sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Perguntas atrevidas

A reação das pessoas quando sofrem é curiosa. Algumas se fecham e curte a sua dor. Outros extravasam em lágrimas e se apóiam nos amigos e parentes. Mas existem aqueles que se revolta contra Deus e fazem perguntas sérias, mas atrevidas. Talvez eu esteja falando para todos estes tipos de pessoas nesta noite.

Alguém já disse que o sofrimento humano é a maior prova de fé que um cristão possa enfrentar. Sei que muitos de nós não fazemos idéia do que é permanecer confiantes em Deus em meio ao sofrimento. A Bíblia narra, com poucas palavras em Hebreus 11, o capítulo dos heróis da fé, a história de homens e mulheres que em meio ao sofrimento e morte não abriram mão de servir a Deus. Todavia, eles sequer tem seus nomes escritos no livro sagrado, por Deus entender que o mundo não era digno de sequer ouvir seus nomes. Todavia, o sofrimento a que eles enfrentaram como verdadeiros heróis, não nos impede de fazer as mesmas perguntas atrevidas, a respeito do cuidado de Deus, que muitos tem feito desde que o sofrimento passou a ser uma realidade indesejada na experiência humana. Mas, antes de falar sobre tais perguntas, vejamos uma cena do filme Quo Vadis que trata da experiência dos cristãos “sem nomes” de Hebreus 11.




É quase inevitável perguntar: Sendo Deus um Deus de amor e que se apresenta como um Deus protetor de seus filhos, por que Deus não age com justiça, punindo as pessoas más com rigidez? Essa certamente não é uma pergunta fácil de responder. Para alguns pode até soar uma ofensa fazer tal pergunta por entenderem que ela reflete uma desconfiança em relação ao caráter de Deus. Todavia, mais dias ou menos dias, acabamos identificando-a em nossa mente quando enfrentamos momentos difíceis.

Vamos considerar essa pergunta. E se de fato Deus resolvesse tratar as pessoas más com a sua justiça infalível com mão de ferro? Será que isso resolveria os nossos problemas relacionados ao sofrimento causado por pessoas ruins? Creio que não. Primeiro porque nesse caso, quem escaparia da espada de Deus? Sabemos que todos nós, em algum momento, somos os causadores de sofrimento na vida de alguém. Sendo assim, todos nós estaríamos condenados, sem nenhuma chance.

Em segundo lugar, olhando para a Bíblia, Deus de certa maneira já fez isso. Quando? Quando entregou ao povo de Israel Leis rígidas para serem cumpridas. Por exemplo, havia uma Lei que condenava à morte por apedrejamento em praça pública o adúltero, o feiticeiro e o filho rebelde. Outra Lei estabelecia que se alguém furtasse, deveria ter sua mão amputada além de devolver o que furtou. Se matasse, deveria morrer. Olho por olho e dente por dente. Mas, o que podemos facilmente perceber é que nem o rigor das Leis dadas a Israel serviram para neutralizar o sofrimento. Quando olhamos para a história de Israel percebemos o quanto aquele povo sofreu por desobediência. Israel continuou testemunhando inúmeros casos de pessoas descumprindo as Leis mesmo sabendo que morreriam por causa de seus atos.

Desta forma posso dizer que a Lei, ou a aplicação da justiça com rigidez não transforma uma pessoa má em uma pessoa boa. Deus já fez isso e não resolveu a situação. Não é por haver punição que o ser humano deixará de praticar a violência. O fato é que diariamente fazemos escolhas sem considerar as conseqüências. Todavia, não se engane pensando que Deus inocentará a pessoa má. A Bíblia diz-nos que “O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder e jamais inocenta o culpado;” (Naum 1.3).

