domingo, 16 de agosto de 2009

Judas, o discípulo com três nomes


Temos aprendido sobre a vida dos doze homens comuns escolhidos por Jesus para formarem o seu grupo de discípulos que teriam a responsabilidade de liderar a Igreja de Cristo nos anos que se seguiram à sua morte e ressurreição.

Depois da introdução nós aprendemos sobre a personalidade, vida e ministério de alguns deles. Vimos: Tiago, o discípulo justo; Tiago, o discípulo menor; Filipe, o discípulo que fazia as contas; Natanael, o discípulo sincero; E HOJE veremos Judas, o discípulo com três nomes.


Judas, filho de Tiago tem sua história omitida nos evangelhos. Apenas uma passagem relata uma de suas conversas com o Mestre, o suficiente para nos revelar um ensino precioso.

Judas, filho de Tiago, na verdade tinha três nomes.

O nome que recebeu ao nascer foi Judas que significa “Jeová conduz”.

Apesar de ter um nome de forte significado, no entanto, o seu nome sempre terá uma conotação negativa por causa de seu xará de sobrenome Iscariotes.

Em Mateus 10:3, ele é chamado de Tadeu, que significa “criança de peito”. Uma conotação normalmente dada ao filho caçula. Trata-se daquele filho que por ser o último tem sobre si uma atenção especial e que por vezes é tratado pelos irmãos como sendo o “queridinho da mamãe”.

O texto de Mateus 10:3, o nome de Tadeu também pode ser traduzido como sendo Lebeu. Algumas versões trazem esse nome, que significa “criança do coração”. Ou seja, este nome apenas reforça o fato de ser uma pessoa, que além de ser o caçula, era o preferido da mãe.

É bom lembrar que, destes três nomes, na verdade, apenas Judas era nome, já Tadeu e Lebeu eram apelidos.

Os dois apelidos sugerem também uma pessoa de coração amoroso e bondoso, de alma gentil e de fácil relacionamento. O tipo de gente que se dá bem com todo mundo.


O Novo Testamento registra apenas um episódio envolvendo Judas Tadeu Lebeu. Trata-se da passagem de João 14:16-31.

Jesus estava preparando seu discípulos quanto ao que haveria de acontecer. No início do capítulo ele fala da necessidade de ir ao encontro do Pai e da vinda do Consolador. Diz que voltaria assim que preparasse os lugares para receber seus discípulos.

Jesus também fala que ao ressuscitar ao terceiro dia, ele se revelaria aos doze, e não ao mundo inteiro. É nesse contexto que Judas, ciente de tamanho privilégio, pergunta ao Mestre: “Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo?”. Era como que dissesse, “Senhor, a sua Missão é se revelar ao mundo como sendo o Rei dos reis e Senhor dos senhores, por que nos daria tamanho privilégio de vê-lo antes de todas as pessoas?”

Judas, com seu coração sensível e sincero, percebe o tamanho do privilégio e não se julga digno de tamanha honra. É interessante notar que sua fala não está carregada de nenhuma falsa humildade. Ele não repreende o Senhor, como fizera Pedro. Pelo contrário, sabedor de que Jesus era o Salvador do mundo, não achou digno de que uma ralé de 12 homens pudessem receber tamanha honra.


Mediante a pergunta de Judas, Jesus dá-lhe uma resposta a altura de seu coração amoroso dizendo: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.” (vs. 23 e 24)

A resposta de Jesus significava, “Não vou assumir o controle do mundo e governar os meus filhos com mão de ferro, vou conquistar corações”. A resposta de Jesus revela que no seu Plano eterno, ele jamais imaginou alguém o servindo ou mesmo o seguindo por força, mas por amor. Provérbios 23:26 já nos diz: “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem dos meus caminhos.” Na verdade Deus não exige a nossa obediência, ele deseja o nosso amor, porque o amor leva o seu possuidor a uma obediência sadia.

Judas ouviu estas belas palavras e certamente teve seu coração conquistado pelo Mestre. A tradição histórica da Igreja Primitiva diz que ele foi um eterno apaixonado por Jesus. Levou o evangelho diante de reis na Mesopotânea, atual Turquia. Alguns relatos antigos diz que ele curou o rei de Edessa, um homem chamado Abgar. O historiador Eusébio diz que por causa de seu amor pelo Senhor, foi espancado até a morte.

domingo, 9 de agosto de 2009

Natanael, o discípulo sincero


Temos aprendido sobre a vida dos doze homens comuns escolhidos por Jesus para formarem o seu grupo de discípulos que teriam a responsabilidade de liderar a Igreja de Cristo nos anos que se seguiram à sua morte e ressurreição.

