domingo, 14 de agosto de 2011
Do anonimato à fama
É natural pensarmos em Davi como o menino pastor que derrubou o gigante Golias ou como o rei que foi derrubado pelo adultério com a mulher de Urias. Todavia, seus atos heróicos vão muito além da vitória sobre Golias, bem como seus atos vergonhosos, infelizmente, não se esgotam no adultério de Bate-Seba.
Sua história pré-reinado nos apresenta um menino que se fez homem através dos sucessos e adversidades que a vida apresenta a qualquer mortal. Ele se tornou o homem segundo o coração de Deus porque aprendeu a enxergar o agir de Deus nos bastidores de sua vida.
Nessa série de mensagens, convido você a uma viagem no tempo, até aos tempos de Davi, o pastor de Belém, e caminharmos lado a lado desse grande herói da fé e aprender com ele que a vida pode ser melhor, se conseguirmos perceber o cuidado de Deus para conosco em todo tempo e em todo lugar.
Após a unção, Davi voltou para cuidar de seu rebanho. Não é difícil imaginá-lo considerando o que tinha acontecido, dando asas à fértil imaginação, sonhando em ser rei. Davi sabia que nem só de sonho vive o homem. Por essa causa, ele não mudou a forma responsável com que encarava os desafios de cada dia. Não se consumiu pela ansiedade nem se entregou à ociosidade. Boas oportunidades nas mais variadas áreas da vida surgem com relativa freqüência, mas só os preparados as desfrutam. Davi também vivenciou esse processo até o dia em que foi confrontado com uma grande oportunidade.
A Bíblia diz que o Espírito do Senhor se afastou de Saul e este era atormentado por um espírito maligno. Diante disso um de seus oficiais propõe que se chame alguém que toque bem harpa para aliviar o sofrimento do rei. Ao buscar alguém no reino, Davi foi o escolhido.
Mas por que o rei optou por Davi? A descrição oferecida por parte de alguém que o conhecia, estando ele ainda no início de sua juventude, é impressionante: "Conheço um dos filhos de Jessé, de Belém, que sabe tocar harpa. É um guerreiro valente, sabe falar bem, tem boa aparência e o Senhor está com ele". (1 Sm 16.18). A impressão que Davi causava era fascinante. Ele desenvolvera dons, hábitos e atitudes os mais nobres. É praticamente impossível não percebê-los. Esse belo e talentoso jovem é trazido à casa do rei Saul.
Durante um bom tempo, Davi viveu entre o palácio e o campo, ora envolvido em sua atividade de músico do rei, ora cuidando do rebanho de seu pai. Nesse meio tempo, seus irmãos foram convocados para se juntar ao exército e ir para a guerra sob o comando de Saul. Davi não estava entre os soldados por ser ainda muito jovem, pois em Israel os homens de guerra tinham mais de 20 anos.
Outra característica de Davi é que ele não tinha má vontade em fazer qualquer tipo de serviço. Tão logo recebeu de seu pai a tarefa de levar alimentos para seus irmãos, o jovem imediatamente tratou de executar o pedido, não sem antes incumbir alguém de cuidar de suas ovelhas.
Quando Davi chegou ao campo de batalha, procurou inteirar-se do bem-estar dos irmãos e, estando ainda a falar com eles, viu e ouviu a afronta de Golias e percebeu o efeito destruidor que as palavras do lutador causavam. Percebeu, no entanto, que o maior adversário do exército de Saul não era Golias e, sim, o medo.
Lá estava Golias, com seus quase 3 metros de altura, com armadura pesando sessenta quilos, equilibrando-se, da melhor forma possível, sobre a avantajada soberba. Por quarenta dias seguidos Golias afrontou Israel. Para o rei Saul e todo o seu exército, Golias era grande demais, impossível de vencê-lo. Diante de Golias, Saul reconheceu os limites de seu próprio poder. Davi, entretanto, sabia que o poder de Deus não conhece limites e com essa confiança disse à Saul: "Ninguém deve ficar com o coração abatido por causa desse filisteu; teu servo irá e lutará com ele". (1 Sm 17.32).
