domingo, 17 de outubro de 2010

O lamento

Fico assustado com o número de templos religiosos que existem num raio de 1,5km de minha casa. A impressão que eu tenho é de que igreja se tornou de fato um pequeno grande negócio. A luta da maioria destas igrejas não é por alcançar perdidos com a verdade do Evangelho, mas é de lotar seus assentos e naturalmente ter uma arrecadação financeira de matar de inveja muitas outras. Ainda hoje, quando me dirigia ao culto, ao passar em frente de uma dessas igrejas, ouvi em bom e alto som alguém dizendo: “Já estou sentindo o cheiro de sua vitória!” e aí sorri discretamente enquanto pensava: “Enquanto esse rapaz sente o cheiro da vitória, estou indo falar sobre sofrimento. Meu ‘menu’ não está nada agradável né?”

Infelizmente essa é a nossa realidade. Estamos muito mais preocupados em falar palavras extremamente otimistas que em determinados momentos temos uma forte convicção de que cristão não pode sofrer. Como filhos de Deus não podemos admitir isso. No entanto, quando olho para a Bíblia encontro outra realidade. Dos 150 Salmos, mais de 60 são de lamento, o que acaba colocando em xeque a idéia de vitória sempre. É certo que muitos acabam optando sempre pelos extremos. Ou a vida cristã é só de vitória ou o sofrimento é uma demonstração de sacrifício agradável a Deus. Não encontro base bíblica para nenhuma dessas posições.

Uma coisa é certa, todos estamos sujeitos ao sofrimento. Quer queiramos ou não. Um dia ele entra na sala de nossa vida sem pedir licença e leva-nos a um período que pode não ter o fim que gostaríamos. Todavia, quando o sofrimento nos alcança, o que podemos fazer para enfrentá-lo? Existe alguma orientação bíblica sobre isso? Certamente.

Durante o sofrimento precisamos aprender a processar a dor e isso deve ser feito através da prática do lamento. Lamentar significa expor a nossa dor, chorar em prantos, contar a nossa versão do sofrimento para Deus, o mesmo que desabafar, sempre com respeito, é claro.

Infelizmente adotamos uma cultura desumana que ensina que o choro é sinal de fraqueza. Dessa forma aprendemos a sermos pessoas que não demonstram os sentimentos. Ainda aprendemos com Santo Agostinho que qualquer manifestação física ou emocional deve ser reprimida porque tudo o que vem do corpo é pecado. E a Igreja passou anos acreditando nisso. Diante de ensinos como esse, acabamos por não dar espaço para o processamento da dor em nossa comunidade e vida.

A Bíblia, no entanto, está cheia de exemplos de lamento. Jó rasgou suas roupas, vestiu-se de pano de saco e assentou-se em cinzas quando a tragédia invadiu a sua família. Maria Madalena chorou em prantos quando viu o sepulcro vazio e deduziu que alguém havia roubado o corpo de Jesus. Jeremias é chamado de o profeta chorão. O livro de Lamentações é atribuído a ele. Escreveu seu lamento quando Judá foi levado cativo à Babilônia. Veja o que ele disse em seu lamento:

Eu sou o homem que viu a aflição trazida pela vara de Deus. Ele me impeliu e me fez andar na escuridão, e não na luz; sim, ele voltou sua mão contra mim vez após vez, o tempo todo. Fez que a minha pele e a minha carne envelhecessem e quebrou os meus ossos. Ele me sitiou e me cercou de amargura e de pesar. Fez-me habitar na escuridão como os que há muito morreram. Cercou-me de muros, e não posso escapar; atou-me a pesadas correntes. Mesmo quando chamo ou grito por socorro, ele rejeita a minha oração. Ele impediu o meu caminho com blocos de pedra; e fez tortuosas as minhas sendas. Como um urso à espreita, como um leão escondido, arrancou-me do caminho e despedaçou-me, deixando-me abandonado. Preparou o seu arco e me fez alvo de suas flechas. Atingiu o meu coração com flechas de sua aljava. Tornei-me motivo de riso de todo o meu povo; nas suas canções eles zombam de mim o tempo todo. Fez-me comer ervas amargas e fartou-me de fel. Quebrou os meus dentes com pedras; e pisoteou-me no pó. Tirou-me a paz; esqueci-me do que significa prosperidade. Por isso digo: "Meu esplendor já se foi, bem como tudo o que eu esperava do Senhor". Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar. Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim.” Lamentações 3.1-20

Observe que Jeremias dá sua versão para a sua dor. Ao expor o que estava pensando ele faz o seu desabafo. Deus em nenhum momento o reprime, pelo contrário, ele entende o coração humano. Ele dirige palavras duras até contra Deus, e somente assim, chorando e falando com Deus é que ele consegue perceber a causa de tudo aquilo e qual a saída para aquela situação.

