Existem dois ensinos bíblicos que dificilmente conciliam-se na vida das pessoas. O primeiro afirma que Deus cuida e zela de seus filhos e nenhum bem sonega a eles. É possível ficarmos com a sensação de que Deus na realidade, jamais tarda, jamais falta, jamais falha em hipótese alguma em nossa vida. E não são poucos os textos da Palavra de Deus que nos trazem esta convicção e que nos colocam na mente esta certeza.
Por outro lado, somos às vezes confrontados com um segundo ensino bíblico, aparentemente divergente. É aquele que diz que o cuidado de Deus para conosco não nos isenta da dor, do sofrimento, dos problemas e das lutas. Aí surge a dúvida: Como é que Deus pode me proteger, e protegido por ele eu posso ser chicoteado na vida? Como é que Deus pode me proteger e ao mesmo tempo eu posso ser vítima de uma enfermidade, de uma luta, de uma dor?
Ainda que você já tenha conseguido resolver esse aparente conflito do ensino bíblico, ainda assim fica difícil, na maioria das vezes, praticarmos a confiança em Deus quando a luta vem, e aquelas coisas contrárias que deveriam cooperar para o nosso bem, parecem vestidas de luto, ou de medo, ou de pânico, ou de destruição, de doença, de falência, de perda, de tragédia, e chegam sem pedir licença e se instalam na nossa vida sem a menor pressa de ir embora e pior, Deus simplesmente deixa-nos com a sensação de que ele está ausente e chegará atrasado.
Mas por que será que Deus freqüentemente nos coloca nessas situações nas quais ele se apresenta como alguém que não chegou na hora certa? Por que será que, vez por outra, Deus permite que nos surja essa impressão de que o relógio divino está atrasado se comparado com o nosso?
Quando Deus nos deixa a impressão de que está atrasado em relação à nossa vida é porque ele quer nos ensinar a liberdade dele.
O texto de João nos diz que o sol se pusera, a noite estava chegando, quando os discípulos entraram num barco orientados pelo próprio Jesus, e dirigiram-se ao outro lado do mar da Galiléia que é um lago com vinte e um quilômetros de comprimento por doze de largura rumo a Cafarnaum. Eles fariam essa travessia porque Jesus lhes prometera ir ao encontro deles mais depois. Eles tinham uma promessa de Jesus.
Mas antes de saírem, eles tomaram o cuidado de deixar um barquinho para Jesus remar. Era esse o veículo pelo qual ele deveria se apresentar. É como se dissessem: “Senhor, Nós já estamos indo viu? Veja, estamos deixando esse outro barco para o Senhor. Estamos deixando também o mapa, o plano de navegação, a rota a seguir e a bússola para o Senhor não se perder, ok?”. E foram. Até aquele dia, não havia porque duvidar das coisas que Jesus dissesse, mas de repente parece que começa a surgir um atraso no relógio divino.
A noite se cobre de uma escuridão absoluta, o vento começa a soprar forte, as ondas se tumultuam, o horizonte vai ficando invisível a ponto deles perderem a noção exata da hora e do caminho. O perigo lhes ameaça! O risco ronda o barco! O medo surge como resultado da razão fria que pesa os prós, os contras e julga que há mais contras do que prós.
Diante de tais circunstâncias começam a atribuir características humanas a Deus. “Parece que ele perdeu a hora. Deve ter ficado preso atendendo a multidão, ou se retirado para o monte para orar e acabou se esquecendo de nós, miseráveis humanos aqui no meio do mar. Ou quem sabe, a escuridão esteja tão grande que ele não nos acha. Deus não nos vê no escuro. Deve ter desistido de vir por causa do mal tempo. Amanhã ele nos procurará, pena que será tarde demais.”
Em meio a tantas dúvidas eles olham pra frente e são surpreendidos por Jesus. Ele se apresenta andando por sobre o mar, pensam que é um fantasma e entram em pânico porque o Deus deles só viria ao seu encontro num barquinho, como haviam determinado em suas mentes que ele viesse. O problema não era o de esperar ou não a intervenção divina. O problema era de condicionar o modo pelo qual Deus chegaria, e como procuravam um barco no horizonte se apavoraram quando viram Jesus andando sobre as águas.
Sabe o que de fato havia na mente desses discípulos? O condicionamento da vontade de Deus. Às vezes corremos o risco de fazer o mesmo. Dizemos como Deus tem de chegar, a hora certa, quantas batidas ele tem que dar, que sinais ele deve fazer para que o identifiquemos. A gente chega quase a ensiná-lo como ser Deus, especialmente o tipo de Deus que ele precisa ser na nossa vida.