Não é incomum tomarmos conhecimento de atos heróicos praticados por algumas pessoas. O que nem sempre verificamos é o processo que precede esses grandes feitos. Ninguém nasce assim, um herói pronto. Davi não é exceção. Na verdade, Davi ainda criança começou a vencer Golias. Suas experiências de vida lhe trouxeram auto confiança e aprofundaram sua dependência de Deus. Era alguém que sabia aproveitar o tempo livre para aprender coisas novas. Quando o rei precisou de um músico, lá estava ele! Quando Israel precisou de um valente guerreiro, ele estava pronto!
Antes de Golias, Davi já vivenciara lutas desiguais, enfrentara desafios violentos, vencera obstáculos de arrepiar. Para defender o rebanho que pastoreava matou urso e leão usando as próprias mãos. Isso é impressionante, mas impressiona ainda mais observar que o tributo da vitória é dado a Deus: “O Senhor que me livrou das garras do leão e das garras do urso me livrará das mãos desse filisteu” (1 Sm 17.37).
O que tornava Davi diferente dos demais soldados de Israel era o conhecimento que tinha de Deus. Da perspectiva de Davi, a pergunta não era: “Quem somos nós para enfrentar esse Golias?”, mas sim: “Quem é esse Golias para afrontar nosso Deus?”. Seus olhos não se detinham no tamanho do desafio, mas na grandiosidade do poder de Deus. Saul olhava para o gigante e esse se agigantava. Davi por sua vez, olhava para Deus e o gigante ficava insignificante. O que focamos expande-se. Os olhos de Davi eram treinados para ver a grandeza de Deus, ao mesmo tempo em que desenvolvia com responsabilidade os talentos recebidos.
A notícia sobre Davi chegou até aos ouvidos de Saul. Imediatamente o rei mandou chamar o menino. Saul então ofereceu sua própria armadura a Davi, que depois de vesti-la desistiu da mesma. Mas o que levou Saul a oferecer sua armadura ao jovem músico? Se sua armadura era eficiente, por que ele mesmo não a usava? Se havia alguém em condições físicas para enfrentar Golias, de igual para igual, era Saul. O profeta Samuel o descreve como sendo o mais alto israelita de sua época.
Davi, após abrir mão da armadura de Saul, caminhou até o riacho, pegou cinco pedras lisas e foi ao encontro de Golias, enquanto o exército de Israel tinha a respiração sufocada pelo suspense. Ao vê-lo Golias zombou de Davi dizendo: “Por acaso sou um cão para que você venha contra mim com pedaços de pau? " E o filisteu amaldiçoou Davi invocando seus deuses, e disse: "Venha aqui, e darei sua carne às aves do céu e aos animais do campo!” 1 Sm 17.43-44
Mas Davi estava consciente de que a batalha não era entre ele e Golias, mas entre Deus e Golias. Por essa razão ele respondeu: “Você vem contra mim com espada, com lança e com dardo, mas eu vou contra você em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem você desafiou. Hoje mesmo o Senhor o entregará nas minhas mãos, e eu o matarei e cortarei a sua cabeça. Hoje mesmo darei os cadáveres do exército filisteu às aves do céu e aos animais selvagens, e toda a terra saberá que há Deus em Israel. Todos que estão aqui saberão que não é por espada ou por lança que o Senhor concede vitória; pois a batalha é do Senhor, e ele entregará todos vocês em nossas mãos”. 1 Sm 17.15-17
Confiante, levantou-se e colocou uma pedra na funda. Girou a funda até ficar invisível. Em seguida a pedra voou até a testa de Golias derrubando-o desmaiado no chão. Davi corre até ele, toma a espada de Golias e cortou seu pescoço separando a cabeça do corpo. O exército de Israel explodiu em alegria.
A coragem e a vitória de Davi produziram gigantescas ondas de motivação no exército de Israel, arrasando por completo a arrogante resistência das fileiras inimigas. Tendo restaurada a confiança, os soldados ficaram valentes e, motivados, cada um queria também matar um gigante. O medo mudou de lado. Esqueceram que suas armas eram bem mais primitivas do que as dos filisteus, esqueceram que eram sempre derrotados. Agora, tomados de motivação, perseguiam e destruíam os inimigos. Na proporção que a confiança crescia os gigantes encolhiam. Foi um dia que marcou definitivamente a história de Davi.