Melhor do que chorar, prantear e fugir da presença do Senhor, como fez Jonas, é fazer tudo isso aos pés do Senhor. Quando fizermos isso, Deus nos ouvirá, sem repressões, sem acusações, compreenderá nosso lamento e cuidará de nossa dor. Deus é o nosso amigo, para quem podemos correr e contar tudo, absolutamente tudo.

Existem pelo menos três causas de sofrimento. Por causas naturais (envelhecimento, doenças genéticas, etc...); Por provação divina (Caso de Jó) e por pecados cometidos por nós ou por alguém ligado a nós. Enquanto chora, soluça e escreve, Jeremias é levado a compreender que, em seu caso específico, o sofrimento que tanto ele como o seu povo estavam passando tinha como causa os seus próprios pecados. O povo de Jeremias lamentou-se diante de Deus dizendo:

"O Senhor é justo, mas eu me rebelei contra a sua ordem. Ouçam, todos os povos; olhem para o meu sofrimento. Meus jovens e minhas moças foram para o exílio. Chamei os meus aliados, mas eles me traíram. Meus sacerdotes e meus líderes pereceram na cidade, enquanto procuravam comida para poderem sobreviver. Veja, Senhor, como estou angustiada! Estou atormentada no íntimo, e no meu coração me perturbo pois tenho sido muito rebelde. Lá fora, a espada a todos consome; dentro impera a morte. Os meus lamentos têm sido ouvidos, mas não há ninguém que me console. Todos os meus inimigos sabem da minha agonia; eles se alegram com o que fizeste. Quem dera trouxesses o dia que anunciaste para que eles ficassem como eu. Que toda a maldade deles seja conhecida diante de ti; faze com eles o que fizeste comigo por causa de todos os meus pecados. Os meus gemidos são muitos e o meu coração desfalece." Lamentações 1.18-22. Já no capítulo 3.39-40, Jeremias escreve a sua queixa dizendo: “Como pode um homem reclamar quando é punido por seus pecados? Examinemos e submetamos à prova os nossos caminhos, e depois voltemos ao Senhor.

Em tudo isso parece haver uma contradição. O lamento, a queixa, a reclamação feita a Deus por muitas vezes deveria ser feita a mim mesmo? E em sendo assim, não é errado então eu reclamar à Deus? Não. Enquanto lamentamos diante de Deus, ele nos mostrará nossos erros se o tivermos cometido. Daí, eu e você poderemos aprender com os nossos erros. Por vezes até desejosos de acertar, acabamos por optar por situações que certamente nos causará muita dor. No lamento sou lembrado de que não vale a pena desviar dos princípios seguros da vida cristã estabelecidos por Deus carinhosamente para minha felicidade. Por isso, não fixe os olhos apenas na dor, mas procure identificar a causa dela. Admita seus erros quando identificá-los e arrependa-se. Mas o que fazer quando a causa de meu sofrimento for causas naturais ou provações? Em todos os casos você precisará fazer algo mais com o seu lamento – renovar sua esperança no Senhor.

Enquanto Jeremias chorava a situação de seu povo e a sua dor, ele percebeu que a sua memória só trazia coisas negativas e ruins para pensar. Quanto mais lamentava a situação, parecia que pior ficava. A Bíblia diz-nos que um abismo chama outro abismo, e quando estamos passando pelo sofrimento, isso se torna uma verdade incontestada.

