
Depois de trabalhar com a Igreja de Cristo por alguns anos, de ver muitas pessoas feridas e amarguradas com irmãos e irmãs, não poucos líderes decepcionados por causa do que ela se tornou, fui desafiado por debruçar-me na dura tarefa de repensar o que de fato é Igreja.
Na verdade, isso se tornou uma obsessão quando eu mesmo perdi a paixão pela Igreja por causa de situações adversas e contrárias, que me fizeram perder o sonho de ser um pastor de uma Igreja que de fato seja importante para a comunidade onde está inserida e seja referência daquilo que o Senhor Jesus planejou para ela.
Por estas razões convido você a unir-se a mim na tarefa de repensar a Igreja de nossos dias a partir de dois modelos distintos tão presentes e depois analisarmos juntos o modelo desejado por Deus em sua Palavra, para depois decidirmos que tipo de Igreja estamos dispostos a investir o melhor de nossas vidas.

MODELOS DE IGREJA
Vamos começar apresentando o modelo de Igrejas, que por desejarem ser diferente das existentes, optaram por se estruturarem de acordo com a sociedade de consumo a qual estamos inseridos. Vejamos.
MODELO 1: PEQUENA EMPRESA
Esta Igreja é orientada não pela fidelidade à Palavra, mas pelas leis do mercado de consumo. Ela é transformada numa pequena empresa que deve ser gerenciada visando o aumento dos clientes (associados) e do lucro (ofertas de sacrifício).
É visto como um verdadeiro “Show man”. Ele é inacessível, contato só nos cultos-eventos. Ele é visto como o homem da visão, envolvido com grandes projetos, bom pregador e com enorme poder. Inspira outros a imitá-lo até na forma de falar. O papel principal do pastor é promover um verdadeiro show no culto.
São vistos como clientes. Buscam a Igreja por terem necessidades pessoais a serem supridas. A Igreja cresce principalmente através de membros de outras denominações decepcionados com seus líderes e que vê nas mega-igrejas a oportunidade de ficarem no anonimato.
Tudo aquilo que puder ser usado para obtenção de resultados numéricos é justo. Rosa ungida, óleo santo, fogueira santa, são alguns exemplos. A Bíblia é deturpada com o objetivo de aumentar a arrecadação.
O surgimento de novas Igrejas se dá através da franquia. Ou seja, seguem o mesmo modelo da Igreja mãe e do líder nacional, os mesmos programas e estruturas.
Não há disciplina, afinal o cliente sempre tem razão.
Satisfação é a garantia do negócio. Cliente satisfeito é cliente fiel. Insatisfeito, não volta.
MODELO 2: HOSPITAL
A base sobre a qual este modelo é construído é a tradição religiosa herdada pelos seus membros. Boa parte da estrutura é engessada porque “sempre foi feito assim”. Assim, fidelidade as Escrituras se confunde com a manutenção das estruturas.
O pastor é visto como um capelão que tem como papel principal o consolo e o encorajamento. O bom pastor é aquele que visita os membros para confortá-los e animá-los e prega sempre com o cuidado de não trazer nenhum desconforto aos membros.
Os membros são vistos como pacientes. Eles não têm condições de alcançar as pessoas do “mundo” porque podem se contaminar e perder o céu. Estão ali para serem servidos e protegidos pelos seus líderes e de preferência assentados sempre no mesmo lugar. Até trabalham, mas somente no templo. Por esta razão a Igreja cresce somente de forma biológica, ou seja, através dos filhos gerados por seus membros.
Enxerga tudo o que acontece no mundo como algo ruim, ofensivo e perigoso. Uma forma de se proteger é ter muitas atividades no templo e assim não dá chances de contaminar-se com o mundo.
Na medida em que os membros-pacientes se mudam para bairros e cidades distantes, surge a necessidade de se criar uma estrutura para atendê-los, uma espécie de posto de saúde, carinhosamente chamada de congregação.
Tendo em vista o bem-estar dos membros-pacientes, nada pode ser visto como mais ofensivo e ameaçador do que um pecado que se torna público e ameaça manchar o nome da Igreja. Por isso, a solução encontrada é da eutanásia, ou seja, a exclusão.
A palavra que melhor define essa Igreja é manutenção. Manutenção das estruturas, dos estilos musicais, das programações semanais, da liderança... Toda e qualquer mudança deve ser vista como uma ameaça ao bem estar pessoal e comunitário.
MODELO BÍBLICO: MISSIONÁRIA
Mateus 28.18-20 e Marcos 16.15 não deixa dúvida de que a Igreja é formada por discípulos com a missão de pregar o evangelhos a todas as pessoas e de fazer dos novos convertidos, discípulos de Cristo.
Efésios 4.11 a 13 diz-nos que Deus deu líderes a Igreja com o propósito específico de treinar os discípulos para o desenvolvimento de seus ministérios. O termo “aperfeiçoamento dos santos” se refere a tarefa militar de ensinar e treinar soldados, trabalho feito através do relacionamento inter-pessoal.
1 Pedro 4.10 nos ensina que cada discípulo deve servir uns aos outros conforme o dom recebido por Deus. Na medida em que os cristãos alcançam a maturidade, que é o objetivo neste modelo, acontece duas coisas: 1) Ganham consciência do seu chamado e vocação; 2) Geram filhos e filhas espirituais. Por esta razão, nesse modelo, sempre haverá novo convertido na Igreja, alcançados pela vida dos discípulos.
Esta Igreja não negocia seus princípios, mas está flexível quanto à suas estruturas para alcançar o mundo. A exemplo de Paulo em 1 Coríntios 9.22 e 23, busca estar atento nas oportunidades de tornar Deus conhecido. Quando chegou a Atenas, ao ver um altar dedicado ao “Deus desconhecido”, ele aproveitou a oportunidade para falar de Jesus.
Como a visão dos membros desta Igreja está voltada para os de fora, a Igreja se multiplica dando origem a outras Igrejas filhas e com isso obedece a ordem de Jesus em Atos 1.8.
A disciplina bíblica tem lugar nesta Igreja. Mas diferentemente dos demais modelos, ela visa a restauração do discípulo faltoso. Através do acompanhamento de um discípulo mais experiente, o discípulo faltoso tem a oportunidade de retomar na caminhada cristã. (Hebreus 12.11)
Enquanto que nos modelos anteriores missão é vista como tarefa feita em lugares distantes por obreiros treinados, neste modelo, a missão é vista como a razão de ser da Igreja, sem a qual ela deixa de existir.
E aí? Que modelo de Igreja iremos seguir?
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