Pr. Ronaldo
domingo, 7 de agosto de 2011
Desprezado por homens, escolhido por Deus
É natural pensarmos em Davi como o menino pastor que derrubou o gigante Golias ou como o rei que foi derrubado pelo adultério com a mulher de Urias. Todavia, seus atos heróicos vão muito além da vitória sobre Golias, bem como seus atos vergonhosos, infelizmente, não se esgotam no adultério de Bate-Seba.
Para retratar esse grande personagem bíblico, mais de 65 capítulos do Antigo Testamento e não menos de 50 citações no Novo Testamento foram escritos mapeando sua vida e só Deus sabe quantas poesias foram produzidas e registradas de forma anônima no livro de Salmos. É impressionante perceber como a história de Davi conquistou o mundo. A estátua de Davi em Florença na Itália, por exemplo, esculpida em mármore por Michelangelo, com 5,16 metros de altura e pesando mais de cinco toneladas, atrai milhares de pessoas que pagam para admirar tão monumental escultura. Ainda hoje, crianças nascem em todo o mundo e são registradas com o seu significativo nome.
Antes de se tornar rei de Israel, Davi passou por momentos de descrédito e desconfiança até mesmo por sua família. Sua história pré-reinado nos apresenta um menino que se fez homem através dos sucessos e adversidades que a vida apresenta a qualquer mortal. Ele se tornou o homem segundo o coração de Deus porque aprendeu a enxergar o agir de Deus nos bastidores de sua vida.
Nessa série de mensagens, convido você a uma viagem no tempo, até aos tempos de Davi, o pastor de Belém, e caminharmos lado a lado desse grande herói da fé e aprender com ele que a vida pode ser melhor, se conseguirmos perceber o cuidado de Deus para conosco em todo tempo e em todo lugar.
No ano 1020 a.C., um bebê, como muitos outros, nasceu. Poucas pessoas deram atenção ao menino de cabelo ruivo nascido na casa de um pastor chamado Jessé, que morava perto do humilde vilarejo de Belém. Este oitavo filho (1 Sm 17.12), nascido no anonimato, torna-se-ia uma das mais atraentes e visíveis figuras da história. Seus pais deram-lhe o nome de Davi, que significa “amado de Deus”.
Cerca de 16 anos depois, num dia comum em que nada indicasse, para a maioria dos contemporâneos do jovem pastor, qualquer sinal de singularidade, Davi como de costume, estava no campo com sua harpa e cajado. Enquanto cuidava das ovelhas de seu pai, escrevia, tocava e cantava louvores a Deus a quem a cada dia aprendia a admirar e confiar.
Então, naquele dia comum, o profeta Samuel visita a casa dos pais de Davi. O velho profeta chegou àquele lugar em obediência à voz de Deus para realizar um ato que marcaria profundamente a história do povo de Israel. A ordem divina recebida foi de encher um chifre de azeite, ir à casa de Jessé e consagrar um de seus filhos como rei de Israel.
A viagem de Ramá a Belém deu a Samuel tempo suficiente para pensar sobre o reinado do primeiro rei de Israel, Saul. Os israelitas haviam exigido um rei que os governasse. O rei Saul, por falta de submissão a Deus, havia sido rejeitado por ele, ainda que, por vários anos, continuasse a reinar sobre Israel. Samuel lembrava-se das Palavras de Deus que teve de dizer ao infiel rei: “Você agiu como tolo, desobedecendo ao mandamento que o Senhor seu Deus lhe deu; se você tivesse obedecido, ele teria estabelecido para sempre o seu reinado sobre Israel. Mas agora seu reinado não permanecerá; o Senhor procurou um homem segundo o seu coração e o designou líder de seu povo, pois você não obedeceu ao mandamento do Senhor”. 1 Sm 13.13-14
Podemos imaginar que, mergulhado em tão penosas considerações, Samuel não conseguia disfarçar a tristeza, a dor no coração, o nó na garganta. Com tais pensamentos, as lágrimas correram pelo rosto do velho profeta. Dessa forma, Samuel chega ao vilarejo de Belém e convida Jessé para oferecer sacrifícios ao Senhor. A família, relativamente numerosa, estava reunida e em suspense. O jantar feito às presas para a recepção do amado profeta já estava pronto. Finalmente estavam todos à mesa, ou melhor, nem todos.