Lamentar por lamentar pode ser perigoso. É preciso passar por todo o processo – Contar a Deus a nossa versão, aprender com os nossos erros e nunca esquecer do último passo que é renovar a esperança na intervenção e cuidado divino. Jeremias fez isso. No capítulo 3.21-31 ele diz: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade! Digo a mim mesmo: A minha porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança. O Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam; é bom esperar tranqüilo pela salvação do Senhor. É bom que o homem suporte o jugo enquanto é jovem. Leve-o sozinho e em silêncio, porque o Senhor o pôs sobre ele. Ponha o seu rosto no pó; talvez ainda haja esperança. Ofereça o rosto a quem o quer ferir, e engula a desonra. Porque o Senhor não o desprezará para sempre. Embora ele traga tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor infalível.

Lembrar de quantas vezes Deus esteve cuidando de você em outras situações fortalecerá a sua esperança. Jeremias percebeu que mesmo em meio ao sofrimento, o cuidado de Deus pode ser visto. Durante todo o tempo do cativeiro Deus não deixou de enviar os seus profetas. A palavra amiga, o pão dividido, o choro sincero de um parente, a mão estendida, certamente são manifestações desse cuidado divino para com a sua vida quando chega o sofrimento. Todavia, nada melhor do que recordar o cuidado de Deus em tempos passados para ter a esperança renovada.

George Muller, um grande homem de Deus, tinha o costume de anotar suas orações num caderno. Quando ele passava por um momento difícil, recorria ao seu caderno e assim ele se trazia à memória que Deus nunca o abandonara. Dessa forma sua esperança era renovada em meio ao sofrimento e a dificuldade. Ao morrer, o caderno deste grande homem já contava com mais de cinco mil orações respondidas. O sofrimento tem o poder de apagar de nossa memória as muitas vezes em que Deus agiu a nosso favor. Manter um caderno com registro de nossas orações nos ajudará a ter sempre diante dos olhos a verdade dita por Jeremias: “as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade!”.

Ainda que, por um motivo que foge da nossa compreensão, o sofrimento nos acompanhar até o fim de nossos dias, lembre-se que ele está com seus dias contados. A Palavra de Deus nos garante que Deus tem preparado para seus filhos uma vida completamente isenta de dor, sofrimento, necessidades e morte. Essa nova vida será uma realidade na eternidade. Quando encontrarmos com o Senhor na eternidade a Bíblia diz que “O Soberano Senhor enxugará as lágrimas de todo o rosto e retirará de toda a terra a zombaria do seu povo. Foi o Senhor quem disse!” Isaías 25.8.

Você já se comprometeu com Cristo assegurando assim a vida eterna? Como pecadores, não temos condições para livrarmos do sofrimento eterno. Exatamente por isso Cristo pagou a dívida de nossos pecados e oferece essa vida sem sofrimento para todos aqueles que se aproximarem dele, confessando sua incapacidade e comprometendo-se com ele, fazendo uma aliança de viver com ele e para ele todos os dias. Tomara que você aceite essa proposta.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Perguntas atrevidas

A reação das pessoas quando sofrem é curiosa. Algumas se fecham e curte a sua dor. Outros extravasam em lágrimas e se apóiam nos amigos e parentes. Mas existem aqueles que se revolta contra Deus e fazem perguntas sérias, mas atrevidas. Talvez eu esteja falando para todos estes tipos de pessoas nesta noite.

Alguém já disse que o sofrimento humano é a maior prova de fé que um cristão possa enfrentar. Sei que muitos de nós não fazemos idéia do que é permanecer confiantes em Deus em meio ao sofrimento. A Bíblia narra, com poucas palavras em Hebreus 11, o capítulo dos heróis da fé, a história de homens e mulheres que em meio ao sofrimento e morte não abriram mão de servir a Deus. Todavia, eles sequer tem seus nomes escritos no livro sagrado, por Deus entender que o mundo não era digno de sequer ouvir seus nomes. Todavia, o sofrimento a que eles enfrentaram como verdadeiros heróis, não nos impede de fazer as mesmas perguntas atrevidas, a respeito do cuidado de Deus, que muitos tem feito desde que o sofrimento passou a ser uma realidade indesejada na experiência humana. Mas, antes de falar sobre tais perguntas, vejamos uma cena do filme Quo Vadis que trata da experiência dos cristãos “sem nomes” de Hebreus 11.




