domingo, 25 de janeiro de 2009

Deseja meu coração

Eu tive a honra de nascer em um lar onde minha mãe era cristã. Desde cedo fui educado numa Igreja evangélica. Como todo garoto gostava muito de andar com a turma. Aprendi a tocar violão ainda muito cedo e participava de um grupo de louvor de jovens. Ocupava-me com teatro cristão no natal e ainda próximo dos 13 anos me tornei um professor da classe de jovens. Apesar disso, ainda bem cedo sentia que minha vida não tinha um propósito, tinha uma sensação de estar perdido. Isso mesmo, perdido dentro da Igreja. Meu relacionamento com Jesus se limitava a apenas às programações da Igreja e aos 15 anos, não resisti, afastei-me da Igreja. Se aquilo era vida cristã, então eu não queria.

Ao sair da Igreja pensava que minhas decepções seriam resolvidas, mas aconteceu o contrário. O vazio no peito aumentava e a cada tentativa de afastar-me mais, mais sofria. Foi então que resolvi ter uma conversa decisiva com Deus. Ou ele me permitisse viver como um não cristão, ou me permitisse experimentar um relacionamento com ele jamais vivido por mim.


Mas você pode estar perguntando: É possível estar perdido dentro da Igreja? Sim. Existem aqueles que estão perdidos fazendo as coisas erradas enquanto ninguém vê. Mas também existem aqueles que estão perdidos fazendo tudo direito, mas com a motivação errada. Que vivem preocupados com as normas e mandamentos, mas estão igualmente perdidos.

Lembro-me do jovem rico, ele é um bom exemplo dessa segunda classe de pessoas perdidas. Ele era como outro jovem qualquer de nossa Igreja. Era membro de uma Igreja onde os líderes se preocupavam com o cumprimento das normas acima de qualquer coisa. “Não pode fazer isso, não pode fazer aquilo, isso é pecado, aquilo também é pecado” e assim conduziam a Igreja. Aquele jovem cresceu tendo uma idéia errada de Deus. Imaginava-o assentado no seu trono, cabeça e barba branca, ditando regras e com o rosto sempre sério, com uma vara na mão sempre disposto a castigar o desobediente.

Desde pequeno seus pais e os líderes sempre exigiram o fiel cumprimento de todas as regras e normas da Igreja. Eram pessoas altamente preocupadas com a imagem da Igreja. Atualizando a história, se uma garota vestisse um vestido sem mangas, por exemplo, a jovem era chamada no Conselho e por amar as pessoas da Igreja deixaria de usar o mesmo. Todos ficariam felizes, mas ninguém estaria preocupado com o que estava acontecendo no fundo do coração dela. Assim era com o jovem rico, ele não era feliz, tinha a sensação de estar perdido apesar de cumprir tudo.


Certo dia anunciaram a chegada de Jesus à sua cidade. Os líderes religiosos foram os primeiros a recebê-lo, sempre preocupados com as normas, foram logo perguntando: “Jesus, é correto ao marido divorciar de sua esposa? É pecado cortar o cabelo? É pecado orar assentado? O crente pode jogar bola?”. O Senhor Jesus não se deteve muito tempo a discutir com eles e dirigiu-se a um grupo de crianças e tomando algumas, colocou-as no colo, com amor acariciou-lhes as cabecinhas e beijou-lhes os rostinhos inocentes.

O jovem rico ficou impactado com aquela cena. Ele nunca imaginara que o Deus encarnado fosse capaz de beijar alguém, ou mesmo fazer um carinho. Pela primeira vez na vida teve vontade de abrir o coração a alguém. Correu quando Jesus já estava saindo da cidade e contou-lhe sobre o seu desespero. A história está registrada em Marcos 10.17-22, leiamos: “E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe. Então, ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude. E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me. Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades.”

“Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” essa era a crise do jovem. Ele na verdade estava dizendo: “Bom Mestre, que posso fazer para ser perdoado e aceito por Deus? Eu sinto que estou perdido.” Mas por quê? Acaso não era um bom membro de Igreja? Não fazia tudo direito? Não cumpria com todas as normas e mandamentos? Foi aqui que Jesus deu um tratamento de choque: “Guarda os mandamentos”. “Senhor”, disse o jovem, “eu sempre fiz isso e continuo perdido”. Ah! Meu amigo, cumprir normas nunca foi sinônimo de salvação. Ser um bom membro de Igreja não quer dizer estar salvo. Na verdade, é de alguma maneira possível obedecer aos princípios da Palavra de Deus e estar completamente perdido.


Ao ouvir o desespero do jovem, a Bíblia diz que o Senhor olhou para ele, e o amou. Sabe meu amigo, Jesus também ama você. Não importa se você é cristão ou ainda não, ele se importa com você. Ele o ama e o compreende. Você é a coisa mais importante para Deus. Com suas lutas, com seus fracassos, com seus conflitos, com suas dúvidas e deformações de caráter.