Os olhos de Samuel observava cada filho de Jessé. Ficou impressionado com Eliabe. Afinal, além de ser o filho mais velho, era o mais alto, mais forte e confiante, como um rei deve ser. Já estava se levantando para ungir o rapaz quando o Senhor o interrompeu dizendo: “Samuel, não considere a sua aparência nem sua altura, pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração". (1 Sm 16.7)
Samuel teve que engolir seco essa verdade e imediatamente passou a considerar os demais filhos de Jessé. Olhou para Abinadabe, e depois para Samá, e tendo olhado para todos, Deus ainda permanecia calado. Samuel sabia que estava na casa certa, mas algo estava errado. Então perguntou a Jessé: “Estes são todos os filhos que você tem?”. Então, Jessé coça a cabeça e diz: “Ainda tenho o caçula, mas ele está cuidando das ovelhas”. Samuel disse: “Traga-o aqui; não nos sentaremos para comer até que ele chegue”. 1 Sm 16.11b
Para os hebreus, o filho mais jovem, diferente de nossa cultura, era considerado o menos importante na hierarquia familiar e por isso se ocupava com o pior serviço da família. E cuidar de ovelhas era algo indesejável. Mas isso não era motivo para impedir a participação do caçula nas comemorações da família. Então, por que Jessé não trouxe seu filho caçula para aquele jantar visto que a ordem de Samuel, desde o início, era para que ele reunisse todos os seus filhos? Teria sido um filho não-planejado, não-desejado? Era um incômodo e mesmo vergonhoso tê-lo por perto? O fato dele ser um poeta e músico contrariava seu pai por desejar que ele fosse outra coisa? O que Davi quis dizer quando declarou: “Ainda que me abandonem pai e mãe, o Senhor me acolherá.” Salmo 27.10. Sentia-se rejeitado?
Ao dar a ordem para que buscassem Davi, fico imaginando o clima que ficou na casa de Jessé até a chegada do caçula indesejado. Apesar da demora do banquete, a fome de todos, principalmente dos rapazes, tinha diminuído consideravelmente. Ninguém podia comer antes da chegada do menino de 16 anos. Algum tempo depois, entra Davi ainda cheirando a ovelha. O obediente profeta então ouve a voz de Deus: “É este! Levante-se e unja-o” 1 Sm 16.12. Sem entender e sem questionar, abriu o recipiente de óleo e despejou a fragrância com cheiro suave na cabeça de Davi diante de semblantes surpresos de todos os presentes.
Os textos bíblicos, geralmente, são ricos em detalhes quando focalizam as reações dos que são chamados por Deus para uma atividade especial. Entre muitos chamados, há reações evasivas: “Não posso! Não sei falar! Não sou importante!”, e por aí afora. No entanto, a Bíblia não relata nenhuma atitude por parte de Davi. O jovem não fez nenhuma declaração. Ele apenas se ajoelhou e recebeu a unção de Deus a quem ele já servia. Não houve qualquer discurso. Até nesse aspecto, Davi foi diferente.
O período compreendido entre sua unção e o momento em que se tornou efetivamente rei sobre todo o Israel foram de mais ou menos 30 anos. Esse período foi marcado por momentos alegres, de vitórias, mas também de algumas dificuldades e derrotas. À semelhança de tantos outros, Davi também teve o seu longo e difícil tempo de espera, aprendizagem e amadurecimento.
Os vencedores não nascem prontos. Deus os molda no forno da vida com imenso amor. Eles são libertos por sonharem os sonhos de Deus e prisioneiros do mesmo sonho até que Deus o realiza através deles. Não foi diferente com Davi. Ele também conheceu o árduo caminho marcado por pedras e espinhos.
Após a unção, o jantar finalmente foi servido. Enquanto todos engoliam a comida, Davi, mais preocupado com as ovelhas, logo voltou ao campo para encarar seus leões de cada dia. Em nenhum momento vemos Davi exigir tratamento diferente de sua família. Ele sequer questiona ao profeta sobre quando deverá começar a reinar. Simplesmente confia que todas as coisas está nas mãos de Deus e que a seu tempo ele cumprirá os seus propósitos. Afinal de contas não foi ele que disse: “tu és a minha esperança, ó Soberano Senhor, em ti está a minha confiança desde a juventude.” Salmo 71.5
“Eu, eu mesmo, falei; sim, eu o chamei. Eu o trarei, e ele será bem sucedido em sua missão.” Isaías 48:15
Pr. Ronaldo
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