domingo, 16 de maio de 2010

De olho na estrada


Lucas 15, o capítulo das coisas perdidas tem como propósito mostrar a alegria nos Céus quando um pecador se arrepende. As duas primeiras parábolas (ovelha e moeda) ilustram isso muito bem. Já a terceira parábola, bem, ela se divide em três partes distintas e nos trás, além do propósito principal, mais dois grandes ensinos.

Com o filho mais novo (vs. 11-19) aprendemos que não existem prazer e alegria duradoura na terra distante longe da casa do pai. Hoje aprenderemos mais sobre a alegria e o coração amoroso do pai quando o filho decide voltar (vs. 20-24), e no domingo que vem o ensino mais surpreendente da parábola (vs. 25-32). Mas isso é assunto para domingo que vem. Por enquanto, leiamos novamente a parábola do filho pródigo em Lucas 15.11-24.


Quando o filho pediu sua herança, a expectativa dos primeiros ouvintes de Jesus era de que o pai castigasse o filho rebelde. Por causa da mancha em sua honra causada pelo comportamento do filho rebelde, o pai deveria puni-lo publicamente. Para isso, o pai deveria dar um tapa no rosto do filho e depois fazer um cortejo fúnebre como sinal de que aquele rapaz não pertencia mais à família por estar morto. Isso se revela no momento em que o pai tenta convencer o irmão mais velho a participar da festa. Ele diz “Pois este seu irmão estava morto e reviveu” (vs. 32).

Quando o filho perdido voltou para casa, a expectativa era de que o pai revisse seu erro de não punir o filho quando de sua saída e o fizesse agora. Para os fariseus o filho perdido estava morto para seu pai. Ele teria muita sorte se seu pai o aceitasse como um de seus empregados, ou melhor, como um de seus escravos. E isso já seria misericórdia demais.

O pai, em nome da honra, deveria deixar aquele rapaz assentado no chão no portão da fazenda por vários dias esperando ser atendido. Isso faria com que todos que passassem por ele o desprezassem e até cuspissem nele. Afinal de contas ele manchou a honra da família e deveria ser exposto à vergonha em público. Ele simplesmente teria de ficar lá e agüentar enquanto esperava.

Tal tratamento, apesar de nos parecer duro demais, seria visto como um ato de grande misericórdia por parte do pai. Pela lei (Dt 21.21) filhos rebeldes deveriam ser apedrejados em praça pública pelos homens da cidade para que dessa maneira fosse eliminado o mal do meio do povo.

Depois de ter sido exposto no portão da fazenda, se o pai quisesse encontrar com o filho rebelde, isso deveria ser feito com o máximo de indiferença e frieza, sem demonstrar nenhuma afeição. O filho beijaria os pés do pai e pediria sua misericórdia. Não deveria sequer olhar no rosto do pai e muito menos ficar de pé diante dele. O pai então o comunicaria sobre qual seria o seu trabalho e a quem ele deveria se reportar e em seguida se retirar com a expressão de “honra lavada”.


A essa altura, a parábola de Jesus de repente tem outra reviravolta dramática e inesperada. Ali estava um pai não só disposto a conceder misericórdia em retribuição pela promessa de uma vida de escravidão, mas ansioso por perdoar ao primeiro sinal de arrependimento: “Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou” (Lc 15.20).

Depois que o filho partira, o pai nunca mais tirara os olhos da estrada. Até que um dia, estando à porta da fazenda, alguém avistou ao longe um “estranho”. O pai rapidamente olha para a estrada e quase não acreditando sussurra: “Estranho? Não. Eu conheço aquele andar, é o meu filho!” e imediatamente sai correndo ao encontro dele.

Mas além de correr, o pai abraçou e beijou o filho. Ao fazer isso, o pai estava tirando a atenção do povo sobre o pecado do filho e atraindo para si o olhar condenatório de toda a sua gente. Com este ato, o próprio pai carregaria a vergonha e suportaria a zombaria no lugar do filho. O filho perdido estava disposto a beijar os pés do pai. Em vez disso, o pai beijou o rosto fedendo a porco, sujo e triste do filho.

Após ser abraçado e beijado pelo pai, o rapaz recita sua fala ensaiada durante toda a sua caminhada: “Pai, pequei contra o céu e contra ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho” e antes de terminar a sua fala onde pediria para ser recebido como um trabalhador, ele é interrompido pelo pai dando ordens aos servos para que preparassem um bom banho, calçados e roupas dignas para seu filho, bem como um banquete. Era urgente perdoar o filho faltoso.

O filho perdido não conseguiu chegar a falar tudo o que planejara, pois quando ele completou a primeira parte, o pai já o tinha recolocado no posto de filho querido, e a grande comemoração estava por vir. O menino não havia feito nada para reparar o seu erro, o que torna o perdão do pai ainda maior. O erro, a desonra e a vergonha seriam pagos pelo pai.

Imediatamente o pai oferece três presentes ao filho arrependido. Sandálias, roupas e anel. Os três presentes tinham ricos significados. O calçado era usado apenas pelos nobres e pessoas importantes. Tal atitude revela a aceitação do rapaz como filho. As roupas dadas ao filho eram roupas especiais que davam honra a quem as vestisse. O anel era sinal de aliança entre os membros da família. Ele dava autoridade e reconhecimento ao seu usuário.

Se a forma como o pai perdoa o filho não o faz chorar de gratidão, então você provavelmente nunca se sentiu na posição de filho perdido e precisa orar por arrependimento.


Esta parábola revela muito o tipo de relacionamento que temos com Deus. O filho mais novo, representando as pessoas que estão perdidas, que sabem que estão perdidas e que só voltam pra casa quando não tem mais nada o que fazer para sobreviver, volta humilde por causa de sua condição.

Na verdade, o filho perdido quer sair do pântano do pecado, e seu primeiro instinto é elaborar um plano. Primeiro pensa em acertar algumas coisas para depois voltar para casa. Ele vai mudar. Se dispõe a trabalhar para se livrar da culpa. Mas tal plano nunca poderia dar certo. O débito é muito grande para reparar e o pecador não tem como mudar a situação.

Então, como o pai a espera do filho, se põe sobre os dedos dos pés, olha a distância na expectativa de nosso retorno. Ao nos ver corre e nos abraça. Abraça-nos fedendo a chiqueiro, sujos, maltrapilhos, e claro, derrotados. Cristo toma toda a vergonha para si mesmo, sofre as críticas e as injúrias e paga o preço do meu e do seu pecado. Ele nos abraça forte, derrama seu imenso amor sobre nós, concede sua graça completa e nos reconcilia com Deus.

Então, dá banho na gente, calça sandálias em nossos pés e veste-nos com roupas limpas, novas, e de honra. Como se não bastasse, renova a aliança conosco, aquela que um dia desprezamos e nos trata como filhos amados. É isso que é difícil entender. Por que ele nos amou tanto? Nunca conseguiremos entender. Mas, podemos aceitar. Aceitar seu amor que nos constrange. Constrange a uma vida digna e que honre o seu nome. Afinal de contas, ele nos fez nascer de novo. “Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”. É hora de comemorar! Afinal de contas, voltamos pra casa. Seja bem vindo ao lar.

E o filho mais velho? Como viu toda aquela festa e atitudes do pai? Bem, isso é assunto para o nosso próximo domingo.

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