e a sua restauração à relação de intimidade com Deus.

É meu amigo, apesar de todos os nossos erros, Deus nos aceita como somos, e nos ama demais para nos abandonar como estamos. Em um momento olhamos para nós mesmos e dizemos: “Não tem mais jeito. Minha vida não vale a pena. Não sou digno sequer de ser aceito e amado por Deus”. Isso tudo é verdade. Mas é exatamente aí que ele nos surpreende. Apesar do que somos, ele nos aceita, perdoa e nos conduz com um amor que sequer dá para descrever. Diante do ocorrido, Pedro e seus companheiros não tiveram dúvidas, “arrastaram seus barcos para a praia, deixaram tudo e o seguiram” (vs. 10). E nós? Não faremos o mesmo?


Proponho que façamos uma releitura de nossas vidas. Observe que mesmo aqueles acontecimentos que nos afligiram no passado ou no presente, não pegaram Deus de surpresa. Ele é especialista em pegar as coisas ruins e torná-las em coisas boas na vida da gente. Você tem estado sensível para perceber, em meio as casualidades, o mover intencional de Deus em sua vida?

Uma outra proposta que faço é que quando você estiver em meio as dificuldades, procure dar ouvidos a Deus, mesmo quando a ordem dele naquela situação lhe parecer algo completamente absurdo. Você se encontra diante de uma ordem da parte de Deus que, aos olhos da cultura ou das circunstâncias, parece absurda? Ouse obedecer e seu barco se encherá de peixes.

E por último entenda que apesar de não merecer o cuidado de Deus, se incline diante de Jesus reconhecendo seu pecado, deixando-se envolver por seu perdão e restauração. Ele te aceita como você é. Mas saiba de uma coisa, ele te transformará numa pessoa cada dia melhor. “Não temas, de agora em diante serás pescador de homens.”

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