domingo, 28 de junho de 2009

A cura de lembranças dolorosas


Meu desejo com esta mensagem é que ela seja um intervalo abençoado entre o passado e o futuro de sua vida. Ouvindo os depoimentos das pessoas, suas esperanças e mágoas, estou convicto de que muitos precisam curar suas recordações. Tratar de experiências dolorosas é algo muito complexo e complicado porque em relação ao passado nós não podemos mudar os fatos. Todavia, se não experimentarmos a cura destas experiências, teremos grandes chances de repeti-las. Sem a cicatrização das lembranças dolorosas, nada aprenderemos do passado. Uma vez que não podemos mudar o passado, podemos olhar para ele como lição de vida e desta maneira buscarmos viver melhor.

Mas isso nunca será fácil. Somente com a intervenção do Deus do impossível é que poderemos reconhecer o que aconteceu e em seguida renunciá-lo. Somos tentados a lidar com o passado usando maneiras impróprias. O remorso é uma delas. Muitos de nós o sentimos. Fazemos um retrospecto de nossas ações ou omissões, e a dor oculta do remorso pulsa dentro de nós. “Por que agi daquela maneira?”, “Por que permiti que aquelas palavras escapassem da minha boca?”, indagamos. E inevitavelmente nos condicionamos: “Que direito tenho de ser feliz com lembranças desse tipo?”

Outros sentem pesar pelo passado. O pesar é o sentimento de dor por não poder voltar no passado e agir diferente. Normalmente as pessoas pesarosas dizem: “Ah se eu pudesse estar naquela situação de novo!”, “Eu devia ter feito diferente!”. As faces das pessoas que ferimos, ou que nos feriram, desfilam em nossa mente tornando nossa dor insuportável.

Na verdade, nem o remorso, nem o pesar, funcionam no tratamento de lembranças dolorosas. Só há um jeito de curar as recordações que nos fazem sofrer: Expor a lembrança dolorosa ao Deus do impossível e aceitar o seu tratamento. Essa é a única forma de encontrar alívio. Significa voltar ao passado e superar, de mãos dadas com o Deus do impossível, o que dissemos ou fizemos a alguém, ou o que disseram e fizeram a nós. Foi isso que Samuel fez por Israel.

Samuel foi o profeta mais importante depois de Moisés, e também o último juiz de Israel. Foi ele quem ungiu os dois primeiros reis de Israel, Saul e Davi. No final do período dos juízes, ele se projeta como aquele que cura lembranças, ao ajudar Israel a se arrepender e a aprender com os fracassos do passado. Samuel preparou aquele povo para uma nova era, forçando-o a abandonar as lembranças dolorosas.

Samuel ainda muito jovem assumiu a liderança do povo de Israel num período turbulento quando eles cairam de joelhos, não em adoração ao Deus do impossível, mas diante de Baal e Astarote, deuses dos filisteus. Foram atraídos pelos deuses das nações vizinhas e como presa fácil foram subjugados numa derrota humilhante imposta pelos filisteus. Os exércitos de Israel foram derrotados num lugar chamado Ebenézer. Além da derrota, a Arca da aliança, símbolo da presença de Deus entre o povo, foi tomada. O sacerdote Eli, líder religioso, morreu ao saber que seus filhos haviam morrido na batalha e sua nora quando soube de tudo isso deu a luz prematuramente a um menino. Como expressão da dor que se estabeleceu em Israel, sua mãe lhe deu o nome de Icabode, que significa: Foi-se a glória de Israel. Aquela situação se tornou insuportável e fazer algo para mudar se tornara impossível.


Deus não desistiu de Israel embora eles persistissem no culto a Baal e Astarote, acrescido de um vago compromisso com Deus. A captura da Arca só trouxe problemas aos filisteus. A história nos conta um fato irônico: os israelitas adotaram os deuses filisteus e falharam; os filisteus tentaram obter o poder do Deus do impossível mediante a Arca e falharam! Dentro daquela Arca achava-se a razão do fracasso de ambos: as tábuas da lei, que iniciavam: “Não terás outros deuses diante de mim”. Nem Israel, nem os filisteus poderiam ser bem sucedidos com o Deus do impossível enquanto não se comprometessem com os princípios estabelecidos por ele. Por fim, os filisteus clamaram: “Livremo-nos dessa Arca!”. E ela foi devolvida a Israel.

A devolução da Arca causou uma reação inesperada no povo de Deus. Em vez de alegria, houve um arrependimento nacional. O povo se dirigiu a Samuel para pedir-lhe que oferecesse um sacrifício que expressasse a lamentação deles e o seu anseio pelo poder e livramento das mãos dos filisteus. Samuel foi firme em dizer-lhes que o Senhor só os abençoaria se todos os ídolos de Baal e de Astarote fossem removidos. Samuel sabia que o primeiro passo para um reavivamento em Israel teria que começar com o arrependimento e confissão diante de Deus.

