segunda-feira, 13 de abril de 2009

Chamado


Na semana passada demos início a série “Você nasceu para brilhar” tendo por base o texto de Mateus 6.14-16 que afirma que nós somos a luz do mundo, que brilhando leva outros a glorificar a Deus.

Num primeiro momento definimos a nossa identidade de filhos de Deus como algo indispensável para brilhar nesse mundo, junto aos nossos amigos, parentes e conhecidos. O exemplo dado foi o de Jesus que por ter sua identidade consolidada, foi capaz de enfrentar todas as dificuldades que alguém possa enfrentar nessa vida.

Hoje meditaremos sobre a razão pela qual o Senhor nos chamou para brilhar. Para tanto, leiamos Mateus 14.22 a 33. Em meio a uma forte tempestade, os discípulos estão fazendo todo esforço para manter suas vidas, quando Jesus aparece andando sobre as águas. Eles ficam apavorados até que Jesus se identifica. Um deles, Pedro, sai do barco e começa a andar sobre as águas em direção a Jesus. O que Pedro estava pensando naquele momento? O que o leva a acreditar que ele poderia andar sobre as águas? A atitude de Pedro só faz sentido quando entendemos o pano de fundo dessa passagem.



Jesus é um Mestre judeu, com discípulos judeus, vivendo no mundo judeu do primeiro século. Cresceu numa região chamada Galiléia, e aprendeu a Torá, os cinco primeiros livros da Bíblia, como todo judeu. Torá significa ensino, instrução, ou simplesmente “o caminho”. A Torá era o centro de suas vidas e a base da educação em suas escolas.

A maioria das crianças entrava na escola, a sinagoga local, com seis anos de idade e eram instruídas na Torá por um Mestre judeu. Esse primeiro nível de ensino ia até os dez anos de idade, quando cada criança sabia recitar todos os livros da Torá. Elas tinham cada palavra gravada em seus corações. Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, decorados. Após os dez anos, muitas crianças deixavam a escola e voltavam para casa para aprender o ofício da família. Seja a pesca, a plantação ou mesmo confecção com a qual a família levantava seu sustento. Mas, os melhores alunos continuavam estudando. A educação deles prosseguia ao segundo nível.

No segundo nível, os melhores alunos, memorizavam todo o Antigo Testamento, desde Gênesis a Malaquias. Esse nível ia até os 15 anos, no fim do qual voltavam para casa, também para aprender o ofício da família. Mas, os melhores dos melhores podiam prosseguir para o último nível, o nível do discipulado. Eles iam até o Mestre e pediam a ele que os permitissem tornar um de seus discípulos. Discípulo é muito mais do que um aluno. O discípulo além de saber o que o seu Mestre sabe, ele quer SER como seu Mestre. Sendo assim, se desejasse ser um discípulo de seu Mestre você chegaria a ele e diria: “Mestre, quero me tornar um de seus discípulos, quero ser igual a você.” E ele então passaria por uma série de testes.

O Mestre faria perguntas sobre a Torá, sobre os profetas, sobre suas aptidões, perguntas das mais diversas, pois o Mestre queria saber “Este rapaz pode sentar-se a minha frente? Ele pode fazer o que eu faço? Ele pode vir a ser como eu?”. Uma vez que o Mestre acreditasse que você ama a Deus e conhece a Bíblia, mas não o reconhecesse como sendo o melhor dos melhores, ele diria: “vejo que amas a Deus e a Bíblia Sagrada, mas você não tem as qualidades necessárias para ser meu discípulo.” E o Mestre continuaria: “Volte para casa, aprenda o ofício de sua família”. Mas se o Mestre pensasse: “Este rapaz tem as qualidades necessárias. Acho que ele pode fazer o que eu faço”. Então ele diria à você: “Venha. Siga-me”. Então, você com seus 15 anos, deixaria pai, mãe, família, amigos, cidade para acompanhar aquele Mestre por mais 15 anos e dedicaria a sua vida inteira a ser como aquele Mestre até ficar coberto pela poeira de seu Mestre.

Se você é um discípulo seguindo o seu Mestre, após andar por estradas quentes e empoeiradas, a poeira do Mestre que vai a sua frente acaba sujando a frente de sua roupa que o segue de perto. É por isso que surgiu um ditado na Judéia “que você fique coberto pela poeira de seu Mestre”. Os discípulos sabiam exatamente o que significava ficar coberto com a poeira de seu Mestre.


