
Uma semana antes do natal, um rico empresário visitou seu irmão, um pregador batista e deu-lhe um carro zero km de presente. O pregador sempre mantinha o carro novo na garagem debaixo dos olhos atentos de seu dono. Foi por isso que ficou surpreso quando chegou para pegar o seu carro certa manhã e viu um jovenzinho mal vestido com o rosto encostado numa das janelas do mesmo. O rapazinho não estava fazendo nada suspeito, obviamente apenas admirava o interior luxuoso do veículo.
“Olá, filho” disse o pregador. O menino olhou para ele e disse: “Esse carro é seu patrão?”. “Sim” respondeu Rui. “Quanto custou?”. “Não sei realmente o preço dele”. “Quer dizer que é dono do carro e não sabe quanto custou?”. “Não, não sei. Meu irmão me deu de presente”. Ao ouvir isso, os olhos do garoto se arregalaram surpresos. Ele pensou um pouco e disse depois com um ar de desejo sincero: “Eu queria... Eu queria...” Rui pensou que sabia como ele ia terminar a sentença. Pensou que diria: “Eu queria ter um irmão assim”. Mas ele não disse. O menino olhou para Rui e disse: “Eu queria SER um irmão assim”.
Quando li sobre esse epsódio, fiquei tocado não pelo presente que o milionário deu ao pastor. Apesar do presente caríssimo, creio que para alguém milionário não deve ter sido um sacrifício tão grande assim. O que de fato me causou espanto foi o desejo do menino de ser e não de ter um irmão milionário e desta forma poder ser bênção na vida de seu irmão. Quando na nossa vida a prosperidade não é tão aparente, que tipo de “centro de distribuição” podemos ser na vida das pessoas que nos cercam? Como podemos abençoar quando a nossa despensa está vazia? É possível ajudar quando eu estou precisando de ajuda? É possível buscar ajuda para alguém que sofre quando a minha vida ainda permanece no escuro da dor e do sofrimento?
A MULHER CANANÉIA
O texto de hoje nos fala de um encontro único por pelo menos três motivos. O primeiro é porque nele fica evidente de que a salvação não está limitada apenas ao povo de Israel. Pela primeira vez Jesus faz um milagre à distância fora dos domínios da nação de Israel e por último porque é a primeira vez que Jesus diz não a um pedido por ajuda.
Mateus 15.21-28 nos conta de uma mulher estrangeira que movida pelo sofrimento de sua filha, sai de sua casa e vai ao encontro de Jesus, Sua vida também estava envolvida em sofrimento. Mas o que fez essa mulher para alcançar a cura de sua filha? Vejamos.
Aqui somos apresentados a uma mulher que tinha uma filha com uma necessidade grave e urgente. A menina sofria de uma doença séria. Veja qual foi o diagnóstico da mãe: “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada” Mateus 15.22b. A forma como Jesus tratou a situação parece que o diagnóstico da mãe estava errado e que a filha de fato estava era muito doente.
É interessante notar que em sua fala, ela não consegue camuflar o seu próprio sofrimento. Mas imediatamente ela se lembra da razão de se estar ali. Pede pela filha, ainda que tivesse muitos outros problemas pessoais. É óbvio que muito de seu sofrimento estava intimamente ligado ao sofrimento da filha, mas certamente havia outros. Mas, naquele momento não importava, sua busca era por sua filha que sequer a pode acompanhá-la.
Esse fato nos leva a perceber que quando nos envolvemos com o sofrimento alheio, a nossa dor parece diminuir. Por vezes podemos estar passando pelo vale da sombra da morte, a nossa fé pode parecer pequena, a nossa vida parece estar no escuro, mas quando nos dispomos a ajudar pessoas que sofrem, a interceder a Deus por elas, esquecendo-nos por um breve momento de nossa dor, isso agrada a Deus. Basta lembrarmos de que Deus restaurou a sorte do grande Jó, quando ele, deu um tempo em sua queixa e clamou pelos seus amigos.
Quando a mulher estrangeira encontra Jesus, ela começa a clamar em alta voz por ajuda. Seu clamor incomodou a tal ponto que os próprios discípulos pediram a Jesus que a despedisse e a mandasse embora. Ela, no entanto, sabia muito bem o que queria e não estava disposta a desistir. Chegou-se a Jesus, prostrou-se e adorou-o. Em seguida a atitude do Senhor nos causa espanto: “Ele, porém, não lhe respondeu palavra” Mateus 15.23a
È muito difícil entender as razões porque Jesus tomou essa atitude. Ele que sempre acolhe o coração que sofre aliviando sua dor, de repente parece não dar a mínima para o sofrimento dessa mulher estrangeira. Apesar disso, de não entender o que ele fez, temos que admitir, Deus trabalha no escuro. Alguma coisa estava sendo trabalhado na vida dessa mulher fora do alcance dos olhos, na alma. Deus certamente também trabalha quando fica em silêncio. Pode a vida ficar com cara de absurdo, pode o clamor soar sem resposta, mas a Palavra de Deus nos garante: “O choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria vem pela manhã”.