É quase inevitável perguntar: Sendo Deus um Deus de amor e que se apresenta como um Deus protetor de seus filhos, por que Deus não age com justiça, punindo as pessoas más com rigidez? Essa certamente não é uma pergunta fácil de responder. Para alguns pode até soar uma ofensa fazer tal pergunta por entenderem que ela reflete uma desconfiança em relação ao caráter de Deus. Todavia, mais dias ou menos dias, acabamos identificando-a em nossa mente quando enfrentamos momentos difíceis.

Vamos considerar essa pergunta. E se de fato Deus resolvesse tratar as pessoas más com a sua justiça infalível com mão de ferro? Será que isso resolveria os nossos problemas relacionados ao sofrimento causado por pessoas ruins? Creio que não. Primeiro porque nesse caso, quem escaparia da espada de Deus? Sabemos que todos nós, em algum momento, somos os causadores de sofrimento na vida de alguém. Sendo assim, todos nós estaríamos condenados, sem nenhuma chance.

Em segundo lugar, olhando para a Bíblia, Deus de certa maneira já fez isso. Quando? Quando entregou ao povo de Israel Leis rígidas para serem cumpridas. Por exemplo, havia uma Lei que condenava à morte por apedrejamento em praça pública o adúltero, o feiticeiro e o filho rebelde. Outra Lei estabelecia que se alguém furtasse, deveria ter sua mão amputada além de devolver o que furtou. Se matasse, deveria morrer. Olho por olho e dente por dente. Mas, o que podemos facilmente perceber é que nem o rigor das Leis dadas a Israel serviram para neutralizar o sofrimento. Quando olhamos para a história de Israel percebemos o quanto aquele povo sofreu por desobediência. Israel continuou testemunhando inúmeros casos de pessoas descumprindo as Leis mesmo sabendo que morreriam por causa de seus atos.

Desta forma posso dizer que a Lei, ou a aplicação da justiça com rigidez não transforma uma pessoa má em uma pessoa boa. Deus já fez isso e não resolveu a situação. Não é por haver punição que o ser humano deixará de praticar a violência. O fato é que diariamente fazemos escolhas sem considerar as conseqüências. Todavia, não se engane pensando que Deus inocentará a pessoa má. A Bíblia diz-nos que “O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder e jamais inocenta o culpado;” (Naum 1.3).

Esse texto nos causa um problema. Se Deus jamais inocenta o culpado, então qual é a nossa chance de escapar da justiça divina? Deus realmente não apaga a nossa dívida de pecados gratuitamente. Exatamente por isso, em seu imenso amor, ele enviou o seu único Filho para viver entre nós, e depois de ter sido tentado em tudo e não ter pecado, derramou o seu sangue na cruz para que através desse sacrifício nossa dívida pudesse ser perdoada. Sabe o que isso significa? Significa que toda pessoa que entender isso e se comprometer em viver para e com Jesus, terá a sua dívida quitada diante de Deus. Todavia, o perdão que nos é oferecido gratuitamente, para Jesus custou o seu próprio sangue.

Ele havia servido a Deus por muitos anos. Sr. Benaías era um excelente diácono e trabalhava com dedicação. Num certo dia ele sofreu um derrame cerebral. Por um período de mais ou menos seis meses vegetou em cima de uma cama. Era horrível vê-lo naquela situação. A Igreja se uniu em interceder continuamente a Deus pela sua cura. Mas, a resposta como queríamos não veio. Sr. Benaías faleceu sem poder se despedir. Casos como esse nos leva a fazer uma outra pergunta atrevida sobre o cuidado de Deus: Por que Deus se esconde na hora do sofrimento? Por que ele se cala na hora em que mais precisamos dele?

Voltei meus olhos para a Palavra de Deus buscando resposta para essa pergunta intrigante, mesmo sabendo que, na hora do sofrimento não existe nenhum argumento que satisfaça o nosso coração. Todavia encontrei algo que me surpreendeu. Quando Jesus viveu entre nós como homem, ele curou muita gente, todavia ele não curou a todos. Parece-me que sua prioridade não era curar as pessoas de suas enfermidades físicas. Ele estava muito mais preocupado com a saúde espiritual porque sabia que apenas essa poderia livrar alguém da condenação eterna. Sendo assim, entendi que, em alguns casos, por um propósito maior, Deus interfere curando algumas pessoas. Mas na maioria dos casos Deus age, levantando pessoas, situações e recursos para amenizar ou mesmo tratar de nossa dor.