Esse texto nos causa um problema. Se Deus jamais inocenta o culpado, então qual é a nossa chance de escapar da justiça divina? Deus realmente não apaga a nossa dívida de pecados gratuitamente. Exatamente por isso, em seu imenso amor, ele enviou o seu único Filho para viver entre nós, e depois de ter sido tentado em tudo e não ter pecado, derramou o seu sangue na cruz para que através desse sacrifício nossa dívida pudesse ser perdoada. Sabe o que isso significa? Significa que toda pessoa que entender isso e se comprometer em viver para e com Jesus, terá a sua dívida quitada diante de Deus. Todavia, o perdão que nos é oferecido gratuitamente, para Jesus custou o seu próprio sangue.

Ele havia servido a Deus por muitos anos. Sr. Benaías era um excelente diácono e trabalhava com dedicação. Num certo dia ele sofreu um derrame cerebral. Por um período de mais ou menos seis meses vegetou em cima de uma cama. Era horrível vê-lo naquela situação. A Igreja se uniu em interceder continuamente a Deus pela sua cura. Mas, a resposta como queríamos não veio. Sr. Benaías faleceu sem poder se despedir. Casos como esse nos leva a fazer uma outra pergunta atrevida sobre o cuidado de Deus: Por que Deus se esconde na hora do sofrimento? Por que ele se cala na hora em que mais precisamos dele?

Voltei meus olhos para a Palavra de Deus buscando resposta para essa pergunta intrigante, mesmo sabendo que, na hora do sofrimento não existe nenhum argumento que satisfaça o nosso coração. Todavia encontrei algo que me surpreendeu. Quando Jesus viveu entre nós como homem, ele curou muita gente, todavia ele não curou a todos. Parece-me que sua prioridade não era curar as pessoas de suas enfermidades físicas. Ele estava muito mais preocupado com a saúde espiritual porque sabia que apenas essa poderia livrar alguém da condenação eterna. Sendo assim, entendi que, em alguns casos, por um propósito maior, Deus interfere curando algumas pessoas. Mas na maioria dos casos Deus age, levantando pessoas, situações e recursos para amenizar ou mesmo tratar de nossa dor.

Em Mateus 25 Jesus fala sobre o juízo final, quando todos estarão diante do Trono de Deus para prestar contas de si mesmo a Deus. Naquela ocasião ele disse que haverá pessoas que serão recebidas no céu porque deram de comer a ele quando sentiu fome. Essas pessoas lhe ofereceram água quando ele sentiu sede. O visitaram quando esteve preso. Cuidaram dele quando esteve doente e até lhe deram roupas quando estava nu. Ao ouvir isso, tais pessoas dirão ao Senhor: “Mas, quando foi que fizemos isso? Não nos lembramos de que fizemos isso! Então “O Rei responderá: Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.” (Mateus 25.40).

Aprendi que aquele abraço amigo que recebi das pessoas quando chorava pela morte de minha mãe, foi o abraço de Deus dado através das pessoas que me cercavam. Aquele remédio e cuidado médico, foi mais uma demonstração do cuidado de Deus sobre a minha vida. O choro doloroso daquele amigo num momento de dor, era o cuidado de Deus sobre a minha vida. A maior lição nisso tudo é que o cuidado e a presença de Deus é manifestada na vida das pessoas que nos cercam através de nós.

Mauro se tornou um dos meus melhores amigos. Estávamos sempre juntos e nossas famílias parecia ser uma só. Numa manhã, como de costume, ele saiu a andar de bicicleta com um amigo quando foi atingido por um carro, conduzido por um motorista irresponsável, e ficou em coma por muitos dias no hospital. Ao visitá-lo, não o reconheci. O impacto do acidente realmente fora muito forte, o que acabou tirando-lhe a vida pouco tempo depois. Em seu funeral, sentindo uma dor terrível no peito, foi inevitável fazer mais uma pergunta atrevida sobre o cuidado de Deus. Sendo o Mauro um filho de Deus, homem jovem, honesto trabalhador, pai de família com filhos pequenos para educar e cuidar, por que Deus não o impediu de sair de casa naquele dia o que o pouparia de sofrer e de causar o sofrimento?