Depois da introdução nós aprendemos sobre a personalidade, vida e ministério de alguns deles. Vimos: Tiago, o discípulo zeloso; Tiago, o discípulo menor e no último domingo falamos sobre Filipe, o discípulo que fazia as contas.


Hoje gastaria de conversar com vocês sobre o discípulo sincero, ou seja, Natanael.

Mas, quem era Natanael? Os três primeiros evangelhos o chama de Bartolomeu, enquanto João o chama de Natanael. Na verdade, Bartolomeu é o sobrenome de Natanael, que significa “filho de Tomeu”. Já seu primeiro nome, Natanael, significa “dado por Deus”. Ele era de Caná da Galiléia, onde Jesus realizara seu primeiro milagre, ou seja, a transformação da água em vinho.

É possível que ele também fosse pescador, isso porque, ele é um daqueles que volta na companhia de Pedro para a Galiléia para pescar, no final do evangelho de João. No grupo dos doze, ele é sempre citado junto com Filipe, o discípulo que fazia as contas. Eles não eram irmãos ou mesmo parentes, eram apenas bons amigos.

Assim como acontece com a história de Filipe, Natanael não tem sua história narrada nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Apenas João nos conta sobre dois momentos na vida deste discípulo. João narra seu primeiro encontro com Jesus no capitulo 1, e no capítulo 21 sobre quando voltou com Pedro para a Galiléia após a morte de Cristo.

O texto que servirá de base para a nossa meditação sobre Natanael, será João 1:43-51. Este texto, com certeza tem muito a nos ensinar sobre a sinceridade de Natanael. Leiamos.

Ao ser encontrado por Jesus e conhecê-lo naquela tarde, Filipe não teve dúvidas. Chamou seu amigo chegado para conhecê-lo também, dizendo: “Você não vai acreditar. Encontrei o Messias, e pasme, ele é filho de José, o carpinteiro de Nazaré!”. Ao ouvir tais palavras, ouça a resposta de Natanael: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”

Não há nenhum registro de alguma rivalidade entre as cidades de Nazaré e Caná. A não ser o fato de que ambas estavam próximas uma da outra, o que naturalmente poderia trazer alguma rivalidade, não há nenhum registro que explique a razão pela qual Natanael era tão pessimista em relação a esta cidade.

É interessante notar as palavras de Natanael. São reveladoras. Ele poderia ter dito: “Filipe, as Escrituras nos diz que o Messias viria de Nazaré? Ele não é relacionado a Belém? Então, não pode ser de Nazaré.” Não, ele preferiu usar palavras duras, agressivas e que machucam, para expressar sua dúvida.

Natanael era uma pessoa sincera, o problema é que sua sinceridade estava acompanhada pela intolerância. Sua rejeição não se deu através de uma análise bíblica e racional, mas foi uma declaração de sua rejeição e intolerância para com a cidade de Nazaré. Natanael precisava aprender que a sinceridade verdadeira não diminui ou menospreza ninguém.

Pessoas como Natanael, conseguem camuflar sua intolerância em nome da sinceridade, mas tem a mesma facilidade de identificar esse pecado nas pessoas quando fazem a mesma coisa. Não estou falando que devemos aprovar atitudes erradas das pessoas, mas que devemos tratá-las com dignidade, honra e educação, como por exemplo, chamá-las pelo nome que gostam de ser chamadas e não com palavras que as depreciam, em nome da sinceridade.

A intolerância anda de braços dados com o orgulho. A intolerância acontece quando nos julgamos melhores, mais inteligentes, mais dignos, mais justos do que os outros. Ela nos coloca no banco do juiz e as pessoas no banco dos réus.


Mesmo com a dúvida ardendo em seu coração, Natanael foi ao encontro de Jesus. Mas, mesmo antes de fazer qualquer questionamento Jesus o recebe com um elogio sincero: “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há engano!” (João 1:47) Foi um tratamento de choque. Ele não podia acreditar, estava sendo elogiado por alguém que ele acabara de por em dúvida sua índole. Então, ele diz: “De onde me conheces?” e aí mal sabia ele que a resposta de Jesus o deixaria ainda mais surpreso, disse Jesus: “Antes de Filipe te chamar, EU TE VI, quando estavas debaixo da figueira” (João 1:48).

