domingo, 28 de junho de 2009

A cura de lembranças dolorosas


Meu desejo com esta mensagem é que ela seja um intervalo abençoado entre o passado e o futuro de sua vida. Ouvindo os depoimentos das pessoas, suas esperanças e mágoas, estou convicto de que muitos precisam curar suas recordações. Tratar de experiências dolorosas é algo muito complexo e complicado porque em relação ao passado nós não podemos mudar os fatos. Todavia, se não experimentarmos a cura destas experiências, teremos grandes chances de repeti-las. Sem a cicatrização das lembranças dolorosas, nada aprenderemos do passado. Uma vez que não podemos mudar o passado, podemos olhar para ele como lição de vida e desta maneira buscarmos viver melhor.

Mas isso nunca será fácil. Somente com a intervenção do Deus do impossível é que poderemos reconhecer o que aconteceu e em seguida renunciá-lo. Somos tentados a lidar com o passado usando maneiras impróprias. O remorso é uma delas. Muitos de nós o sentimos. Fazemos um retrospecto de nossas ações ou omissões, e a dor oculta do remorso pulsa dentro de nós. “Por que agi daquela maneira?”, “Por que permiti que aquelas palavras escapassem da minha boca?”, indagamos. E inevitavelmente nos condicionamos: “Que direito tenho de ser feliz com lembranças desse tipo?”

Outros sentem pesar pelo passado. O pesar é o sentimento de dor por não poder voltar no passado e agir diferente. Normalmente as pessoas pesarosas dizem: “Ah se eu pudesse estar naquela situação de novo!”, “Eu devia ter feito diferente!”. As faces das pessoas que ferimos, ou que nos feriram, desfilam em nossa mente tornando nossa dor insuportável.

Na verdade, nem o remorso, nem o pesar, funcionam no tratamento de lembranças dolorosas. Só há um jeito de curar as recordações que nos fazem sofrer: Expor a lembrança dolorosa ao Deus do impossível e aceitar o seu tratamento. Essa é a única forma de encontrar alívio. Significa voltar ao passado e superar, de mãos dadas com o Deus do impossível, o que dissemos ou fizemos a alguém, ou o que disseram e fizeram a nós. Foi isso que Samuel fez por Israel.

Samuel foi o profeta mais importante depois de Moisés, e também o último juiz de Israel. Foi ele quem ungiu os dois primeiros reis de Israel, Saul e Davi. No final do período dos juízes, ele se projeta como aquele que cura lembranças, ao ajudar Israel a se arrepender e a aprender com os fracassos do passado. Samuel preparou aquele povo para uma nova era, forçando-o a abandonar as lembranças dolorosas.

Samuel ainda muito jovem assumiu a liderança do povo de Israel num período turbulento quando eles cairam de joelhos, não em adoração ao Deus do impossível, mas diante de Baal e Astarote, deuses dos filisteus. Foram atraídos pelos deuses das nações vizinhas e como presa fácil foram subjugados numa derrota humilhante imposta pelos filisteus. Os exércitos de Israel foram derrotados num lugar chamado Ebenézer. Além da derrota, a Arca da aliança, símbolo da presença de Deus entre o povo, foi tomada. O sacerdote Eli, líder religioso, morreu ao saber que seus filhos haviam morrido na batalha e sua nora quando soube de tudo isso deu a luz prematuramente a um menino. Como expressão da dor que se estabeleceu em Israel, sua mãe lhe deu o nome de Icabode, que significa: Foi-se a glória de Israel. Aquela situação se tornou insuportável e fazer algo para mudar se tornara impossível.


Deus não desistiu de Israel embora eles persistissem no culto a Baal e Astarote, acrescido de um vago compromisso com Deus. A captura da Arca só trouxe problemas aos filisteus. A história nos conta um fato irônico: os israelitas adotaram os deuses filisteus e falharam; os filisteus tentaram obter o poder do Deus do impossível mediante a Arca e falharam! Dentro daquela Arca achava-se a razão do fracasso de ambos: as tábuas da lei, que iniciavam: “Não terás outros deuses diante de mim”. Nem Israel, nem os filisteus poderiam ser bem sucedidos com o Deus do impossível enquanto não se comprometessem com os princípios estabelecidos por ele. Por fim, os filisteus clamaram: “Livremo-nos dessa Arca!”. E ela foi devolvida a Israel.

A devolução da Arca causou uma reação inesperada no povo de Deus. Em vez de alegria, houve um arrependimento nacional. O povo se dirigiu a Samuel para pedir-lhe que oferecesse um sacrifício que expressasse a lamentação deles e o seu anseio pelo poder e livramento das mãos dos filisteus. Samuel foi firme em dizer-lhes que o Senhor só os abençoaria se todos os ídolos de Baal e de Astarote fossem removidos. Samuel sabia que o primeiro passo para um reavivamento em Israel teria que começar com o arrependimento e confissão diante de Deus.

Os filisteus maltrataram os israelitas, isso ninguém podia negar. A derrota em Ebenézer era uma realidade e a sua lembrança era motivo de sofrimento, isso também não tinha como negar. Mas agora, são desafiados a olharem para a parte do erro que lhes cabiam. Eles abandonaram as orientações seguras do Deus do impossível. Princípios orientadores que os preservariam de sofrer foram negligenciados. Por isso, a melhor maneira de se tratar o remorso, sentimento de pesar pelas falhas que cometeu contra outros ou contra si mesmo, é reconhecer nossa parcela de culpa, confessá-la diante de Deus e abandoná-la em suas mãos.



