
A metamorfose, processo em que a lagarta se transforma numa borboleta sempre me fascinou. Um grupo de pesquisadores estudou certa vez cem lagartas que estavam prestes a sair do casulo. Em lugar de permitir que elas se esforçassem, os observadores cortaram delicadamente o casulo e as libertaram. Depois disso, colocaram os insetos sobre uma mesa e tentaram fazê-los voar. Mas nenhum conseguiu. Nenhum.
O pequeno estudo mostrou que o período de esforço e luta através das paredes do casulo é que dá às asas da borboleta forças para voar. O próprio esforço, todos os movimentos de empurrar e debater-se do inseto para libertar-se da prisão, é que torna a sua nova vida possível. Sem o conflito, não há força.
A maioria de nós pode identificar-se com esses períodos sombrios de luta. Nos sentimos abatidos, frustrados e confinados. Ficamos cansados de lutar e labutar, imaginando o que Deus está querendo fazer em nossas vidas. É mais ou menos nessa hora, quando estamos em meio a alguma perplexidade penosa ou enorme decepção, que algum cristão bem intencionado se aproxima e sussurra um certo versículo da Escritura em nosso ouvido.
Você pode imaginar que versículo é esse? No geral, o que eles sussurram é o versículo de que menos gosto na Bíblia, Romanos 8.28. Aposto como alguém já o mencionou para você algumas vezes também. “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Francamente, não quero escutar esse versículo quando estou sofrendo. Não quero ouvi-lo quando estou triste. Não quero ouvi-lo quando as circunstâncias puxam o meu tapete e me deixam confuso e desorientado, caído de costas no chão.
É bom lembrarmos de que quando Paulo escreveu isso ele já havia passado por muitas situações de sofrimento, perseguição e tristeza. Uma olhada mais de perto para a vida deste grande homem de Deus não é difícil identificar estas “coisas” que segundo ele cooperaram para o seu bem. Por causa do evangelho fora preso várias vezes, espancado, apedrejado e ouviu coisas que não teve coragem de registrar.
Mas qual foi o benefício, o prêmio, o bem que Paulo recebeu depois de ter passado por todo esse sofrimento? Pelo que sabemos Paulo não se tornou um homem rico e bem sucedido em sua vida. Então como entender que todas as coisas de fato cooperam para o bem daqueles que amam a Deus?

A verdade é que Romanos 8.28 não passa da metade de um pensamento. Romanos 8.28 não ajuda ou encoraja muito a não ser que você o ligue com a outra metade do pensamento, com Romanos 8.29. Todas as coisas COOPERAM, desde que você saiba o objetivo dessa cooperação! Nós somos chamados “segundo o seu propósito”, mas qual é esse propósito? O versículo 29 esclarece: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.
O que Deus está fazendo em minha vida? O que ele está fazendo na sua? Ele só pretende uma coisa, uma única coisa. Ele está tornando você e eu mais parecidos com Jesus para unirmos em uma só família, santa, perfeita e feliz na eternidade. Esse novo ser que ele está formando em nós é um trabalho como de um pintor. É algo que leva tempo, é preciso dar atenção aos mínimos detalhes, visto que é uma obra definitiva.
Ele não está pretendendo fazer cinco, quinze, ou vinte coisas. Seu propósito não é fazer de você um pai ou mãe, esposa ou marido, filho ou filha melhor. Seu propósito não é transformar você na melhor secretária, policial, professor, pedreiro ou cirurgião do mundo. Ele não está trabalhando no escuro para lhe dar posição, prosperidade e paz.
Ele está usando seu poder e sua vontade com um só propósito, conformar você e eu, seus filhos adotivos, à imagem do Senhor Jesus. Ele pode agradar-se em ajudar você a tornar-se uma mãe, pai, médico, jogador de futebol, ou professor da escola dominical maravilhoso, mas não é isso que pretende. Seu grande objetivo em sua vida, a razão dele deixar você na terra, é torná-lo mais e mais parecido com Jesus.
Se não fosse isso, por que ele não nos poupa os sofrimentos e pesares no momento de nossa conversão nos levando para o céu? Ele quer que nos tornemos maduros em Cristo, realizados e completos. Por que Deus não dominou imediatamente a Terra Prometida quando os israelitas atravessaram o rio Jordão? Por que havia ainda inimigos a serem enfrentados? Por que havia ainda terra não cultivada? Por que havia ainda animais selvagens a serem expulsos das matas?
