É natural pensarmos em Davi como o menino pastor que derrubou o gigante Golias ou como o rei que foi derrubado pelo adultério com a mulher de Urias. Todavia, seus atos heróicos vão muito além da vitória sobre Golias, bem como seus atos vergonhosos, infelizmente, não se esgotam no adultério de Bate-Seba.
Sua história pré-reinado nos apresenta um menino que se fez homem através dos sucessos e adversidades que a vida apresenta a qualquer mortal. Ele se tornou o homem segundo o coração de Deus porque aprendeu a enxergar o agir de Deus nos bastidores de sua vida.
Nessa série de mensagens, convido você a uma viagem no tempo, até aos tempos de Davi, o pastor de Belém, e caminharmos lado a lado desse grande herói da fé e aprender com ele que a vida pode ser melhor, se conseguirmos perceber o cuidado de Deus para conosco em todo tempo e em todo lugar.
Após a unção, Davi voltou para cuidar de seu rebanho. Não é difícil imaginá-lo considerando o que tinha acontecido, dando asas à fértil imaginação, sonhando em ser rei. Davi sabia que nem só de sonho vive o homem. Por essa causa, ele não mudou a forma responsável com que encarava os desafios de cada dia. Não se consumiu pela ansiedade nem se entregou à ociosidade. Boas oportunidades nas mais variadas áreas da vida surgem com relativa freqüência, mas só os preparados as desfrutam. Davi também vivenciou esse processo até o dia em que foi confrontado com uma grande oportunidade.
A Bíblia diz que o Espírito do Senhor se afastou de Saul e este era atormentado por um espírito maligno. Diante disso um de seus oficiais propõe que se chame alguém que toque bem harpa para aliviar o sofrimento do rei. Ao buscar alguém no reino, Davi foi o escolhido.
Mas por que o rei optou por Davi? A descrição oferecida por parte de alguém que o conhecia, estando ele ainda no início de sua juventude, é impressionante: "Conheço um dos filhos de Jessé, de Belém, que sabe tocar harpa. É um guerreiro valente, sabe falar bem, tem boa aparência e o Senhor está com ele". (1 Sm 16.18). A impressão que Davi causava era fascinante. Ele desenvolvera dons, hábitos e atitudes os mais nobres. É praticamente impossível não percebê-los. Esse belo e talentoso jovem é trazido à casa do rei Saul.
Durante um bom tempo, Davi viveu entre o palácio e o campo, ora envolvido em sua atividade de músico do rei, ora cuidando do rebanho de seu pai. Nesse meio tempo, seus irmãos foram convocados para se juntar ao exército e ir para a guerra sob o comando de Saul. Davi não estava entre os soldados por ser ainda muito jovem, pois em Israel os homens de guerra tinham mais de 20 anos.
Outra característica de Davi é que ele não tinha má vontade em fazer qualquer tipo de serviço. Tão logo recebeu de seu pai a tarefa de levar alimentos para seus irmãos, o jovem imediatamente tratou de executar o pedido, não sem antes incumbir alguém de cuidar de suas ovelhas.
Quando Davi chegou ao campo de batalha, procurou inteirar-se do bem-estar dos irmãos e, estando ainda a falar com eles, viu e ouviu a afronta de Golias e percebeu o efeito destruidor que as palavras do lutador causavam. Percebeu, no entanto, que o maior adversário do exército de Saul não era Golias e, sim, o medo.
Lá estava Golias, com seus quase 3 metros de altura, com armadura pesando sessenta quilos, equilibrando-se, da melhor forma possível, sobre a avantajada soberba. Por quarenta dias seguidos Golias afrontou Israel. Para o rei Saul e todo o seu exército, Golias era grande demais, impossível de vencê-lo. Diante de Golias, Saul reconheceu os limites de seu próprio poder. Davi, entretanto, sabia que o poder de Deus não conhece limites e com essa confiança disse à Saul: "Ninguém deve ficar com o coração abatido por causa desse filisteu; teu servo irá e lutará com ele". (1 Sm 17.32).
