domingo, 15 de novembro de 2009

Surpreendido pela fé


Qual a diferença entre os fracassados e os vitoriosos? Existe um denominador comum, ao qual se possam reduzir todos os vitoriosos ou todos os fracassados? Parece que a separação entre uns e outros é feita pela fé. Vitoriosos são aqueles que acreditam, que têm fé, que avançam baseados na confiança. Fracassados são os que vão ficando para trás, andando em círculos em torno de si próprios, sem ânimo, sem coragem, sem certeza de coisa alguma.

A fé estabelece diferença entre os que triunfam e os que são derrotados. Se você se considera um fracasso, exerça sua fé em Jesus e certamente você será surpreendido por ele e sairá vitorioso. Mas atenção. Ouvir falar sobre o valor da fé pode ser muito interessante, mas entre palavras bonitas sobre a fé e a prática da mesma, vai uma grande distância.
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Que se deve fazer para ter fé? Que medidas drásticas serão necessárias para desenvolvê-la? Hoje veremos que não é preciso modificar coisa alguma nem sair do lugar, para dar início ao exercício da fé. Quase sempre, a fé começa a ser despertada por uma necessidade. Um problema difícil, que não podemos resolver por nós mesmos e que precisa ser atendido com urgência, uma doença séria, morte na família, ou uma insatisfação crescente conosco mesmos. Esses fatores de opressão, que parecem organizados para nos destruir, constituem, muitas vezes, a nossa grande oportunidade de sermos surpreendidos com a fé que existe dentro de nós esperando o nosso cultivo para se manifestar.

Uma das maneiras mais fáceis de se compreender isso, é através da história do homem que foi pedir a Cristo para curar o seu filho em Marcos 9.17-27: “E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo; e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam. Então, Jesus lhes disse: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-mo. E trouxeram-lho; quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando. Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu; e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê. E imediatamente o pai do menino exclamou com lágrimas: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé! Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e nunca mais tornes a ele. E ele, clamando e agitando-o muito, saiu, deixando-o como se estivesse morto, a ponto de muitos dizerem: Morreu. Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou.”

Aqui está o caso de um homem que precisava resolver um grande problema. Ele não foi procurar Jesus porque desejava ter fé. Não era um sonhador, à procura de uma ideologia, nem um interessado em acompanhar um sistema difundido de crença, mas um pai, defrontando a realidade brutal de um filho enfermo.

Pelo que se deduz da narrativa, ele não vivia submisso ao destino, esperando que acontecesse um milagre. Um homem que procura os discípulos, e depois que esses fracassam, continua a sua procura, buscando o próprio Cristo, não é um conformista, não vive tranqüilo, aceitando uma situação desesperadora. É possível que antes de procurar os discípulos, ele tivesse procurado todos os possíveis curadores credenciados de sua nação. A doença do filho não lhe parecia lógica, e ele não estava disposto a aceitá-la de braços cruzados, sem uma reação positiva e definida.

Pode ser que no seu espírito, muito mais forte do que a esperança de cura do filho, permanecessem várias dúvidas. Curá-lo como? Era muito bem sabido que não havia remédios para aquele tipo de aflição. Pensando nisso, o homem talvez tivesse vontade de desanimar, de desistir, de deixar que as coisas seguissem o seu rumo. Não era essa a vontade de Deus?

Mas, à primeira tentativa de acomodação, vinha um novo ataque, o filho novamente atirando-se ao chão, contorcendo-se, sofrendo. Não. Enquanto ele fosse vivo, teria de lutar para descobrir uma cura, embora crendo que tal cura não existisse. E novamente voltava a procurar por toda a parte, alguém que pudesse salvar o seu filho. De fracasso em fracasso, foram se acumulando mais e mais dúvidas. Mas enquanto lhe restasse um fio de vida, continuaria a luta, a procura.


Certo dia lhe contaram dos milagres que Jesus e seus discípulos vinham fazendo, então ele se preparou para procurá-lo também. É de se supor que, depois de tantas e prováveis experiências sem resultado, as suas esperanças fossem quase nulas. Mas o dever de pai o impulsionava a tentar tudo. E ele talvez pensasse que, correndo de um lado para o outro, com o seu menino doente, estivesse fazendo tudo o que podia fazer, e recebendo tudo o que lhe poderiam dar de alívio, isto é, nada.