Em Mateus 25 Jesus fala sobre o juízo final, quando todos estarão diante do Trono de Deus para prestar contas de si mesmo a Deus. Naquela ocasião ele disse que haverá pessoas que serão recebidas no céu porque deram de comer a ele quando sentiu fome. Essas pessoas lhe ofereceram água quando ele sentiu sede. O visitaram quando esteve preso. Cuidaram dele quando esteve doente e até lhe deram roupas quando estava nu. Ao ouvir isso, tais pessoas dirão ao Senhor: “Mas, quando foi que fizemos isso? Não nos lembramos de que fizemos isso! Então “O Rei responderá: Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.” (Mateus 25.40).

Aprendi que aquele abraço amigo que recebi das pessoas quando chorava pela morte de minha mãe, foi o abraço de Deus dado através das pessoas que me cercavam. Aquele remédio e cuidado médico, foi mais uma demonstração do cuidado de Deus sobre a minha vida. O choro doloroso daquele amigo num momento de dor, era o cuidado de Deus sobre a minha vida. A maior lição nisso tudo é que o cuidado e a presença de Deus é manifestada na vida das pessoas que nos cercam através de nós.

Mauro se tornou um dos meus melhores amigos. Estávamos sempre juntos e nossas famílias parecia ser uma só. Numa manhã, como de costume, ele saiu a andar de bicicleta com um amigo quando foi atingido por um carro, conduzido por um motorista irresponsável, e ficou em coma por muitos dias no hospital. Ao visitá-lo, não o reconheci. O impacto do acidente realmente fora muito forte, o que acabou tirando-lhe a vida pouco tempo depois. Em seu funeral, sentindo uma dor terrível no peito, foi inevitável fazer mais uma pergunta atrevida sobre o cuidado de Deus. Sendo o Mauro um filho de Deus, homem jovem, honesto trabalhador, pai de família com filhos pequenos para educar e cuidar, por que Deus não o impediu de sair de casa naquele dia o que o pouparia de sofrer e de causar o sofrimento?

Não existe um lugar melhor para buscar respostas divinas do que na Palavra de Deus. Ainda que nem sempre suas respostas nos tragam conforto. Mas, lá estava eu de novo buscando alguma luz sobre minha pergunta atrevida. Descobri algo que inicialmente aumentou ainda mais minha decepção, mas com o tempo, oração e estudo da Bíblia me levaram a entender melhor. O que descobri foi que apesar de ser Todo-Poderoso, Deus escolheu não fazer uso da força para obter a obediência. Ele nos fez livres para escolher entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Calma, eu explico.

Quando Deus fez o ser humano, ele o fez livre para escolher entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Todavia, ele, o ser humano, seria responsável por todas as suas decisões e escolhas. De certa forma, Deus também acabou optando por não interferir nas escolhas de suas criaturas. Isso aconteceu com Caim. Quando ele e seu irmão Abel ofereceram um sacrifício ao Senhor, Abel fez conforme Deus havia ensinado, ofereceu um cordeiro num altar de pedras. Já Caim, quis fazer diferente. Ofereceu frutas, mas ficou chateado ao perceber que Deus não aceitara sua oferta, porque não fizera de acordo com as instruções recebidas. Enquanto ponderava sobre essas coisas, Caim começou a desejar a morte de seu irmão. Nessa situação, Deus fala com Caim e lhe diz: Caim, “Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo". (Gênesis 4.7).

Mesmo ciente de que Caim estava disposto a matar Abel, Deus não o impediu de fazê-lo. Ainda que nos soe estranho, mas Deus fez Caim livre para escolher entre o bem e o mal, e não iria interferir em suas escolhas, pelo contrário, Deus o adverte dizendo que a ele cabe dominar o seu desejo. Mas e Abel? Ele não gozava do prazer e aprovação de Deus? Claro que sim. Todavia, mesmo com sua morte, ele foi beneficiado. Como? Bem, ele partiu para uma nova realidade de vida, infinitamente melhor, no céu, com Deus. Eu sei que isso é difícil de aceitar e entender, mas não tenha pressa. Considere isso através da oração e do estudo da Palavra de Deus.