Os filisteus maltrataram os israelitas, isso ninguém podia negar. A derrota em Ebenézer era uma realidade e a sua lembrança era motivo de sofrimento, isso também não tinha como negar. Mas agora, são desafiados a olharem para a parte do erro que lhes cabiam. Eles abandonaram as orientações seguras do Deus do impossível. Princípios orientadores que os preservariam de sofrer foram negligenciados. Por isso, a melhor maneira de se tratar o remorso, sentimento de pesar pelas falhas que cometeu contra outros ou contra si mesmo, é reconhecer nossa parcela de culpa, confessá-la diante de Deus e abandoná-la em suas mãos.



A notícia de que o povo de Israel se ajuntara chegou aos filisteus, que decidiram atacar. Quando os israelitas perceberam a aproximação dos filisteus, entraram em pânico e apelaram a Samuel para que clamasse ao Senhor por socorro. Uma geração inteira havia vivido como escravos nas mãos dos filisteus e morriam de pavor ter que enfrentá-los. A percepção do pecado e a impossibilidade de enfrentar o poderio militar dos filisteus tornaram-nos receptivos ao que Deus sempre estivera pronto a dar-lhes. Samuel sacrificou um cordeiro. Em resposta, o Senhor enviou uma violenta tempestade sobre os filisteus, que fugiram atemorizados. O medo deu lugar a coragem e Israel aproveitou para atacar os filisteus. Estavam consciente de que o Deus do impossível estava com eles e agora não tinham o que temer.

Depois de ganhar a batalha, Samuel pegou uma pedra, colocou-a no meio do povo e a chamou Ebenézer e disse: “Até aqui nos ajudou o Senhor”. Não foi por acaso ou por achar bonito o nome que Samuel resolveu chamar aquela pedra de Ebenézer. Essa palavra havia se tornado símbolo de dor e sofrimento para o povo desde que, a mais de vinte anos atrás os israelitas foram derrotados pelos filisteus no lugar chamado Ebenézer. Na roda de amigos israelenses a alegria durava até alguém citar essa palavra. Era uma lembrança dolorosa. Em hebraico, Ebenézer significa “a pedra de ajuda”. Samuel tomou uma recordação amarga, de mais de 20 anos de derrota, e a substituiu por uma lembrança de vitória. Através dos séculos, Ebenézer se associou tanto com a oração de Samuel: “Até aqui nos ajudou o Senhor”, que a oração passou a ser quase que sinônimo.

Deus sabe que não podemos agarrar ao presente nem nos entregar ao futuro enquanto as recordações dolorosas do passado não forem resolvidas. Samuel ajudou Israel a lidar com o passado e a prosseguir para o desafio do futuro. Com a expressão “Até aqui” Samuel queria dizer, até diante de um inimigo em que ninguém acreditava ser possível vencer o Deus do impossível nos fez vitoriosos. Através da pedra “Ebenézer”, Samuel traz a memória acontecimentos do passado de Israel que trouxeram muita dor e sofrimento, mas agora com a vitória sobre os filisteus, o Deus do impossível cura a memória do seu povo, cura o seu medo. Ebenézer agora não tem mais a conotação de derrota, dor, sofrimento, mas de grande livramento.

Quando nos deixamos ser tratados pelo Senhor, passamos a viver livres do sentimento de inferioridade, do remorso, do medo e do pesar. Passamos a ser de fato e de verdade pessoas livres porque sabemos que o Deus do impossível é o que vai conosco até mesmo pelo vale da sombra da morte e nos trará de volta sãos e em segurança. Isso significa que posso enfrentar sem medo situações que no passado me fizeram sofrer, porque o Deus do impossível estará comigo e a vitória será certa. Com o Deus do impossível do nosso lado não temos mais o que temer.

CONCLUSÃO

Não importa o que você fez ou mesmo o que fizeram com você, importa é como você vai lidar com isso daqui pra frente. Não podemos mudar nada do que aconteceu, mas podemos confiar nas mãos de Deus para que não sejamos derrotados de novo. Olhar para o passado como uma lição de vida, receber o perdão de Deus e enfrentar a dor de mãos dadas com ele é a nossa melhor alternativa para lidar com as lembranças dolorosas. As lembranças não se apagarão, mas não nos trará mais dor. A segurança de seus braços certamente é o melhor lugar para se tratar do sentimento de remorso ou mesmo de pesar.

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