Diante do silencio de Jesus, essa mulher não desiste. O certo é que depois de viajar não sabemos por quanto tempo ou mesmo com quanto recurso financeiro, essa mulher não estava disposta a desistir, ainda que tivesse que ser humilhada. Ela sabia que precisaria vencer uma série de preconceitos para conseguir falar com o Mestre. Era mulher, e era bem sabido que era desonroso para uma mulher falar em público com um homem que não fosse seu parente. Era estrangeira, e como tal era menosprezada. Todavia, pelo bem de sua filha, ela estava disposta a passar por qualquer dificuldade desde que a menina fosse curada.
Diante de sua insistência, o Senhor resolve falar. “Não se dá o pão dos filhos aos cachorrinhos. Vim para os filhos de Israel e não para os estrangeiros”. Agora era demais! Primeiro ignora, depois ofende? Por bem menos conheço pessoas que diriam: “Olha aqui Senhor. Tudo bem que eu sou mulher estrangeira. Que vim buscar ajuda para minha filha. Mas daí me comparar com cachorro já é demais. O Senhor é muito mal educado. Se não quer me ajudar é só dizer, não precisa me humilhar”. Mas não! Você já parou para ver o que ela disse?
Ela surpreendentemente se humilhou e disse: “Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.” Mateus 15.27. Era o mesmo que dizer: “Tudo bem. Eu sei que não mereço o pão dos filhos, mas me dê nem que sejam as migalhas que caem da mesa deles. Eu sei que o muito sem Deus é pouco demais, mas o pouco sem ele, muito se faz”. Fantástico! Grande! Maravilhoso! Essa mulher surpreende até o Mestre que voltando-se para ela diz: “Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã.”
Esta mulher não é daquelas pessoas que aceita o caos como natural. Não era daquelas pessoas que dizem: “Alguma coisa devo ter feito de errado para que essa menina tenha essa doença. Ou talvez, quem sabe, essa não é a minha cruz. Talvez essa seja a vontade de Deus para minha filha e para mim.” Não! Deus não planejou o sofrimento para a vida de ninguém. No seu plano maravilhoso ele planejou a vida abundante, feliz. O pecado é que destruiu tudo aquilo que tocou. Mas, no mundo planejado por Deus o sofrimento humano não foi sequer esboçado por ele. Não temos que aceitar o caos como natural, precisamos levar nossos pesados fardos, humildemente, aos pés daquele que pode mudar a nossa sorte.
CONCLUSÃO
O pastor Rui ficou tão intrigado com aquele menino que disse: “Olhe filho, quer dar uma volta?” O garoto respondeu imediatamente: “Claro que quero!” Os dois entraram no carro, saíram da garage e percorreram vagarosamente a rua. O menino passou a mão pelo tecido macio do assento dianteiro, aspirou o cheiro do carro novo, e tocou o painel. Depois olhou para o novo amigo e pediu, “Patrão, será que podia passar pela minha casa? Ela fica a duas quadras daqui”.
Rui supôs novamente saber o que o garoto queria. Ele pensou que seu desejo era mostrar o carro para alguns dos meninos da vizinhança. Por que não? Pensou. Orientado pelo jovem passageiro, Rui parou na frente de um velho conjunto habitacional.
“Patrão”, disse o menino quando pararam na esquina, “pode ficar aqui apenas um minuto?” Volto já! Rui concordou e o garoto correu para a entrada do prédio e desapareceu. Depois de uns cinco minutos, o pregador começou a imaginar onde o garoto teria ido. Ele saiu do carro e olhou para o alto da escadaria sem iluminação. Enquanto olhava, ouviu alguém descendo devagar. A primeira coisa que viu emergindo das sombras foram duas perninhas finas e tortas. Um momento depois, Rui compreendeu que era o menino carregando outra criança menor, evidentemente seu irmão.
O garoto colocou gentilmente o irmão na porta da calçada. “Viu?” Disse ele com satisfação. “É como eu lhe disse. É um carro novinho em folha. O irmão deu para ele e algum dia eu vou comprar um carro assim para você!”
Como disse, a generosidade deste menino pobre me deixa perplexo. Por que sonhava com uma prosperidade impossível? Para que pudesse gastá-la generosamente com o irmão! Eu gostaria de ser um irmão assim. Essa foi a motivação que desejei que o Senhor colocasse em minha vida. Se Deus vai me cobrir de bênçãos do seu depósito, eu quero ser também um abençoador. Estou convencido de mesmo estando no escuro Deus deseja que sejamos benção na vida de outros que sofrem.
Na verdade o próprio Jesus nos deixou exemplo de como podemos abençoar a vida daqueles que sofrem. Ele abriu mão de todo o conforto e prazer oferecido pelo Pai e se submeteu ao pior tipo de sofrimento para que através de seu sacrifício pudéssemos ter vida abundante. Em meio ao sofrimento ele não exigiu o cumprimento de seus direitos. Não reclamou. Como um cordeiro mudo morre lentamente. Apenas por amor, se dispôs a fazer o maior sacrifício em nosso benefício. Três dias depois ressuscitou e hoje vive para sempre. Que este exemplo nos inspire.
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