A morte de Abel não foi impedida por Deus, assim como a morte do meu amigo Mauro. Todavia, Deus não inocentou Caim. Assim também, todas as pessoas que promovem o sofrimento de outros através de escolhas e decisões infelizes, também darão contas a Deus. E ainda que elas se voltem para Deus e sejam perdoadas por ele, isso não garante que estarão livres das conseqüências de seus atos. Como assim? Bem, um homem pode optar por matar outro e ainda assim, mediante um arrependimento sincero, ser perdoado por Deus, mas mesmo perdoado por Deus, ele terá que responder pelo seu ato na justiça do nosso país. Deus poderá perdoá-lo, mas certamente não o livrará de pagar a sua pena na prisão.

Mas, quero dar ênfase aqui, sobre a proposta de Deus para a vida de pessoas como Abel e Mauro. O sacrifício de Jesus nos dá a oportunidade de participar de uma nova ordem, de um novo mundo, onde a tristeza, morte, violência e qualquer expressão de sofrimento não existe. Estou falando do céu, da eternidade ao lado de Deus. Por melhor que seja sua vida aqui, é provável que daqui a uns 100 anos, ninguém mais se lembre de você. Por melhor que seja a sua vida aqui, ela não chega nem perto da vida que teremos com o Senhor na eternidade. Lá, a vida não terá fim, e a alegria, paz e satisfação nunca mais terão interrupções. Deus está renovando todas as coisas, e quando Cristo voltar, ele pessoalmente enxugará de nossos olhos todas as lágrimas. Veremos Abel, Mauro e todos aqueles que se comprometeram com o Senhor e viveremos com eles para sempre. Glória a Deus! Podemos unir nossas vozes com o discípulo amado quando disse “Ora vem Senhor Jesus”? Espero que sim.

domingo, 3 de outubro de 2010

A origem do sofrimento

Estávamos curtindo nossas férias no interior de Minas Gerais quando conhecemos nossa grande amiga Nazaré. Inicialmente nossa relação se mostrava muito amigável, pelo menos até ela descobrir que eu era pastor. Daquele momento em diante, Nazaré mudou sua maneira de agir. Deixou de brincar, sorrir e conversar diretamente comigo. Mas, quando percebia que eu estava por perto falava de sua decepção com Deus. “Deus é egoísta”, dizia ela. “Como pode exigir que as pessoas andem certinhas se ele mesmo faz com que crianças inocentes nasçam com síndrome de down?”

Sua observações continuaram até que eu não tive mais saída. Como me mantinha calado, ela virou-se para mim e perguntou: “Pastor, se Deus é bom, por que as pessoas sofrem?”. Nossa conversa se estendeu e depois de algum tempo descobri que na verdade Nazaré fora educada com a idéia de que Deus só nos aceita se fizermos por merecer. Quando lhe falei que Deus a amava e a aceitava como ela era, Nazaré não resistiu e disse: “Então, se é assim, eu quero me relacionar com esse Deus”. Foi maravilhoso.

Mas, aquela pergunta continuou me incomodando. “Se Deus é bom, por que as pessoas sofrem?”. As religiões têm buscado de alguma maneira responder essa questão. Todavia, sem sucesso. Alguns dizem que o sofrimento é o castigo de Deus sobre a vida daqueles que erram. Tal pensamento, além de ser contrário à Palavra de Deus, sugere um relacionamento de medo e não de amor entre o ser humano e Deus. Outros defendem que o sofrimento é pura casualidade. Independente do que faço o sofrimento é inevitável. Esse ensino também não é bíblico. Então, qual é o ensino bíblico sobre o sofrimento? É possível evitá-lo? Vamos juntos buscar estas respostas durante este mês. Hoje buscaremos entender qual é a origem do sofrimento olhando para os primeiros capítulos de Gênesis.

Quando Deus criou o mundo e tudo o que existe nele em seis dias, a Bíblia nos informa que “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom...” (Gn 1.31). No plano original de Deus para a vida na terra não incluía o sofrimento. O homem e sua mulher viviam em perfeita harmonia entre eles, com a natureza e principalmente com Deus. Tudo estava perfeitamente bem. A origem do sofrimento não pode ser atribuída de forma alguma a Deus. Ele nunca planejou isso.