Não existe um lugar melhor para buscar respostas divinas do que na Palavra de Deus. Ainda que nem sempre suas respostas nos tragam conforto. Mas, lá estava eu de novo buscando alguma luz sobre minha pergunta atrevida. Descobri algo que inicialmente aumentou ainda mais minha decepção, mas com o tempo, oração e estudo da Bíblia me levaram a entender melhor. O que descobri foi que apesar de ser Todo-Poderoso, Deus escolheu não fazer uso da força para obter a obediência. Ele nos fez livres para escolher entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Calma, eu explico.

Quando Deus fez o ser humano, ele o fez livre para escolher entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Todavia, ele, o ser humano, seria responsável por todas as suas decisões e escolhas. De certa forma, Deus também acabou optando por não interferir nas escolhas de suas criaturas. Isso aconteceu com Caim. Quando ele e seu irmão Abel ofereceram um sacrifício ao Senhor, Abel fez conforme Deus havia ensinado, ofereceu um cordeiro num altar de pedras. Já Caim, quis fazer diferente. Ofereceu frutas, mas ficou chateado ao perceber que Deus não aceitara sua oferta, porque não fizera de acordo com as instruções recebidas. Enquanto ponderava sobre essas coisas, Caim começou a desejar a morte de seu irmão. Nessa situação, Deus fala com Caim e lhe diz: Caim, “Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo". (Gênesis 4.7).

Mesmo ciente de que Caim estava disposto a matar Abel, Deus não o impediu de fazê-lo. Ainda que nos soe estranho, mas Deus fez Caim livre para escolher entre o bem e o mal, e não iria interferir em suas escolhas, pelo contrário, Deus o adverte dizendo que a ele cabe dominar o seu desejo. Mas e Abel? Ele não gozava do prazer e aprovação de Deus? Claro que sim. Todavia, mesmo com sua morte, ele foi beneficiado. Como? Bem, ele partiu para uma nova realidade de vida, infinitamente melhor, no céu, com Deus. Eu sei que isso é difícil de aceitar e entender, mas não tenha pressa. Considere isso através da oração e do estudo da Palavra de Deus.

A morte de Abel não foi impedida por Deus, assim como a morte do meu amigo Mauro. Todavia, Deus não inocentou Caim. Assim também, todas as pessoas que promovem o sofrimento de outros através de escolhas e decisões infelizes, também darão contas a Deus. E ainda que elas se voltem para Deus e sejam perdoadas por ele, isso não garante que estarão livres das conseqüências de seus atos. Como assim? Bem, um homem pode optar por matar outro e ainda assim, mediante um arrependimento sincero, ser perdoado por Deus, mas mesmo perdoado por Deus, ele terá que responder pelo seu ato na justiça do nosso país. Deus poderá perdoá-lo, mas certamente não o livrará de pagar a sua pena na prisão.

Mas, quero dar ênfase aqui, sobre a proposta de Deus para a vida de pessoas como Abel e Mauro. O sacrifício de Jesus nos dá a oportunidade de participar de uma nova ordem, de um novo mundo, onde a tristeza, morte, violência e qualquer expressão de sofrimento não existe. Estou falando do céu, da eternidade ao lado de Deus. Por melhor que seja sua vida aqui, é provável que daqui a uns 100 anos, ninguém mais se lembre de você. Por melhor que seja a sua vida aqui, ela não chega nem perto da vida que teremos com o Senhor na eternidade. Lá, a vida não terá fim, e a alegria, paz e satisfação nunca mais terão interrupções. Deus está renovando todas as coisas, e quando Cristo voltar, ele pessoalmente enxugará de nossos olhos todas as lágrimas. Veremos Abel, Mauro e todos aqueles que se comprometeram com o Senhor e viveremos com eles para sempre. Glória a Deus! Podemos unir nossas vozes com o discípulo amado quando disse “Ora vem Senhor Jesus”? Espero que sim.

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