Havia agora mais uma obrigação a cumprir, procurar esse Jesus, que fazia milagres. Mas e se começassem as perguntas? Diziam que Jesus era um homem religioso, que falava muito em perdão de pecados na hora das curas. E se ele resolvesse relacionar a doença da criança com os pecados dos pais? Se lhe perguntasse a história da sua vida e dos seus erros? Essa história talvez, não pudesse ser contada em público. Talvez por isso, seria melhor procurar os discípulos, que, menos experientes, talvez passassem por cima dessas coisas. De qualquer modo, ele se dirigiu primeiro aos discípulos que nada puderam fazer pelo menino.


Novamente atribulado, provavelmente debatendo-se entre o senso de culpa, e o medo do olhar de Cristo de um lado e o sofrimento do filho do outro, ele decide por procurar a Cristo. Quando começa a contar a sua história, expondo a incapacidade dos discípulos de curar o filho, Jesus interrompe com uma censura: “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?”

Pode ser que, diante disso, o homem tivesse tido vontade de sair correndo. Será que “a geração incrédula” de que Jesus falava era ele? Seria por causa de sua incredulidade que o menino não fora curado ainda? Mas, antes que houvesse tempo de pensar em retirada, Jesus acrescentou: “Trazei-mo”. Não havia mais nada a fazer do que esperar. Esperar o interrogatório e se preparar para ouvir mais censuras, e talvez até para oferecer sacrifícios acima de suas posses. Mas nada disso tinha importância, se o menino ficasse bom.

Não foi preciso entrar em detalhes sobre a doença. Tomado de novo ataque, o menino caiu no chão, deixando claro qual a natureza do mal que o afligia. Agora, naturalmente, viriam as perguntas: “Há quanto tempo lhe sucede isso?”. “Desde a infância” respondeu o pai. “Muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o destruir. Mas se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos”.

Quem sabe se o homem esperava agora mais perguntas do tipo: “Você observa os princípios da lei? Guarda os mandamentos? Quem na família pecou para que esse menino seja doente?”. Mas nada disso Jesus quis saber. A única pergunta feita, referia-se à duração do sofrimento de ambos, única resposta em que Jesus estava interessado. Há quanto tempo padeciam eles. Nada mais. Nem o nome ele perguntou. Nem do pai, nem do filho, pois diante do sofrimento, que importância teriam essas informações?

O problema estava ali, real, cruel, diante dos olhos, um menino surdo-mudo, se contorcendo no chão e o pedido urgente do pai: “Se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós”. O pai fora procurar ajuda para o filho, mas o motivo da sua petição estava tão à flor da pele que, na hora de suplicar pelo menino, ele se expressa no plural: “tem compaixão de nós”. É quase sempre assim. As causas que nos levam a descobrir a fé são geralmente inseparáveis de nós mesmos. Do contrário, seria provável que nunca nos movêssemos à procura de uma solução para o nosso problema da descrença.
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Mais curioso é a dúvida expressa em seu pedido: “SE TU PODES”. Ele nem sabia se Cristo podia. Era apenas mais uma tentativa. A resposta foi dada ao pé da letra. Ao “se tu podes fazer”, Jesus responde: “Se tu podes crer... tudo é possível ao que crê”. A questão não era se Jesus podia fazer, mas sim se o pai podia crer. O pobre homem que provavelmente pensasse que, correndo de médico em médico, estava fazendo tudo que podia pelo filho, talvez ficasse paralisado diante dessa condição. Se tu podes crer! Crer? Como? Se toda a vida do filho fora uma sucessão de frustrações, à procura de alívio!? Crer em algo que nunca lhe acontecera, e que talvez nunca viesse a acontecer?