A notícia de que o povo de Israel se ajuntara chegou aos filisteus, que decidiram atacar. Quando os israelitas perceberam a aproximação dos filisteus, entraram em pânico e apelaram a Samuel para que clamasse ao Senhor por socorro. Uma geração inteira havia vivido como escravos nas mãos dos filisteus e morriam de pavor ter que enfrentá-los. A percepção do pecado e a impossibilidade de enfrentar o poderio militar dos filisteus tornaram-nos receptivos ao que Deus sempre estivera pronto a dar-lhes. Samuel sacrificou um cordeiro. Em resposta, o Senhor enviou uma violenta tempestade sobre os filisteus, que fugiram atemorizados. O medo deu lugar a coragem e Israel aproveitou para atacar os filisteus. Estavam consciente de que o Deus do impossível estava com eles e agora não tinham o que temer.

Depois de ganhar a batalha, Samuel pegou uma pedra, colocou-a no meio do povo e a chamou Ebenézer e disse: “Até aqui nos ajudou o Senhor”. Não foi por acaso ou por achar bonito o nome que Samuel resolveu chamar aquela pedra de Ebenézer. Essa palavra havia se tornado símbolo de dor e sofrimento para o povo desde que, a mais de vinte anos atrás os israelitas foram derrotados pelos filisteus no lugar chamado Ebenézer. Na roda de amigos israelenses a alegria durava até alguém citar essa palavra. Era uma lembrança dolorosa. Em hebraico, Ebenézer significa “a pedra de ajuda”. Samuel tomou uma recordação amarga, de mais de 20 anos de derrota, e a substituiu por uma lembrança de vitória. Através dos séculos, Ebenézer se associou tanto com a oração de Samuel: “Até aqui nos ajudou o Senhor”, que a oração passou a ser quase que sinônimo.

Deus sabe que não podemos agarrar ao presente nem nos entregar ao futuro enquanto as recordações dolorosas do passado não forem resolvidas. Samuel ajudou Israel a lidar com o passado e a prosseguir para o desafio do futuro. Com a expressão “Até aqui” Samuel queria dizer, até diante de um inimigo em que ninguém acreditava ser possível vencer o Deus do impossível nos fez vitoriosos. Através da pedra “Ebenézer”, Samuel traz a memória acontecimentos do passado de Israel que trouxeram muita dor e sofrimento, mas agora com a vitória sobre os filisteus, o Deus do impossível cura a memória do seu povo, cura o seu medo. Ebenézer agora não tem mais a conotação de derrota, dor, sofrimento, mas de grande livramento.

Quando nos deixamos ser tratados pelo Senhor, passamos a viver livres do sentimento de inferioridade, do remorso, do medo e do pesar. Passamos a ser de fato e de verdade pessoas livres porque sabemos que o Deus do impossível é o que vai conosco até mesmo pelo vale da sombra da morte e nos trará de volta sãos e em segurança. Isso significa que posso enfrentar sem medo situações que no passado me fizeram sofrer, porque o Deus do impossível estará comigo e a vitória será certa. Com o Deus do impossível do nosso lado não temos mais o que temer.

CONCLUSÃO

Não importa o que você fez ou mesmo o que fizeram com você, importa é como você vai lidar com isso daqui pra frente. Não podemos mudar nada do que aconteceu, mas podemos confiar nas mãos de Deus para que não sejamos derrotados de novo. Olhar para o passado como uma lição de vida, receber o perdão de Deus e enfrentar a dor de mãos dadas com ele é a nossa melhor alternativa para lidar com as lembranças dolorosas. As lembranças não se apagarão, mas não nos trará mais dor. A segurança de seus braços certamente é o melhor lugar para se tratar do sentimento de remorso ou mesmo de pesar.

domingo, 14 de junho de 2009

A bênção impossível


Todos nós precisamos dela. Nascemos por causa dela e não há alegria que dure sem ela. Ela é para a alma o que o oxigênio é para os pulmões e o alimento para o corpo. Ela é base da confiança e da auto-estima. Com ela nos tornamos livres e atraentes; sem ela somos tímidos e ranzinzas. Ela é o que as pessoas mais esperam de nós, porém não a podemos dar enquanto não a recebemos. Quando não a recebemos passamos o resto da vida tentando merecê-la. Contudo, nenhum ser humano pode satisfazer ao nosso ardente desejo por ela. Ela é o bem mais precioso da vida.

O que é esse bem tão desejado? A bênção. Cada um de nós necessita ser abençoado, sentir-se abençoado e por sua vez se tornar um comunicador de bênçãos. Todavia, uma das palavras mais mal interpretadas e mal empregadas é bênção. Significa mais que prosperidade ou bens, sucesso ou realização. Significa ser aceito e ser amado. A bênção de Deus é a certeza de que a ele pertencemos, de que ele tem prazer em nós e de que ele nos escolheu como alvo de seu amor. Ser uma pessoa abençoada é conhecer, sentir aceito, amado e aprovado por Deus.

Esta mensagem é para aqueles que precisam sentir essa bênção, que não conseguem permitir que Deus os abençoe. É para pessoas que apesar de possuir dons, talentos, oportunidades e razoável sucesso nas coisas que fazem não se sentem abençoados. Se nossos pais fracassaram em nos dar afirmação, aprovação e certeza de sermos especiais acharemos difícil permitir que Deus nos abençoe. Essa é a razão porque muitos, embora possuindo uma boa compreensão da fé, não sentem o amor divino e muito menos se apegam a um relacionamento pessoal com Deus.

As pessoas que não se sentem abençoadas se tornam cada vez mais incrédulas, pessimistas e intratáveis em relação ao sentimento dos outros. Acreditam que agindo assim estarão no controle e protegidas de se sentirem magoadas. Ocorre exatamente o contrário com as pessoas abençoadas que se sentem acolhidas e amadas. Tais pessoas são flexíveis, receptivas e dispostas. Mas as não abençoadas se esforçam por obter a bênção dos outros, buscam a aprovação e a estima, mas quando recebem questionam a validade dos mesmos. Elas se tornam competitivas e gostam de estar no controle de tudo. São duras em criticar o trabalho dos outros e vê defeito em tudo porque gostam de chamar a atenção para si como pessoas importantes e indispensáveis. Desejar e duvidar, lutar e resistir, se torna uma estratégia de sobrevivência.

Com o passar do tempo tais pessoas enfrentam o próprio Deus. Ele os deixa imobilizados até que finalmente reclamem a sua bênção. Ele trava uma luta através de circunstâncias adversas para só então fazer o impossível. Ou seja, nos fazer sentir amados e aceitos por ele. Foi exatamente isso o que ele fez por Jacó.



A vida de Jacó forma um perfil de alguém cuja infância não abençoada deu origem a uma barreira que dificultou a aceitação da bênção de Deus. Jacó era irmão gêmeo de Esaú, filho de Isaque e Rebeca. O primeiro a nascer foi Esaú, mas com apenas segundos de diferença, pois Jacó saiu do útero agarrado ao calcanhar do irmão. Foi aí que seu nome teve origem. “Jacó” quer dizer: “Alguém que toma pelo calcanhar, suplantador, trapaceiro”. Desde o início Esaú foi o favorito de seu pai. Ele veio a ser um caçador, um homem do campo. Tal como Isaque, ele gostava da emoção da caça, da liberdade da aventura e do sabor da carne de animais selvagens. Jacó era o favorito de Rebeca. Dizem as Escrituras que ele era um jovem pacato. Todavia, a rivalidade entre os dois irmãos tinha sua origem na preferência dos pais.

O ponto em questão na família de Isaque era qual dos dois filhos teria o direito maior, o direito de primogenitura. Naquele tempo dava-se ao primeiro filho o direito de receber a propriedade e o governo da casa, por ocasião da morte do pai. Mas, de semelhante importância era a bênção do pai sobre todos os filhos. Essa dádiva preciosa de aprovação, afirmação e amor dava a cada filho um senso de identidade e importância para toda a vida. O intenso anseio de Rebeca era o direito à primogenitura, todavia o que Jacó mais desejava era ser aceito e amado por seu pai, ser abençoado. Por isso encontramos os dois, aliados por obter o direito à primogenitura e a bênção de Isaque a qualquer preço.

A trama se intensificou algum tempo mais tarde, quando Isaque percebeu que estava às portas da morte. Chamou Esaú à sua tenda e pediu que ele saísse a caçar e pediu-lhe que trouxesse carne para um prato saboroso. “E traze-me para que eu coma, e te abençoe antes que eu morra” (Gn 27:4). Esaú saiu ao campo, mas Rebeca estivera ouvindo através das finas paredes da tenda. O momento que ela tanto esperava havia chegado! Rápida como um raio ela corre para Jacó, ordena-lhe que mate uma ovelha, prepare o prato saboroso que seu pai desejava e receba a bênção e o direito de primogenitura prometidos a Esaú. Rebeca havia preparado um plano perfeito. Manda que Jacó vista as roupas de Esaú e cobre-lhe o pescoço e as mãos com pele de cabra, de modo que Isaque seja enganado.

O plano dos dois teve êxito. Isaque comeu a saborosa refeição e, depois que suas suspeitas foram desfeitas por meio dos disfarces de Jacó, ele o abençoou. O teor da preciosa bênção nos ajuda a compreender por que era um galardão e tanto: “Deus te dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de mosto. Sirvam-te povos, e nações te reverenciem; sê senhor de teus irmãos, e os filhos de tua mãe se encurvem a ti; maldito seja o que te amaldiçoar, e abençoado o que te abençoar.” (Gn 27:28-29).

Que grande bênção! Ela é a afirmação que cada filho busca. Quando Esaú retornou a casa, soube do que sua mãe e o irmão haviam feito, e rogou a Isaque uma bênção. “Acaso tens uma única bênção, meu pai? Abençoa-me, também a mim, meu pai”, clamou ele com a dor da rejeição. E seu pai o abençoou dizendo: “Você viverá longe de terras boas e longe do orvalho que cai do céu. Você viverá pela sua espada e será empregado do seu irmão. Porém, quando você cumprir o seu tempo de serviço, se livrará dele.” (Gn 27:39-40).

Assim, um ressentimento profundo tomou conta de Esaú, acentuando ainda mais a rivalidade, o ódio e a inveja entre os dois irmãos. Esaú planejou matar o irmão tão logo Isaque viesse a falecer. Por medo de perder o filho querido Rebeca envia Jacó para casa de Labão, irmão de Rebeca, e assim Jacó teve sua vida poupada. Mal sabia ela que esta seria a última vez que veria seu amado filho.



Jacó partiu para a terra de Labão sentindo-se não abençoado como sempre. Ele estava sentindo-se derrotado e amargurado. Embora ele recebera a bênção de Isaque. Estava ciente de que era uma bênção obtida de maneira fraudulenta. É como qualquer amor forçado, que deixa tanto o que dá como o que recebe vazios. Jacó saiu de casa sem o sentimento de que seu pai tinha prazer nele. Tudo o que possuía era a lembrança do que tinha feito a Esaú e de como seus pais falharam em dar-lhe afirmação e confiança íntima. O resultado foi um homem manipulador, astuto e insensível.

Ao chegar na casa de seu tio Labão Jacó é recebido com alegria. Jacó se apaixonou por Raquel, a filha mais nova de Labão e se dispôs a trabalhar sete anos para Labão para que esse o permitisse casar com ela. Labão aceitou, mas não gostou da idéia da filha mais jovem se casar antes da mais velha. Completados os sete anos, Jacó exigiu sua amada Raquel. Labão ofereceu uma festa de casamento e, tarde da noite, enviou Lia, a filha mais velha, para a tenda de Jacó, em lugar de Raquel. A festa deve ter tido bebedeira mais que suficiente, pois Jacó não percebeu a troca até de manhã, com o casamento já realizado. Estranha ironia, assim como enganou seu pai, agora é enganado pelo seu tio.

Jacó ficou furioso. Labão enganara melhor que Jacó, o enganador. Labão convenceu-o a trabalhar mais sete anos, antes que ele pudesse se casar com Raquel. Jacó deu um duro pela mão de Raquel. Todavia “Serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava”(Gn 29:20). Depois dos quatorze anos Jacó ainda serviu Labão por mais seis anos. Durante estes últimos anos Labão tentou enganar Jacó em relação ao seu salário. O acordo deles consistia em que Jacó viesse a possuir todas as ovelhas malhadas, salpicadas e negras entre os cordeiros e cabras. Labão maquinou outra trapaça. Tomou todos os cordeiros e cabras que pertenciam a Jacó e escondeu em algum lugar distante. Assim Jacó teve de partir do nada novamente, mas desta vez com algo mais que a astúcia contra Labão, o Senhor era com ele. Quando acasalou os animais brancos de Labão, nasceram malhados e salpicados. Ao ver isso Labão mudou o salário de Jacó e aconteceu o contrário. Os animais malhados e negros davam a luz animais brancos. Por umas dez vezes Labão mudou o acordo, mas o Deus do impossível continuou agindo e enriquecendo a Jacó.

Depois de longos vinte anos, Deus ordenou a Jacó que voltasse a sua terra natal. E assim, Jacó, suas esposas, filhos e com grande prosperidade deixaram secretamente a Labão. Labão quando descobriu de sua fuga, foi atrás para matá-lo, mas o Deus do impossível o impediu.


Livre de Labão, Jacó podia agora dedicar-se à próxima tarefa que tanto temia. Ao pensar no encontro com Esaú, o pânico se apoderou dele e trouxe-lhe à memória recordações do que havia feito a seu irmão, bem como todas as sensações que sentira, quando criança, de não ser abençoado. Outra vez o velho manipulador vem a tona. Por alguns momentos ele cedeu à antiga natureza em vez de exercer sua nova fé no Deus do impossível. Jacó enviou mensageiros adiante para garantir a Esaú que dispunha de enormes rebanhos para recompensá-lo.

Até onde foi com o plano de preparar um presente espetacular para Esaú, Jacó demonstra que ainda fazia uso de meios manipuladores. Ele dividiu seus rebanhos em pequenos grupos, bem como toda a sua família. À sua frente enviou mensageiros com ricos presentes e os instruiu dizendo: “Quando vires Esaú diga-lhe: Eis que teu servo Jacó vem vindo atrás de nós e oferece-lhe estes presentes”. Em seguida ele expõe sua intenção com tal plano: “Eu o aplacarei com o presente que me antecede, depois o verei; e me aceitará a presença”(Gn 32:19-20). Aí está de novo. Aceitação. Jacó tinha necessidade de ser aceito e amado e espera ter isso através de Esaú. O que ele não percebia era que apenas Deus era capaz de dar-lhe esse presente maravilhoso. Quando aceitamos a dádiva da aceitação de Deus, ficamos livres de manipular situações e pessoas para ser aceito e amado.

Na noite que antecedeu o encontro com Esaú, as Escrituras diz em Gn 32:24-32 que um homem entrou em luta corporal com Jacó durante toda a noite. O que Jacó não soube durante toda aquela noite fria e escura, era que aquele a quem ele estava lutando era o próprio Deus do impossível. Ao aproximar o dia Jacó se deu conta que estava lutando com Deus, então ele o abraça e lhe diz: “Não te deixarei ir enquanto não me abençoares”. Esta era a sua maior carência desde a infância. Contudo, é curioso perceber que desde que saíra de casa, Deus o estava abençoando maravilhosamente, todavia Jacó não se sentia abençoado, por isso o estranho pedido. A pessoa que não se sente abençoada, não somente tem um pavio curto como também uma memória curta. Pessoas como Jacó não conseguem perceber o quanto são abençoados e ficam surpresos quando alguém vem e lhes mostra o quanto de fato o são. E mesmo assim atribuem ao acaso e rejeitam ver o cuidado de Deus em suas vidas.

A atitude do Senhor foi impressionante. Primeiro Deus toca a coxa de Jacó e ele passa a mancar, para que jamais se esquecesse da luta travada naquela noite. Em seguida mudou o nome de Jacó (enganador) para Israel (Príncipe de Deus) como um sinal de que Deus o amava e o aceitava. É surpreendente que Jacó, agora Israel, pergunte pelo nome daquele com quem lutara. “Dize, rogo-te, como te chamas?” A resposta de Deus foi uma pergunta que pôs fim a todas as indagações de Israel. “Por que perguntas meu nome?” De fato, depois de todas as vezes que Deus interferiu a seu favor e falou com ele, já devia saber. Em seguida ele deu a bênção que Jacó desejava, porque é sua natureza abençoar. Jacó nada fez para merecê-la ou ganhá-la. Na realidade, por toda a sua vida até aquela noite fria ela já havia feito tudo o que podia para negá-la.

Daquele dia em diante Israel já não exigia de ninguém o ser aceito e amado, ele havia recebido a bênção. O manipulador teimoso se tornara disposto a aceitar e a demonstrar amor a quem Deus colocasse em seu caminho. Quando a luta chegou ao fim e o sol da manhã ergueu o véu da noite, Israel levantou os olhos e viu que Esaú se aproximava. A Escritura não menciona nenhuma manifestação de medo em Israel. A luta com o Senhor havia efetuado uma transformação. É uma cena comovente. Esaú, com graça notável, correu ao encontro de Israel e atirou-se ao seu pescoço, beijando o irmão, e as lágrimas escorriam de ambos. Em seguida, Israel disse algo que revela a expressão de um coração abençoado: “Vi o teu rosto como se tivesse contemplado o semblante de Deus; e te agradaste de mim” (Gn 33:10).

Em todas as gerações as pessoas vêm sofrendo por não se sentirem aceitas e amadas. É notório em alguns esse sentimento e em outros encontra-se encoberto, mas se manifesta de formas sutis. Em outros ainda, esse mal aparece numa conduta arrogante. Atravessamos a vida à procura de um pai, mãe, irmã ou irmão mais velho substituto, ou de uma autoridade que nos diga, afinal, que estamos ok.

Não somos capazes de lembrar se nossos pais algum dia nos disse que nos amava. Fomos duramente advertidos por quem deveria nos abençoar dizendo: “Meus atos deveriam ter-lhe assegurado que eu o amo. Sempre cuidei de você e supri suas necessidades. Isso não está bom?”. Quem sabe você é uma daquelas filhas que o pai negara a afirmação sadia que toda menina precisa para começar a sentir a alegria de ser mulher. Seus pais foram um complexo nervoso de repressões e temores? A Igreja te foi apresentada apenas como uma instituição de “não faça isso, não faça aquilo”? É provável então que esteja perguntando: “O que fazer quando não se sente amável, quando todos os sentimentos interiores acerca de si mesmo resistem à possibilidade de permitir que Deus ou alguém mais o ame?”.

O que é lutar com Deus? É uma luta com o passado e uma batalha que há de decidir quem vai assumir o governo no futuro. O Senhor deseja tornar-nos dispostos a ser, e dispostos a buscar e fazer a sua vontade mediante a força dele para os resultados que ele espera. Você sabe como é isso? Você já reviveu o passado, com cada fracasso a desfilar diante dos olhos da sua mente? Você já levantou no meio da noite em estado de pânico e se ajoelhou perante o Senhor, perturbado pela preocupação? Então saiba, como eu já sei, o que é ter o Senhor a batalhar pelo domínio de sua vontade até que você permita que ele perdoe o passado e assuma o governo do seu futuro.

domingo, 7 de junho de 2009

Um desafio de fé


O que você está realizando que não possa concluir sem uma intervenção de Deus? Muitos de nós passamos a vida dentro dos estreitos limites de nossos talentos e capacidade. Tomamos o maior cuidado para manter todas as coisas sob o nosso controle. Na realidade, vivemos como se não precisássemos de Deus. Nosso medo de arriscar nossas vidas nas mãos de Deus nos mantém longe do que ele tem planejado a nosso respeito.

O meu propósito com esta série de mensagens é despertar você para ousar mais nas mãos de Deus. Desejar ir além do que a sua mente possa imaginar. Ter experiências com Deus jamais imaginadas e experimentar o que significa se relacionar com o Deus que não conhece o significado da palavra impossível. Quanto mais vivo a aventura da fé e compartilho com outros o que estão descobrindo acerca de Deus, mais convicto me torno de que o Senhor nos ama e se importa mais com nossos interesses que nós mesmos. Em tempo e a tempo ele invade os nossos problemas com poder sobrenatural. Há ocasiões em que ele de fato nos conduz a desafios e oportunidades, a fim de nos maravilhar com o que ele é capaz de fazer com as nossas impossibilidades.

Você já pediu a Deus que o ajude a encarar, sem medo, o desafio que ele mesmo propôs a você? Seja abandonar um vício, perdoar uma pessoa, testemunhar a sua fé, assumir um trabalho, abrir mão de um emprego, ter filhos, ou fazer algo para a glória dele e que para você é tremendamente difícil. Isso é importante. Deus opera o impossível quando nos colocamos em suas mãos para realizar exatamente aquele plano que ele nos confidenciou ao coração, normalmente algo grande.

Abraão, o amigo de Deus, aprendeu essa importante lição. Ele não obteve facilmente sua amizade com Deus. Sua amizade foi conquistada através de sua obediência a algumas ordens difíceis e aparentemente absurdas. Todavia, ao obedecer, Abraão testemunhou grandes intervenções divinas em sua vida. Não é a toa que ele é chamado de o pai da fé.


Abrão era conhecido como o filho de Terá e vivia na cidade de Ur dos Caldeus. Sua família, bem como toda a população de Ur era idólatra e adoravam a lua dentre tantos outros deuses. Esta pode ter sido a razão por que Deus o tirou, bem como a sua família, dos laços desta civilização próspera e sofisticada. Deus provocou um sentimento de desconforto em Terá que o induziu a partir de Ur com seu filho Abrão, impelindo-os em direção à terra de Canaã. Viajaram ao longo do vale do Eufrates até Harã.

Em Harã, anos mais tarde, o mesmo Deus que orientou Terá a mudar-se de Ur apareceu a Abrão, deixando-o em pânico. O Senhor tinha grandes planos para Abrão, e este talvez vivesse toda uma vida de amizade com Deus antes de perceber que o Senhor proveria para cada passo do caminho. “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei” (Gn 12:1). Os riscos que o Senhor nos desafia a assumir são sempre para o nosso bem, mesmo que pareçam assustadores. O Senhor prossegue: “De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção: abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:2-3).

É uma promessa e tanto, mas agir baseado nela exigia risco. Nela, e somente nela, Abrão se apoiava. Até porque ele já estava com 75 anos e Sarai, sua melher, com nada menos de que 65 anos. Como poderiam acreditar que poderiam gerar filhos naquela idade? Como abandonar toda a família e partir para uma terra que nem sequer sabiam onde? Que endereço deixariam para os parentes e amigos? Enfrentar uma viagem de mudança naquela idade confiando apenas numa promessa divina? Esse plano parecia de fato condenado ao fracasso, era simplesmente impossível de se realizar. Mesmo assim, apesar da pouca orientação que possuía, ele partiu, e nos anos seguintes conheceu a amizade e fidelidade de Deus. Muitos anos foram necessários para que Abrão amadurecesse nessa amizade, confiasse nela, mediante a prova da sua realidade em épocas de dúvida e desespero.

Após a morte de Terá, Abrão deixou a segurança de Harã e seguiu para Canaã. Os altares que construiu ao longo do percurso falam de sua crescente fé em Deus, a qual o capacitava a assumir novos riscos. Contudo, quando a fome atingiu Canaã, ele se dirigiu ao Egito. Aí Abrão revelou o outro lado de sua personalidade, o lado tímido que reagia contra o risco, que não confiava. No Egito, Abrão ordenou a Sarai que dissesse ser sua irmã, uma mentira decorrente da sua falta de fé na promessa de Deus. Sarai era linda, e Abrão temia que os egípcios, para ficarem com ela, o matassem. O próprio Faraó, atraído pelo encanto de Sarai, conduziu-a ao seu lar e conferiu honras a Abrão, que supunha ser irmão dela. Mas o Senhor tinha outros planos. Enviou pragas contra Faraó e toda a sua casa, até que a verdade viesse à tona. Abrão quase frustrou o plano de Deus de torná-lo pai de multidões. Por pouco ele e Sarai não escaparam com vida.

E você? Já sabe qual é o desafio de fé que Deus tem para realizar em sua vida? Já se perguntou a razão pela qual você faz o que faz? Por que Deus te trouxe a vida exatamente nesse período da história e te deu a família que você tem? Por que razão você é cercado exatamente pelas pessoas que hoje fazem parte da sua vida? Ou você pensa que a razão de sua vida é apenas ganhar dinheiro, ter um diploma e ser um profissional bem sucedido? Sua vida foi projetada por Deus para fazer diferença além do túmulo, sabia? Você tem uma tarefa, um desafio maior do que a própria vida. Deus não te colocou aqui por acaso ou coincidência. Ele deseja fazer algo grande em sua vida e através dela na vida de muita gente. Algo que você jamais poderá fazer sozinho, algo que para você é impossível. E nesse aspecto somente ele poderá te ajudar.


Mas entre receber uma promessa e vê-la cumprida é algo que pode demandar muito tempo. No caso de Abrão não foi diferente. Mais de 10 anos depois que recebera a promessa de ser pai, ele já estava com seus 85 anos e Sarai com 75 e continuavam sem filhos porque Sarai era estéril. Isso levou Abrão a um dilema. Como poderia ser pai de multidões sem um filho? Seria o herdeiro um dos filhos de seus empregados nascido em sua casa? Não. Em vez disso o Senhor prometeu a Abrão o que parecia impossível. Ele e Sarai teriam um filho. Abrão achou muito difícil de acreditar em tal coisa. Durante todo aquele período Deus não falou mais nada, não explicou o aparente atraso e tudo parecia que ele havia esquecido de sua promessa. Foram anos difíceis e longos para Abrão e Sarai.

10 anos se passaram e Sarai perdeu a paciência. Ela insistiu com Abrão para que engravidasse Hagar, sua serva egípcia. Outra vez expõe-se a dificuldade de nosso herói em acreditar na espantosa promessa de Deus. Aquela certamente era uma prova de Deus para Abrão antes de lhe dar o filho tanto desejado. Todavia, o que lemos? “E Abrão anuiu ao conselho de Sarai” (Gn 16:2b). Um erro lamentável que levou Abrão e Sarai a agir com incredulidade para com a promessa de Deus. Ismael nasceu da relação não abençoada de Abrão e Hagar. Como sempre se constata na revelação clara e gradual do Deus do impossível, alguns de nossos heróis tiveram de ver a realização do plano de Deus para suas vidas adiadas porque não souberam permanecer firmes em sua fé. Todavia, é preciso lembrar que o Senhor jamais se esquece de quem escolheu, nem volta atrás em suas promessas e planos a nosso respeito.

13 anos depois do deslize de Abrão e Sarai, o Senhor voltou a estaca zero com eles. Ele visita Abrão e renova sua promessa, e desta vez dá novos nomes a Abrão e Sarai. Abrão será Abraão, pai de multidões, e Sarai será Sara, mãe de nações. Além da nova visão sugerida pelos novos nomes, o Senhor, a fim de encorajar novamente a Abraão, adota um nome definitivo para si mesmo: El Shaddai, que significa Deus Todo-poderoso, aquele que não conhece o impossível. Como se tudo isso não bastasse, o poderoso El Shaddai propõe uma aliança e promete abençoar a Abraão e a sua posteridade para sempre. A garantia dessa bênção seria que dali a um ano Abraão e Sara teriam um filho.

Ao ouvir a promessa do Deus do impossível, Sara que estava à porta da tenda riu. Isso entristeceu o Amigo. Era desejo de Deus que eles rissem com ele em puro deleite e alegria pelo que ele estava prestes a fazer, e não rissem dele ou de sua promessa. Lute com Deus até apropriar-se de suas promessas, mas jamais ria-se dele! Ele é um Amigo bom demais para isso. Quando Isaque nasceu, Sara aprendera a sua lição. Assim se expressou em louvor e gratidão: “Deus me deu motivo de riso; e todo aquele que ouvir isso, vai rir-se comigo... Quem teria dito a Abraão que Sara amamentaria um filho? Pois na sua velhice lhe dei um filho” (Gn 21:6-7). Quem, senão o Deus do impossível! Isaque tornou-se um rapaz bonito e estimado. Seus pais nutriam um profundo amor por ele, não apenas por terem finalmente um filho, mas porque agora a promessa impossível se cumpriu. Isaque era mais que a alegria, era a esperança de Abraão, era a sua vida!


Agora, entre no coração de Abraão e veja o pânico quando o Senhor lhe pediu o impossível como prova de sua fé. Podemos sentir as punhaladas de dor em cada palavra da ordem do Senhor: “Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei” (Gn 22:2). O que significava essa ordem? A angústia de Abraão era inexplicável. “Por quê, Deus? Por quê?” ele deve ter clamado, sentindo-se completamente arrasado. “Meu filho, Deus? Como se cumprirá sem Isaque a tua promessa de que serei o pai de multidões?” Nenhum pedido poderia ser pior.

Já tentei meditar nessas perguntas vindas do íntimo da alma de Abraão. Penso nas épocas de crise, em que tive de abrir mão do governo de minha família, da profissão e mesmo do futuro, e me vi forçado a perceber que eles não são meus, mas um dom de Deus. Doença, dificuldades, desapontamentos despertaram-me para o fato de que não posso me apoderar com avareza das dádivas da vida. Com o passar dos anos de amizade com Deus, vi-me obrigado a entregar os pontos, uma rendição decisiva à idéia tola de que eu possuía alguma coisa por causa de meu direito ou trabalho árduo.

O ponto em questão é: Quem é o nosso Isaque? Quem em sua vida disputa com Deus o primeiro lugar? O que você possui ou realizou que disputa com Deus o significado de sua vida? É freqüente, durante uma crise, perceber que Deus não recebe de nós a máxima lealdade ou energia na vida diária. Falsos deuses não são apenas ídolos nos templos; eles invadem nossos lares, identificam-se em diplomas nas paredes de nossos escritórios e estabelecem-se nos alvos e planos de nosso controle sobre nosso destino. Mas devemos aprofundar-nos a fim de perceber o que Deus pretendia ao conduzir Abraão por essa prova dolorosa. Fé é risco. É a crença de que Deus proverá no momento certo, exatamente aquilo de que precisaremos em tempos difíceis.

Com o coração e mente, imagine-se escalando o monte Moriá em companhia de Abraão e Isaque. O rapaz gostava de estar com o pai e estava eufórico em ir com ele a um sacrifício. Mas atente para a preocupação com o cordeiro para o sacrifício, que se transforma em pânico enquanto eles, com dificuldade, caminham mais morro acima. “Meu pai!” disse Isaque. “Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” (Gn 22:7). Isaque confiava em seu pai, porém Abraão confiava ainda mais em Deus, e respondeu comovido: “Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto” (Gn 22:8). E persistiram na caminhada sem que Isaque obtivesse sua resposta.

Atreva-se a imaginar o que se passou entre pai e filho quando alcançaram o topo do Moriá, e Abraão, quase impulsivamente edificando o altar, preparando a lenha, e então começa a amarrar o filho. Sinta o íntimo de Abraão, quando os seus olhos se deparam com os olhos incrédulos de Isaque. E então o momento fatal se aproxima. Abraão retira sua faca para imolar o filho. No momento em que ele estava para cortar a garganta de Isaque, o Senhor clama: “Abraão, Abraão!” Nem um segundo a mais, nem a menos. Abraão quando ouve, arremessa a faca para longe como se dizendo: “Eu sabia que virias! Eu sabia que proverias uma saída!” E continuou: “Não estendas as mãos sobre o rapaz, e nada lhes faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste teu filho, teu único filho” (Gn 22:12).

Após o momento de extrema intervenção, Abraão olhou para cima dos ombros e notou atrás de si, entre os arbustos, um carneiro preso pelos chifres. De fato, Deus havia providenciado um substituto para Isaque. Depois de sentir a angústia de Abraão, deixe agora a sua imaginação captar a alegria dele. Ele ofereceu o carneiro em vez do filho, e chamou o lugar de “Jeová Jireh”, que significa “O Senhor proverá”. A história de Abraão nos prende não somente por causa de seu drama, mas principalmente porque ela revela a nossa mais profunda necessidade de confiar em Deus em ocasiões de alto risco e nos reanima com os feitos grandiosos do Deus do impossível.

Acima de tudo, nossa atenção se volta para outro monte não muito distante do Moriá, o Calvário. Ali Deus fez o que era na realidade impossível. Ele deu o seu próprio Filho como sacrifício pelos pecados de todos os povos, em todas as gerações. O que ele não exigiu de Abraão, exigiu de si mesmo, oferecendo Jesus para que pudéssemos conhecer o seu supremo amor e perdão. Amém.

terça-feira, 2 de junho de 2009

As crianças


Neste último domingo do mês encerraremos esta série de mensagens “Eu, a patroa e as crianças” falando um pouco sobre os filhos. É curioso observar que a palavra “filho” e seus derivados aparecem 51 vezes no livro de Provérbios. Esta palavra só aparece menos do que “sabedoria” e “coração”. Essa curiosidade a respeito do livro de Provérbios tem uma relação muito forte com o propósito do livro, alertar os filhos a guardar no coração a sabedoria bíblica.

Filhos, segundo a Bíblia, são um presente de Deus para a vida dos pais. Todavia, com um presente tão precioso vem também uma responsabilidade enorme. Ou seja, cabe aos pais educá-los e treiná-los para a vida, quando se tornarão adultos e por sua vez farão o mesmo com seus filhos.

Segundo a sabedoria bíblica a responsabilidade (não a preocupação) dos pais tende a diminuir na medida em que os filhos crescem. Por esta razão eles devem e precisam ser treinados a assumir responsabilidades. É certo que tem filho que, mesmo depois de ter recebido a melhor orientação e educação de seus pais, optam ainda por ser tolo. Como conseqüência, os pais sofrem e derramam lágrimas.

Existem dois papeis importantes de responsabilidade dos pais. Trata-se do ensino (que visa a formação do caráter) e a disciplina (que visa a correção dos desvios de conduta). Mas como um pai deve educar o seu filho? Para responder esta questão abramos nossas Bíblias em Deuteronômio 6:4-9.

“Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.” (vs. 4)
“Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.” (vs. 5)
“Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;” (vs. 6)
“tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (vs. 7)
“Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos.” (vs. 8)
“E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.” (vs. 9)



“Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;” (vs. 5 e 6)
Olhando para este texto somos informados de que uma boa educação começa com o exemplo dos pais. É preciso amar a Deus, ser comprometido com os seus princípios para assim termos autoridade no ensino para com os nossos filhos. Isso porque nossos filhos aprendem muito mais nos observando do que nos ouvindo.

Observem que o apelo de Deus não é simplesmente para o cumprimento de uma série de regras, mas para uma relação amorosa com ele. Isso já altera a forma de ensinar nossos filhos. Devemos ensiná-los de que por amarmos ao Senhor, seguimos a sua orientação. A obediência sem amor não gera respeito, gera ódio, repulsa. Por isso, o maior desafio de um pai despertar o coração de seu filho para amar a Deus, assim como ele o faz.

Quando Alexandre estava assentado em seu sofá assistindo o noticiário da Tv, seu filho pequeno, de 7 anos de idade, subiu por traz do sofá e disse ao pai: “Pai, quando eu for maior que o senhor, o que vai fazer para eu te obedecer?”. Alexandre respondeu: “Filho, você vai me obedecer enquanto me amar”. Sabe querido, a obediência que devemos ensinar nossos filhos é aquela que é praticada como fruto do amor. Uma pessoa que obedece apenas pelo medo do castigo, mais dias, menos dias, ela se rebela.



“tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (vs. 7)
Educar um filho é algo que demanda muito tempo e esforço diário. Por esta razão, quando da decisão de gerar um filho, os pais devem assentar e pensar sobre suas prioridades pessoais e familiares. Com o passar dos anos percebo que existem muitos sonhos e desejos que teremos de deixar para trás para focarmos em alguns sonhos e desejos mais importantes. A Bíblia deixa claro que é de responsabilidade dos pais a educação dos filhos, não podemos terceirizar isso. A sabedoria popular acha um absurdo uma mulher abrir mão de uma carreira profissional, para se ocupar intencionalmente com a educação de seus filhos.

Quando nos casamos, Cida e eu decidimos que enquanto nossos filhos dependessem em tudo de nós, nossa família seria sustentada apenas com o meu trabalho, enquanto ela se dedicaria ao cuidado dos nossos filhos. Foi uma decisão fácil de ser tomada quando nos casamos, mas quando ela se engravidou, bem, aí não foi tão fácil assim. Todavia, mantemos nosso acordo, e hoje podemos afirmar que esta foi a melhor decisão que tomamos na vida.


“Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas” (vs. 8 e 9)

Aqui somos orientados que a educação precisa ser feita com base na Palavra de Deus. A base daquilo que dissemos ser o certo e ou errado é a Bíblia. É importante orientarmos nossos filhos, em tudo, com base na Palavra de Deus. Até os 6 anos de idade seus filhos ainda estão maleáveis nas suas mãos. Nesse período eles passam a maior parte do tempo com os pais e são grandemente influenciados pelos mesmos.

Lembro-me com saudades, quando Rômulo e Cyntia ainda brincavam juntos no quintal de casa. Tínhamos o costume de memorizar um versículo bíblico por semana. Colocávamos o versículo escrito em cartazes nas portas e paredes de nossa casa e na hora do almoço líamos juntos. Num determinado dia, Rômulo e Cyntia brigaram e ela entrou em casa chorando dizendo “Se alguém diz que ama a Deus, e odeia seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.’” (1 João 4:20). Em seguida Rômulo entrou atrás dizendo “Tá bom Cyntia, me desculpa.” E ambos voltaram a brincar.

Dos 7 aos 11 anos você tem a última grande chance de manter seu filho ao seu lado. Nesse período eles começam a ser influenciados também por amigos. Aqui você precisa ter atitudes intencionais para influenciar seu filho. É o período que ele mais te observa e te imita. Suas atitudes poderão marcá-lo para o resto da vida. Quando eu estava nessa faixa de idade e eu me lembro bem de algumas atitudes intencionais de minha mãe que até hoje marcam a minha vida. Nós éramos pobres, mas me lembro bem de que todo primeiro domingo do mês, minha mãe pegava quatro envelopes de dízimo e colocava 1 cruzeiro em cada um e escrevia nossos nomes. Naquele domingo, quando do recolhimento dos dízimos e das ofertas, minha mãe levava o dízimo dela e atrás de si, seus quatro filhos estavam cada um com o seu envelope nas mãos. Naquele tempo, querendo ou não ir à Igreja, minha mãe nos levava a todos os cultos, nem que fosse pelo puxar “carinhoso” de nossas orelhas. Você tem atitudes intencionais de abençoar seus filhos? Ou você é daqueles pais que além de não dar bom exemplo, usam os filhos como sendo uma boa desculpa para ficar em casa.

Acima dos 12 anos, bem, é hora de colher o que plantou. Por um período eles dirão que você já está velho e ultrapassado, estão altamente influenciados pelos amigos, mas cabe a você segurar as rédeas. Outra preocupação que tenho é que percebo que muitos pais de nossos dias estão mais dispostos a buscarem seus filhos na boate nas madrugadas do que os motivar a ir à Igreja. O que é que estamos plantando no coração de nossos filhos e quais serão os resultados em suas vidas?

CONCLUSÃO

Quero encerrar esta série te chamando a atenção para aquele que é o melhor Pai do mundo. No papel de filho, ele foi exemplar. Obedeceu a seu Pai, mesmo diante da morte. Como Pai, ele nos ama e nos orienta a como sermos felizes na terra. Por isso ele é o melhor exemplo para cada um de nós. Se você hoje está no papel de pai, tire de seu filho o direito de ser rebelde pedindo-lhe perdão por erros cometidos em sua educação. Se o seu papel é de filho, que tal hoje, perdoar seus pais e oferecer perdão. O Pai dos céus nunca falhou com você e ele te convida a perdoar seus entes queridos. Lembre-se de uma frase de autor, para mim, desconhecido: “Não importam o que fizeram de você, mas sim o que você vai fazer com o que fizeram por você”. Se você é mãe, não pense somente no sucesso profissional, na carreira ou na aposentadoria, pense nos filhos. Na educação de seus filhos no futuro. E que Deus nos abençoe a todos.