Tudo isso tem grande importância para compreender o ministério de Jesus com seus discípulos. A maioria dos Mestres começavam a ensinar aos 30 anos de idade. A Bíblia diz que aos 30 anos, Jesus estava caminhando no Mar da Galiléia quando encontrou Pedro e André, que eram pescadores. Jesus se aproxima e lhes diz: “Venham. Sigam-me”. Se eles são pescadores e Jesus os chama para serem seus discípulos e eles estão pescando, então eles não são os melhores dos melhores? Eles não tinham passado no teste. E o texto continua dizendo que eles imediatamente largaram suas redes e o seguiram. O que eu sempre achei estranho. Esquisito, não é? Eles largaram tudo e foram. Se você colocar isso no contexto original, tudo faz sentido.

Os Mestres eram os homens mais honrados e reverenciados por todos. Apenas os melhores dos melhores chegavam a ser Mestres! De repente um Mestre está caminhando na praia e diz a você, siga-me, o que ele está dizendo é “Eu acredito que você pode fazer o que eu faço. Você pode ser como eu”. Se um Mestre chegasse até você e o convidasse a segui-lo, naquele contexto, é claro que você deixaria as redes e o seguiria. E o texto continua. Jesus encontra outros dois irmãos, Tiago e João, que estão pescando para seu pai Zabedeu. Se estavam pescando para o pai, o que eram? Eram aprendizes do ofício! Então, se eles não estavam seguindo a nenhum outro mestre, é porque eles não eram bons o bastante. Também não tinham passado no teste. Não eram os melhores dos melhores. E o que os judeus falam deles tempos mais tarde? “Estes homens eram pescadores, iletrados”. Jesus chamou homens reprovados, para fazer deles homens que mudaram o mundo. Homens simples, sem capacidade intelectual admirável, para mostrar as grandezas de seu amor.


Voltando a tempestade no mar, você tem um bando de homens reprovados, a água está agitada e o vento forte, e eles estão apavorados. Tanto que ao verem Jesus pensam ser ele um fantasma. Então Pedro reconhecendo o Mestre diz: “Se é mesmo você, deixe-me ir até aí”. Por que essa é a reação de Pedro? Por que ele quer andar sobre as águas? Porque ele é um discípulo. Ele orientou toda a sua vida para ser como seu Mestre, para fazer tudo o que seu Mestre faz. Então ele vê o seu Mestre caminhar sobre as águas, e o que ele faz? Ele pensa “meu Mestre está andando sobre as águas, vou andar também.” Então Pedro sai do barco e caminha sobre as águas, mas ele começa a afundar e grita: “Senhor, salva-me!” O texto diz que Jesus imediatamente o segura pelo braço e diz: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?”

Eu sempre presumi que Pedro duvidara de Jesus. Mas Jesus não está afundando! Então porque Pedro duvida? Ele duvida de si mesmo. Ele tira os olhos de Jesus e passa a observar a força do vento. Nesse instante, sua luz apaga, e a escuridão da dúvida toma conta de todo seu corpo. Ele duvida de que seria capaz de continuar andando rumo a Jesus. Ele duvida de que pode ser como seu Mestre. Pedro esquece que Jesus não o teria chamado se não acreditasse nele. Jesus até o adverte em outro momento dizendo: “Ei! Não foram vocês que me escolheram. Eu os escolhi”. Um Mestre não escolheria ninguém, a não ser que acreditasse que aquele discípulo poderia ser como ele.


Toda a minha vida ouvi pessoas falando de crer em Deus. Mas neste texto aprendo também que Deus acredita em nós, acredita em você, acredita em mim. Afinal, a fé em Jesus é importante, tanto quanto a fé de Jesus em nós. Ele tem fé em nós. A prova disso é que ele deixou tudo nas mãos dos discípulos. Qual é a última coisa que ele diz aos seus discípulos? Ele diz: “Agora vão, e façam mais discípulos”. Ele deixa tudo nas mãos destes homens reprovados, e eles conseguem!

E nós? Já imaginou! Podemos ser o tipo de pessoa que Deus planejou. Podemos brilhar! Ele acredita nisso! Não é maravilhoso? Ele acredita que podemos ser o tipo de pessoa que vive como Jesus vivia. O tipo de pessoa que age com a consciência de ser um discípulo de Cristo em todas as situações em sua vida. Age para o bem, para verdade. Afinal, Jesus acredita que você pode segui-lo, que você pode ser como ele. Ele acredita nisso.

Que você creia em Deus. Mas possa ver que Deus também crê em você. Que você tenha fé em Jesus. Mas que possa ver que Jesus tem fé que você pode ser como ele. Uma pessoa cheia de amor, compaixão e verdade. Uma pessoa cheia de perdão, paz, alegria e esperança. E que você fique coberto pela poeira de seu querido Mestre Jesus, e assim brilhe.

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