Lá na Judéia, muitos anos atrás, Jesus olhou para aquele jovem e o amou e disse: “Sabe qual é o seu problema filho? Você não me ama. O seu coração está nos bens que possui e não em mim. Por isso, vá, vende tudo o que tem, dá aos pobres e siga-me. Não adianta guardar mandamentos se você não me ama. Nada do que fizer terá sentido e você continuará com essa horrível sensação, com esse vazio na alma enquanto não tirar de seu coração aquilo que o impeça de me amar”. A Bíblia diz que o jovem saiu “contrariado com esta palavra, porque era dono de muitas propriedades”. Que desgraça! Estava mais disposto a cumprir mandamentos do que amar o Senhor.

Você pode pensar: “Ufa! Ainda bem que não sou rico.” Pode até ser, mas, talvez o desejo de ter mais dinheiro lançou raízes no seu coração a tal ponto que isso hoje suga a maior parte de sua vida. Talvez você traga dentro do coração um pecado acariciado e alimentado, como um bichinho de estimação, de tal forma que Jesus fique em segundo plano. Talvez você ame mais sua Igreja, o nome e a doutrina dela, do que a Jesus Cristo. Tudo isso pode estar ocupando espaço em seu coração e deixado Jesus de fora de sua vida. E sabe, Jesus nunca aceitou dividir o coração de ninguém, muito menos o seu. Se você quer mudar a realidade de sua vida e sua relação com Deus só existe uma maneira, vá desfaça de tudo aquilo que o atrapalha, vem e se renda aos pés do Senhor, e ele te ajudará.


Há algo que nunca deveríamos esquecer: é possível, de alguma forma, obedecer sem amar a Jesus, todavia, é impossível amar Jesus e não obedecê-lo. Agora me responda, qual deveria ser a nossa maior preocupação: obedecer a todos os mandamentos ou amar o Senhor Jesus? Muitas vezes pensamos que a obediência é o maior presente que podemos dar a Jesus, mas não é o que ele pensa. Para Jesus o maior presente que alguém pode dar-lhe é abrir a porta de seu coração enquanto o ouve dizendo: “Dá-me, filho meu o teu coração e o teus olhos se agradem dos meus caminhos” (Provérbios 23.26).

Sabe qual é o nosso maior drama? Sabe por que não somos felizes na Igreja? Falta amor por Jesus. Estamos na Igreja porque gostamos dela, a sua doutrina nos convenceu, ou porque nossa família sempre foi daqui, ou porque todo ser humano tem que ter uma religião, mas não porque amamos a Jesus a ponto de dizer: Eu não posso viver sem ti.

O pastor Alejandro conta que certa vez uma senhora o procurou dizendo: “Pastor, tenho quase 60 anos de casa. Pode perguntar a meu marido e ele dirá que sempre fui uma esposa perfeita. Fiz tudo o que uma boa esposa deve fazer, agi sempre do modo certo, mas, nunca fui feliz.” Surpreso ele perguntou: “Por quê?” Ela respondeu: “Eu não amo meu marido, Pastor”. “Mas, então, por que se casou?” disse ele. Ao que ela respondeu: “Nos meus tempos de mocinha os pais escolhiam o marido pra gente. Um dia meu pai disse que dali a dois meses eu me casaria com o filho de um compadre dele. O enxoval foi comprado, a festa preparada e faltando dois dias para o casamento fui até a rodoviária conhecer o meu marido. E pastor, eu não gostei, nunca consegui gostar, mas eu casei por obediência ao meu pai. Fui uma esposa perfeita, mas nunca fui feliz. Como ser feliz ao lado de alguém que não se ama?”

CONCLUSÃO

Muitos cristãos talvez pudessem dizer: “Pastor, estou na Igreja há 5, 10, 15 anos. Nesse tempo todo, de alguma maneira, cumpri o que a Igreja pede. Mas, nunca fui feliz”. Por quê? Porque não é possível ser feliz ao lado de alguém que não se ama. Conviver ao lado de alguém que se ama já é difícil, imaginem quando não há amor. Não podemos estar na Igreja por causa da família, ou por causa da denominação, ou por causa dos amigos. Todos os motivos só farão sentido se a razão principal de estar aqui for o meu amor por Jesus. Se não for assim, a vida cristã se tornará num inferno, um fardo horrível para se carregar. Fazer as coisas só porque somos membros de uma Igreja é a pior coisa que pode acontecer. Sempre estaremos pensando em sair, abandonar tudo, ou então, quando ninguém estiver olhando, estaremos fazendo as coisas erradas.

Por muitos anos servia Jesus em nome da obrigação de servir. Até que descobri, que diferente do que pensava, Jesus está muito mais interessado no meu amor do que na minha obediência. Foi aí que depois de ter pedido uma infinidade de vezes “Senhor, ajuda-me te obedecer”, resolvi orar diferente: “Senhor, ajuda-me a te amar com todo o meu ser”. E deste dia em diante conheci passei a ter um relacionamento prazeroso com Jesus completamente diferente. No fundo todos nós sabemos que quando amarmos o Senhor de todo o nosso coração, a prática de seus ensinos não mais nos serão penosos. Este Jesus eu não conhecia.

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