Não sabemos o que Natanael estava fazendo ou pensando debaixo da figueira, mas certamente ele acreditava que ninguém o estava observando. É possível até que ele tivesse pensando sobre ser ele um “verdadeiro israelita”, alguém que não engana ninguém, que sempre fala a verdade, doa o que doer. O elogio de Jesus e o fato de dizer que o viu debaixo da figueira, surpreende Natanael de tal forma, que ele se vê atraído pelo Mestre que acabara de conhecer.

Pessoas como Natanael precisam aprender que Deus não observa apenas nossas expressões verbais, mas a intenção do nosso coração também é conhecida por ele. Ele sonda o mais íntimo de nosso ser e nada passa despercebido diante de seus olhos. A sinceridade certamente é uma virtude, quando ela não está acompanhada de intenções maldosas.


Mediante as palavras reveladoras de Jesus, Natanael reconhece estar diante não apenas do Messias, Rei dos reis, mas é envolvido com a certeza de estar diante de Deus dizendo: “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!” (João 1:49). Agora sim! As palavras de Natanael são sinceras. São palavras que não diminuem ninguém, não tem por traz de si, nenhuma outra intenção, a não ser de expressar a sua fé em Jesus. Por isso recebem o reconhecimento e aprovação do Senhor.

Jesus não desconfia da confissão de Natanael, antes afirma que sua confissão foi verdadeira e faz-lhe uma promessa dizendo: “Porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês? Pois maiores coisas do que estas verás. E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (João 1:50-51)

Algum tempo depois, Natanael estava com os demais discípulos quando Jesus foi elevado aos céus diante dos próprios olhos. Certamente ele se lembrou da promessa feita por Jesus em seu primeiro encontro.

Os registros da Igreja Primitiva nos informam que Natanael foi um discípulo fiel e dedicado ao Senhor até o fim de seus dias. Ministrou na Pérsia e na Índia e levou o evangelho até a Armênia. Não sabemos ao certo como ele morreu, mas alguns historiadores afirmam de que ele foi amarrado dentro de um saco e lançado ao mar.

Deus tem prazer em honrar aqueles que lhe servem com sinceridade. Natanael é um bom exemplo disso. No dia em que encontrou Jesus ele aprendeu que a verdadeira sinceridade não diminui ninguém, e é aprovada pelos olhos de Deus quando é uma expressão da verdade que vai ao coração.

domingo, 2 de agosto de 2009

Filipe, o discípulo que fazia as contas


Com a série de mensagens “Ele escolheu doze homens comuns” nós temos aprendido que o único critério usado por Jesus na escolha dos doze discípulos foi o amor. Eles, assim como nós, não tinham aptidões, cursos, qualificações para exercer tão importante tarefa, a de fundamentar a Igreja cuja “pedra angular” é o próprio Cristo.

Já falamos sobre Tiago, o discípulo justo e de Tiago, o discípulo menor.



Hoje falaremos sobre o discípulo que fazia as contas. Mas quem é ele?

É curioso perceber que as narrativas de Mateus, Marcos e Lucas nada falam sobre esse discípulo. Todas as informações que temos dele nos são dadas pela narrativa do apóstolo João.

Ele era da cidade de Betsaida, a mesma cidade de André, Pedro, Tiago e João (João 1:44). Existem fortes evidências de que eles se conheciam desde a infância e de que o discípulo que fazia as contas era um dos pescadores que trabalhava para a peixaria de Zebedeu, pai de Tiago e João. Ele aparece com freqüência acompanhado de Natanael. Esse último era de Caná da Galiléia e ao que tudo indica, os dois eram amigos chegados dentro do grupo dos doze.

O seu nome significa “aquele que gosta de cavalos”. Estamos falando de Filipe. É bom não confundirmos esse Filipe, com o Filipe diácono e evangelista de Atos 6, que anuncia o evangelho ao eunuco etíope. O discípulo Filipe era outra pessoa.

Encontramos Filipe pela primeira vez no capítulo 1 de João quando ele é convidado pelo próprio Jesus a segui-lo. No dia anterior, Jesus havia sido batizado por João no rio Jordão e recebido a visita de André, Pedro e João que foram até a sua casa.

Numa rápida leitura de João 1:43, somos sugestionados a afirmar que Filipe “foi convertido” no momento em que recebera o convite de Jesus. Todavia, ao estudar a personalidade dele, podemos certificar que sua decisão apenas teve inicio ali. Filipe não se tornaria discípulo sem antes conferir se Jesus era realmente o Messias prometido, o Filho de Deus.