Deus sabia então (como ele sabe agora) que é o exercício da fé e a dependência do seu poder e libertação que produzem maturidade e força em nossas vidas. De fato, é exatamente isso que nos conforma a Cristo. Calebe, aos oitenta anos, teve de enfrentar o desafio dos inimigos a serem vencidos. Ouça suas palavras registradas no livro de Josué; elas são clássicas: “Eis, agora, o SENHOR me conservou em vida, como prometeu; quarenta e cinco anos há desde que o SENHOR falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e, já agora, sou de oitenta e cinco anos. Estou forte ainda hoje como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força naquele dia, tal ainda agora para o combate, tanto para sair a ele como para voltar. Agora, pois, dá-me este monte de que o SENHOR falou naquele dia, pois, naquele dia, ouviste que lá estavam os enaquins e grandes e fortes cidades; o SENHOR, porventura, será comigo, para os desapossar, como prometeu.” (Josué 14.10-12).
Gigantes enormes e terríveis na terra? Deixe que eu cuido deles. Montanhas a escalar e cidades fortificadas a conquistar? O que estamos esperando? Traga a minha espada e vamos! Mesmo na velhice, Deus continua trabalhando em você. Ele continua trabalhando sua vida através de desafios e provações. Ele continua trabalhando de dia e de noite para torná-lo cada vez mais parecido com Jesus. No que diz respeito ao propósito de Deus para a sua vida, você jamais se “aposenta”.
Abraão não era nenhum rapazinho de vinte anos quando enfrentou sua maior prova. Já estava bem velho quando recebeu ordem para sacrificar Isaque, seu filho amado. Josué já tinha idade quando ficou de pé na porta de sua casa e disse aos anciãos de Israel: “Vocês podem ir para onde quiserem e fazer o que quiserem, mas eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15). Quer você tenha 9 ou 99 anos, Deus ainda desejará que tome posições impopulares, tome decisões difíceis, e enfrente corajosamente os ventos frios da adversidade. Através de cada momento de dor e de luta, ele está tornando você semelhante ao seu Filho Jesus.
Por que estou repetindo este pensamento? Por que não podemos perder a perspectiva! Se você estiver se apegando apenas a Romanos 8.28, pode perder de vista o propósito de Deus. Todas as coisas cooperando para o bem? Como pode ser isso? Não diga tal absurdo! O que é “bom” nesta tragédia, provação ou luta? Se não ler o versículo 29, vai tatear no escuro. Mas, se souber que ele vai usar isto ou aquilo para torná-lo semelhante ao Salvador, então terá consolo no fato de que nada em sua vida é desperdiçado, nenhum esforço, dor, momentos de angústia, ou lágrimas jamais perderá em algum lugar no espaço.

Mas, e se eu achar que nada está acontecendo em minha vida? Se não puder ver como ele está me tornando mais como Jesus? Em algum ponto você tem de decidir, posso crer na Palavra de Deus? Paulo disse: “SABEMOS que todas as coisas cooperam para o bem”. Sabemos. Não “achamos”. Não “esperamos”. Não “supomos”. Não “sentimos” ou “experimentamos”. Sabemos.
É bom você manter a palavra “sabemos” em seu vocabulário espiritual. Quando não sentir que Deus está trabalhando no escuro por sua causa, e se achar tateando no escuro, você vai precisar de algumas coisas gravadas em sua alma. Penso ser essa a razão de Paulo escrever na escuridão de um calabouço romano: “Por isso estou sofrendo estas coisas, todavia não me envergonho; porque sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” (2 Timóteo 1.12).
As circunstâncias gritavam para Paulo: “Você está sozinho no escuro. Está abandonado na prisão. Seu corpo foi tão espancado que não pode mover um único músculo sem sentir dor. Você não tem nada no banco como resultado do seu trabalho. Vai morrer sem mulher e filhos para chorarem por você. Foi esquecido pela maioria de seus amigos. Sua execução está por um fio”. Paulo, no entanto, sentado na escuridão da cela, com sentimentos que iam provavelmente da esperança à tristeza, ao medo, à depressão, disse: “Ouçam, pode haver muitas coisas que eu não sei nem compreendo, mas sei isto. Sei em quem tenho crido. Conheço aquele a quem entreguei a minha vida. Sei que ele é capaz de tomar aquilo que lhe entreguei no escuro e fazer com que tudo coopere para o bem no dia claro”.
É no escuro que ele faz com que você se pareça mais com Jesus. Você talvez diga: “Nada de bom acontece no escuro. É nessa hora que as casas são roubadas e pessoas são violentadas”. Nada disso. Algo bom acontece no escuro. Deus está fazendo a sua maior obra. Formando em você a imagem radiante e bela de seu Filho. Embora você não possa ver ou compreender, é isso que ele está fazendo.
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