quinta-feira, 23 de abril de 2009

Uma Igreja missionária

Estatísticas mais recentes apontam para o fato de que a igreja brasileira representa, hoje, uma das maiores forças mundiais em termos de missões. Todavia, ao olharmos para nossas Igrejas somos obrigados a nos perguntar: Nossas Igrejas são verdadeiramente missionárias ou são igrejas com programa de missões? Em princípio, esta preocupação pode parecer estranha para alguns, mas é importante percebermos que “Igrejas missionárias” são bem distintas de “igrejas com um programa de missões”. A confusão talvez resida no fato de que, apesar de toda comunidade missionária ter um certo programa de missões, nem toda igreja com um programa de missões é, essencialmente, uma comunidade missionária.

Uma igreja com um programa de missões pode ser descrita como aquela que tem um grupo de pessoas que cuida das coisas relacionadas a missões, uma parte de seu orçamento mensal é dedicado ao sustento de missionários, e até um final de semana por ano está reservado para uma conferência missionária na igreja. Apesar de tudo isso, ela ainda é apenas uma igreja local com um programa de missões, e não uma comunidade missionária. Mas então, como tornar uma igreja local numa comunidade missionária?




Segundo vimos no evangelho de Mateus, podemos afirmar que as últimas palavras de Jesus à comunidade dos discípulos apontam para o que a IGREJA VIRIA A SER na história a partir do comissionamento recebido (Mt. 28:18-20). Contribui também com tal perspectiva o relato de Atos 1:6-8. Nele, Jesus indica que a comunidade de seus discípulos, posteriormente chamada de igreja, seria uma comunidade essencialmente missionária caracterizada pelo testemunho intencional acerca do evangelho do Reino, seja em Jerusalém, como na Judéia e Samaria, como até nos confins da terra.

Desta forma, o engajamento missionário não se caracterizava como um do programas da igreja, mas como sua própria expressão de vida, razão de ser na história e identidade com a pessoa de Jesus Cristo. Assim, missão não é tido somente como algo que a igreja faz, mas principalmente como algo que a igreja é. (Jo.17:18).

Assim sendo, poderíamos dizer que enquanto a adoção de um programa de missões apenas maquia com sofisticação uma igreja local, mas não lhe garante a identidade de “igreja missionária”, a redescoberta da natureza bíblica da igreja como comunidade de discípulos de Jesus em missão no mundo tem algumas implicações diretas.

· Missão deixa de ser mais um dos programas da comunidade para tornar-se sua própria vida e razão de ser, em torno da qual todas as demais atividades devem fazer sentido.
· A definição de sua própria natureza como missionária leva a igreja local a redefinição de seus propósitos, redimensionamento de suas estruturas e atividades e redistribuição de suas finanças.
· O engajamento missionário deixa de ser responsabilidade de alguns para ser marca de todo aquele que é discípulo de Jesus.


Segundo as palavras de Jesus em Atos 1:6, seus discípulos receberiam o Espírito Santo e então eles seriam testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. Desta forma, é pela ação do Espírito que a igreja se move em e para missões, bem como é pela sua capacitação que o evangelho se faz compreendido e eficaz na vida dos ouvintes (Jo.16:7-10). Logo, fazer missões sem o envolvimento com a pessoa do Espírito Santo de Deus resultará numa comunidade com um programa de missões, mas não numa comunidade genuinamente missionária.

Se observarmos o livro de Atos notaremos que o termo “missões” está relacionado à obra do Espírito. É no Seu poder que Pedro prega no pentecostes (At.2:4,14), é pela Sua ação que Pedro e João testificam no templo e diante do Sinédrio (At.4:8), é Sua capacitação que impulsiona os cristãos primitivos a pregar com intrepidez (At.3:31), é Sua presença na vida de Estevão que o suporta diante do martírio (At.6:5), é pelo Seu mover e confirmação que o evangelho chega aos de Samaria (At.8) e aos da casa de Cornélio (At.10), é sob Sua orientação que Paulo e Barnabé são separados e enviados aos gentios (At.13:2),e é sob Sua direção que as viagens missionárias são conduzidas (At.16:7).

Esta breve e superficial visão já é suficiente para nos levar a questionar: Quanto de nossos programas missionários têm a ver com a ação e o mover do Espírito Santo em nosso meio? Temos nós entendido que o verdadeiro comprometimento e envolvimento com a obra missionária só são possíveis através do comprometimento e envolvimento com a obra do Espírito em nossas vidas e no mundo em que vivemos?

Isso nos faz lembrar o popular cântico evangélico que diz: “Como sairemos de Jerusalém se o Espírito Santo não mover os nossos corações? Como iremos à Judéia ou à Samaria a enfrentar poderes maiores que nós? Oh Senhor, tem misericórdia de nós. Oh Senhor, vem com seu poder sobre nós”.


Com a entrada do pecado no mundo, se instalou no homem um senso de irresponsabilidade para com aqueles que lhe cerca. Exemplo disso encontramos na boca de Caim: “Acaso sou eu tutor de meu irmão ?” (Gn. 4:8). Em contra partida, Deus chama Abraão para que nele todas as nações da terra fossem abençoadas (Gn. 12:2,3). Assim, o chamado, antes de ser um mero privilégio para Abraão, era também uma responsabilidade para com o mundo. A mesma ênfase está nas palavras de Jesus quando comissiona seus discípulos para serem responsáveis no fazer discípulos de todas as nações (Mt. 28:19). Jesus ainda indica que o campo missionário de seus discípulos seria tanto em Jerusalém, como em toda Judéia e Samaria, e até aos confins da terra (At. 1:8).

Três são as barreiras mais comuns para que uma igreja assuma esta responsabilidade para com o mundo que lhe cerca. A primeira está relacionada à própria falta de consciência quanto à responsabilidade. Algumas igrejas vivem como ilhas no oceano. Fazem seus cultos, promovem atividades para as mais diversas faixas etárias e organizam confraternizações visando o bem-estar comunitário. Quando se fala do mundo exterior, o sentimento é de perigo e ameaça. O mundo é algo do qual todo crente deve se manter distante.

Outra barreira se relaciona à interpretação errônea de que Atos 1:6 nos diz para que sejamos testemunhas primeiro em nossa própria Jerusalém, depois em nossa Judéia e Samaria, e aí então nos confins da terra. Igrejas e pessoas que pensam desta forma costumam argumentar: Por que vamos enviar pessoas para evangelizar no Japão se aqui mesmo, em nossa cidade, existe tanta gente sem Jesus?

Uma terceira barreira se levanta quando pessoas ou igrejas, desafiadas pela necessidade mundial e bem intencionadas nas suas disposições, acabam por enfatizar tanto a obra “nos confins da terra” que se esquecem de que seu chamado missionário envolve também sua Jerusalém e regiões circunvizinhas. Igrejas induzidas por este pensamento muitas vezes se sentem cumpridoras de seu dever por sustentarem missionários em outras partes do mundo quando seu próprio rol de membros permanece inalterado há anos.

Uma comunidade genuinamente missionária é aquela que assume sua responsabilidade de testemunhar através de sua presença, suas palavras e seu serviço ao mundo que a cerca, tanto em sua própria Jerusalém, como em sua Judéia e Samaria, e até nos confins da terra. Uma igreja missionária marca sua passagem pela história, glorificando assim o nome de Deus, tanto em seu bairro, como no interior de seu país, como também nos confins da terra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário