domingo, 14 de junho de 2009

A bênção impossível


Todos nós precisamos dela. Nascemos por causa dela e não há alegria que dure sem ela. Ela é para a alma o que o oxigênio é para os pulmões e o alimento para o corpo. Ela é base da confiança e da auto-estima. Com ela nos tornamos livres e atraentes; sem ela somos tímidos e ranzinzas. Ela é o que as pessoas mais esperam de nós, porém não a podemos dar enquanto não a recebemos. Quando não a recebemos passamos o resto da vida tentando merecê-la. Contudo, nenhum ser humano pode satisfazer ao nosso ardente desejo por ela. Ela é o bem mais precioso da vida.

O que é esse bem tão desejado? A bênção. Cada um de nós necessita ser abençoado, sentir-se abençoado e por sua vez se tornar um comunicador de bênçãos. Todavia, uma das palavras mais mal interpretadas e mal empregadas é bênção. Significa mais que prosperidade ou bens, sucesso ou realização. Significa ser aceito e ser amado. A bênção de Deus é a certeza de que a ele pertencemos, de que ele tem prazer em nós e de que ele nos escolheu como alvo de seu amor. Ser uma pessoa abençoada é conhecer, sentir aceito, amado e aprovado por Deus.

Esta mensagem é para aqueles que precisam sentir essa bênção, que não conseguem permitir que Deus os abençoe. É para pessoas que apesar de possuir dons, talentos, oportunidades e razoável sucesso nas coisas que fazem não se sentem abençoados. Se nossos pais fracassaram em nos dar afirmação, aprovação e certeza de sermos especiais acharemos difícil permitir que Deus nos abençoe. Essa é a razão porque muitos, embora possuindo uma boa compreensão da fé, não sentem o amor divino e muito menos se apegam a um relacionamento pessoal com Deus.

As pessoas que não se sentem abençoadas se tornam cada vez mais incrédulas, pessimistas e intratáveis em relação ao sentimento dos outros. Acreditam que agindo assim estarão no controle e protegidas de se sentirem magoadas. Ocorre exatamente o contrário com as pessoas abençoadas que se sentem acolhidas e amadas. Tais pessoas são flexíveis, receptivas e dispostas. Mas as não abençoadas se esforçam por obter a bênção dos outros, buscam a aprovação e a estima, mas quando recebem questionam a validade dos mesmos. Elas se tornam competitivas e gostam de estar no controle de tudo. São duras em criticar o trabalho dos outros e vê defeito em tudo porque gostam de chamar a atenção para si como pessoas importantes e indispensáveis. Desejar e duvidar, lutar e resistir, se torna uma estratégia de sobrevivência.

Com o passar do tempo tais pessoas enfrentam o próprio Deus. Ele os deixa imobilizados até que finalmente reclamem a sua bênção. Ele trava uma luta através de circunstâncias adversas para só então fazer o impossível. Ou seja, nos fazer sentir amados e aceitos por ele. Foi exatamente isso o que ele fez por Jacó.



A vida de Jacó forma um perfil de alguém cuja infância não abençoada deu origem a uma barreira que dificultou a aceitação da bênção de Deus. Jacó era irmão gêmeo de Esaú, filho de Isaque e Rebeca. O primeiro a nascer foi Esaú, mas com apenas segundos de diferença, pois Jacó saiu do útero agarrado ao calcanhar do irmão. Foi aí que seu nome teve origem. “Jacó” quer dizer: “Alguém que toma pelo calcanhar, suplantador, trapaceiro”. Desde o início Esaú foi o favorito de seu pai. Ele veio a ser um caçador, um homem do campo. Tal como Isaque, ele gostava da emoção da caça, da liberdade da aventura e do sabor da carne de animais selvagens. Jacó era o favorito de Rebeca. Dizem as Escrituras que ele era um jovem pacato. Todavia, a rivalidade entre os dois irmãos tinha sua origem na preferência dos pais.

O ponto em questão na família de Isaque era qual dos dois filhos teria o direito maior, o direito de primogenitura. Naquele tempo dava-se ao primeiro filho o direito de receber a propriedade e o governo da casa, por ocasião da morte do pai. Mas, de semelhante importância era a bênção do pai sobre todos os filhos. Essa dádiva preciosa de aprovação, afirmação e amor dava a cada filho um senso de identidade e importância para toda a vida. O intenso anseio de Rebeca era o direito à primogenitura, todavia o que Jacó mais desejava era ser aceito e amado por seu pai, ser abençoado. Por isso encontramos os dois, aliados por obter o direito à primogenitura e a bênção de Isaque a qualquer preço.

A trama se intensificou algum tempo mais tarde, quando Isaque percebeu que estava às portas da morte. Chamou Esaú à sua tenda e pediu que ele saísse a caçar e pediu-lhe que trouxesse carne para um prato saboroso. “E traze-me para que eu coma, e te abençoe antes que eu morra” (Gn 27:4). Esaú saiu ao campo, mas Rebeca estivera ouvindo através das finas paredes da tenda. O momento que ela tanto esperava havia chegado! Rápida como um raio ela corre para Jacó, ordena-lhe que mate uma ovelha, prepare o prato saboroso que seu pai desejava e receba a bênção e o direito de primogenitura prometidos a Esaú. Rebeca havia preparado um plano perfeito. Manda que Jacó vista as roupas de Esaú e cobre-lhe o pescoço e as mãos com pele de cabra, de modo que Isaque seja enganado.

O plano dos dois teve êxito. Isaque comeu a saborosa refeição e, depois que suas suspeitas foram desfeitas por meio dos disfarces de Jacó, ele o abençoou. O teor da preciosa bênção nos ajuda a compreender por que era um galardão e tanto: “Deus te dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de mosto. Sirvam-te povos, e nações te reverenciem; sê senhor de teus irmãos, e os filhos de tua mãe se encurvem a ti; maldito seja o que te amaldiçoar, e abençoado o que te abençoar.” (Gn 27:28-29).

Que grande bênção! Ela é a afirmação que cada filho busca. Quando Esaú retornou a casa, soube do que sua mãe e o irmão haviam feito, e rogou a Isaque uma bênção. “Acaso tens uma única bênção, meu pai? Abençoa-me, também a mim, meu pai”, clamou ele com a dor da rejeição. E seu pai o abençoou dizendo: “Você viverá longe de terras boas e longe do orvalho que cai do céu. Você viverá pela sua espada e será empregado do seu irmão. Porém, quando você cumprir o seu tempo de serviço, se livrará dele.” (Gn 27:39-40).

Assim, um ressentimento profundo tomou conta de Esaú, acentuando ainda mais a rivalidade, o ódio e a inveja entre os dois irmãos. Esaú planejou matar o irmão tão logo Isaque viesse a falecer. Por medo de perder o filho querido Rebeca envia Jacó para casa de Labão, irmão de Rebeca, e assim Jacó teve sua vida poupada. Mal sabia ela que esta seria a última vez que veria seu amado filho.



Jacó partiu para a terra de Labão sentindo-se não abençoado como sempre. Ele estava sentindo-se derrotado e amargurado. Embora ele recebera a bênção de Isaque. Estava ciente de que era uma bênção obtida de maneira fraudulenta. É como qualquer amor forçado, que deixa tanto o que dá como o que recebe vazios. Jacó saiu de casa sem o sentimento de que seu pai tinha prazer nele. Tudo o que possuía era a lembrança do que tinha feito a Esaú e de como seus pais falharam em dar-lhe afirmação e confiança íntima. O resultado foi um homem manipulador, astuto e insensível.

Ao chegar na casa de seu tio Labão Jacó é recebido com alegria. Jacó se apaixonou por Raquel, a filha mais nova de Labão e se dispôs a trabalhar sete anos para Labão para que esse o permitisse casar com ela. Labão aceitou, mas não gostou da idéia da filha mais jovem se casar antes da mais velha. Completados os sete anos, Jacó exigiu sua amada Raquel. Labão ofereceu uma festa de casamento e, tarde da noite, enviou Lia, a filha mais velha, para a tenda de Jacó, em lugar de Raquel. A festa deve ter tido bebedeira mais que suficiente, pois Jacó não percebeu a troca até de manhã, com o casamento já realizado. Estranha ironia, assim como enganou seu pai, agora é enganado pelo seu tio.

Jacó ficou furioso. Labão enganara melhor que Jacó, o enganador. Labão convenceu-o a trabalhar mais sete anos, antes que ele pudesse se casar com Raquel. Jacó deu um duro pela mão de Raquel. Todavia “Serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava”(Gn 29:20). Depois dos quatorze anos Jacó ainda serviu Labão por mais seis anos. Durante estes últimos anos Labão tentou enganar Jacó em relação ao seu salário. O acordo deles consistia em que Jacó viesse a possuir todas as ovelhas malhadas, salpicadas e negras entre os cordeiros e cabras. Labão maquinou outra trapaça. Tomou todos os cordeiros e cabras que pertenciam a Jacó e escondeu em algum lugar distante. Assim Jacó teve de partir do nada novamente, mas desta vez com algo mais que a astúcia contra Labão, o Senhor era com ele. Quando acasalou os animais brancos de Labão, nasceram malhados e salpicados. Ao ver isso Labão mudou o salário de Jacó e aconteceu o contrário. Os animais malhados e negros davam a luz animais brancos. Por umas dez vezes Labão mudou o acordo, mas o Deus do impossível continuou agindo e enriquecendo a Jacó.

Depois de longos vinte anos, Deus ordenou a Jacó que voltasse a sua terra natal. E assim, Jacó, suas esposas, filhos e com grande prosperidade deixaram secretamente a Labão. Labão quando descobriu de sua fuga, foi atrás para matá-lo, mas o Deus do impossível o impediu.


Livre de Labão, Jacó podia agora dedicar-se à próxima tarefa que tanto temia. Ao pensar no encontro com Esaú, o pânico se apoderou dele e trouxe-lhe à memória recordações do que havia feito a seu irmão, bem como todas as sensações que sentira, quando criança, de não ser abençoado. Outra vez o velho manipulador vem a tona. Por alguns momentos ele cedeu à antiga natureza em vez de exercer sua nova fé no Deus do impossível. Jacó enviou mensageiros adiante para garantir a Esaú que dispunha de enormes rebanhos para recompensá-lo.

Até onde foi com o plano de preparar um presente espetacular para Esaú, Jacó demonstra que ainda fazia uso de meios manipuladores. Ele dividiu seus rebanhos em pequenos grupos, bem como toda a sua família. À sua frente enviou mensageiros com ricos presentes e os instruiu dizendo: “Quando vires Esaú diga-lhe: Eis que teu servo Jacó vem vindo atrás de nós e oferece-lhe estes presentes”. Em seguida ele expõe sua intenção com tal plano: “Eu o aplacarei com o presente que me antecede, depois o verei; e me aceitará a presença”(Gn 32:19-20). Aí está de novo. Aceitação. Jacó tinha necessidade de ser aceito e amado e espera ter isso através de Esaú. O que ele não percebia era que apenas Deus era capaz de dar-lhe esse presente maravilhoso. Quando aceitamos a dádiva da aceitação de Deus, ficamos livres de manipular situações e pessoas para ser aceito e amado.

Na noite que antecedeu o encontro com Esaú, as Escrituras diz em Gn 32:24-32 que um homem entrou em luta corporal com Jacó durante toda a noite. O que Jacó não soube durante toda aquela noite fria e escura, era que aquele a quem ele estava lutando era o próprio Deus do impossível. Ao aproximar o dia Jacó se deu conta que estava lutando com Deus, então ele o abraça e lhe diz: “Não te deixarei ir enquanto não me abençoares”. Esta era a sua maior carência desde a infância. Contudo, é curioso perceber que desde que saíra de casa, Deus o estava abençoando maravilhosamente, todavia Jacó não se sentia abençoado, por isso o estranho pedido. A pessoa que não se sente abençoada, não somente tem um pavio curto como também uma memória curta. Pessoas como Jacó não conseguem perceber o quanto são abençoados e ficam surpresos quando alguém vem e lhes mostra o quanto de fato o são. E mesmo assim atribuem ao acaso e rejeitam ver o cuidado de Deus em suas vidas.

A atitude do Senhor foi impressionante. Primeiro Deus toca a coxa de Jacó e ele passa a mancar, para que jamais se esquecesse da luta travada naquela noite. Em seguida mudou o nome de Jacó (enganador) para Israel (Príncipe de Deus) como um sinal de que Deus o amava e o aceitava. É surpreendente que Jacó, agora Israel, pergunte pelo nome daquele com quem lutara. “Dize, rogo-te, como te chamas?” A resposta de Deus foi uma pergunta que pôs fim a todas as indagações de Israel. “Por que perguntas meu nome?” De fato, depois de todas as vezes que Deus interferiu a seu favor e falou com ele, já devia saber. Em seguida ele deu a bênção que Jacó desejava, porque é sua natureza abençoar. Jacó nada fez para merecê-la ou ganhá-la. Na realidade, por toda a sua vida até aquela noite fria ela já havia feito tudo o que podia para negá-la.

Daquele dia em diante Israel já não exigia de ninguém o ser aceito e amado, ele havia recebido a bênção. O manipulador teimoso se tornara disposto a aceitar e a demonstrar amor a quem Deus colocasse em seu caminho. Quando a luta chegou ao fim e o sol da manhã ergueu o véu da noite, Israel levantou os olhos e viu que Esaú se aproximava. A Escritura não menciona nenhuma manifestação de medo em Israel. A luta com o Senhor havia efetuado uma transformação. É uma cena comovente. Esaú, com graça notável, correu ao encontro de Israel e atirou-se ao seu pescoço, beijando o irmão, e as lágrimas escorriam de ambos. Em seguida, Israel disse algo que revela a expressão de um coração abençoado: “Vi o teu rosto como se tivesse contemplado o semblante de Deus; e te agradaste de mim” (Gn 33:10).

Em todas as gerações as pessoas vêm sofrendo por não se sentirem aceitas e amadas. É notório em alguns esse sentimento e em outros encontra-se encoberto, mas se manifesta de formas sutis. Em outros ainda, esse mal aparece numa conduta arrogante. Atravessamos a vida à procura de um pai, mãe, irmã ou irmão mais velho substituto, ou de uma autoridade que nos diga, afinal, que estamos ok.

Não somos capazes de lembrar se nossos pais algum dia nos disse que nos amava. Fomos duramente advertidos por quem deveria nos abençoar dizendo: “Meus atos deveriam ter-lhe assegurado que eu o amo. Sempre cuidei de você e supri suas necessidades. Isso não está bom?”. Quem sabe você é uma daquelas filhas que o pai negara a afirmação sadia que toda menina precisa para começar a sentir a alegria de ser mulher. Seus pais foram um complexo nervoso de repressões e temores? A Igreja te foi apresentada apenas como uma instituição de “não faça isso, não faça aquilo”? É provável então que esteja perguntando: “O que fazer quando não se sente amável, quando todos os sentimentos interiores acerca de si mesmo resistem à possibilidade de permitir que Deus ou alguém mais o ame?”.

O que é lutar com Deus? É uma luta com o passado e uma batalha que há de decidir quem vai assumir o governo no futuro. O Senhor deseja tornar-nos dispostos a ser, e dispostos a buscar e fazer a sua vontade mediante a força dele para os resultados que ele espera. Você sabe como é isso? Você já reviveu o passado, com cada fracasso a desfilar diante dos olhos da sua mente? Você já levantou no meio da noite em estado de pânico e se ajoelhou perante o Senhor, perturbado pela preocupação? Então saiba, como eu já sei, o que é ter o Senhor a batalhar pelo domínio de sua vontade até que você permita que ele perdoe o passado e assuma o governo do seu futuro.

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