Tanto é verdade que, assim que ele é convencido de que o filho de José, o carpinteiro, era o Messias, ainda surpreso com tal descoberta, ele se rende a Jesus e procura seu melhor amigo Natanael dizendo: “Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno, filho de José.” (João 1:45)

Filipe havia acompanhado Jesus como um investigador, se perguntando: “vamos ver qual é a desse filho de José, veremos se as evidências confirmam ou não ser ele o Messias segundo as profecias”. Ele vai com Jesus, ouve tudo, analisa as evidências, confere as promessas, para só depois se render ao Senhorio de Cristo. Filipe era extremamente racional.

Observe outro detalhe. Quando ele procura seu amigo Natanael, ele diz: “Achamos aquele...”. Isso é revelador. Para Filipe, ele achou Jesus e não o contrário. Mas o que diz o texto? Vejamos: “NO DIA IMEDIATO, RESOLVEU JESUS PARTIR PARA A GALILÉIA E ENCONTROU A FILIPE, A QUEM DISSE: SEGUE-ME.” (João 1:43). Quem encontrou quem aqui?

Cristo encontrou Filipe primeiro. Temos aqui a tensão existente entre a eleição soberana e a escolha do ser humano. O chamado de Filipe é uma ilustração de como as duas existem em perfeita harmonia. O Senhor encontrou Filipe, mas Filipe sentiu que ele é quem havia encontrado o Senhor. Contudo, do ponto de vista bíblico, sabemos que a escolha determinante pertence a Deus: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (João 15:16ª)


João 6 narra a ocasião em que Cristo havia se retirado da cidade, para um dos montes, onde ensinava seus discípulos, quando foram surpreendidos por uma multidão. O texto diz que só de homens havia quase 5000, fora mulheres e crianças. Estima-se de que havia ali, no mínimo 10 mil pessoas.

Depois de atendê-los com sua palavra, diz-nos o texto: “ENTÃO, JESUS VENDO A MULTIDÃO... DISSE A FILIPE: ONDE COMPRAREMOS PÃES PARA LHES DAR A COMER? RESPONDEU-LHE FILIPE: NÃO LHES BASTARIAM DUZENTOS DENÁRIOS DE PÃO, PARA RECEBER CADA UM O SEU PEDAÇO.” (João 6: 5 e 7)

Por que o mestre escolheu Filipe para fazer-lhe a pergunta? Por que não Mateus, Tiago ou mesmo Judas? Simples. O vs. 6 diz-nos que Jesus estava experimentando Filipe. Filipe era extremamente metódico e amava fazer cálculos. Era o “pessimista” e “pão-duro”. Estava sempre obcecado por descobrir a razão pelas quais as coisas não podem ser feitas, em vez de buscar uma forma de fazê-las.

Jesus sabia que desde a chegada da multidão, Filipe havia se desligado de sua mensagem. Ele estava ocupado contando quantas bocas havia ali e quantos denários seriam necessários para alimentar aquela multidão. “Bem” pensava ele, “com um denário podemos comprar 10 pães de trigo. Cevada é mais barato, 20 pães. Se dividirmos ao meio, teremos 40 pedaços. Com os 200 denários que ainda temos em caixa, igual a 8000 pedaços de pães” e então olha para a multidão e concluí: “é como eu já previa, não dá mesmo”. Tanto é verdade que, ao ouvir a pergunta do Mestre, ele já tinha a resposta na ponta da língua: “Senhor, pelos meus cálculos, não será possível, mesmo com 200 denários”.

Pessoas como Filipe tem dificuldades de acreditar no poder de Deus. Filipe poderia ter dito a Jesus: “Senhor, de fato não temos recursos financeiros para alimentar essa multidão, mas, ouvi dizer que tem um menino aí com 5 pães e dois peixes. Sei que assim como o Senhor transformou água em vinho em Caná da Galiléia, podes fazer o mesmo com pães e peixes. Se quiser, o Senhor pode alimentar esse povo com o seu poder”.

Sabe qual era o problema de Filipe? Ele sabia matemática demais para servir a Deus. Ele precisou aprender que no Reino de Deus, falta de recursos nunca foi problema. Problema no Reino de Deus tem outro nome – PECADO. Sabemos o final da história, com seu poder Jesus fez a multiplicação dos pães e peixes e alimentou a todos. Naquela noite cada discípulo voltou para casa, especialmente Filipe, com um cesto nas mãos, cheio de pães e peixes. Aleluia!


Estamos agora no capítulo 12 de João. Aqui encontramos Jesus chegando à cidade de Jerusalém para a festa da Páscoa, quando alguns gregos desejosos de ter uma conversa em particular com Jesus, procura Filipe (talvez por ser ele o único no grupo dos doze com nome grego) e tenta agendar com ele tal encontro. Qual é a atitude de Filipe? Reveladora.