“Cura para mim só se for através de um milagre, não aceito ser curado através da medicina.”; “Sustento divino em momento de crise? Só se os corvos trouxerem à minha porta”; “Ajuda para problemas conjugais, só se for com unção com óleo”. E assim damos um manual, uma cartilha para Deus operar. Se você está vivendo hoje esta situação, por favor, dê chance a Deus de ser Deus e deixe-o agir como quiser, quando quiser, fazendo o que quiser.
Quando Deus nos coloca nessa situação de aparente atraso em relação à nossa vida é porque ele quer nos ensinar a ter esperança.
“Já se fazia escuro e Jesus AINDA não viera ter com eles”. Qual a palavra que fala da esperança aqui? Ainda! Está escuro, mas o Senhor ainda virá! João escreveu isso já velhinho. Se ele tivesse escrito logo depois do acontecimento, talvez não colocasse esse “ainda”. É possível que ele tenha pensado sobre o fato de que por muitas vezes a vida ficara escura na vida dele, mas em todas elas Jesus viera lhe ajudar. E assim foi aprendendo que fica escuro, mas Jesus sempre vem!
Provavelmente João se lembrasse de Lázaro, da filha de Jairo e dos longos três dias de espera da ressurreição de Jesus depois de sua morte na cruz.
Por que é que para nos ensinar a ter esperança Deus se atrasa no momento mais crítico de nossas vidas? Por uma razão simples. Porque a esperança é filha do atraso. A esperança de hora marcada não é esperança. “Já faz muito tempo que eu oro pelo meu marido e ele não se converteu” Não é assim que você diz? Coloque um “AINDA” aí. Vai fazer um bem enorme à sua alma. “Faz muito tempo que eu oro pelo meu marido e ele “AINDA” não se converteu”. Significa que ele vai, que o futuro não será escuro como o presente. “Já faz muito tempo que eu oro mas... meu emprego AINDA não veio, minha filha AINDA não amadureceu, meu filho AINDA não abandonou o mundo das drogas. AINDA... AINDA...
Quando Deus nos coloca nessa situação de aparente atraso em relação à nossa vida é porque ele quer nos ensinar que o tempo está nas mãos dele. Não há atraso para quem corre pela eternidade. Só há atraso para seres humanos. Mas para aquele que corre pela eternidade, um dia são como mil anos, mil anos são como um dia, o passado ainda será, e o futuro já foi. Deus não raciocina com essas categorias de presente, passado e futuro. Tudo está presente há um só tempo diante dele.
Os discípulos entram em pânico e Jesus chega dizendo: “Não, eu não sou um fantasma, não sou Gasparzinho, sou eu mesmo, Deus convosco, o Emanuel. Estou aqui.” Pedro entra em dúvida. Era um homem impulsivo. “Só acredito se sentir na pele. Se és tu Senhor, manda-me ir ter contigo por sobre as águas.” E Jesus diz: “Vem.” O homem foi, mas entrou em crise no terceiro passo e quase não dá mais passo nenhum. O Senhor o ergueu, e entraram juntos no barco. Os discípulos então o adoraram, dizendo: “Verdadeiramente, este é o Filho de Deus”.
Se Jesus fosse mesquinho como nós, poderia dizer: “Até que enfim, heim! Era preciso tudo isso?”. Mas fantástico é o que diz o vs. 21: “Então eles, de bom grado, o receberam e logo o barco chegou ao seu destino”. Logo! A aparente perda de tempo foi superada. Logo! Isso porque o Senhor pode imprimir uma velocidade nova em nossas vidas. Quando Deus nos dá essa sensação de atraso, saiba que, quando ele chega, desconta o atraso. No fim, você vai ter chegado na hora certa, no lugar certo.
E o que importa realmente, não são as minhas sensações da pontualidade divina conforme o calendário dos meus caprichos e desejos. O que importa, é se no fim de tudo, Deus me pôs aonde eu devia estar. O tempo está na mãos de Deus. Às vezes, a gente se debate, entra em pânico, parece que o tempo é algo que foge das mãos de Deus tanto quanto foge das nossas, mas ele tem a maneira divina própria de interferir na nossa vida, e de nos conduzir na direção correta, conforme a sua boa vontade.
Você não tem que naufragar. Deixe o Senhor entrar em sua vida. Quando o Senhor vem, sempre há a chance e o tempo de se recuperar as horas perdidas, os meses perdidos, os anos perdidos, e mesmo na velhice isso é possível. Receba-o de bom grado e o barco vai chegar ao seu destino.
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