Era isso que Jesus exigia dele? Com evidências se acumulando, pela vida afora, de que cada nova crença redundava em nova desilusão? Por mais que desejasse crer, ele não conseguiria mesmo. Não podia crer, porque as provas eram todas contra ele, porque a crença que vai de encontro à realidade dos fatos é uma alucinação. As lágrimas começaram a lhe correr pelo rosto. Se a cura do menino dependesse de carregá-lo nas costas, até o cume da mais alta montanha, de passar noites acordado para vigiá-lo nos seus acessos, de vender tudo o que tinha, para comprar-lhe a saúde, ele o faria de bom grado. Mas crer! Crer como?

Entre o desespero e as lágrimas, uma idéia lhe brilhou na mente. Então, por que é que você anda com esse menino de um lado para outro, procurando quem o cure? Se você não crê mesmo que ele possa ficar bom, porque não se conformou ainda com o sofrimento? Que força o conserva em ação contínua, procurando a cura? Que nome você dá a isso? Ansiedade? Obrigação? Revolta? Não conformismo? Não. Isso não é nada mais do que fé. Você não desistiu, não se entregou, não foi vencido. É a fé que continua a movimentá-lo. Você crê. De maneira pequena, indefinida, insuficiente, sem saber no que, nem como, nem por que, mas você acredita em alguma coisa diferente da sua miséria.

Lançado mão desse pequeno raio de luz que lhe viera à mente, ele clamou: “Senhor, eu creio!” E logo em seguida, sufocado de novo pelo peso das evidências, pela confusão e pela dúvida: “ajuda a minha incredulidade”. Foi o que bastou. Jesus não lhe perguntou mais nada. Nem no que ele cria, nem quanto cria, nem como cria, mas passou logo a ajudá-lo.

Na sua falta de fé, o pai suplicara apenas: “se tu podes fazer ALGUMA COISA”. Qualquer auxílio bastava, para o seu coração amargurado. Mas Jesus atendeu seu pedido. O menino ficou bom, e além disso o maior milagre se operou no pai. Ele se aproximara de Jesus com uma dúvida e um pedido por ele e pelo filho – “se tu podes... ajuda-nos”, e se separou dele com uma afirmação e uma súplica por si mesmo: “Eu creio, ajuda a minha incredulidade”. Foi a doença do filho que o levou a descobrir a sua necessidade de crer. E foi a condição exigida por Cristo que o fez compreender que cria.

CONCLUSÃO

Descobertas como essa ocorrem, quando nos servimos do instrumento que nos tortura, e procuramos uma solução para as nossas aflições. O problema em si, como foi o caso do menino, pode facilmente ser confiado a Cristo. Mas o mal verdadeiro, aquele para o qual precisamos de assistência e que está dentro de nós mesmos, é o medo de não podermos crer. Cristo nos chama a atenção imediata para o fato, mostrando-nos que a crença se revela também pela persistência da dúvida, pela insatisfação, pela angústia e pelo vazio que nos causa a falta de fé, quando só o que podemos dizer é “Senhor eu creio. Ajuda a minha incredulidade”.

Quais são os seus problemas? Quais os seus sofrimentos? Quais as suas aflições? Quando eles o atormentam, a sua fé está clamando por uma oportunidade para ser ativada, e para libertá-lo, juntamente com o seu mal, da insatisfação que não lhe dá tréguas. Reúna tudo que o atormenta e clame ao seu Deus: “Senhor, eu creio! Eu creio que ao encontrar-me contigo serei surpreendido por sua graça e bondade. Creio que nada em suas mãos se torna um caso impossível. Todavia, ajuda-me na minha fé pequena”.

Quando você vai à procura de Deus ele também vem ao seu encontro porque foi ele mesmo que iniciou a necessidade dessa procura por meio da sua inquietação. Não hesite em importunar a Deus com a sua súplica. Afirme sua crença, embora sabendo ser ela, inicialmente, pouco mais do que uma grande dúvida. Deus o auxiliará, sem pedir credenciais, nem currículo exemplar. Ele sabe que você está enfrentando uma realidade dolorosa, e quer libertá-lo, de seu sofrimento resultante da falta de fé. Ele o ajudará não apenas fazendo alguma coisa, não tratando só do caso que o leva à sua presença, mas cuidando de tudo que precisa ser feito para que você alcance vitória na vida.

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