Não é incomum tomarmos conhecimento de atos heróicos praticados por algumas pessoas. O que nem sempre verificamos é o processo que precede esses grandes feitos. Ninguém nasce assim, um herói pronto. Davi não é exceção. Na verdade, Davi ainda criança começou a vencer Golias. Suas experiências de vida lhe trouxeram auto confiança e aprofundaram sua dependência de Deus. Era alguém que sabia aproveitar o tempo livre para aprender coisas novas. Quando o rei precisou de um músico, lá estava ele! Quando Israel precisou de um valente guerreiro, ele estava pronto!
Antes de Golias, Davi já vivenciara lutas desiguais, enfrentara desafios violentos, vencera obstáculos de arrepiar. Para defender o rebanho que pastoreava matou urso e leão usando as próprias mãos. Isso é impressionante, mas impressiona ainda mais observar que o tributo da vitória é dado a Deus: “O Senhor que me livrou das garras do leão e das garras do urso me livrará das mãos desse filisteu” (1 Sm 17.37).
O que tornava Davi diferente dos demais soldados de Israel era o conhecimento que tinha de Deus. Da perspectiva de Davi, a pergunta não era: “Quem somos nós para enfrentar esse Golias?”, mas sim: “Quem é esse Golias para afrontar nosso Deus?”. Seus olhos não se detinham no tamanho do desafio, mas na grandiosidade do poder de Deus. Saul olhava para o gigante e esse se agigantava. Davi por sua vez, olhava para Deus e o gigante ficava insignificante. O que focamos expande-se. Os olhos de Davi eram treinados para ver a grandeza de Deus, ao mesmo tempo em que desenvolvia com responsabilidade os talentos recebidos.
A notícia sobre Davi chegou até aos ouvidos de Saul. Imediatamente o rei mandou chamar o menino. Saul então ofereceu sua própria armadura a Davi, que depois de vesti-la desistiu da mesma. Mas o que levou Saul a oferecer sua armadura ao jovem músico? Se sua armadura era eficiente, por que ele mesmo não a usava? Se havia alguém em condições físicas para enfrentar Golias, de igual para igual, era Saul. O profeta Samuel o descreve como sendo o mais alto israelita de sua época.
Davi, após abrir mão da armadura de Saul, caminhou até o riacho, pegou cinco pedras lisas e foi ao encontro de Golias, enquanto o exército de Israel tinha a respiração sufocada pelo suspense. Ao vê-lo Golias zombou de Davi dizendo: “Por acaso sou um cão para que você venha contra mim com pedaços de pau? " E o filisteu amaldiçoou Davi invocando seus deuses, e disse: "Venha aqui, e darei sua carne às aves do céu e aos animais do campo!” 1 Sm 17.43-44
Mas Davi estava consciente de que a batalha não era entre ele e Golias, mas entre Deus e Golias. Por essa razão ele respondeu: “Você vem contra mim com espada, com lança e com dardo, mas eu vou contra você em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem você desafiou. Hoje mesmo o Senhor o entregará nas minhas mãos, e eu o matarei e cortarei a sua cabeça. Hoje mesmo darei os cadáveres do exército filisteu às aves do céu e aos animais selvagens, e toda a terra saberá que há Deus em Israel. Todos que estão aqui saberão que não é por espada ou por lança que o Senhor concede vitória; pois a batalha é do Senhor, e ele entregará todos vocês em nossas mãos”. 1 Sm 17.15-17
Confiante, levantou-se e colocou uma pedra na funda. Girou a funda até ficar invisível. Em seguida a pedra voou até a testa de Golias derrubando-o desmaiado no chão. Davi corre até ele, toma a espada de Golias e cortou seu pescoço separando a cabeça do corpo. O exército de Israel explodiu em alegria.
A coragem e a vitória de Davi produziram gigantescas ondas de motivação no exército de Israel, arrasando por completo a arrogante resistência das fileiras inimigas. Tendo restaurada a confiança, os soldados ficaram valentes e, motivados, cada um queria também matar um gigante. O medo mudou de lado. Esqueceram que suas armas eram bem mais primitivas do que as dos filisteus, esqueceram que eram sempre derrotados. Agora, tomados de motivação, perseguiam e destruíam os inimigos. Na proporção que a confiança crescia os gigantes encolhiam. Foi um dia que marcou definitivamente a história de Davi.
Pr. Ronaldo
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