Filipe não fazia nada sem antes olhar quais eram as regras. “Bem”, pensa ele, “vejamos o manual. Aqui está. Jesus foi enviado aos judeus (Mt 10:5, 6 e 15:24). Estranho, não diz nada sobre receber gentios e samaritanos”. Surge então a dúvida: “Gentios podem ser recebidos por Jesus? E se eu marcar essa entrevista e for chamado a atenção? O manual não deixa claro essa questão. Não posso assumir tal risco.” Filipe apreciava regras absolutas para ser cumpridas com rigidez. Por isso, ele não estava preparado para fazer algo que era fora do convencional.

Nessa situação, o melhor é transferir a responsabilidade. Diz-nos o texto, “FILIPE FOI DIZÊ-LO A ANDRÉ, E ANDRÉ E FILIPE O COMUNICARAM A JESUS.” (João 12:22). Mas por que André? André era do tipo que levava qualquer um a Jesus (havia levado Pedro, até a casa de Jesus sem pedir permissão, o que era um absurdo aos olhos de Filipe). Então, nada mais seguro do que transferir a responsabilidade deste ato ao “ingênuo e irresponsável” André. Assim, se algo desse errado, a culpa seria dele.

É certo que a Palavra de Deus é o nosso guia para todas as circunstâncias da vida. Além do mais, o Espírito Santo sempre a usará para nos instruir: “Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.” Isaías 30:21. Todavia existem situações em que não há regras absolutas, e nesse momento, ao invés de procurar alguém para assumir o risco em nosso lugar, precisamos ter coragem de assumir nossos atos. André não pensou duas vezes, levou os gentios a Jesus certo de que estava fazendo o correto. Corajoso é aquele que sabe enfrentar os seus medos.


Era a última noite de Jesus com seus discípulos, antes de sua morte. Jesus os reúne para a última ceia. Fala aos seus corações, preparando-os para o momento difícil. Durante a ceia, ele abre o coração, diz da necessidade de ir ao Pai e enviar o Espírito Santo.

Naquele instante, Tomé abre a boca e pergunta o que estavam pensando: “Senhor, não sabemos para onde vais, como saber o caminho?” (João 14:5). A isso Jesus responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim”. Nesse momento, Filipe faz o pior comentário que alguém poderia fazer naquele momento. Diz ele: “SENHOR, MOSTRA-NOS O PAI, E ISSO NOS BASTA.” (João 14:8).

Quanta insensibilidade! O racional Filipe, que não gosta de lidar com sentimentos, após 18 meses, caminhando 24 horas por dia com o Mestre, sete dias por semana, ainda duvida da palavra de Jesus. “Senhor, em vez de ficar falando sobre o Pai, dá-nos um dado concreto, um sinal claro, aqui e agora, preto no branco, e acreditarei”. Que miséria! A resposta de Jesus foi imediata: “Filipe, há tanto tempo estou convosco e ainda não acredita que eu e o Pai somos a mesma pessoa? Acredite nisso, pelo menos pelas obras que realizei”.

Por causa de sua insensibilidade, Filipe não se deu conta que nos últimos meses havia andado com o próprio Deus em pessoa. A resposta do Senhor desperta a mente de Filipe para tudo aquilo que ele havia feito com seu poder divino. Nenhum ser humano é capaz de realizar feitos tão poderosos. Filipe havia sido testemunha de inumeráveis curas extraordinárias, visto paralíticos andarem, morto ressuscitar, pães e peixes se multiplicar, e ainda assim estava em dúvida a respeito de Jesus ser Deus. Filipe viu Deus agindo o tempo todo, mas optou pelo caminho do “acaso”. Foi sorte, diz ele. Pessoas assim passam a vida ao lado do Senhor, sem conhecê-lo, como o irmão do filho pródigo, até o servem, mas sem alegria. Lastimável.

Depois daquela última conversa com Jesus, algo aconteceu. Não sabemos o que, nem mesmo como. Mas, podemos afirmar que Jesus transformou aquele Filipe em um discípulo especial. A história da Igreja diz que ele continuava com espírito investigador, mas agora para ensinar a Palavra de Deus ao povo. Ele tornou-se num grande pregador evangelista, foi responsável em conduzir multidões a Cristo. Por causa de sua fé fortalecida, viajou sem muito recurso, para anunciar a salvação. Sua sensibilidade ao Espírito de Deus o levou a ser morto, apedrejado em Heliópolis na Ásia Menor, oito anos depois de Tiago, filho de Zebedeu. Filipe aprendeu a lição.