Após criar o homem e a mulher, Deus os colocou no Jardim do Éden. Ali eles tinham tudo em abundância para viverem bem. Todo fim de tarde Deus os visitava para uma conversa amiga. Eles foram criados livres para fazer o que desejassem. Para estabelecer uma relação amorosa e de respeito entre Deus e os nossos primeiros pais, uma única regra foi estabelecida, ou seja, não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal que estava no meio do jardim. O cumprimento desta regra significava que Adão e Eva respeitavam e amavam a Deus. A quebra da mesma significava que eles desejavam viver sem nenhuma conexão com Deus, o que causaria muita dor e sofrimento. Isso por uma razão simples. Deus os criou para se relacionar com ele. Só assim poderiam ter uma vida feliz.

Mas, o que foi que aconteceu? Gênesis 2 nos conta: “Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?”. Respondeu a mulher à serpente: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’ ”. Disse a serpente à mulher: “Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal”. Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se.”

Como podemos perceber, nossos primeiros pais não resistiram à tentação e caíram nas mentiras de satanás. Lúcifer usou algumas estratégias para enganar Eva: Primeiro ele distorce a Palavra de Deus dizendo “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?”; em seguida ele lança dúvidas quanto ao caráter de Deus: “Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal”; E por último ele procurar despertar o desejo de Eva para com o fruto e com o ser igual a Deus: “Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também.”. Daí em diante o sofrimento entrou na história da humanidade trazendo desconforto muito além do que Adão e Eva puderam imaginar.

Por não resistirem a tentação, Adão e Eva abriram as portas para o sofrimento na existência humana. Mas as conseqüências não atingiram apenas o ser humano, tomou proporções muito maiores. Com a quebra da única regra que estabelecia o respeito e a relação amorosa com Deus, o sofrimento alcançou toda a obra da criação, que até então era “muito boa”. Ao comer do fruto da árvore da vida, Adão e Eva estavam optando por quebrar o relacionamento com Deus, o que tornou a causa de muito sofrimento. (Gn 3:1-7)

De imediato, a desobediência trouxe consigo a vergonha e o medo. Pela primeira vez eles sentem vergonha de estarem nus e procuram se cobrir com folhas de figueira. Quando mais tarde ouvem a voz do Senhor, correm e se escondem, experimentando assim pela primeira vez o medo. Mas o desequilíbrio foi mais além: Os animais foram penalizados na figura da serpente (vs. 14, 15), a dor torna-se uma experiência natural (vs. 16), o trabalho deixa de ser algo apenas prazeroso (vs. 17 e 19) e a natureza sofre alterações gigantescas e a partir de então as tempestades, terremotos, vulcões, seca, enchentes se tornam uma realidade. (vs. 18).

Como podemos perceber, a desobediência tem um preço muito alto. Mas, o pior de todos é certamente o fato de que o ser humano estava agora desconectado de Deus e dessa forma as coisas só pioram a cada dia. A violência entra em cena, a morte torna-se uma realidade, e o sofrimento nas suas mais variadas formas se estabelece em toda a criação. Trágico!

Diante desta realidade desastrosa em que a criação se tornou, pelo seu imenso amor e cuidado Deus tomou a iniciativa de reparar todas as coisas. Primeiramente, ele matou um animal e com a sua pele fez roupas para Adão e Eva. Aqui já estava o princípio de que o pecado produz morte. Para vestir Adão e Eva, animais precisaram morrer (vs. 21).

Em seguida, Deus poupa o ser humano de viver para sempre envolvido no sofrimento tirando Adão e Eva do jardim. Se eles permanecessem ali poderiam comer do fruto da árvore da vida e dessa forma estariam condenados a viver em meio a dor num mundo em total desequilíbrio para sempre. (vs. 22-24).

O cuidado de Deus, ao longo dos anos tem se mostrado presente. Alguns anos depois de Adão e Eva, Deus nos deu a sua Palavra escrita. Além de nos mostrar o plano de Deus quanto a restauração da ordem de todas as coisas, ela nos serve para nos ensinar como viver bem e evitarmos a muito do sofrimento que enfrentamos. A prática da Palavra de Deus além de conter a maldade, também reduz em muito o sofrimento humano.

Outro cuidado de Deus para com os que sofrem são exatamente a presença de seus filhos no mundo. A Bíblia nos ensina a levar o fardo uns dos outros e isso faz toda diferença quando estamos passando por qualquer tipo de sofrimento. Podemos orar, chorar e servir de apoio uns para com os outros.

Mas, o maior cuidado tomado por Deus para reverter toda essa situação foi exatamente oferecer seu único Filho Jesus. Ao falar com Adão e Eva sobre as conseqüências de seu erro, Deus fez uma promessa: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar".(Gn 3.15). Dessa forma Jesus veio ao mundo, ensinou como devemos viver e morreu numa cruz, derramando seu sangue inocente porque essa era a única maneira de termos os nossos pecados perdoados. Quando nos comprometemos com ele, quando entregamos nossas vidas a ele e nos comprometemos com a sua Palavra, estamos aceitando participar da nova ordem que Deus trará para os seus filhos. Um novo mundo em equilíbrio, onde a dor e o sofrimento não terão espaços. Onde poderemos nos relacionar com Deus como no princípio. Veja o que Deus revelou ao discípulo amado:

“Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia. Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: "Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou". Aquele que estava assentado no trono disse: "Estou fazendo novas todas as coisas!" E acrescentou: "Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e dignas de confiança". Disse-me ainda: "Está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem tiver sede, darei de beber gratuitamente da fonte da água da vida. O vencedor herdará tudo isto, e eu serei seu Deus e ele será meu filho.” Apocalipse 21.1-7

Você gostaria de participar dessa nova realidade? Então entregue-se ao Senhor Jesus, confie nele, viva com ele e para ele. Que Deus nos abençoe.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sofrimento

Ele estava voltando para casa, depois de um dia longo de trabalho, quando tropeçou e machucou o dedão do pé. Aquela pequena ferida cresceu, o que lhe obrigou a amputar todo o seu pé direito. Mas, não parou por aí. A cirurgia não cicatrizou e pouco tempo depois teve que amputar parte da perna até a altura do joelho. Como se não bastasse, uma ferida surgiu no dedão do pé esquerdo e o processo foi idêntico ao que aconteceu com o pé direito.

Não poucas vezes em que o visitei, pedia a Deus palavras de conforto para o Sr. Israel. Homem bom e simples, que servira a Deus por toda a sua vida. Por muitas vezes me pegava pensando como é que Deus permitia tamanho sofrimento para um homem como aquele, todavia continuava sem respostas. Ao visitá-lo, nunca ouvi de seus lábios qualquer queixa ou amargura em relação ao acontecido. Pelo contrário, ele sempre nos fortalecia e encorajava a continuar firme seguindo ao Senhor. Dias depois de amputar a segunda perna, uma ferida surgiu em seu olho direito, o que lhe ceifou a vida.

Depois de quase vinte anos de ministério eu posso afirmar que o sofrimento humano é a maior e mais difícil prova para a fé de qualquer cristão. Conheci pessoas que enfrentaram o sofrimento com garra, coragem e muita fé, como o Sr. Israel. Outras, nem tanto. Algumas não conseguiram passar por essa prova e me deixaram a impressão que a dor que sentiram era forte demais para crer em Deus. Como pastor, tenho encontrado inúmeros casos de pessoas que sofrem. Seja por causa de uma doença, ou por perdas irreparáveis, ou por relacionamentos desajustados, ou por uma grande decepção, ou... ou... ou... sem fim.

Tais experiências me levaram a buscar na Palavra de Deus, de maneira mais objetiva possível, respostas para o sofrimento humano, apesar de saber que na hora em que a dor invade nossas vidas não existem palavras que possam satisfazer nossa razão. Ainda assim, desejo compartilhar com você o que descobri, na Palavra de Deus, sobre o sofrimento. Sua causa e algumas razões pelas quais Deus permite que até seus amados filhos enfrentem a dor. Quer ouvir o que descobri? Então não deixe de ler as mensagens abaixo.

Pr. Ronaldo

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Mensagens:

03/10/2010 – A origem do sofrimento
10/10/2010 – Perguntas atrevidas
17/10/2010 – O lamento
24/10/2010 – Mais forte do que a dor